Antes de implantar uma cultura, deve-se fazer a avaliação da capacidade de uso do solo da propriedade, desta forma é possível utilizar o solo de forma adequada, implantando as culturas mais indicadas conforme os tipos de solos e relevo de cada local.
Além disso, é importante analisar as características edafoclimáticas exigidas pelas culturas e verificar se a propriedade atende a essas exigências.
Condições favoráveis para o desenvolvimento do café arábica
O primeiro passo é avaliar se a propriedade possui condições favoráveis para o desenvolvimento da cultura, alguns pontos importantes são citados nos tópicos abaixo.
Fatores climáticos
Os principais fatores climáticos que influenciam o cultivo do café são a altitude, a temperatura e a precipitação.
A temperatura ideal para o cafeeiro arábica é entre 23 e 24°C, pois é nessa faixa que a fotossíntese é mais eficiente. Quando a temperatura ultrapassa esse intervalo, a eficiência da fotossíntese começa a diminuir, e acima de 34°C, a fotossíntese torna-se nula.
A altitude está diretamente relacionada à temperatura; a cada 100 metros de elevação, a temperatura diminui cerca de 0,7°C. Para o cultivo do cafeeiro arábica, recomenda-se o plantio em regiões com altitudes entre 600 e 1.200 metros.
Aptidão térmica para a cultura do cafeeiro arábica. Fonte: Matiello et al. (2020)
Além de avaliar a temperatura média anual e a altitude, é importante ficar atento com as áreas que acumulam ar frio. Essas regiões têm um risco maior de ocorrência de geada e, mesmo na ausência desse fenômeno, o cafeeiro pode ser prejudicado pelo frio, apresentando vegetação excessiva e baixa produtividade.
Quanto à necessidade de água, regiões que possuem chuvas acima de 1.200 mm anuais, são consideradas aptas para o cultivo no sequeiro.
No entanto, é importante que as chuvas sejam bem distribuídas ao longo do ano. Deficiências hídricas superiores a 150 mm, podem prejudicar o desenvolvimento e a produtividade do cafeeiro.
Aptidão hídrica para a cultura do cafeeiro arábica. Fonte: Matiello et al. (2020)
É importante destacar que fatores como o manejo da lavoura, o teor de matéria orgânica no solo, a textura, a profundidade do solo, a cultivar utilizada, entre outros, podem atenuar os efeitos da deficiência hídrica.
Solo
Para um bom desenvolvimento do cafeeiro o solo deve apresentar boas características físicas, químicas e biológicas.
O solo deve oferecer condições que permitam o desenvolvimento profundo do sistema radicular das plantas. Para isso, é recomendado que tenha pelo menos 1,5 metros de profundidade e esteja livre de obstáculos físicos, como rochas ou compactação.
Caso haja compactação, ela pode ser corrigida por meio da subsolagem.
É importante realizar a análise química do solo para determinar as correções necessárias. A aplicação de doses adequadas de corretivos e fertilizantes, junto com um preparo de solo bem feito, é essencial para garantir um bom desenvolvimento das plantas.
Topografia
O relevo pode ser classificado em plano, suave ondulado, ondulado, fortemente ondulado e montanhoso. Ele influencia na escolha da cultivar, no espaçamento, no manejo e na mecanização da lavoura.
É importante considerar que, em áreas com declividade acentuada, onde o cultivo é realizado manualmente, a necessidade de mão de obra aumenta consideravelmente, especialmente durante a colheita.
Planejamento para a implantação da lavoura
Após confirmar que a propriedade atende às exigências edafoclimáticas do cafeeiro, o próximo passo é planejar o plantio. Abaixo estão alguns tópicos importantes a serem considerados no planejamento.
Análise de solo
A análise deve ser realizada com antecedência, ela é essencial para conhecer os atributos químicos, físicos e biológicos do solo, além de indicar as possíveis correções do mesmo.
Definição da cultivar e espaçamento
Ao escolher uma cultivar, é essencial considerar a longevidade do material e o sistema de cultivo empregado, como manual ou mecanizado, sequeiro ou irrigado, entre outros fatores.
Segue abaixo algumas características importantes que devem ser avaliadas no momento da escolha:
- Produtividade;
- Vigor;
- Porte: porte alto ou porte baixo;
- Resistência a doenças;
- Resistência a nematoides;
- Maturação: precoce, média ou tardia;
- Adaptação da cultivar na região.
Quanto a escolha do espaçamento, deve-se levar em consideração os tópicos abaixo:
- Sistema de cultivo: manual ou mecanizado;
- Modelo de manejo: frequência de poda e desbrota;
- Escolha da cultivar: porte alto ou baixo;
- Clima: região com temperatura alta ou amena;
- Cultivo irrigado ou sequeiro.
O espaçamento afeta o estande de plantas, que, por sua vez, influencia a produtividade. Atualmente, busca-se um estande de 4 a 6 mil plantas por hectare no cultivo mecanizado e de 6 a 10 mil plantas por hectare no cultivo manual.
Os espaçamentos entre ruas variam de 3,2 a 4m, no cultivo mecanizado e de 2 a 3 m, no cultivo manual.
Já os espaçamentos entre as plantas variam de 0,5m a 0,7m.
Encomenda ou produção de mudas
O produtor pode escolher entre comprar mudas ou produzi-las na propriedade. Em ambos os casos, é essencial realizar um bom planejamento.
O primeiro passo é determinar a quantidade de mudas necessárias, o que requer conhecer o tamanho da área de plantio e o espaçamento que será adotado.
Se optar por comprar as mudas, é importante fazer a encomenda com antecedência, entre março e maio. Caso prefira produzi-las, o semeio deve ser realizado entre esses mesmos meses, para que as mudas estejam prontas entre setembro e novembro.
Preparo do solo
O preparo do solo deve ser feito após as últimas chuvas do ano agrícola anterior (de março a abril) ou logo no início do período chuvoso (de setembro a outubro). Quando realizado no início do período chuvoso, essa operação deve ser concluída rapidamente para evitar atrasos no plantio das mudas.
Por se tratar de uma cultura perene, este é o momento ideal para corrigir as camadas profundas do solo. É essencial realizar a subsolagem, se necessário, e incorporar o calcário em profundidades maiores utilizando arado ou grade aradora. Essas práticas garantem condições favoráveis para o aprofundamento do sistema radicular.
No cultivo mecanizado, as mudas são plantadas em sulcos, e no cultivo manual, em covas. Em ambos os métodos, recomenda-se a aplicação de calcário complementar, matéria orgânica e fósforo tanto nos sulcos quanto nas covas.
Plantio do café arábica
O plantio deve ser realizado no início do período chuvoso, que geralmente ocorre entre outubro e novembro. É fundamental selecionar as mudas com cuidado, plantando apenas as que estiverem em boas condições.
A seguir, estão algumas características para avaliar a qualidade das mudas:
- Estádio de desenvolvimento: 4 a 6 pares de folhas em mudas de 6 meses;
- Uniformidade das mudas;
- Mudas sadias: sem doenças (as mais comuns são: rizoctonia, bactérias, cercospora e phoma);
- Sistema radicular bem desenvolvido: Proporção 1/1, raiz/parte aérea;
- Substrato firme, com os saquinhos bem cheios;
- Aclimatação: pleno sol antes do plantio.
Módulo de produção
O tamanho da área a ser implantada impacta os custos e influencia em decisões importantes, como a compra de máquinas e implementos ou terceirização dos serviços, a contratação de funcionários (fixos ou temporários) e a construção de infraestrutura para pós-colheita, como terreiros, secadores e tulhas, ou a escolha pela terceirização desses serviços.
Considerações finais
Antes de iniciar uma lavoura de café, é essencial avaliar se a propriedade atende aos requisitos edafoclimáticos exigidos pela cultura.
Após essa avaliação, é recomendável elaborar um planejamento detalhado para concluir as atividades dentro do prazo estipulado.
Além disso, é importante considerar se vale a pena investir na compra de máquinas e implementos e na construção de estruturas para pós-colheita, ou se seria mais viável terceirizar esses serviços, levando em conta o tamanho da área a ser plantada.
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Referências
- MATIELLO, J. B. et al. Cultura de café no Brasil: Manual de recomendações. Varginha, MG, 2020. p.714.
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