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Vacas leiteiras com úbere cheio

Taxa de concepção: principais dicas para elevar esse indicador

O sucesso e a sustentabilidade de uma fazenda leiteira estão intimamente relacionados aos bons resultados dos índices reprodutivos da propriedade.

Sabemos que a taxa de concepção é um dos indicadores fundamentais para garantir a manutenção da produtividade do rebanho e por isso temos que estar atentos, saber interpretar o número e ter ações direcionadas que possibilitem elevar os resultados é muito importante.

O que todos desejamos é que o rebanho seja esteja saudável, fértil e tenha o maior número de vacas prenhes possível dentro do número de animais elegíveis a prenhez, pois, apenas assim por meio da gestação destes é que iremos obter o produto fundamental da atividade: o leite.

Para alcançar esses objetivos é preciso se atentar às variáveis que poderão impactar negativamente na taxa de concepção, a qual é definida pela razão de animais prenhes confirmados pelo número de animais servidos.

 

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O que é a taxa de concepção e como calcular?

Taxa de concepção = (Animais com prenhez confirmada / Animais servidos) x 100%

É importante ressaltar que o cálculo da taxa de concepção deverá sempre ser feito de forma individualizada para vacas e para novilhas.

Onde o intervalo calculado pode ser variado, ou seja, é possível calcular a concepção do último período de 21 dias, ou então do último mês ou até mesmo dos últimos doze meses completos.

Uma taxa de concepção minimamente satisfatória é de 30% e quando essa porcentagem se encontra abaixo desse limite significa que há necessidade de rever os critérios e manejos realizados dentro da propriedade.

Dessa forma, a fim de ter uma taxa de concepção de sucesso na propriedade, existem diversos pontos que irão afetá-la.

Principais pontos para um bom manejo da taxa de concepção

Condições anovulatórias

Nesse aspecto, já encontramos dados que mostram que vacas em condições anovulatórias, ou seja, que não possuem corpo lúteo (CL), sofrem um certo impacto negativo quanto a qualidade dos oócitos e consequentemente na fertilidade.

Outro fator importante que está relacionado com a condição de anestro é a baixa condição corporal dos animais.

Animais que perdem muito escore de condição corporal no período seco ou então que perdem escore nos momentos de seca devido à menor oferta de alimento, o que é o caso de animais em sistema semi-intensivo, se tornam mais propensos a desenvolverem distúrbios no pós-parto e a necessidade de receberem tratamentos de suporte em comparação com vacas que conseguem manter ou ganhar escore de condição corporal nesses momentos. 

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Cuidado com doenças

Sabemos que o sucesso do animal após o parto, tanto em relação a produtividade como na reprodução, está intimamente relacionado com a saúde do animal.

Animais que adoecem no pós-parto possuem sua fertilidade comprometida ao longo de toda lactação e consequentemente perdem mais prenhez.

Entretanto, é importante lembrar que além da saúde reprodutiva devemos estar atentos à saúde geral das vacas, e nesse contexto lembrar que doenças infecciosas podem acometer os animais em variados momentos e consequentemente afetar a eficiência reprodutiva, reduzindo a capacidade da vaca em emprenhar e manter a gestação.

Então, na busca por garantir a saúde dos animais, é importante a adoção de alguns manejos, dentre eles:

  • Deter de um calendário sanitário estratégico e específico e que contemple os principais desafios do rebanho;
  • Possuir uma rotina de monitoramento sanitário dos animais da propriedade;
  • Contar com profissionais capazes de identificar onde estão os desvios que estejam afetando a saúde dos animais.

Um ponto importante relacionado a saúde e que deve ser contemplado é a avaliação do muco vaginal como um indicador da saúde reprodutiva da vaca e por isso tem relação direta com a taxa de concepção.

Dentro os possíveis motivos para que alterações no muco ocorram podemos citar a ocorrência de doenças uterinas, desequilíbrios hormonais e até mesmo deficiências nutricionais.

O monitoramento do muco vaginal pode ser feito através do uso de ferramentas como o Metricheck ou técnica da mão enluvada.

Quanto ao momento e a frequência ideal para ser realizado o monitoramento, dependerá do critério utilizado pelo técnico responsável, entretanto, quando realizada de forma quinzenal após o parto, além de ser possível diagnosticar o animal com doença uterina como a endometrite é possível avaliar a evolução da qualidade do muco e sua condição no dia da inseminação artificial.

A avaliação deve ser feita por uma pessoa treinada através da observação das características de clareza, viscosidade e elasticidade do muco. Hoje, existem técnicas para classificação da qualidade do muco, como o uso de escores e até mesmo testes de cristalização.

Como exemplo da classificação por atribuição de escore, temos:

Tabela com a classificação de muco vaginal de vacas leiteiras

Fonte: Sheldon et al. (2005)

O muco tem um papel de facilitar o transporte dos espermatozóides e de garantir um ambiente favorável para sua sobrevivência e fertilização, daí a importância de sua qualidade para otimizar o sucesso na taxa de concepção.

O escore ideal é o muco cristalino, representando que o animal não possui nenhum acometimento ginecológico.

Representação do escore do muco vaginal de vacas leiteiras

Fonte: Sheldon et al. (2005)

Não podemos esquecer que apesar do muco estar relacionado com distúrbios ocasionados no animal, como no caso de doenças uterinas, é indispensável lembrar que utensílios utilizados podem ocasionar tais problemas.

Dessa forma, podemos citar alguns pontos de atenção:

  • Necessidade de limpeza efetiva das instalações e locais de manejo dos animais;
  • Garantir que a desinfecção de ferramentas utilizadas na inseminação artificial/ transferência de embrião esteja adequada;
  • Realizar higienização prévia da região perineal dos animais antes do monitoramento do muco e também procedimento de inseminação.

Nutrição e manejo alimentar que impactam na concepção das vacas leiteiras

A dieta do rebanho deve estar balanceada para que todas as exigências de cada período e categoria animal sejam supridas e evite assim a perda excessiva de escore de condição corporal (ECC).

Um dos maiores gargalos desse contexto é possuir na fazenda um pré e pós-parto eficiente, pois é no período de transição que temos o desafio marcado por baixa ingestão de matéria seca e alta mobilização de reservas corporais.

Caso esse animal não receba o aporte nutricional adequado, ocorre o fenômeno BEN (Balanço Energético Negativo) em que o animal se encontrará mais suscetível a uma série de problemas como cetose, deslocamento de abomaso, mastite, retenção de placenta e metrite.

Manual de controle da mastite

Onde, além dessas desordens terem o potencial de atrasar o processo de involução uterina e aumentar o período de serviço, podem ainda comprometer a produção de hormônios peptídicos (Hormônio Liberador de Gonadotrofinas – GnRH, Hormônio Luteinizante – LH, Hormônio Folículo Estimulante – FSH e Leptina) que desfavorecem o ambiente ovariano e uterino para fecundação e sobrevivência do embrião.

Exemplos de manejos nutricionais que impactam na concepção dos animais:

  1. Espaçamento de cocho e divisão de lotes adequados;
  2. Aproximação de comida nos casos de animais confinados;
  3. Fácil acesso a linha de cocho em casos de sistemas que possuem pasto ou confinamento em piquetes;
  4. Monitoramento do consumo dos animais;
  5. Adoção de dietas aniônicas no pré-parto;
  6. Manter ingredientes da dieta do pré e pós-parto para evitar o desequilíbrio abrupto da microbiota ruminal e evitar divergências na palatabilidade;
  7. Fornecimento de água à vontade.

Estresse térmico

Sabemos que o estresse térmico impacta reduzindo tanto a eficiência produtiva quanto a eficiência reprodutiva e que esses impactos podem ser de maneiras diretas ou indiretas.

Quando pensamos no impacto direto na fertilidade das vacas, temos os efeitos negativos do estresse térmico na alteração de hormônios reprodutivos, no desenvolvimento e na qualidade de folículos, oócitos e até mesmo do embrião, e quando pensamos no impacto indireto, podemos citar a redução da ingestão de matéria seca.

Deter formas que visam minimizar o estresse térmico dos animais é fundamental, onde deve ser contemplado não só os animais em lactação, mas também animais em período seco.

Estudos mostram que vacas que recebem conforto térmico no período seco, por exemplo o resfriamento evaporativo, apresentam um maior pico de lactação e também um menor número de serviços por concepção.

Gestão do ambiente e manejo do estresse

É importante lembrar que manejos excessivamente estressantes são prejudiciais a bons resultados de concepção, pois estabelecem uma “competição” imunológica que reduz significativamente a liberação de hormônios reprodutivos responsáveis pelo crescimento folicular e ovulação e aumenta a liberação de hormônios antagônicos/imunossupressores como o cortisol.

Por isso, é essencial que os animais sejam alocados em ambientes que garantam conforto e que todos os manejos rotineiros sejam respeitosos e realizados prezando o bem-estar dos animais.

Além disso, é importante prezar pela higiene tanto das instalações, quanto dos utensílios utilizados nos manejos.

Ambientes secos, frescos e limpos são capazes de evitar proliferação de microrganismos patogênicos os quais podem afetar a saúde reprodutiva das vacas. A limpeza do local de parto é importante e está intimamente ligada ao desenvolvimento de doenças uterinas no pós-parto, como a metrite.

Essa relação é ocasionada pela contaminação a partir da sujidade encontrada na região perineal dos animais, o que provoca um desequilíbrio da flora bacteriana uterina e leva ao acometimento da saúde reprodutiva.

Vacas leiteiras em um ambiente limpo e fresco

Fonte: Unileite UFMG

Efetividade de mão de obra e métodos de inseminação

O conhecimento e bom uso das técnicas e tecnologias da reprodução será o diferencial nos resultados obtidos na fazenda, sendo de extrema valia a boa habilidade técnica dos inseminadores e acompanhamento técnico veterinário.

Dessa forma, quando a taxa de concepção não atende às metas definidas pela fazenda, alguns processos devem ser checados:

Protocolos e manejos utilizados na inseminação artificial

  1. O inseminador deve ser capacitado e treinado para realizar a técnica e manipular o sêmen e demais equipamentos.
  2. O botijão de sêmen deve estar com manejos em dia – Importante lembrar que o nitrogênio líquido evapora facilmente, necessitando atentar a isso para evitar a perda de sêmen por falta de nitrogênio. A aferição do nível de nitrogênio é feita com régua específica e pode ser realizada de forma periódica, com maior frequência nos meses de maior uso ou menor frequência em momentos de baixa utilização. O nível de nitrogênio nunca deve estar abaixo de 15cm.
  3. Os protocolos hormonais definidos devem ser bem conduzidos.
  4. O manejo dos animais antes do procedimento de inseminação deve ser tranquilo a fim de evitar o estresse do animal.
  5. Os equipamentos utilizados deverão estar limpos e higienizados de forma correta.

Possuir uma equipe treinada e capacitada em gerar e interpretar dados

  • Como está sendo a identificação e registro da incidência de distúrbios no pós-parto (retenção de placenta e doenças do trato reprodutivo como a metrite)?
  • Há registros de casos de partos distócicos, casos de cistos ovarianos e também quaisquer episódios que não envolvam a reprodução?
  • O registro de doenças não reprodutivas (mastite, problemas de casco) é feito de forma rotineira e associado aos resultados reprodutivos? 

Conclusão

Por fim, dentro de inúmeros os fatores que podem ter efeito direto na eficiência reprodutiva das vacas, devemos estar atentos aos manejos adotados e acima de tudo realizar a checagem da execução dos mesmos, a fim de buscar desvios e até mesmo enxergar oportunidades dentro da propriedade para otimizar o sucesso nos números de concepção e também do desempenho geral dos animais dentro da fazenda.

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Laryssa Mendonça

Gabriela Clarindo - Equipe Leite Rehagro

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