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Queda na produção de leite: como diagnosticar e as ações corretivas

A queda na produção de leite na bovinocultura é o principal desafio que o produtor pode enfrentar dentro de uma propriedade, uma vez que o sucesso da atividade depende diretamente da produção, pois esse produto será convertido em receita à propriedade. Sendo assim, é de suma importância realizar diagnósticos precisos para identificar a causa do problema, visto que pode ser multifatorial. 

Nesse texto discutiremos sobre os impactos diretos que a nutrição, reprodução, sanidade e bem-estar na produção de leite e também maneiras para a identificação e estratégias para atuar na solução dos problemas. 

 

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Nutrição

A qualidade e o balanço nutricional da dieta das vacas de leite têm um impacto significativo na quantidade e na qualidade do leite produzido pelo rebanho, pois sem os nutrientes em proporções apropriadas o animal não consegue desenvolver as funções básicas do organismo como mantença e crescimento, com isso, não terá energia para reprodução e produção de leite. 

Então, dentre os diversos aspectos do impacto da nutrição na produção de leite, podemos citar: 

  • Fornecimento de energia: A energia é fundamental para sustentar a produção de leite das vacas, principalmente quando se tem alta produção. Quando se tem uma dieta adequada sendo ofertada aos animais, permite que os mesmos convertam os nutrientes em leite. Se a dieta não é capaz de fornecer energia suficiente, consequentemente a produção de leite pode ser reduzida. 
  • Proteína: Necessária para o crescimento e reparação dos tecidos e também é importante para a síntese de proteínas no leite. Dietas com teores adequados de proteína contribuem garantindo que as vacas produzam leite com a composição de proteínas adequada. 
  • Carboidratos: Os carboidratos fornecem energia rápida e são fundamentais para a manutenção da produção de leite. Carboidratos fermentáveis no rúmen são transformados em ácidos graxos voláteis, os quais fornecem energia para a síntese do leite. 
  • Fibras: A fibra é essencial para o funcionamento adequado do rúmen, o qual é a câmera de fermentação e onde ocorrerá a digestão de fibras vegetais. Uma dieta com fibras em quantidade e qualidade adequadas ajuda na manutenção da saúde ruminal e da flora microbiana. 
  • Minerais e vitaminas: Oferta adequada de minerais e vitaminas é essencial para a saúde das vacas e produção de leite. Esses nutrientes desempenham inúmeros papeis no metabolismo e na saúde do rebanho. 
  • Água: Nutriente vital para os bovinos, sendo o maior constituinte do leite. Ofertar água limpa, fresca e de qualidade é fundamental para a garantia da saúde e produção de leite. 
  • Balanço nutricional: Além do fornecimento de nutrientes em quantidades adequadas, é essencial que seja mantido um balanço nutricional adequado entre os diferentes componentes da dieta. Qualquer desbalanço, sendo excesso ou falta de algum nutriente pode impactar negativamente na produção de leite. 

Além disso, a capacidade produtiva que uma vaca pode atingir vai depender diretamente do manejo nutricional, sendo interessante o acompanhamento de um nutricionista na propriedade. 

Dessa forma, ele será capaz de enxergar oportunidades, e traçar estratégias para ajustar a dieta dos animais de acordo com as necessidades do rebanho em diferentes estágios de produção, o que contribui maximizando a produção de leite e a saúde das vacas.

Animais em sistema de Compost Barn, onde cada lote recebe uma dieta específica, pois a segregação dos animais é feita baseada na produção de leite. Fonte: Acervo Rehagro

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Como identificar a relação da queda na produção de leite e a nutrição?

Para identificar se a nutrição é a causa ou uma das causas de redução da produção de leite é necessário que uma avaliação abrangente do manejo nutricional e saúde do rebanho seja feita.

Monitoramento da produção de leite

Realizar o monitoramento de forma regular da produção de leite individual de cada vaca é importante, pois dessa forma conseguimos relacionar quedas na produção de leite com um problema nutricional.

Dessa forma conseguimos entender se existe relação entre algum grupo de animais em específico ou se é algo geral e se estende a todo rebanho em produção. 

Observação do comportamento alimentar

Observar o comportamento alimentar dos animais é fundamental. Parar e observar se os animais no cocho estão de fato comendo, se há seletividade de um ingrediente da dieta ofertada, se existe relutância em se alimentar, se estão comendo menos, todas essas observações podem sugerir um problema com a dieta ou com a oferta de alimentos, o que irá impactar diretamente na produção de leite desses animais. 

Avaliação da condição corporal

Verifique a condição corporal das vacas regularmente, pois a queda no escore de condição corporal, tornando abaixo do ideal pode indicar que a dieta não está suprindo as necessidades nutricionais, assim como o inverso também pode ocorrer. 

Análise da forragem e alimentos concentrados

É importante verificar a qualidade da forragem e dos demais alimentos utilizados na dieta, entendendo de forma mais aprofundada o que contém de nutrientes no alimento, mas também avaliar e analisar as condições de armazenamento.

A partir do resultado dessa análise é possível conhecer a composição dos alimentos e elaborar de forma mais assertiva a dieta de acordo com as exigências de cada fase de produção. 

Avaliação do sistema de alimentação

Certificar se o sistema de alimentação está adequado é essencial. É importante checar alguns pontos como: o espaçamento de cocho está apropriado para a categoria animal e fase de produção, se ocorre a limpeza dos cochos e retiradas das sobras diariamente antes de ofertar a nova comida, se bebedouros passam por lavagem regularmente e se ocorre aproximação de comida nos casos onde há pista de alimentação. 

Histórico de mudanças na dieta

Mudanças recentes na dieta sem o conhecimento da composição dos alimentos para possibilitar maior confiança no ajuste e sem uma fase de adaptação para os animais em casos de troca de ingredientes ou alguma alteração manejo nutricional podem ser vestígios para identificar a causa da queda na produção de leite. 

Reprodução

A reprodução, por sua vez, também impacta muito na produção de leite, uma vez que o leite é um reflexo do parto. Sendo assim, é necessário se atentar às taxas reprodutivas da fazenda a fim de ter sempre animais gestantes, inseminados e em pós-parto, gerando um ciclo. 

Intimamente relacionado a isso temos o DEL (Dias em Lactação), o qual é uma métrica que indica a quantidade em dias que uma vaca está em lactação. 

O DEL é considerada uma medida importante, que pode impactar na produção de leite por estar relacionado com a eficiência reprodutiva do rebanho, tendo em vista que ele afeta o intervalo entre partos, ou seja, quando temos um DEL alto isso pode resultar em um intervalo entre partos maiores. Quanto mais curto for o intervalo entre partos, mais rápido será o retorno daquele animal em lactação, contribuindo para um DEL médio menor.  

Além da relação do DEL com a eficiência reprodutiva, podemos citar o impacto do DEL na produção média do rebanho, pois vacas no início da lactação, ou seja, com DEL menor, contribuem mais para a produção total de leite do que as vacas que possuem lactação mais avançada e consequentemente um DEL maior. 

Dessa forma, conhecendo a relação que a reprodução tem com a produção de leite, é importante nos atentarmos em medidas que contribuam para que a reprodução impacte de maneira positiva na produção de leite do rebanho, implementando práticas de manejos e estratégias que visem a melhoria da eficiência reprodutiva, sendo exemplo delas: 

Programas reprodutivos bem definidos

Deter de programas reprodutivos bem definidos, adequados a propriedade e bem manejados traz uma série de benefícios, por exemplo, otimizar a taxa de concepção e reduzir o intervalo entre partos, o que contribui para o aumento da produção de leite, além de impactar também reduzindo custos.

Desse modo, é possível ter uma redução do tempo em que as vacas ficam secas, pois temos um maior número de vacas secando por rotina, ou seja, aquelas que estão com  parto próximo e menos vacas sendo secas de forma antecipada e com parto distante. 

Monitoramento do cio

A observação de cio é fundamental quando pensamos em eficiência reprodutiva, e utilizar dispositivos de detecção de cio como colares, bastão marcador ou raspadinha podem ser úteis para identificação do cio com maior precisão. 

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Avaliação da saúde reprodutiva

Manter a saúde reprodutiva das vacas é essencial para alcançar melhores resultados. Para isso é fundamental que seja garantido um manejo nutricional adequado, monitoramento dos animais e tratamento de doenças de forma precoce, principalmente os problemas que são ocasionados logo após o parto e controle de doenças e parasitas através de adoção de calendários sanitários estratégicos para a fazenda. 

Fornecimento de ambiente adequado

É importante ter mente que as condições ambientais também podem afetar a reprodução das vacas.

Ofertar um ambiente confortável, com manejo adequado de estresse térmico, disponibilidade de água limpa e fresca e sombra com espaçamento adequado para cada animal são essenciais e contribuem para a saúde e eficiência reprodutiva. 

Monitoramento e registro de eventos

Manter um registro detalhado das informações reprodutivas de cada vaca é essencial para que se possa avaliar a eficiência reprodutiva do rebanho e identificar problemas ou oportunidades de melhoria.

Treinamento da equipe

Ter uma equipe capacitada e treinada para a realização de todo o manejo, como identificar cio, realizar inseminação artificial, monitorar a saúde reprodutiva é crucial para o sucesso do programa reprodutivo.

Animais no centro de manejo, onde ocorrem os animais passam diariamente e manejo reprodutivo e sanitário são realizados, além de ser o momento que é possível monitorar de perto todos os animais. Fonte: Acervo Rehagro

Saúde

A sanidade dos animais também pode gerar queda na produção de leite, pois animais saudáveis produzem mais leite e com mais qualidade, além da possibilidade de uma vida produtiva mais longa.

Problemas de saúde, como doenças infecciosas e distúrbios metabólicos podem afetar de maneira negativa a produção de leite e consequentemente a lucratividade da fazenda, pois os animais afetados apresentam redução na ingestão de alimentos e menor eficiência alimentar

Além disso, a saúde dos animais também está relacionada à qualidade do leite produzido, visto que vacas saudáveis podem produzir leite de melhor qualidade, o que está associado à sua fisiologia e estado geral de saúde. 

A sanidade é um fator crítico para o sucesso da produção de leite em uma fazenda leiteira e manter um rebanho saudável por meio de práticas adequadas de manejo, prevenção de doenças e monitoramento regular da saúde é essencial para garantir uma produção de leite eficiente e de alta qualidade. 

Existem várias medidas sanitárias que podem contribuir de forma significativa para a produção de leite das vacas. O principal intuito dessas medidas são garantir a saúde o bem-estar dos animais, reduzindo a incidência de doenças e melhorar produtividade. Dentre as diversas medidas existentes, podemos citar algumas das principais: 

  • Higiene e limpeza: Manter utensílios e instalações limpas é fundamental para prevenir a disseminação de doenças e assim garantir um ambiente saudável para as vacas.  
  • Controle da mastite: É importante implementar práticas de manejo da ordenha, como a implementação de linha de ordenha (na ordem onde as primíparas sejam as primeiras a serem ordenhadas e os animais com mastite ou em tratamento os últimos), a utilização correta de pré e pós-dipping, uso de luvas durante o processo de ordenha, realização de teste da caneca de fundo preto descartando os três primeiros jatos de leite. Essas práticas mesmo que simples, são extremamente importantes para o monitoramento da saúde da glândula mamária das vacas. 
  • Calendário sanitário definido: Essencial que cada fazenda adote um calendário sanitário que contemple os principais desafios que a propriedade ou região estejam sujeitos. 
  • Monitoramento da saúde: Estar sempre atento e acompanhar de maneira regular a saúde do rebanho é fundamental para a detecção precoce de qualquer problema de saúde, a fim de que a implementação de medidas corretivas seja feita. Esse monitoramento inclui desde a checagem da produção dos animais, comportamento alimentar e também a observação de sintomas clínicos e realização de exames diagnósticos. 
  • Dietas nutricionalmente equilibradas: Importante fornecer uma dieta ajustada e que esteja conforme as necessidades de cada estágio de produção. Por exemplo, a dieta direcionada para as vacas de alta produção pode não ser a mesma para animais que estão em lotes de baixa produção. 
  • Bem-estar: Garantir que os animais tenham um local para descanso adequado e que contribua para promover conforto térmico, contendo uma área de sombra adequada, entre 3 a 5 m² por animal em casos de sistema a pasto onde há necessidade de instalações com sombreamento natural ou artificial, disponibilidade de água limpa e de qualidade, com espaçamento de bebedouro de 0,12 m lineares por animal e que o manejo com os animais seja realizado com tranquilidade. 

Com esse conforto as vacas vão conseguir expressar melhor sua capacidade leiteira além de melhorar a saúde e o desempenho reprodutivo, isso tudo gerando mais leite e consequentemente mais renda ao produtor.

Animais em descanso na área de sombreamento natural. Fonte: Clube do Gado

Diante isso, fica evidente que os fatores que podem impactar na produção de leite do rebanho são inúmeros, entretanto, as medidas ou práticas adotadas para a identificação do problema e implementação de ações buscando melhorias podem ser mais simples do que parece.

Estar atento e contar com apoio de profissionais para que sempre ocorra busca por oportunidades é fundamental para o sucesso constante da fazenda, pois assim é possível encontrar onde estão os desvios, quais são os impactos e o que pode e deve ser feito para contorná-los, sempre buscando a maior lucratividade da atividade.

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Laryssa Mendonça

Marco Antônio - Equipe Leite Rehagro

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