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Papel do ordenhador na produção de leite: como treinar e aprimorar a função?

A legislação brasileira define como leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. Para que essa definição seja atendida e para que o leite produzido tenha qualidade, o ordenhador possui papel chave durante esse processo e precisa ser treinado para aprimorar as técnicas e boas práticas de manejo, durante e após a ordenha. 

Nesse texto, iremos tratar sobre o papel do ordenhador dentro da atividade, bem como a necessidade de fornecer orientações e treinamento adequados frente a execução da operação, as competências que devem ser avaliadas na busca por colaboradores para tal cargo e também formas de avaliar sua motivação, além da importância de estar atento em atender a suas necessidades. 

Importância do ordenhador para a produção de leite

Visando uma boa qualidade do leite produzido é muito importante entender primeiro como a atuação e comportamento do ordenhador tem relação direta com a eficiência e qualidade do processo de ordenha na fazenda. O comportamento do colaborador depende de sua atitude, dos meios disponíveis pra executas as tarefas, da sua competência, motivação e do atendimento às suas necessidades. 

Em primeiro lugar é muito importante que a fazenda tenha os meios adequados para que o ordenhador realize seu trabalho adequadamente, para tanto é necessário que as ferramentas e materiais necessários estejam em quantidade e à disposição dos ordenhadores da fazenda para que possam realizar adequadamente seu trabalho. Para isso, é importante que exista dentro da propriedade a implementação de um checklist de verificações antes da ordenha em si, verificando a disponibilidade do material de consumo como:

  • Luvas para ordenha;
  • Solução desinfetante pré-dipping e pós-dipping;
  • Papel descartável para secagem dos tetos;
  • Medicamentos para caso seja necessário realizar o tratamento dos animais;
  • Os equipamentos de ordenha em si, verificando as mangueiras, higienização do conjunto de teteiras e lixeiras.

O uso de luvas, em especial, deve ser uma prática amplamente disseminada dentro da propriedade, sendo muito importante treinar os colaboradores e definir boas práticas de manejo e Programas de Autocontrole (PAC) para a correta paramentação e higienização dos ordenhadores. É de grande importância que estes colaboradores tenham a consciência e instrução dos efeitos da higiene na qualidade do produto, ensinando notoriedade do uso de EPI, luvas, manter as unhas cortadas e limpas, boa higienização das mãos e braços adequadamente antes da ordenha e durante, quando necessário, dessa forma é possível reduzirmos a contaminação do leite. 

Estudos demonstram que o uso de luvas é capaz de reduzir a contaminação entre os animais por Staphilococcus aureus, reduzir a contaminação entre quartos mamários contaminados e não contaminados, reduzir a contagem bacteriana nas mãos dos ordenhadores e a prevalência de mastite no rebanho. 

Sabe-se que as pessoas envolvidas na produção de leite, em especial os ordenhadores, devem estar informadas e possuir o conhecimento adequado sobre os riscos que envolvem a introdução e a disseminação de patógenos nos rebanhos, afetando os parâmetros de qualidade do leite. Desse modo, é importante realizar treinamentos técnicos e conscientizar os ordenhadores sobre a importância dos cuidados sanitários e identificação de alterações na saúde das vacas, podemos realizar mini-cursos, aulas didáticas sobre os agentes relacionados à mastite em vacas e sobre a identificação de sinais clínicos, por exemplo.

Manual de controle da mastite

Competências a serem avaliadas

Outro ponto importante é a escolha dos colaboradores, levando em consideração a competência para tal atividade, para isso temos como ferramenta o “CHA”, um conceito proposto desde 1996 como definições de competências. Essas, se refere à capacidade do indivíduo de manter um nível persistente de desempenho em seu trabalho, para isso devemos avaliar alguns fatores entre os colaboradores no momento da escolha da atividade na fazenda:

  • Conhecimento: o indivíduo ter conhecimento e treinamento adequado para exercer tal função corretamente;
  • Habilidade: capacidade motora que o indivíduo precisa desenvolver para realizar o trabalho/ jeito de fazer;
  • Atitude: intenção de executar o trabalho.

Competências necessárias ao ordenhador: habilidade, conhecimento, atitude

Conhecimentos, Habilidades e Atitudes (CHA). Fonte: Adaptada de Brandão (2009) e Fleury ne Fleury (2001)

Nesse sentido, é necessário que os colabores associados a atividade de ordenha conheçam as funções que lhe são atribuídas e saibam planejar a gerenciar a ordenha. Existem algumas responsabilidades fundamentais que estão relacionadas à função, como: 

  • Cumprimento dos horários das ordenhas definidas na propriedade. 
  • Preparação das instalações e utensílios.
  • Acompanhamento da saúde das vacas. 
  • Realizar a ordenha completa dos animais. 
  • Acompanhar e verificar a qualidade do leite. 

Dessa forma, para definirmos os colaboradores responsáveis por essa função dentro da fazenda é necessário reconhecer a competência para tal e as características dos funcionários que possam contribuir para o setor como, paciência, habilidade manual, sensibilidade no manejo dos animais, preparo físico

É importante além de identificar as competências, avaliar a motivação dos colaboradores. A motivação se refere à vontade de fazer algo em particular, por isso, um indivíduo que tem vontade de ter um bom desempenho no seu trabalho é considerado motivado.

 A motivação pode ser:

  • Intrínseca = diz respeito a satisfação do funcionário de realizar a atividade, devemos nos perguntar: o ordenhador gosta de ordenhar?
  • Extrínseca = quando a vontade de fazer depende de obter algo diferente da simples satisfação, para isso devemos nos perguntar: para o ordenhador é importante o reconhecimento do seu superior imediato? Recebe bonificação pela produtividade? 

Por isso, podem ser feitas pesquisas de satisfação entre os colaboradores relacionados a atividade, oferecer bonificações segundo produtividade, realizar testes de aptidão para identificar características desejáveis, por exemplo.

Atenção às necessidades dos colaboradores

Além disso, é importante entender as necessidades dos colaboradores, ou seja, aquilo que é necessário para que o indivíduo realize adequadamente as suas funções. A necessidade não atendida se torna desmotivadora para o indivíduo, perdendo o foco no trabalho, comprometendo o resultado. Existem vários tipos de necessidades: 

  • Fisiológicas e de segurança: necessidade de alimento, exercício, descanso, saúde, refúgio, estabilidade e proteção contra perigos e privações que qualquer indivíduo possui. 
  • Sociais: desejo do indivíduo de sentir-se parte de algo, de ser aceito pelos pares, formar amizades e interações sociais. Se não atendidas podem aumentar a rotatividade dos empregados. 
  • De estima e autorrealização: se referem ao desejo de ser respeitado e reconhecido, ao desejo do indivíduo de criar e construir, de expressar seu potencial. 

Por fim, é importante treinar os colaboradores para que também tenham cuidado e atenção no manejo dos animais. Este manejo deve ser adequado e tranquilo, pois sabemos que o manejo aversivo dos animais causa estresse e redução da descida do leite, o que resulta no aumento de leite residual nas vacas, além de aumentar o medo dos animais aos manejos da rotina e às pessoas. 

Dessa forma, é importante treinar os colaboradores para conduzir os animais evitando gritos, movimentos bruscos, maus tratos ou qualquer outro comportamento que leve o animal ao estresse ou medo, demonstrando a importância desse cuidado para a liberação do leite. Devemos conduzi-las respeitando a velocidade de caminhada do rebanho, com tranquilidade e evitando agressões.

Por fim, colocando esses pontos em prática no treinamento e conscientização dos ordenhadores conseguimos aumentar a qualidade do leite produzido na fazenda devido ao conhecimento técnico compartilhado com os ordenhadores e fornecer maior capacitação profissional, melhorar a produtividade, as condições de trabalho e consequentemente impactar positivamente seu desempenho, resultados e indicadores da fazenda.

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