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Free Stall: o que você precisa saber para implantar esse sistema

Conforme os dados do IBGE, o Brasil alcançou a produção anual de 35 bilhões de litros de leite desde 2014, mantendo esse patamar até 2021. No entanto, o país experimentou uma queda significativa no rebanho leiteiro, registrando uma redução de 30% no número de cabeças, o que equivale a uma diminuição de cerca de 7 milhões de animais, aproximadamente 1 milhão de cabeças a menos anualmente.

Essa drástica redução no tamanho do rebanho, acompanhada pela manutenção dos níveis de produção, pode ser atribuída a diversos fatores. Entre eles, destacam-se o aprimoramento genético dos animais, a implementação de melhorias nutricionais e de manejo, bem como a introdução de tecnologias que promovem o bem-estar e a saúde dos animais no rebanho.

Além dessas melhorias, a infraestrutura destinada à criação de gado leiteiro também se ajustou às necessidades de rebanhos mais exigentes. Nesse cenário, sistemas de criação como o Free Stall ganham crescente importância, proporcionando um ambiente mais adequado e confortável para os animais, desempenhando um papel fundamental na busca pela melhoria da produtividade na pecuária leiteira.

Todavia, é de extrema importância um planejamento criterioso antes de investir em um sistema de Free Stall, pois isso impactará diretamente na viabilidade financeira e produtiva da fazenda.

Nesse texto traremos informações importantes a serem consideradas, como o tipo e a qualidade genética do rebanho, a localização e o espaço disponível para instalação, as mudanças na dinâmica do manejo da propriedade e a viabilidade financeira do retorno do investimento.

Gráfico apresentando a sobreposição de produção de leite por rebanho de 2014 até 2021.

Gráfico apresentando a sobreposição de produção de leite por rebanho de 2014 até 2021. Fonte: IBGE 2022, adaptado

 

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Planejamento do Rebanho

A princípio, o aumento da produtividade proporcionado pela implementação de sistemas de criação mais lucrativos pode parecer tentador, seja através do incremento na produção dos animais ou da redução dos custos de produção. No entanto, é crucial compreender que o equilíbrio entre produção e custo está diretamente relacionado ao perfil do rebanho, incluindo sua genética e a média de produção por vaca.

Não basta avaliar apenas o aumento na média de produção de leite por animal no final da implementação do novo sistema, pois esse aumento deve acompanhar de forma paralela o investimento inicial e os custos de manutenção de toda a estrutura. Portanto, realizar o planejamento de crescimento do rebanho antes de implementar a instalação é fundamental para viabilizar o projeto.

E esta organização do plantel é um dos maiores gargalos no planejamento de transição para sistemas de criação mais avançados, especialmente em propriedades de pequeno e médio porte. Nesses casos, o desafio do aprimoramento genético se destaca.

Índices reprodutivos abaixo do ideal, mão de obra menos qualificada e práticas de manejo que não atendem às necessidades dos animais de alta produção contribuem para prolongar o intervalo entre gerações, dificultando a obtenção de animais com um desempenho produtivo satisfatório.

Dessa forma, para otimizar o desempenho do novo sistema, é essencial adotar uma abordagem criteriosa em relação ao rebanho.

Animais de baixa produção, com problemas de reprodução ou histórico de doenças locomotoras, mastite e questões reprodutivas, devem passar por avaliação visando o descarte desses animais do rebanho.

Ao mesmo tempo, investir em linhagens genéticas de alto potencial produtivo e longevidade é uma peça-chave para garantir que, quando integrados ao sistema Free Stall, os animais alcancem um aumento significativo na produção. Isso, por sua vez, contribuirá para compensar os custos adicionais ao longo dos anos e manter a lucratividade do empreendimento.

Pós-Graduação em Pecuária Leiteira

Planejamento da área de instalação do Free Stall

Para planejar a área de instalação do Free Stall, diversos fatores desempenham um papel crucial na otimização do sistema. Primeiramente, é essencial compreender quais unidades serão contempladas na construção.

Na grande maioria dos Free Stalls, essas unidades compreendem três aspectos fundamentais: a área de alimentação, a área de repouso e a área de exercício.

Para estimar o tamanho adequado das unidades de alimentação, é essencial considerar a capacidade de acomodação do sistema.

No que diz respeito à área de alimentação, é recomendável destinar entre 60 a 70 cm lineares de espaço de cocho por vaca em lactação e 70 a 80 cm lineares para vacas no pré-parto e pós-parto. Quando se trata de vacas e novilhas compondo o mesmo lote no pós-parto, o espaço necessário no cocho deve variar de 80 cm a 1 m lineares.

Essas medidas visam assegurar que todos os animais tenham acesso ao alimento, minimizando qualquer competição na área de alimentação.

Além disso, o dimensionamento da área de repouso é um ponto crítico, que deve abranger aproximadamente 2,8 m2 por animal. É importante que as baias tenham entre 2,4 a 2,7 metros de comprimento, permitindo que os animais se deitem e se levantem com conforto. A largura deve ser de cerca de 1,1 a 1,4 metros, possibilitando a movimentação dos animais e proporcionando um ambiente adequado para o descanso.

Vale ressaltar, que para baias de pré-parto no sistema Free Stall, visto toda a logística e conforto para o animal gestante, a área deve compreender um espaço maior, em média, entre 4,5 e 5,5 m² por vaca.

Planta de instalação Free Stall

Planta baixa de um modelo de instalação Free Stall. Fonte: SEYFI (2015)

Independentemente da disposição das baias, seja ela em cama dupla, cabeça com cabeça, cama dupla traseira com traseira ou cama tripla, é essencial manter um espaçamento de aproximadamente 1,2 a 1,5 metros entre cada conjunto de camas. Isso facilita a locomoção dos animais entre as fileiras.

Além disso, os corredores que separam as fileiras de baias precisam ser amplos o suficiente para a passagem de vacas, tratores e pessoas. Uma largura comum para esses corredores é de 3 a 3,5 metros.

Quanto à área de exercício ou locomoção, é crucial que ela seja ampla o suficiente para garantir que os animais possam se movimentar com facilidade, evitando congestionamentos e garantindo uma boa circulação de ar. Geralmente, isso é traduzido em um espaço de cerca de 1,2 a 2 m² por animal.

Planejamento do local do Free Stall

Considerando todo o planejamento da área, a escolha do local de implementação deve atender a critérios específicos. Isso inclui a localização que possibilita o acesso a infraestruturas e recursos essenciais para o projeto, como proximidade da sala de ordenha, facilidade de acesso para animais, tratores e pessoas, bem como facilidade na instalação de energia e água.

A orientação do galpão também deve ser considerada, de modo a aproveitar ao máximo a luz solar natural.

Geralmente, opta-se por posicionar as fileiras na direção leste-oeste, de forma que a fachada do galpão fique voltada para o leste. Essa escolha proporciona uma melhor utilização da luz solar, neutralizando possíveis impactos fisiometabólicos nos animais devido a excessos ou escassez de exposição aos raios solares.

Posicionamento das paredes laterais do barracão

Posicionamento das paredes laterais do barracão, enfatizando a angulação dos raios solares dentro do galpão. Fonte: The Dairyland Initiative (2015)

Outro ponto importante é a gestão eficiente da drenagem de resíduos e água da chuva, o qual desempenha um papel crucial na manutenção de um ambiente higiênico, saudável e confortável em um sistema de Free Stall.

Embora não haja valores numéricos específicos para declividade e dinâmica de drenagem, alguns aspectos são de extrema importância:

  • Na área de repouso dos animais, é essencial que o piso apresente um declive adequado para evitar o acúmulo de poças e permitir que o sistema de lavagem direcione os resíduos para os canais de drenagem. Um declive suave de 1 a 2% é suficiente para orientar eficazmente os resíduos para os canais de drenagem.
  • Independentemente do tipo de piso utilizado, seja concreto ou tapetes de borracha, é importante dimensioná-lo e mantê-lo em adequadas condições. Quando subdimensionados ou mal conservados, esses pisos podem reter água e resíduos de fezes e urina, dificultando o escoamento.
  • A instalação de canais e calhas de drenagem ao longo das áreas de repouso é fundamental. O dimensionamento correto deve ser calculado com base na carga de dejetos esperados para evitar sobrecargas nos canais de drenagem ou entupimentos devido a resíduos mais pastosos.
  • É crucial conectar esses canais de drenagem a sistemas de esgoto ou fossas sépticas capazes de lidar com o volume de jatos gerados. Além disso, é importante garantir um destino adequado para esses resíduos, em conformidade com as regulamentações ambientais e de saúde.

Além do sistema de lavagem, o sistema de raspagem desempenha um papel fundamental na manutenção da higiene do ambiente. Seja por meio do uso de lâminas de raspagem, raspadores acionados por cabo ou por ação manual, a remoção mecânica dos resíduos mais grossos otimiza significativamente a eficiência da lavagem via flushing.

Como também, a raspagem melhora a locomoção dos animais e reduz o contato da matéria orgânica com os cascos e o úbere das vacas, resultando em uma redução na ocorrência de mastite e doenças infecciosas podais.

Limpeza no casco de vacas sendo realizada por meio de raspadores automáticos.

Limpeza sendo realizada por meio de raspadores automáticos acionados por cabo, realizando a remoção mecânica dos resíduos. Fonte: GEA

Planejamento da Estrutura do Free Stall

Há várias conformações estruturais de Free Stall, desde de estruturas mais simples de madeira, e metal ou concreto, o que modifica o preço e a durabilidade da estrutura. Todavia, independentemente do tipo de material utilizado há precauções quanto a estrutura, devem ser consideradas no planejamento.

Entre elas, a cobertura desempenha um papel fundamental em instalações como essa, e tanto o material quanto o design são aspectos cruciais a considerar.

No que diz respeito ao material, é essencial que ele seja resistente o suficiente para enfrentar as condições climáticas e as variações de temperatura, enquanto ainda consegue ser leve e proporcionar uma boa ventilação para evitar o acúmulo de calor no interior do galpão.

As telhas metálicas, por exemplo, atendem bem a esses requisitos devido às suas características físicas. Além disso, o ângulo da cobertura também desempenha um papel importante na dissipação de calor e na circulação de ar, permitindo ângulos de até 50% de inclinação e uma abertura central superior de 50 cm.

Planta baixa de uma estrutura de Free Stall

Planta baixa de uma estrutura de Free Stall, enfatizando o posicionamento dos cochos e a cobertura. Fonte: Camargo A. C.

No que diz respeito às estruturas de sustentação do galpão, sejam elas metálicas ou de concreto pré-moldado, é fundamental que incluam pelo menos quatro linhas de vigas de sustentação. Duas delas devem estar posicionadas nas extremidades da estrutura, enquanto as outras duas devem estar localizadas no centro, alinhadas com as camas e a área de alimentação.

A altura das vigas deve ser ajustada para corresponder ao alinhamento do telhado, com uma altura interna de cerca de 4 a 5 metros, dependendo da localização do Free Stall e das características da cobertura.

Planejamento do material para as camas e ventilação

Um dos principais objetivos ao adotar um sistema de criação mais eficiente é assegurar o bem-estar dos animais.

As vacas leiteiras, devido ao seu metabolismo intensivo na produção de leite, enfrentam desafios particulares no clima brasileiro. Sobretudo na dificuldade em dissipar o calor do corpo para o ambiente, o que pode resultar em estresse térmico.

Esse estresse, por sua vez, acarreta uma série de impactos negativos para o animal, incluindo a redução dos índices reprodutivos e a diminuição na produção de leite.

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Portanto, um sistema de ventilação eficiente desempenha um papel crucial na facilitação da dissipação de calor e na manutenção do equilíbrio térmico dos animais.

Esse sistema pode adotar diferentes abordagens, como ventilação natural, mecânica, aspersão ou uma combinação delas.

Independentemente do modelo escolhido, é essencial equilibrar a velocidade do ar, evitando tanto o desconforto excessivo para os animais quanto a falta de ventilação adequada para a termorregulação eficaz.

Movimentos do ar acendestes, descendentes e circulares em uma estrutura de barracão aberta.

Movimentos do ar acendestes, descendentes e circulares em uma estrutura de barracão aberta. Fonte: The Dairyland Initiative (2015)

Em termos de medidas aceitáveis, a velocidade do ar deve situar-se entre 0,1 a 1 metro por segundo na área de descanso e em torno de 0,5 metros por segundo na área de alimentação. Quando se utiliza um sistema de resfriamento por aspersão, a velocidade pode ser um pouco maior, variando até 2 metros por segundo, para auxiliar na evaporação da água.

Além da ventilação a seleção do tipo de cama ajuda a proporcionar um maior bem-estar aos animais, pois o principal objetivo é que as vacas fiquem a maior parte do tempo deitadas e vários elementos precisam ser considerados.

Para tomar essa decisão, é fundamental avaliar o custo-benefício, a disponibilidade do material, a facilidade de manutenção, o conforto proporcionado aos animais e o custo de descarte ou reutilização do material.

As camas compostas por materiais orgânicos, como palha, maravalha, casca de café, casca de arroz, bagaço de cana, entre outros, costumam ser uma escolha econômica e proporcionam relativo conforto aos animais. No entanto, esses materiais degradam-se mais rapidamente e exigem trocas e manutenção mais frequentes, o que pode ser trabalhoso.

Por outro lado, as camas compostas por materiais sintéticos, como areia, borracha ou esteiras de etileno-acetato de vinila (EVA), geralmente têm um custo inicial mais elevado. No entanto, a manutenção é mais fácil de ser realizada. A areia, em particular, é frequentemente escolhida como material de cama em sistemas Free Stall devido à sua durabilidade e facilidade de limpeza.

Vacas em cama com material de borracha.

Vacas em cama com areia.

Imagem de cima demonstrando a cama com material de borracha. Fonte: WingFlex.

Imagem de baixo demonstrando a cama com areia. Fonte: HL Indústria e Comércio Ltda.

A escolha entre esses tipos de camas deve levar em consideração as condições específicas da fazenda, o orçamento disponível e as preferências do produtor.

Independentemente do material escolhido, é fundamental manter a cama limpa e seca para garantir o conforto e a saúde das vacas.

Monitorar regularmente a condição da cama e fazer trocas quando necessário é essencial para o bem-estar dos animais e a eficiência do sistema Free Stall.

Considerações finais

O planejamento para a instalação do sistema Free Stall deve ser realizado com meticulosidade, exigindo a colaboração de uma equipe técnica experiente e capacitada para enfrentar os desafios dessa implementação.

No entanto, é importante ressaltar que, além da infraestrutura, o preparo do rebanho e a adequada gestão do sistema são elementos cruciais que precisam estar alinhados com os objetivos do produtor.

Dessa forma, é possível promover o aumento da produtividade e da saúde dos animais de maneira eficiente e sustentável.

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Laryssa Mendonça

Eliel Scavazzini - Equipe Leite Rehagro

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