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Estresse hídrico nas plantas de café: veja estratégias para minimizar o efeito

Cafeeiro bem irrigado

Temos observado um constante aumento na temperatura associado a má distribuição do regime de chuvas. Estes fatores podem afetar o crescimento e desenvolvimento do cafeeiro, causando estresse fisiológico as plantas.

Isso porque, o cafeeiro em condições de déficit hídrico no café combinado a altas temperaturas, induz ao fechamento estomático, dessa forma, a taxa fotossintética dessas plantas é reduzida, pois não haverá entrada de CO₂.

Além disso, o estresse hídrico severo pode acarretar morte das raízes do café, especialmente na superfície do solo. Também pode ser observado maior senescência foliar devido a alterações hormonais proporcionadas nessas condições. Por isso, são necessárias estratégias visando minimizar o efeito de veranicos no cafeeiro, em períodos de estiagem.

Nesse sentido, estratégias que proporcionem maior desenvolvimento radicular são muito desejáveis, isso porque, com um maior volume de solo explorado, principalmente se esse desenvolvimento das raízes for em profundidade, maior será a possibilidade das plantas suportarem melhor os períodos de veranico e estiagem.

 

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Utilização do gesso no cafeeiro

O gesso é um subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados, obtidos a partir da ação do ácido sulfúrico sobre rocha fosfatada. Devido a solubilidade desse condicionador ele penetra facilmente no perfil do solo, proporcionando melhoria do ambiente radicular em profundidade.

Dessa forma, o gesso atua de forma positiva no aumento do comprimento do sistema radicular e no volume de raízes, assim propiciando a absorção de água e nutrientes em profundidade.

Essa melhoria do ambiente radicular é proporcionada pela neutralização do alumínio, que é um elemento toxico as plantas, e afeta o desenvolvimento radicular. Além disso, o gesso é uma importante fonte de enxofre, sendo amplamente utilizado para fornecer este nutriente. Ele também oferece cálcio em profundidade de maneira mais eficiente que o calcário, devido à sua maior solubilidade.

Aplicação de gesso para evitar déficit hídrico em lavoura de café.

Lavoura com 7 meses com aplicação de gesso em superfície. (Foto: Diego Baquião)

Para exemplificar, Sousa et al. (2001) demonstram a distribuição relativa do sistema radicular da leucena (Leucaena leucocephala cv. Cunningham) no perfil do solo, comparando as condições com e sem a aplicação de gesso.

Dessa forma, nota-se que o volume radicular explorado na condição de presença do gesso (verde) é superior quando comparado a testemunha, em que não houve a aplicação de gesso (vermelho).

Distribuição relativa do sistema radicular da leucena (Leucena leucocephala cv. Cunningham) sem e com aplicação de gesso.

Distribuição relativa do sistema radicular da leucena (Leucena leucocephala cv. Cunningham) no perfil de um Latossolo Vermelho argiloso, sem ou com aplicação de 6t há-1 de gesso. O valor de 100% equivale a 5,206g dm-3 de raízes no solo do tratamento com gesso.

 

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Preparação do solo

Outra prática com grande impacto no desenvolvimento de raízes, é uma boa preparação do solo com grade aradora e subsolagem, proporcionando descompactação e melhor aeração do solo, dessa forma favorecendo o desenvolvimento das raízes.

Vale ressaltar que, por se tratar de uma cultura perene, a implantação da lavoura é uma ótima oportunidade para a realização de um bom preparo de solo, principalmente em profundidade, isso porque, a cultura ficará no campo por muitos anos.

Por isso, a realização de um preparo de solo profundo, propiciando boas condições para o desenvolvimento das raízes tanto na parte superior do solo quanto em profundidade é uma ótima estratégia para que as plantas consigam suportar melhor condições de déficit hídrico, isso porque, em solos compactados e sem uma boa preparação pode proporcionar um sistema superficial, sofrendo mais com condições de déficit hídrico.

Em lavouras adultas a subsolagem pode ser realizada em lavouras que serão podadas, a operação normalmente é feita depois da poda, logo no início das primeiras chuvas. Para auxiliar na estruturação do solo, é importante semear alguma planta de cobertura após a subsolagem.

Máquina subsoladora.

Subsolador (Foto: Luiz Paulo Vilela)

 

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Utilização do calcário no cafeeiro

O calcário atua na correção da acidez do solo, fato esse que influencia na disponibilização dos nutrientes as plantas.

Também, esse corretivo fornece cálcio e magnésio, nutrientes que atuam na formação da parece celular das células e na composição da molécula de clorofila respectivamente. Além disso, o calcário reduz a toxidez do alumínio, fato já mencionado, que afeta o desenvolvimento do sistema radicular.

Por isso, a utilização de calcário a fim de corrigir a acidez do solo, e proporcionar melhores condições ao desenvolvimento do sistema radicular é muito desejável.

Sua utilização pode ser feita em superfície ou incorporado no solo, esta última forma é muito desejável principalmente durante a preparação do solo para o plantio, visando colocar esse corretivo em profundidade no solo, considerando sua baixa solubilidade, quando comparada ao gesso.

Dessa forma, sempre que possível sua incorporação é recomendada, visando favorecer as condições químicas do solo, e assim proporcionar um aprofundamento de raízes e consequentemente maior absorção de água e nutrientes devido ao maior alcance do sistema radicular.

Proteção do solo

Além disso, são recomendadas técnicas que visem a proteção do solo, promovendo maior retenção de água e protegendo-o da exposição a altas temperaturas, as quais podem afetar o desenvolvimento das raízes.

Podem ser utilizadas casca de café, esterco, composto orgânico, palhadas entre outros resíduos existentes na própria propriedade. Essas coberturas também podem fornecer nutrientes e possibilitar melhores condições para o desenvolvimento radicular, devendo sempre estar atento ao equilíbrio nutricional dos elementos fornecidos por esses materiais orgânicos.

Braquiária roçada na projeção da saia das plantas com intuito de amenizar o déficit hídrico no período seco.

Manejo de braquiária com roçadeira invertida “jogando” a braquiária roçada na projeção da saia das plantas com intuito de amenizar o déficit hídrico no período seco no sul de minas (Maio-Setembro)(Foto: Arquivo Rehagro).

Braquiária direcionada para a linha do cafeeiro, protegendo o solo na projeção da saia.

Braquiária recém roçada, visando a proteção do solo. É desejável que este material orgânico seja direcionado para a linha do cafeeiro, com o intuito de proteger o solo na projeção da saia (Foto: Larissa Cocato).

Boas práticas para minimizar os efeitos do estresse hídrico

Para minimizar os efeitos do déficit hídrico, é recomendado evitar a prática da arruação. Esta técnica, amplamente utilizada por cafeicultores, consiste na remoção do material orgânico ao redor e sob a saia do cafeeiro, que é então amontoado no meio da rua.

Embora a arruação facilite o recolhimento do café de chão, ela prejudica a retenção de umidade do solo. Como a arruação é realizada antes da colheita, no início do período de estiagem, evitamos sua execução na maioria das lavouras para manter o material orgânico sob a saia do cafeeiro, o que auxilia na retenção de umidade do solo. No entanto, ainda realizamos a arruação em alguns casos específicos, como em lavouras com muito material ou galhos sob as plantas e com uma carga pendente alta.

Além de evitar a arruação, sempre optamos por realizar a “chegada de cisco”, que consiste em retornar o material orgânico para a projeção da saia da planta logo após a varrição.

Lavoura de café após processo de arruação

Lavoura após o processo de arruação. (Foto: Isaías dos Santos)

Lavoura de café após realização do chegamento de cisco

Lavoura após realização do chegamento de cisco. (Foto: Isaías dos Santos)

Considerações finais

Portanto, destaca-se a importância de práticas que visem o aprofundamento do sistema radicular do cafeeiro, a começar pela boa preparação do solo, com aplicações de gesso e calcário e quando possível sua incorporação.

Cafeeiros assim estabelecidos e conduzidos, possuem sistemas radiculares profundos e resistem satisfatoriamente, de modo geral, a períodos de estiagens mais facilmente quando comparados a cafeeiros com sistema radicular superficial. Assim como, práticas com o intuito de proteção do solo para melhor armazenamento de água no solo.

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Larissa Cocato - Coordenadora de Ensino Café

Isaias dos Santos

Referências:

  • SOUSA, D. M. G.; VILELA, L.; LOBATO, E. & SOARES, W. V. Uso de gesso, calcário e adubos para pastagens no Cerrado. Planaltina, Embrapa Cerrados, 2001, 2001. 22p. (Embrapa Cerrados, Circular técnica, 12).
  • TECHIO, J. W. Crescimento de milho em solução com alumínio e produção de ácidos orgânicos de baixo peso molecular. 2009.Dissertação (Mestrado) – Passo Fundo, RS.

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