A CCS, ou contagem de células somáticas, consiste em uma importante ferramenta que indica a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras.
As células somáticas são representadas por células de descamação do epitélio da própria glândula mamária e por células de defesa (leucócitos) que passam do sangue para o úbere.
Vacas sadias e com boa saúde da glândula mamária possuem valores de CCS de até 200.000 células/mL de leite.
Valores superiores indicam que há algum desequilíbrio na glândula mamária, possivelmente devido a ocorrência de mastite.
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Impacto da CCS elevada na produção de leite
Conforme demonstrado pela tabela abaixo, a elevação da contagem de células somáticas está diretamente associada à redução da produção de leite.
¹ Perda de produção calculada como porcentagem da produção esperada a 200.000 cél./mL.
* Contagem de células somáticas do tanque de expansão
Em uma situação onde a CCS do rebanho no tanque de expansão é de 500.000 células/mL, por exemplo, estima-se que o percentual de quartos mamários infectados no rebanho seja próximo a 16% e que as perdas na produção de leite girem em torno de 6%.
Além das perdas na produção de leite, a elevação da CCS contribui de forma negativa também com o aumento dos custos com tratamentos, descarte de leite, alteração na composição do leite (diminuição da gordura, caseína e lactose no leite) e perda da bonificação no pagamento do leite pelos laticínios.
Em casos onde a contagem de células somáticas permanece elevada (> 200 mil células/mL) de forma crônica a tendência é de que a vaca seja descartada do rebanho, caracterizando assim um outro impacto negativo do aumento da CCS.
O gráfico abaixo representa a relação entre os valores de CCS e a produção de leite na primeira lactação e da segunda lactação em diante.
Pode-se observar que a queda na produção de leite está diretamente associada ao aumento na contagem de células somáticas dos quartos mamários.
É devido a estes fatores que é de grande interesse do produtor e de grande relevância para os animais e para o sistema de produção atuar para diminuir a contagem de células somáticas do leite.
Para isso torna-se necessário prevenir, controlar e monitorar a mastite no rebanho, eliminando as infecções existentes e reduzindo novas infecções.
Relação do aumento da contagem de células somáticas (CCS) e a mastite
Conforme já citado anteriormente, a mastite representa o principal fator para o aumento da CCS. Sendo assim, torna-se importante entender um pouco sobre esta enfermidade.
A mastite pode ser classificada de duas formas, quanto a sua apresentação ou em relação ao agente causador. Quanto a sua apresentação, a mastite pode ser clínica ou subclínica.
A mastite clínica é caracterizada por demonstrações evidentes de processo infeccioso na glândula mamária através da apresentação de grumos e/ou sangue no leite, inchaço, vermelhidão e dor no úbere ao toque, podendo ocorrer até mesmo febre e desidratação do animal.
Por sua vez, a mastite subclínica não apresenta sinais clínicos visíveis, apenas o aumento da contagem de células somática no leite.
Já em relação ao agente causador, a mastite pode ser classificada como contagiosa ou ambiental.
Nas mastites contagiosas, os microrganismos tipicamente envolvidos na infecção possuem boa adaptação ao úbere da vaca, como é o caso das bactérias Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae.
Estes patógenos possuem como principais reservatórios o úbere infectado, sendo bastante disseminados durante as ordenhas, seja de uma vaca infectada para uma vaca saudável ou entre quartos mamários.
Os principais meios de disseminação dos agentes contagiosos são o uso do equipamento de ordenha contaminado e mal higienizado, uso de uma toalha/papel para secagem de mais de um teto (o ideal é utilizar uma ou até duas toalhas/papeis por cada teto) e a mão dos ordenhadores.
As infecções contagiosas tendem a serem persistentes na glândula mamária e se apresentarem de forma subclínica, podendo ocorrer episódios clínicos intermitentes.
As melhores formas de controle e prevenção da mastite contagiosa se dão através da realização da linha de ordenha, higienização adequada dos equipamentos de ordenha, desinfecção dos tetos após a ordenha, identificação e segregação dos animais infectados, tratamento de vaca seca.
Por outro lado, as mastites ambientais são geralmente ocasionadas por patógenos oportunistas, ou seja, não são adaptados ao úbere da vaca. Devido a este fato, é comum que as mastites ambientais sejam transitórias e apresentem casos clínicos graves, gerando queda brusca na produção de leite e até mesmo o óbito do animal.
Os agentes mais identificados neste tipo de mastite são os coliformes (Escherichia coli, Klebsiella spp., ect) e os Streptococcus (exceto o S. agalactiae), estando bastante presentes no ambiente onde as vacas vivem.
Realizar um bom manejo do ambiente evitando o acúmulo de matéria orgânica representa uma medida preventiva e de controle fundamental para os casos de mastite ambiental.
Para eliminar as infecções existentes é necessário identificar quais são os animais contaminados. A detecção da mastite subclínica pode ser realizada com o auxílio do California Mastitis Test (CMT) ou da CCS eletrônica, na qual deve ser coletada uma amostra de cada animal com auxílio de coletores e enviadas ao laboratório.
O recomendado é que o monitoramento da CCS eletrônica seja feito no mínimo uma vez por mês. A realização do teste de CMT juntamente a definição da frequência para sua realização ficam a critério do médico veterinário que acompanha a propriedade.
Para detectar a mastite clínica é necessário realizar o teste da caneca de fundo escuro no início de cada ordenha de cada animal. Neste teste, coleta-se os três primeiros jatos de leite de forma vigorosa de cada teto, observando a presença ou não de grumos no leite.
Em casos positivos o leite ordenhado do quarto afetado deve ser desviado do tanque, sendo recomendado a coleta de uma amostra desse leite para que seja feita a cultura microbiológica no intuito de identificar o agente patogênico envolvido (bactéria, fungo, levedura, alga).
Os exames de cultura microbiológica podem ser feitos em laboratórios especializados ou na própria fazenda caso detenha os equipamentos necessários. Sua realização é extremamente importante para o entendimento da dinâmica da mastite no rebanho e para definição dos tratamentos, uma vez que cerca de 50% dos cultivos microbiológicos não são indicativos de tratamento.
Assim como para a mastite subclínica, o auxílio do médico veterinário responsável pela propriedade é extremamente importante para a elaboração de protocolos de tratamento e estratégias de controle da mastite clínica.
Ações preventivas para auxiliar na redução de novos casos de mastite
Higiene e conforto no ambiente de permanência dos animais
O local de permanência dos animais deve ser o mais limpo possível, não havendo acúmulo de matéria orgânica.
Esta medida reduz as chances do animal se infectar com patógenos ambientais no intervalo entre as ordenhas. O local também deve conter sombreamento adequado de forma a reduzir os impactos do estresse térmico.
Adequada rotina de ordenha
São medidas importantes e essenciais: realização do teste da caneca para detecção de alterações no leite, realização de pré e pós-dipping e secagem dos tetos com um ou dois papéis/toalhas por teto. A premissa é de que a ordenha deve ser feita em tetos limpos e secos.
É importante que o tempo decorrido entre o teste da caneca e a colocação das teteiras seja em média de 1 minuto e meio, tempo que permite a melhor estimulação do animal e melhor atuação da ocitocina endógena para uma ordenha completa e gentil.
Para reduzir a infeção por patógenos contagiosos, as principais medidas são o uso do pós-dipping para eliminar os patógenos carreados pelas teteiras de uma vaca para outra, uso de luvas de forma higiênica pelos ordenhadores e limpeza e desinfecção adequada dos equipamentos de ordenha.
Outra ação que pode auxiliar na redução da contagem de células somáticas é o fornecimento de alimento de qualidade para as vacas logo após a ordenha.
Esta prática evita que as vacas deitem imediatamente após o término da ordenha e que microrganismos adentrem à glândula mamária, já que nesse momento os esfíncteres dos tetos ainda estão abertos e assim permanecem por cerca de 30 minutos, facilitando a ocorrência de mastite.
Tratamento imediato de casos clínicos
Após a detecção de mastite clínica no teste da caneca de fundo escuro, trate o animal o mais rápido possível. Quanto mais precoce for o início do tratamento, maior a chance de cura.
Outro fator que aumenta as chances de cura de casos clínicos é a cultura microbiológica, em que é possível direcionar o tratamento de acordo com a bactéria identificada.
Limpeza e manutenção do equipamento de ordenha
O aumento da ocorrência de mastite pode estar associado diretamente ao mau funcionamento do equipamento de ordenha, que pode acarretar no refluxo de leite para a glândula mamária, piora do escore de esfíncter de teto dos animais e ordenha incompleta do animal.
Outro fator que influencia diretamente na ocorrência de mastite é a limpeza inadequada dos equipamentos, que pode favorecer a contaminação dos animais durante a ordenha.
Terapia de vaca seca
Nesse tratamento são utilizados antibióticos intramamários de longa ação no momento da secagem das vacas com o objetivo de aumentar as chances de cura de infecções subclínicas existentes da lactação anterior e, também, evitar novas infecções no período seco. Deve ser realizado após a última ordenha da lactação, em todos os quartos mamários.
Há também a opção do uso do selante intramamário, que forma uma barreira física que impede a entrada de patógenos enquanto o tampão de queratina natural do animal não se formou.
Descarte e identificação de animais crônicos
Outro ponto importante é o descarte de animais que não respondem com sucesso aos tratamentos, além da segregação dos animais infectados através da linha de ordenha e divisão dos lotes.
Devemos lembrar que esses animais são fonte de infecção e devem ficar separados dos demais, sendo ordenhados por último. Em fazendas com problema por Staphylococcus aureus, os animais infectados por esta bactéria devem ser ordenhados por último e descartados assim que possível para evitar contaminação dos animais saudáveis. A taxa de cura das mastites por esta bactéria é extremamente baixa, ou até mesmo nula.
Outra bactéria que necessita de atenção especial é o Streptococcus agalactiae, entretanto, ao contrário do S. aureus, a taxa de cura varia de 80% a 100%.
O método recomendado para tratamento e erradicação de S. agalactiae é a blitzterapia, que consiste no tratamento de todos os animais positivos para S. agalactiae durante a lactação com antibiótico intramamário por 3 dias com aplicação em todos os quartos mamários.
Feito este tratamento, deve-se realizar novas culturas no 7º e 14º dia após o tratamento e, somente assim, considerar o animal negativo e curado. Recomenda-se a realização da cultura microbiológica do leite das vacas e novilhas recém-paridas.
O monitoramento contínuo da situação no rebanho é outro fator imprescindível para a manutenção da baixa contagem de células somáticas no leite do tanque.
Através desse monitoramento objetiva-se ter um controle da ocorrência de novas infecções da mastite clínica e subclínica no rebanho, do número de casos crônicos e do perfil microbiológico dos agentes patogênicos.
Esta ação permite construir uma base de dados que ajudará no entendimento da dinâmica da mastite no rebanho e nas tomadas de decisão para reduzir a CCS do leite.
Realizando-se todas essas medidas é esperado sucesso na redução da contagem de células somáticas do leite e, consequentemente, na redução dos prejuízos causados pela mastite.
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Artigo escrito por alguém que já viveu com a problemática das mamites. Bom trabalho
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