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Raiva em bovinos: entendendo, prevenindo e controlando

A raiva é uma doença viral que tem como característica o acometimento do sistema nervoso central, sendo que sua evolução é drástica e sempre letal. É uma doença endêmica, transmitida por morcegos hematófagos, causada por um vírus que possui RNA envelopado e é considerada uma das maiores zoonoses em saúde pública, chegando a 100% de letalidade. 

A raiva em herbívoros, ou seja, naqueles animais que se alimentam de plantas e algas, como é o caso dos bovinos, tem sido notificada em todos os estados do Brasil e já registrou 50.944 casos de 1999 até julho de 2022. Só em 2021 foram registrados 661 casos de raiva no Brasil, sendo destes, 642 casos em ruminantes. 

Nesse texto traremos informações sobre a raiva, bem como seu ciclo epidemiológico de transmissão, patogenia, os sinais clínicos iniciais e os aparentes conforme a doença evolui e também sobre o diagnóstico e as medidas de controle e prevenção que são fundamentais. 

Ciclo epidemiológico da raiva

No ciclo epidemiológico de transmissão da raiva temos os morcegos infectados que podem contaminar outros morcegos, os animais de produção (bovinos), animais silvestres e o homem.

A principal forma de transmissão é pela mordedura, onde há inoculação de saliva com o vírus. Dentre os possíveis ciclos epidemiológicos, podemos citar: 

  • Ciclo aéreo: morcegos contaminados contaminam morcegos, animais de produção, silvestres e o homem;
  • Ciclo rural: contaminação entre animais de produção, onde um foi infectado pela mordida do morcego;
  • Ciclo urbano: nesse caso o reservatório será o cão;
  • Ciclo silvestre: mantidos tanto por canídeos selvagens e por primatas.

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Patogenia

Uma vez inoculado o vírus pela mordedura do morcego, ocorre a replicação do vírus na musculatura esquelética, até que seja atingida uma concentração viral alta para alcançar as terminações nervosas. Ao atingir as terminações nervosas, ele se liga nos receptores de acetilcolina para realizar mais replicações e entrar na célula nervosa.

O vírus vai caminhar pelo nervo periférico até atingir a medula, replicando nos neurônios motores da medula espinhal e gânglios dorsais, chegando por fim no Sistema Nervoso Central (SNC). Quando no SNC, ele intensifica a sua replicação e faz o caminho contrário, sendo disseminado por todo organismo. 

Sobre o período de incubação, ele irá depender de alguns fatores, como a capacidade invasiva, carga viral do inóculo inicial, idade e também a imunocompetência do organismo. Entretanto, pode-se dizer que esse tempo varia de dias a meses, podendo chegar nos bovinos a 3 meses de incubação.

O ciclo do vírus da raiva, não é exclusivo entre bovinos e morcegos. Outros animais, como cães e gatos podem participar, sendo que teremos o homem ao final de todo ciclo, sendo o último acometido.

Ciclos epidemiológicos de transmissão da raiva.

Ciclos epidemiológicos de transmissão da raiva. Fonte: Beatriz Abdalla

Sinais clínicos da raiva nos bovinos

Os sinais clínicos nos herbívoros (bovinos) podem ser divididos em sinais iniciais e sinais que irão aparecer com a evolução da doença: 

Sinais iniciais

O sinal mais comum é a paralisia, entretanto nesse momento o animal se apresenta alerta. 

  • Isolamento do animal;
  • Apatia e perda de apetite. 
  • Aumento da sensibilidade e coceira na região da mordedura;
  • Mugido constante;
  • Hiperexcitabilidade;
  • Salivação abundante e viscosa;
  • Dificuldade para engolir.

Com a evolução

  • Movimentos desordenados da cabeça;
  • Tremores musculares e ranger de dentes;
  • Ausência de reflexo pupilar (reflexo de contração da pupila);
  • Incoordenação motora;
  • Andar cambaleante;
  • Contrações musculares involuntárias;
  • Decúbito – não consegue mais se levantar e nesse momento ocorre: 
    • Movimento de pedalagem;
    • Dificuldade respiratória;
    • Opistótono;
    • Asfixia – Morte.

Após a manifestação clínica, até que animal desenvolva a encefalite e a morte, pode demorar de 5 a 10 dias. 

Notificação: Perante qualquer sintomatologia ou suspeita de raiva, o proprietário precisa imediatamente notificar ao Serviço Veterinário Oficial, como descrito na Instrução Normativa nº50 de setembro de 2013. 

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser realizado ante-mortem, ou seja, antes do animal vir a óbito, através da análise de PCR, sendo coletado e refrigerada amostras como o folículo piloso, urina, líquor e saliva, as quais devem ser enviadas em menos de 24 horas para o laboratório. 

Entretanto, como a evolução da doença é rápida e a letalidade é alta, o diagnóstico é realizado após a morte, onde na necropsia são coletados o encéfalo inteiro ou fragmentos de ambos os hemisférios, hipocampo, tronco encefálico e cerebelo. Essas amostras devem ser refrigeradas e enviadas em até 24 horas. Caso a chegada ao laboratório demore mais do que esse tempo, as amostras devem ser congeladas, mas deve-se evitar uma sequência de congelamento e descongelamento das amostras. 

É importante ressaltar que apenas laboratórios públicos credenciados podem fazer o diagnóstico laboratorial da raiva, pois esses fazem parte da vigilância do país. 

Dentre as técnicas convencionais para o diagnóstico da raiva, temos: 

  • Imunofluorescência direta: essa técnica usa anticorpos anti nucleocapsídeo para identificar na célula infectada. 
  • Isolamento viral: Inoculação em camundongos neonatos. 

Após termos uma amostra positiva, é realizada a técnica de tipificação, a qual irá descobrir qual a linhagem que estava infectando o animal e qual foi o primeiro infectado. 

É importante lembrarmos da realização do diagnóstico diferencial nesses animais de produção para outras doenças, como: 

  • Intoxicação por chumbo;
  • Intoxicação por sal (ambas intoxicações causam cegueira, um sinal raro no caso de raiva);
  • Deficiência de vitamina A;
  • Listeriose;
  • Encefalites de forma geral;
  • Abscesso em cérebro e medula espinhal.

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Medidas de controle e prevenção da raiva em bovinos

Apesar de ser uma doença de alta letalidade, a vacinação dos animais é uma medida essencial de controle. Ela não é obrigatória, a não ser em casos de epidemia. 

O ministério preconiza o controle populacional dos morcegos, entretanto o IBAMA só controla o Desmodus rotundus. Esse controle é feito com a passagem de anticoagulante nas costas do morcego e pelo fato de terem o hábito de se lamberam há a ingestão do produto e consequentemente a morte do mesmo.

Também existe um método seletivo indireto, que se trata de passar a pasta anticoagulante ao redor da ferida feita pelo morcego no animal, pois nos herbívoros eles possuem o costume de voltar no mesmo local da agressão para morderem novamente. 

Sobre a vacinação dos herbívoros

  • 1ª dose = animais acima de 3 meses. 
  • 2ª dose = reforço após 30 dias da primeira dose.
  • Revacinação anual. 

É imprescindível que adotemos medidas de educação e saúde, a partir do estímulo aos proprietários a notificar a agressão aos animais, a presença de abrigos dos morcegos em suas propriedades e também os casos suspeitos, para que o diagnóstico seja feito e medidas de controle reforçadas na região. 

Por fim, conhecendo mais sobre a doença, reforça o quão importante e eficaz é o controle e a notificação, pois assim é possível proteger a saúde animal, a disseminação da doença, garantir a segurança do rebanho, minimizar impactos econômicos, além de cumprir requisitos legais.

A colaboração entre produtores, médicos veterinários e autoridades de saúde animal é essencial para o sucesso das medidas de controle da doença.

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Laryssa MendonçaMariana Torres - Equipe Leite Rehagro

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