O estresse térmico em vacas leiteiras está presente em grande parte dos rebanhos, influenciando diretamente na saúde, reprodução e produção de leite dos animais.
Atuar de forma preventiva para minimizar os seus impactos representa um grande desafio e uma grande oportunidade para os diversos tipos de sistema de produção.
Animais em estresse térmico apresentam alterações clássicas que precisam ser identificadas para que o processo de resfriamento seja otimizado. Acompanhe neste texto um pouco sobre o que é o estresse térmico e quais são os principais sinais.
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Conhecendo e definindo o estresse térmico
O termo estresse térmico é utilizado para referenciar os efeitos ocasionados na fisiologia, no comportamento e na produção dos animais devido as alterações no ambiente.
De modo semelhante, o estresse térmico pode ser definido como a soma das forças internas (metabolismo, ex.) e externas (ambiente) que atuam em um animal para causar um aumento na temperatura corporal e provocar uma resposta fisiológica.
Nos países de clima tropical, como o Brasil por exemplo, é muito mais comum a ocorrência de estresse térmico pelo calor do que pelo frio. Altos valores de temperatura e umidade, além da exposição à radiação solar, são fatores que contribuem de forma significativa para que as vacas acumulem calor corporal.
O estresse térmico em vacas leiteiras ocorre quando a taxa de ganho de calor do animal excede a de perda, fazendo com que o mesmo saia de sua zona de conforto. Desta forma, são necessários ajustes no comportamento e/ou fisiologia do animal.
Assim como qualquer outra espécie animal, os bovinos de leite também apresentam uma faixa de temperatura considerada como zona termoneutra. Nesta faixa de temperatura o animal não precisa direcionar grandes quantidades de energia para termorregulação, seja para capturar, seja para dissipar calor.
Desse modo, o gasto de energia para manutenção é mínimo, resultando em máxima eficiência produtiva.
Em temperaturas inferiores àquela mínima da zona termoneutra as vacas entram em estresse térmico pelo frio. Já quando a temperatura se encontra superior ao limite máximo da zona termoneutra, o estresse térmico instaurado é pelo calor.
Adaptado de Kadzere et al., 2002
Vacas de alta produção e o estresse térmico
Vacas de alta produção são mais susceptíveis ao estresse térmico quando comparadas às vacas de baixa produção.
A seleção genética para produção de leite contribuiu para que as vacas aumentassem a quantidade de calor metabólico, pois vacas que produzem mais leite ingerem mais alimentos e, logo, possuem metabolismo mais elevado em relação as vacas de menor potencial genético.
Com a menor capacidade de dissipação de calor, as vacas elevam sua temperatura corpórea com maior facilidade e perdem calor para o meio ambiente com maior dificuldade. O resultado final é o maior acúmulo de calor, podendo ocorrer mais facilmente o estresse térmico.
Ao analisarmos os dados de 2018 do Departamento de Agricultura do Estados Unidos, por exemplo, vemos que é relatado um amento de 13% na produção de leite na última década, passando de quase 9.000 kg de leite para 14.000 kg de leite/vaca/ano.
Conforme descrito por Berman (2005), o aumento na produção de leite de 35 kg de leite/dia para 45 kg de leite/dia contribui para que o limite de temperatura para estresse térmico seja reduzido em torno de 5°C, significando que as vacas tenderão a sofrer estresse térmico de forma mais precoce.
Como identificar um animal com estresse térmico
- Animal ofegante, com aumento de salivação e transpiração;
- Redução na ingestão de matéria seca;
- Redução na produção de leite;
- Aumento no consumo de água;
- Aumento da frequência cardíaca e respiratória;
- Temperatura retal maior que 39,1ºC.
Vaca leiteira em estresse térmico pelo calor. Note: boca aberta, língua para fora e aumento de salivação.
A temperatura corporal representa o principal indicador da termorregulação do organismo, estando relacionada à saúde, sucesso reprodutivo e produtividade dos animais.
No entanto, vale ressaltar que não é somente o estresse térmico que ocasiona elevação da temperatura do organismo.
Eventos como doenças, lesões, infecções, toxinas, etc. podem provocar a hipertermia nos animais. Outros fatores que também ocasionam elevação da temperatura corporal, mas em uma menor magnitude, são nível de atividade do animal e estro.
Além da temperatura corporal, uma das primeiras alterações observadas em animais com estresse térmico é o aumento da frequência respiratória no intuito de perder calor para o ambiente.
Gaughan e colaboradores (2000) citam que a taxa respiratória dos bovinos sofre influência multifatorial, incluindo idade, nível de produção, condição corporal, ingestão de matéria seca, particularidades das instalações e dos sistemas de resfriamento, exposição a ambientes quentes, etc.
Resultados de pesquisas científicas demonstram que vacas expostas a ambientes com temperatura variando entre 24° e 39°C apresentaram aumento na frequência respiratória entre 2,8 e 3,3 movimentos respiratórios/minuto para cada 1°C a mais no ambiente.
A elevação da frequência respiratória consiste em um dos indicadores fenotípicos mais sensíveis para caracterizar o estresse térmico pelo calor em vacas leiteiras, sendo que taxas acima de 60 movimentos respiratórios/minutos já indicam provável alteração devido ao estresse térmico (Shultz, 1984; Berman et al., 1985).
Resfriamento térmico de vacas leiteiras com aspersores e ventiladores. (Fonte: Grupo Rehagro, Meara Gado Holandês – Fazenda Barreiro Alto).
Monitorando o estresse térmico
Monitorar o conforto térmico das vacas leiteiras representa atualmente um dos pontos base dos sistemas de produção. Ofertar condições que previnam a ocorrência de estresse térmico tornou-se essencial, visto a magnitude que os impactos deste evento ocasionam na saúde, reprodução e produção dos animais.
Entretanto, para monitorar o conforto, primeiro devemos conhecer quais os sinais presentes no estresse térmico.
De forma geral, vacas leiteiras em estresse térmico apresentam os seguintes sinais, na tentativa de trocar calor com o ambiente:
- Respiração ofegante;
- Boca aberta;
- Língua para fora;
- Aumento da salivação e da transpiração.
Em situações como essa, se os animais estão em galpões onde haja ventiladores e aspersores, eles deverão ser ligados.
Caso não estejam alojados nestas instalações, molhar bem os animais em estado mais crítico pode ajudar no resfriamento.
Medidas para diminuir o estresse térmico das vacas leiteiras
- Sombreamento adequado para os animais;
- Disponibilidade de água suficiente para os animais beberem, principalmente após a ordenha e nas horas mais quentes do dia;
- Para animais confinados em Free stall, adequado sistema de resfriamento com ventiladores e aspersores, permanecendo ligados nas horas mais quentes do dia;
- Para animais que não estão no Free stall, o fato de molhar bem os animais em estado mais crítico pode ajudar no resfriamento;
- Reduzir distâncias de deslocamento do animal.
Na sala de espera da ordenha é um momento em que as vacas sofrem muito com o calor. Manter os animais o menor tempo possível na sala de espera, além de proporcionar aos animas uma instalação coberta, com ventiladores e aspersores, com um pé direito mais alto, pode favorecer um melhor conforto.
No ambiente, podemos utilizar sombras, sendo naturais ou artificiais, que forneçam uma área de pelo menos 3 a 5 m² por animal, salientando-se que quanto maior a área destinada à sombra, menores serão os riscos de acidentes e menor a formação de barro.
A sombra natural possui a vantagem de ser mais barata, mas como o crescimento das árvores é um processo lento, muitas vezes é necessário lançar mão do sombreamento artificial. Este pode ser conseguido com a utilização de sombrites, que são telas de fibra sintética e que devem fornecer de 60% a 80% de sombra.
Deve-se planejar a orientação das árvores ou da estrutura artificial. Quando os animais estão confinados a melhor orientação é a leste/oeste por proporcionar sombra o dia todo.
Para os animais que não estão confinados, eles podem se movimentar à procura de sombra, devendo então a estrutura ter orientação norte/sul, para que a sombra “caminhe” ao longo do dia de oeste (período da manhã) para leste (período da tarde), reduzindo a formação de lama.
A utilização de rodízio das áreas de sombra, quando estiverem com muita lama, também é necessária e pode ser realizada com o auxílio da cerca elétrica isolando as áreas mais críticas.
A utilização de ventiladores, aspersores e nebulizadores também pode ser planejada para galpões de confinamento, currais de espera ou em áreas cobertas e apresenta grande eficiência na retirada de calor do animal e do ambiente.
Outro fato de extrema importância é a presença de cochos de água e comida na sombra ou próximo, para que os animais não fiquem apenas na sombra e tenham seu consumo diminuído. Não é necessário ter um bebedouro grande, mas este deve apresentar um fluxo contínuo de água, uma vazão que o mantenha sempre cheio e ser mantido limpo.
Comparada a um eficaz sistema de manejo do ambiente, a manipulação da dieta da vaca leiteira em estresse calórico terá efeito relativamente pequeno sobre a produtividade. O consumo de matéria seca começa a reduzir quando a temperatura ambiente excede 25,5 °C.
Uma estratégia para diminuir a queda no consumo de matéria seca é aumentar o número de fornecimento da dieta ao longo do dia. Além disso, limpar o cocho diariamente retirando sobras que possam fermentar e impactar ainda mais na queda do consumo do alimento.
Pode-se realizar outras ações como manter a ordenha sempre nas horas mais frescas do dia, buscando minimizar os efeitos negativos do calor quando os animais estiverem aglomerados. E evitar a lida com os animais (vacinação, pesagem, inseminação, controle de parasitos, entre outros) nos momentos mais quentes do dia, pois o calor e aglomeração dos animais irá piorar o estresse térmico.
O efeito do estresse calórico no desempenho animal, provavelmente vai se tornar muito mais importante no futuro, caso a destruição ambiental continue aumentando. Dessa forma, pode-se notar os efeitos do aquecimento global, que tende a ter efeitos ainda maiores.
Em se tratando de estresse calórico animal, deve-se promover à integração entre técnicos, pesquisadores e produtores, na busca por alternativas viáveis e adaptadas a cada realidade. Ações que melhorem o conforto térmico do animal levam a transformação do bem-estar em maior consumo de alimentos, que resultará em aumento da produção de leite e melhora na reprodução.
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Quando este material foi postado? Estou usando como base de pesquisa para um trabalho cientifico. Agradeço desde ja.
Olá, boa tarde!
As datas haviam sumido, mas já voltaram. Esse texto foi publicado dia 9 de julho de 2018.
Boa noite.
Muito obrigado pela atenção.
existe um aparelho que se possa instalar denro do barracao pra saber o THI dentro do ambiente, pois vc usa aspessao e ventilacao , nao muda nada esse numero comparado sem isso?
O THI pode ser obtido a partir da instalação de medidores da temperatura e da umidade do ambiente. Os valores destas variáveis (temperatura e umidade) são correlacionados em uma tabela específica de modo a demonstrarem qual o THI naquele momento.