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Estresse térmico em vacas secas: um problema sério e muitas vezes ignorado

Sabemos que as alterações climáticas cada vez mais afetam a indústria leiteira, com a presença de verões mais quentes em todas as regiões. O estresse térmico em vacas secas é capaz de provocar vários impactos negativos na saúde, produtividade das vacas e na lucratividade das fazendas leiteiras

Vacas submetidas ao estresse pelo calor passam por mudanças comportamentais e também fisiológicas na tentativa de amenizar os efeitos adversos.

A utilização de sistemas de resfriamento durante o período seco com o intuito de reduzir o estresse térmico pode superar alguns efeitos negativos trazidos e até reduzir perdas econômicas, pois o estresse térmico durante o período seco tem um efeito negativo semelhante ao estresse térmico durante a lactação. 

Nesse texto iremos discutir sobre o estresse térmico em vacas no período seco, evidenciando os principais impactos que isso ocasiona na lactação subsequente. Além disso, vamos tratar sobre formas de atuação para minimizar o estresse térmico nesses animais e os seus efeitos deletérios. 

O que acontece com a vaca no período seco?

O período seco, por ser um período não produtivo da vaca, frequentemente é uma fase extremamente negligenciada pelos produtores, embora seja um momento muito importante do ciclo de produção para as vacas leiteiras. Nesse momento, três processos acontecem na glândula mamária:

  • Involução ativa: se inicia logo após a cessação da retirada do leite e representa o período de transição do tecido do estado lactante para não lactante;
  • Estado estacionário da evolução: representa o estado de não lactante da vaca;
  • Fase de re-desenvolvimento: é uma fase de crescimento, onde ocorre grande parte da lactogênese e da colostrogênese. 

Dessa forma, o resultado do estresse térmico durante o período seco pode estar relacionado ao comprometimento da involução e da proliferação da glândula mamária. 

Quando comparamos vacas em lactação com vacas secas, sabemos que as vacas secas geram menos calor metabólico e têm uma temperatura crítica superior mais elevada. Entretanto, menos com essas “vantagens”, o estresse térmico nessa fase vai impactar negativamente o desempenho na lactação subsequente.

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Mas as vacas não detêm mecanismos fisiológicos para controle de temperatura?

Sob condição de estresse térmico, as vacas utilizam mecanismos termorreguladores para aumentar a dissipação de calor. Esses mecanismos incluem a redução da taxa metabólica, vasodilatação, mudanças no comportamento, alterações nas concentrações de hormônios no sangue, aumento da frequência respiratória, da temperatura corporal e aumento da perda de água por evaporação. 

Essas respostas fisiológicas podem responder grande parte das questões relacionadas a perda de produtividade, pois esse estresse aumenta a necessidade de energia para impulsionar a perda de calor. 

Além disso, sob estresse térmico, há uma resposta compensatória por parte da vaca, onde ela reduz o consumo de matéria seca (CMS), o que é evidenciado por estudos que demonstram que vacas em estresse térmico diminuíram o CMS durante o período seco em aproximadamente 1,3kg/dia em comparação com vacas resfriadas.  

Mas então resfriar durante o período seco é benéfico?

Estudos já demonstraram que a redução do calor através do resfriamento aplicado durante todo o período seco no verão, resultou em um aumento na produção de leite de 4 a 7,5 kg/dia na lactação subsequente em comparação a vacas que não foram resfriadas. 

Além disso, outros trabalhos que buscaram avaliar o efeito positivo do resfriamento apenas durante o período final do período seco, cerca de 2 a 4 semanas de gestação, demonstraram que a produção de leite melhorou em apenas 1,4kg/dia na lactação seguinte. 

Dessa forma, fica claro que o resfriamento durante todo o período seco parece induzir respostas de rendimento mais altas do que o resfriamento tardio do período seco, e que o efeito do estresse térmico pode ser maior durante a fase de involução do que durante a fase proliferativa da glândula mamária. 

Além disso, também há dados que demonstram que o estresse térmico durante qualquer momento do período seco provoca a redução do tempo de gestação e bezerros com menor peso ao nascer.

Vacas em poça de água para amenizar o calor

Imagem de animais dentro de uma poça de água na tentativa de amenizar o calor. Fonte: Daniele Oliveira

Como atuar para minimizar os impactos do estresse térmico de vacas no período seco?

Estratégias que visam proporcionar um ambiente com mais conforto térmico são capazes de minimizar o estresse térmico e também seus impactos. Os meios para reduzir o estresse térmico em vacas no período seco, são os mesmos usados nos animais em lactação, levando em consideração o ambiente e clima para a escolha do método de resfriamento apropriado para o sistema da fazenda. 

É importante lembrar que além do método de resfriamento, é essencial também avaliar a frequência e duração do resfriamento a que essa vaca será submetida a fim de determinar se de fato está sendo eficiente.  

Deve-se adequar o resfriamento de acordo com a rotina da fazenda, pensando no lote de vacas secas e também os animais que já se encontram no lote de pré-parto, visto que são animais que não passam na ordenha. 

Por isso, em caso de fazendas que não possuem o resfriamento a partir da aspersão na linha do cocho, implementar o manejo de levar os animais até a sala de espera da ordenha, nos intervalos entre as ordenha, é uma prática comum e que pode ser eficaz se todo o manejo for realizado corretamente. 

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A aspersão de água aliada a ventilação em vacas leiteiras é um método eficaz para criar um microclima favorável à diminuição do estresse térmico dos animais. 

Em um sistema de resfriamento normalmente é utilizado em ciclos, podendo cada período combinado com aspersão de água por 30 segundos e ventilação por 4 a 5 minutos. 

Portanto, esse sistema de resfriamento tem o objetivo de molhar completamente a vaca até que de fato, visualmente o pelo esteja encharcado. Estudos avaliando vacas em lactação sob condições de aspersão e ventilação ou apenas aspersão, encontraram maior produção de leite nos primeiros 60 dias para vacas submetidas a aspersão e ventilação, o que acarretou uma maior efetividade no sistema de produção.

Além dessas considerações sobre o resfriamento a partir de aspersão e ventilação, algumas outras medidas podem ajudar a reduzir os impactos do estresse térmico:

  • Fornecer abrigo e sombra adequados: as vacas devem ter acesso a áreas sombreadas durante todos os períodos do ano, mas principalmente em períodos de calor intenso. A construção de abrigos, promovendo sombra artificial, ou o fornecimento de sombra natural são medidas que contribuem para amenizar o estresse térmico por reduzir a exposição direta ao sol. Entretanto, é importante estar atento ao espaço de sombra disponível por animal, para que de fato seja eficiente. 
  • Ventilação adequada: garantir uma boa circulação de ar nas instalações onde as vacas estão alojadas é fundamental. Isso pode incluir a instalação de ventiladores ou a construções com aberturas adequadas para permitir a passagem de ar. 
  • Água limpa e fresca: as vacas precisam de acesso constante a água fresca e limpa. Certificar que os bebedouros estão funcionando corretamente, que a quantidade é suficiente para atender as necessidades do rebanho e que há uma rotina de limpeza dos mesmos é essencial. 
  • Manejo do ambiente: é importante quando possível, que se evite manejar as vacas durante os períodos mais quentes do dia. Para isso, é importante a programação das atividades com esses animais em momentos de temperaturas mais amenas. 
  • Monitoramento constante: estar atento aos sinais de estresse térmico nas vacas é crucial para avaliar a eficiência do sistema de resfriamento caso já esteja implementado, mas também para certificar a necessidade de instalação. Sinais como ofegação excessiva, salivação intensa, redução na ingestão de alimentos e mudanças de comportamento são notórios em vacas que se encontram em estresse térmico.

Vacas com sinais de estresse térmico

Imagem de vaca demonstrando sinais de estresse térmico. Fonte: Acervo Rehagro

Considerações finais

Em resumo, fica claro que quando o estresse térmico pode ocorrer em qualquer momento durante o período seco (inicial, final ou durante ele todo), e que a produção de leite é reduzida na lactação seguinte em comparação com vacas que recebem resfriamento durante toda essa fase.

Por isso, é importante trabalhar na implementação de medidas que possibilitam reduzir significativamente os impactos do estresse térmico no período seco, melhorando assim o bem-estar dos animais, a produtividade e também a lucratividade da atividade.

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Laryssa MendonçaDaniele Oliveira - Equipe leite

 

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