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Vacinação em bezerros: calendário sanitário e associação de vacinas

A vacinação se trata de um importante manejo sanitário, que tem como intuito prevenir a disseminação de doenças nos bovinos leiteiros em todas as idades, a fim de mantê-los saudáveis.

Consequentemente, com os animais sadios, o produtor terá garantia de um melhor desempenho, maior produção e a possibilidade de redução de prejuízos econômicos da propriedade. 

Nesse texto iremos tratar sobre o papel crucial que o calendário sanitário desempenha na fazenda, quando bem elaborado e devidamente aplicado, as vacinas obrigatórias e as principais vacinas não obrigatórias utilizadas.

Além disso, vamos entender quais os fatores que impactam na resposta imune vacinal de animais jovens e também sobre a administração da vacina contra Brucelose e Clostridioses de forma concomitante. 

Importância do calendário sanitário

Para melhor controle e programação de todos os manejos sanitários a serem realizados durante o ano, é indispensável que o produtor tenha em mãos um calendário sanitário estratégico, que contemple animais jovens e adultos e que seja adequado de acordo com as particularidades de sua fazenda, seja pelos manejos e/ou desafios enfrentados, visto que cada fazenda tem uma realidade. Os benefícios da adoção do calendário sanitário são diversos, podendo citar: 

  • Redução de disseminação de doenças;
  • Redução no manejo com o gado;
  • Aumento na produtividade;
  • Previsão de gastos a longo prazo com a sanidade.

O apoio técnico de profissionais especializados pode ser fundamental nesse momento, pois ele será capaz de realizar um diagnóstico geral da fazenda para entender cada atividade realizada, os manejos, e principalmente, quais são os desafios ali presentes, para então, dar início ao planejamento do cronograma anual para aquela fazenda. 

No calendário sanitário deve ser abordada as vacinas de uso obrigatório e as vacinas não obrigatórias que são vistas como necessárias para a fazenda, de acordo com os desafios e histórico da fazenda.

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Vacinas obrigatórias

Brucelose

Se trata de uma vacina obrigatória e de dose única para fêmeas bovinas, com idade de 3 a 8 meses.

A vacinação deve ser realizada por um Médico Veterinário cadastrado no pelo Sistema Veterinário Estadual, os quais podem deter de vacinadores auxiliares que estarão sob sua responsabilidade. Além da vacinação, a marcação das fêmeas vacinadas é obrigatória, com a utilização de ferro candente ou nitrogênio líquido, do lado esquerdo da face.

As fêmeas vacinadas com a vacina B19 deverão ser marcadas com o algarismo final do ano de vacinação e as fêmeas que forem vacinadas com a vacina RB51 deverão ser marcadas com um V. 

Aftosa

O calendário de vacinação contra a Aftosa é definido pelo MAPA. Por isso, a vacinação é obrigatória em alguns estados do país e deve ser feita anualmente, sendo a aquisição e aplicação da vacina de responsabilidade dos proprietários dos animais.

Esse programa vacinal, nos estados que ainda existe a obrigatoriedade, normalmente é feito em duas etapas, onde na primeira etapa preconiza-se vacina os bovinos de todas as idades e a segunda etapa a vacinação apenas de bovinos até 24 meses.

Toda vacinação deverá ser declarada nos escritórios de Defesa Agropecuária. 

Vacinas não obrigatórias

Dentre as vacinas não obrigatórias, podemos citar algumas de maior relevância no território brasileiro: 

Raiva

A raiva é considerada endêmica em muitas regiões do Brasil, principalmente naquelas onde há colônias permanentes de morcegos hematófagos.

No esquema de vacinação contra a raiva, devem ser vacinados com duas doses os bovinos acima de três meses de idade, com intervalo de 30 dias de uma vacina para outra.

O reforço anual de todos os animais já vacinados é fundamental. 

Clostridioses

A primeira dose da vacina de clostridiose deve ser aplicada em animais a partir dos dois meses de idade, com o reforço 30 dias após a primeira dose nos casos onde as mães já são vacinadas.

Quando a mãe não é vacinada e na região haja um grande desafio o esquema vacinal pode ser outro, onde se tem a aplicação da primeira dose nas primeiras duas semanas de idade e reforço após 30 dias, juntamente com a revacinação a cada 6 meses e anualmente vacinar todo o rebanho. 

Leptospirose

Animais de dois a quatro meses de idade devem receber a primeira vacina e após quatro semanas a dose de reforço.

Todo o rebanho deve ser vacinado a cada seis meses ou intervalos mais curtos, a depender do critério do médico veterinário. 

IBR/BVD

Recomenda-se a aplicação da vacina contra Rinotraqueíte Bovina e Diarreia Viral Bovina aos três meses de idade com reforço após quatro semanas e revacinação anual em dose única.

Além disso, é recomendada a vacinação dos animais em reprodução, um mês antes do início da inseminação artificial ou cobertura. 

Salmonelose e Pasteurelose

A utilização dessa vacina vem sendo cada vez mais abrangente, tendo em vista dos desafios enfrentados com o sistema de cria nas fazendas leiteiras.

Normalmente essa vacina é realizada na vaca no 8º mês de gestação e nos bezerros em dois momentos, a primeira vacinação entre 15 e 30 dias de idade e a segunda vacinação quatro semana depois da primeira. 

Diarreia neonatal

Vacinas combinadas que promovem imunização de vacas e novilhas gestantes, elevam o nível de anticorpos contra determinados patógenos, e os bezerros ao serem alimentados com o colostro de vacas vacinadas tem reduzida intensidade e incidência de diarreia.

O cronograma vacinal inclui a vacinação de fêmeas gestantes até no máximo a 3ª semana que antecede o parto. 

O que impacta na resposta imune a vacina de bezerros?

Sabemos que a ingestão de colostro pela bezerra é essencial devido a riqueza de componentes para o desenvolvimento fisiológico e imunológico. O colostro é visto principalmente como uma espécie de “produto passivo fornecedor de anticorpos” e tendo uma enorme contribuição para a saúde. 

Embora o anticorpo materno seja um componente importante, não devemos esquecer que alguns outros componentes contribuem para o desenvolvimento imunológico e a resposta à vacina, como é o caso da vitamina A, fatores de crescimento do microbioma e as células colostrais. 

Bezerros nascem com deficiência de vitamina A e o colostro é um componente rico dessa vitamina e de suas formas metabólicas ativas, os quais são essenciais para as respostas imunológicas e vacinais da mucosa. Aqueles bezerros com deficiência de vitamina A respondem mal às vacinas nasais e são mais suscetíveis a infecções pelo vírus sincicial respiratório bovino (BRSV). 

É fundamental para o desenvolvimento de uma resposta imunológica, um microbioma intestinal altamente diversificado e este desenvolvimento requer três componentes: organismos do microbioma, fatores de crescimento do microbioma e fatores de crescimento de células da mucosa.

O colostro é capaz de acelerar o desenvolvimento do microbioma do trato gastrointestinal, o que é notório em animais que recebem colostro em até 12 horas após o nascimento, onde eles têm 2 a 4 logs a mais de organismos comensais do que bezerros não alimentados com colostro. 

A ingestão de colostro contendo células colostrais vivas resulta em maior número de células T auxiliares ativadas, o que confere uma maior resposta à vacina. A pasteurização ou o congelamento do colostro podem atenuar o efeito positivo das células vivas, o que torna o manejo do colostro um fator de grande importância.

Webinar Vacinação de bovinos de leite

O que devo me atentar no esquema de vacinação dos bezerros?

Já sabemos que ao nascer o bezerro ainda não teve a oportunidade de elevar sua imunidade adaptativa e ainda é prejudicado por fatores maternos, pelas influências hormonais do parto e pela falta de anticorpos na circulação e tecidos. Embora todos os componentes imunológicos essenciais estejam presentes no recém-nascido no nascimento, muitos desses componentes não são funcionais até que o bezerro tenha pelo menos 3 semanas de idade. 

A utilização de vacinas orais no período neonatal pode não ser uma estratégia eficaz para prevenir doenças diarreicas, pois os anticorpos colostrais neutralizarão o vírus da vacina. Além disso, vacinas parenterais bacterianas normalmente não possuem uma resposta boa em animais com menos de 3 semanas de idade, com exceção dos toxóides de Clostridium perfringens, que já apresentam uma resposta imunológica quando administrados em 3 dias de idade. 

Outro ponto importante é o de que muitos fatores de estresse provocam disfunções graves no sistema imune e afetam as respostas às vacinas. Dessa forma, boas práticas de criação dos bezerros são fundamentais, visto que erros de manejos não poderão ser “corrigidos” pelas vacinas.

É essencial olhar para o rebanho, ter um diagnóstico preciso dos patógenos e ser estratégico na vacinação. Todos os animais, após a vacinação, passam por um aumento na população de células T e células B, as quais respondem para que se tenha uma resposta imune completa e madura. Esse processo compreendido desde a vacinação até a obtenção da homeostase da resposta imune madura pode demorar pelo menos 3 semanas.

Quando temos a vacinação primária ocorrendo após a terceira semana de idade e a vacinação de reforço após três semanas ou mais, será mais eficaz. Isso demonstra que quando esperamos por mais tempo para a revacinação a resposta anamnéstica, ou seja, aquela que é caracterizada pela produção muito rápida e com nível elevado de anticorpos (IgG) que possuem grande afinidade pelos seus antígenos, será melhor.

Importância do momento e da resposta de reforço depende do tipo de vacina e/ou adjuvante

A importância do momento e da resposta de reforço depende do tipo de vacina e/ou adjuvante. Fonte: Adaptado de Christopher CL Chase (2021)

Vacinação de brucelose e clostridiose podem ser administradas no mesmo dia?

A vacinação estratégica é muito importante para reduzir a ocorrência da brucelose e de clostridioses, e as mesmas têm sido utilizadas como um componente importante nos programas de controle das doenças em todo o mundo. 

A proteção gerada pelas vacinas contra a brucelose é mediada principalmente pela resposta imune celular, com uma polarização forte de células imunológicas T-helper tipo 1, permitindo a eliminação do patógeno intracelular.

Diferente das vacinas de brucelose, a vacina contra as toxinas épsilon e botulínicas (vacina contra clostridioses) provocam uma forte resposta humoral, muito provavelmente devido à estimulação de células T auxiliares CD4+. 

Sabendo que a vacinação múltipla contra mais de um patógeno é uma prática muito usual nas fazendas, estudos relacionados com a hipótese de que a resposta celular imunológica T-helper tipo 1 (Th1) que é desencadeada pela vacina B. abortus B19 interferiria na resposta imunológica T-helper tipo 2 (Th2) estimulada pelas vacinas clostrídicas e vice-versa vem sendo realizados.  

Sabe-se que é comum as vacinas levarem a um processo inflamatório local em decorrência da produção de citocinas pró-inflamatórias, provocando febre, anorexia e até alterações metabólicas. 

Esses trabalhos demonstram que alterações sistêmicas desencadeadas pela vacinação contra clostridios ocorrem nas primeiras 24 horas após a vacinação, enquanto as reações causadas pela vacina da brucelose ocorrem 24 pós-vacinação.

É importante lembrar que existe uma diferença marcante entre as vacinas, pois a vacina de brucelose é viva, a vacina clostridial é inativada. Por isso, a vacina contra brucelose irá minimizar a infecção e induzir um atraso na sinalização e resposta imunitária, diferindo assim da cinética das vacinas clostrídicas. 

Quanto aos títulos de anticorpos, foi demonstrado que os animais que receberam apenas a vacina contra as clostridioses obtiveram títulos de anticorpos neutralizantes contra a toxina épsilon de C. perfringens maior do que aqueles animais que receberam juntas as vacinas de clostridiose e brucelose. 

Além disso, o grupo de animais que receberam as duas vacinas de forma concomitante, ou seja, aplicadas no mesmo manejo, obtiveram títulos medianos de anticorpos neutralizantes contra a toxina de C. bootulinum tipo C do que aqueles animais que recebeu a vacina clostridial separadamente. 

Esses resultados demonstram que a vacinação concomitante contra brucelose e clostrídios levou a menores títulos de anticorpos neutralizantes contra a toxina épsilon de Clostridium perfringens e a toxina botulínica tipo C de C. botulinum.

Fonte: Adaptado C. Diniz Neto et. al (2021)

  1. Titulação de anticorpos antitoxina épsilon de C. perfringens (UI/ mL); 
  2. Titulação de anticorpos antitoxina C de C. botulinum
  3.  Anticorpos anti-S19, de animais vacinados contra brucelose (B), clostrídios (C) e vacinação simultânea contra clostrídios e brucelose (CB).

As barras representam os maiores e os menores valores não superiores a 1,5 IQR (intervalo interquartil) da dobradiça. 

Considerações finais

Em resumo, sabemos que o sistema imunológico dos bezerros não é um processo simples. Existem muitos fatores, como estresse e a nutrição que podem de forma frequente comprometer a imunidade desses animais.

Por isso, é importante que o cronograma vacinal seja adequado, estratégico e que manejo de aplicação de vacinas nesses animais jovens seja feito nos momentos ideais da vida.

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Laryssa MendonçaAmanda Lourenço

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