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Qual a relação da esteatose hepática e o período de transição?

O fígado é o órgão vital para imunidade, coagulação e metabolização de hormônios, medicamentos, toxinas, lipídios, carboidratos, vitaminas e minerais.

Portanto, quando ocorre algum insulto a essa estrutura ocorre diversas alterações metabólicas como por exemplo a Síndrome do Fígado Gorduroso, caracterizado pelo acúmulo de gordura no fígado devido a um desequilíbrio do metabolismo corporal dos bovinos principalmente no período de transição. 

Quando há um aumento exacerbado de lipídeos no fígado, excedendo a sua capacidade de degradação metabólica ou o transporte dessa gordura na forma de lipoproteínas, ocorre o acúmulo dessa gordura. Isso acontece devido a um aumento repentino de energia na dieta dos animais ou quando ocorre a queda ou privação de consumo de alimentos. 

Nesse texto iremos tratar sobre a ocorrência da esteatose hepática em vacas leiteiras no período de transição, quais os sinais visíveis do problema, as consequências disso no pós-parto, forma de diagnosticar e de trabalhar com a prevenção. 

O que é e como ocorre a esteatose hepática?

A esteatose hepática também é conhecida como síndrome da vaca gorda ou síndrome do fígado gorduroso e é considerada um dos principais transtornos metabólicos de vacas leiteiras de alta produção no início do período de transição.

Ela pode ser associada a baixa produção de leite, baixo desempenho reprodutivo e também a imunossupressão devido a alterações a nível de imunidade humoral e celular, tornando a vaca nessa fase mais susceptível a outras infecções, como metrite e mastite.

Estima-se que o fígado gorduroso seja capaz de elevar a probabilidade em 35% de a vaca ter um período de serviço maior e uma chance 30% menor de emprenhar no primeiro serviço

Para entender sua ocorrência, primeiramente devemos considerar o gráfico do período de transição onde podemos observar que as fases  1, 2 e 3 que se referem ao período seco e transição, temos o declínio do consumo de matéria seca.

Fases do ciclo produtivo da vaca no período de transição

Sabemos que o risco de doenças no pós-parto se eleva em vacas com gordura corporal em excesso nesse momento de transição, principalmente por ter um efeito fisiológico negativo no consumo de alimentos nas primeiras semanas de lactação. 

Por isso, um fator extremamente importante, é o escore de condição corporal (ECC) que as vacas se encontram no início da lactação. Vacas obesas no pré-parto quando comparadas as vacas com boa condição corporal, perdem muito mais pontos de ECC nessa fase e apresentam um aumento da lipólise no pós-parto inicial. 

Isso ocorre devido ao baixo consumo de matéria seca nesse período, o que proporciona um BEN (Balanço energético negativo) mais acentuado devido o maior aporte de NEFA (Ácidos Graxos Não-Esterificados) que o fígado recebe e a diminuição da sua capacidade de produção de glicose. 

Também é observado uma baixa das concentrações séricas do hormônio insulina que é importante na ação bloqueadora de hormônios lipolíticos como GH, prolactina e lactogênio placentário onde possuem ação moderada em concentrações séricas normais, mas sem essa inibição é favorecida a lipólise que é a quebra de tecido adiposo para obtenção de energia.

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Importância dos ácidos graxos

As concentrações de ácidos graxos não-esterificados e o BHBA (beta-hidroxibutirato) circulantes medem a mobilização e oxidação de gordura, além de refletir o sucesso da adaptação ao BEN. No periparto, essas concentrações são consideradas indicadores na avaliação da capacidade das vacas em lidar com os desafios metabólicos.

Além disso, outros fatores que são capazes de provocar anorexia no animal após o parto podem estar relacionados a esteatose hepática, como é o caso do deslocamento de abomaso, hipocalcemia e cetose. 

Na lipólise ocorre a hidrólise de triglicerídeos em glicerol + 3 ácidos graxos voláteis (AGV’s). Esses AGV’s, tem como função o restabelecimento do status energético do animal sendo uma fonte alternativa de energia. 

Enquanto o glicerol é direcionado para o fígado e é transformado em energia pela gliconeogênese hepática, os AGV’s presentes na corrente sanguínea são captados pelos hepatócitos e podem ter dois destinos: oxidação completa ou oxidação incompleta. Quando ocorre intensa lipomobilização que supera a capacidade oxidativa hepática ocorre a Síndrome do Fígado Gorduroso e uma consequente cetose metabólica.

  • Oxidação completa: O ácido graxo no parênquima hepático se dirige a mitocôndria (organela celular responsável pela energia celular) por meio da enzima CPT-1 que é convertido em CO2, energia (ATP) e água. Embora seja uma via que se esgota rapidamente, ela é eficiente sob o ponto de vista energético. 
  • Oxidação incompleta: Se ocorre lipólise intensa superando a capacidade oxidativa do fígado pela menor disponibilidade de CPT-1, os ácidos graxos livres se “acumulam” na estrutura, podendo haver então duas vias: 
    • Reesterificação = ácidos graxos nessa via são novamente unidos a uma molécula de glicerol, formando os triglicerídeos, os quais são exportados do fígado em forma de lipoproteínas (VLDL). Entretanto, para que esse processo de exportação aconteça de forma correta, a presença da molécula fosfatidilcolina é necessária. Na ausência dela os triglicerídeos se acumulam no tecido hepático, gerando assim a esteatose. 
    • Produção de corpos cetônicos = pela fosforilação oxidativa nesse processo de alta lipomobilização, ocorre o acúmulo de corpos cetônicos na corrente sanguínea.

Representação esquemática do uso do tecido adiposo como fonte de energia extra

Representação esquemática do uso do tecido adiposo como fonte de energia extra, bem como sua associação à predisposição de doenças como cetose e esteatose hepática. Fonte: Daibert, E. 2015 (Adaptada de Dracley, 1999; Grummer, 1995). 

Mas quais são os sinais clínicos da esteatose hepática?

Todas as vacas acumulam triglicerídeos nos dias que antecedem o parto, portanto a intensidade dos sinais clínicos vai depender do grau de gordura incorporado aos hepatócitos.

  •  Em até 13 % = o acúmulo é considerado normal;
  •  Até 25 % = já ocorre uma incapacidade imunológica progressiva sem sinais clínicos evidentes;
  • Até 35 % = sinais clínicos evidentes caracterizando um quadro severo de esteatose hepática, a vaca vai apresentar: 
    • Perda de peso exacerbada (animal em quadro de anorexia)
    • Perda de condição corporal;
    • Desidratação;
    • Redução de consumo;
    • Depressão.

Pensando no quadro de esteatose hepática, o tratamento deve ser pautado na redução da mobilização de gordura e isso pode ser feito a partir do fornecimento de energia como forma de auxílio o fígado e eliminar o BEN. 

Quais são as consequências pós-parto?

  • Cetose: a síndrome do fígado gorduroso é a causa principal e é pertinente as relacionar entre si. 
  • Baixa de imunidade: devido às estruturas hepáticas serem danificadas a capacidade de produção de proteínas importantes para defesa corporal diminui.
  • Baixa reprodução: os triglicerídeos são importantes para muitas moléculas como os hormônios reprodutivos e caso o substrato desses componentes esteja concentrado no fígado não ocorre metabolização e nem produção destes.
  • Pós-parto imediato:  encontramos animais anêmicos e ictéricos pelo comprometimento hepático que impede a produção adequada de proteínas importantes na coagulação e produção sanguínea.

Como fazer o diagnóstico e atuar na prevenção?

Para diagnosticar o animais com esse acometimento além de observar os sinais clínicos é importante avaliar o contexto geral da fazenda: 

  • Qual o consumo total dos animais por dia? Quanto sobra de alimento? Qual a dieta fornecida para as vacas no período de transição?
  • A fazenda está atenta ao escore de condição corporal das vacas? 
  • Foi observado maior número de animais doentes? 
  • Os animais sofrem algum tipo de estresse nesse período?
  • A fazenda monitora cetose? Qual o percentual de animais com cetose na propriedade?

Portanto a prevenção se torna fundamental para evitar perdas produtivas no rebanho. Por isso é importante:

  • Estabilidade no consumo de energia.
  • Não permitir restrição alimentar aos animais.
  • Evitar mudanças bruscas na dieta (caso necessário fazer uma transição respeitosa a microbiota ruminal).
  • Manter moderada condição de escore corporal no pré-parto por meio de dieta equilibrada.

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E a suplementação de colina?

Estudos tem demonstrado os benefícios da suplementação com colina protegida durante o período periparto a fim de minimizar os impactos negativos da redução de consumo. A colina é um componente da fosfotidilcolina, que é necessária para a síntese de VLDL, o que é responsável pela mobilização dos ácidos graxos para fora do fígado.

 Ao avaliar os efeitos dessa suplementação em animais de pré-parto até o pós-parto, foi evidenciado que o consumo de matéria seca aumentou de forma linear (0,5kg a mais por dia), aumento da produção de leite em comparação com vacas não suplementadas (1,3kg/vaca/dia) e tendência na redução de retenção de placenta e mastite, provavelmente devido a melhora da resposta imune desses animais. 

Por fim, sabemos então que a nutrição e manejo são considerados fatores de risco associados a esteatose hepática e que essa é uma condição importante e preocupantes por várias razões, principalmente por impactar a saúde, o bem-estar, o desempenho produtivo e reprodutivo das vacas.

Adotar medidas de auxílio na redução do risco e trabalhar em conjunto com profissionais especializados, como nutricionistas, para o desenvolvimento de um plano de ação específico é fundamental.

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