A produção de forrageiras ao longo de um ano não é uniforme, existe uma variação na produtividade do pasto devido aos fatores ambientais, como o clima. E esse é um dos maiores desafios para o produtor: o período de seca.
Ele ocorre todos os anos e representa uma queda na produção e qualidade das forragens, pois nesse período de meses do ano ocorre queda do volume de chuvas, temperaturas mais baixas e menor luminosidade.
Diante da certeza desse período, como podemos contornar e nos preparar?
Fonte: Demarchi, 2002.
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Principais estratégias para disponibilidade de forrageiras
As plantas forrageiras precisam de disponibilidade de água, luminosidade e temperatura adequadas para garantir o seu crescimento, condições essas que durante o período da seca não são atendidas, fazendo com que o capim entre em um período de “senescência”.
Ou seja, o capim envelhece e fica mais lignificado ou ocorre o florescimento e produção de sementes das forrageiras, perdendo qualidade nutricional.
As forragens apresentam naturalmente a lignina em sua composição, independente se o volumoso está em forma de pasto, silagem, feno ou resíduos agroindustriais e ela atua como uma barreira física de proteção à parede celular vegetal.
Quando relacionamos a lignina com a nutrição dos animais, ela pode ser apresentada como uma substância “anti nutricional” pelo fato de que sua ligação com carboidratos e proteínas presentes na parede celular vegetal resulta em menor degradabilidade da fibra, menor valor nutritivo do alimento e por isso, menor aproveitamento pelo animal.
Sabe-se que é por meio da fermentação ruminal de carboidratos fibrosos que as principais fontes proteicas e energéticas são disponibilizadas para a sobrevivência e produção dos animais.
Entretanto, a lignina consegue influenciar na qualidade final da dieta e na eficiência alimentar do ruminante por reduzir o acesso microbiano e enzimático e consequentemente a fermentação ruminal dos carboidratos fibrosos.
Por isso que quanto maior for a maturação do capim, ou seja, mais velho, maior será o teor de lignina e maior o impacto negativo no ponto de vista nutricional.
Então, sabendo dessas alterações nesse período do ano, existem medidas para evitar que o pasto perca tanta qualidade na seca, garantindo que as necessidades nutricionais das vacas sejam atendidas e a produção de leite seja mantida.
Como realizar o planejamento forrageiro?
O planejamento forrageiro é um instrumento para planejar a alimentação dos animais visando organizar a propriedade.
O intuito é conseguir disponibilizar forragens de alta qualidade e em quantidade adequada para atender as demandas do rebanho durante todo o ano dentro da capacidade de produção do pasto, da taxa de lotação da propriedade e visando maximizar a produtividade por área.
Para a realização do planejamento devem ser seguidas algumas etapas:
Avaliar as áreas disponíveis na propriedade
É importante avaliar a declividade do terreno, a disponibilidade de água, a localização da propriedade e a drenagem.
Fonte: Satélite GeoEye. (Embrapa, 2015).
Analisar as condições das pastagens já existentes, a fertilidade e qualidade do solo
A avaliação da fertilidade do solo é um processo importante pois a partir disso é possível determinar a sua qualidade e capacidade de fornecer nutrientes necessários para que as plantas cresçam saudáveis.
Dentre as técnicas mais comuns de solo temos:
- Análise química do solo: a partir da coleta de amostras do solo é possível avaliar os principais nutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre), além de medir parâmetros como pH, capacidade de troca catiônica (CTC) e o teor de matéria orgânica. Dessa forma, a partir da referência ou recomendação para a planta cultivada é possível determinar a disponibilidade de nutrientes no solo e identificar possíveis deficiências ou excessos e traçar ajustes na adubação para correção de desequilíbrios nutricionais.
Fonte: Embrapa.
- Dimensionar e estruturar um rebanho compatível com os objetivos do produtor, com a capacidade da área e da produção das forrageiras: importante ter estruturado o tipo de gado que a fazenda possui, se o negócio está crescendo ou irá crescer nos próximos anos, qual a produção da forrageira e a partir disso determinar a área necessária para alimentar todos os animais de forma ideal.
- Dimensionar áreas de implantação de pastos, escolher a forrageira adequada para a fazenda: importante ter o planejamento do tipo de forrageira que será utilizada levando em conta se haverá manejo de adubação ou uso de irrigação, o dimensionamento da área dos pastos ou piquetes e o período de descanso dos mesmos.
Diferimento de Pastagem
Estratégia que relativamente envolve baixo custo e de fácil aplicação nas fazendas, é também conhecido como “feno em pé”.
Consiste em suspender a utilização de uma parte da área de pasto da propriedade durante parte da época de chuvas, dessa forma, a forragem fica acumulada naquele pasto para ser utilizada durante a seca.
No entanto, devemos nos atentar a alguns cuidados para a realização dessa estratégia:
- Deve ser um pasto bem manejado durante as águas, para garantir a qualidade da forrageira;
- Avaliar a massa de forragem: quantidade de forragem existente por área;
- Se o tipo de forrageira utilizada é adequada para esse processo, dando preferência a plantas com baixo acúmulo de colmos e boa retenção de folhas verdes, resultando em menores reduções no valor nutritivo ao longo do tempo;
- A altura do pasto no início do diferimento;
- A adubação e suplementação do pasto.
A utilização do diferimento é uma estratégia muito interessante para garantir uma massa de forragem maior na época da seca, disponibilidade de volumoso aos animais e qualidade nutricional da forragem, no entanto para garantir que o animal mantenha um desempenho satisfatório na produção leiteira devemos pensar também na suplementação desses animais.
Pastejo rotacionado ou lotação rotacionada
O pastejo rotacionado consiste na utilização de pelo menos dois piquetes submetidos a sucessivos períodos de descanso e de ocupação.
No descanso do piquete a forrageira faz a rebrota, já que na ausência dos animais não há pressão de pastejo e no período de ocupação os animais realizam o consumo do pasto juntamente com o crescimento da forragem.
Existem várias modalidades de lotação rotacionada como:
- Convencional;
- Alternada;
- Com diferimento,
- Em faixas;
- Tipo pizza;
- Módulo com corredor.
Para a escolha da modalidade devemos avaliar as características da fazenda, qual modelo melhor se adequa a sua propriedade, as possibilidades de implantação da fazenda, a disponibilidade de mão de obra, quantos piquetes é possível dividir a fazenda, quantos animais ficam em cada pasto, as categorias de animais: multíparas, primíparas, novilhas, por exemplo e as exigências nutricionais de cada uma dessas categorias.
Figura demonstrando o pastejo rotacionado do tipo convencional, onde os animais pastejam alternando os piquetes de pasto como demonstra a direção da seta.
Figura demonstrando o pastejo rotacionado em faixa, onde os animais tem acesso restrito dentro do piquete e com a utilização de cercas o animal pasteja em faixas restritas.
Figura ilustrando o pastejo rotacionado diferido, onde uma das áreas foi escolhida para diferimento, a qual não será utilizada na época das águas, acumulando assim uma massa de forragem para a época da seca.
Figura da esquerda demonstrando um sistema de pastejo rotacionado com a presença de um corredor central, o qual dá acesso a área de descanso e ao bebedouro.
Já a figura da direita demonstra um sistema de pastejo rotacionado no formato de pizza, onde ao centro se localiza a área de descanso e o bebedouro.
O manejo da lotação rotacionada é mais complexo, exige um bom manejo das gramíneas, adubação, suplementação e irrigação do pasto, manejo do solo e também uma boa escolha da espécie forrageira.
No entanto, é uma ótima opção para assegurar a disponibilidade de forragem para os animais durante todo o ano devido a setorização do terreno da propriedade que permite que em algumas áreas da fazenda o pasto descanse e se recupere para os períodos de seca.
Suplementação com volumoso para os animais no período de seca
Como no período de seca a produção de matéria seca das forrageiras diminui significativamente, torna-se necessária a suplementação volumosa ou o uso de concentrado para manter a nutrição adequada dos animais e amenizar o déficit nutricional do rebanho e evitar prejuízos reprodutivos, produtivos e de condição corporal das vacas.
Como opção de suplementação volumosa podemos utilizar a capineira que é uma forma de produção de forragem em que utilizamos de um pasto com área cultivada com uma gramínea de alta produtividade, onde ao atingir seu ponto ótimo de produção e valor nutritivo realizamos o corte de forma específica para cada espécie forrageira.
Pode ser fornecida in natura no cocho para os animais ou realizar a conservação da forragem por meio do processo de ensilagem, no entanto para a realização desses métodos devemos realizar o manejo e planejamento no período das águas para que estas opções sejam utilizadas na época de seca.
Fonte: Acervo pessoal Rehagro
O oferecimento de material volumoso na forma de silagem é uma alternativa para suplementação na época da seca, evitando uma queda na produtividade.
É uma técnica relativamente simples e acessível, no entanto deve ser realizada tomando os devidos cuidados com o plantio e corte da forrageira, com o processo de compactação e fechamento do silo e com a umidade com o objetivo de garantir um processo de fermentação adequada e evitar a contaminação da silagem.
Conclusão
Sabendo então que o período de seca continuará existindo e que a escassez de chuvas pode causar sérios impactos na produção de alimentos, na qualidade dos pastos, no desempenho e saúde dos animais e na lucratividade da fazenda, ter um planejamento antecipado e estar preparado de forma adequada é extremamente importante para garantir a sustentabilidade e produtividade da atividade leiteira.
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