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Ordenha robótica: como funciona, e quais os benefícios na produção de leite

Ordenha robótica

A produção leiteira vive um momento de evolução contínua, impulsionada pela adoção de tecnologias que integram automação, coleta de dados em tempo real e inteligência artificial. Entre essas inovações, a ordenha robótica (também chamada de sistema de ordenha automatizada – AMS) desponta como uma das mais disruptivas no manejo de vacas leiteiras.

Com a proposta de aumentar a produtividade, reduzir a dependência de mão de obra e melhorar o bem-estar dos animais, esse tipo de ordenha está cada vez mais presente em fazendas em diferentes partes do mundo (Jacobs & Siegford, 2012).

Além disso, pesquisas têm demonstrado que sistemas automatizados de ordenha contribuem para reduzir o estresse das vacas, aumentar a frequência de ordenha e permitir monitoramento individualizado, o que é essencial para uma gestão de precisão (Castro et al., 2012).

Nesse artigo vamos aprender sobre o que é e como funciona a ordenha robótica, as principais diferenças entre os sistemas automatizados e convencionais, vantagens e limitações práticas e o que é importante saber antes de investir.

 

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O que é a ordenha robótica?

A ordenha robótica é um sistema automatizado que permite às vacas serem ordenhadas sem a necessidade de intervenção humana direta. A tecnologia opera com sensores e inteligência artificial, executando todo o processo com autonomia, desde a higienização dos tetos até a desconexão automática das teteiras ao final da ordenha (Rodrigues et al., 2021).

O ciclo se inicia com a identificação eletrônica da vaca por meio de sensores RFID acoplados a colares ou brincos. O braço robótico localiza o úbere, realiza a limpeza dos tetos com jatos d’água ou escovas mecânicas, posiciona as teteiras e inicia a ordenha com controle individualizado por quarto mamário.

Quando o fluxo de leite atinge níveis mínimos, o sistema retira as teteiras automaticamente e aplica um spray desinfetante pós-ordenha (Jacobs & Siegford, 2012).

Ordenha Robótica

Fonte: Agroceres Multimix

Um dos grandes diferenciais do sistema é sua capacidade de coleta de dados zootécnicos e sanitários e monitoramento em tempo real (Rodrigues et al., 2021).:

  1. Produção de leite por ordenha;
  2. Frequência de visitas;
  3. Tempo médio de ordenha;
  4. Condutividade elétrica do leite (associada à mastite subclínica);
  5. Temperatura corporal;
  6. Variações de comportamento.

Modelos de tráfego no sistema robótico

Para garantir eficiência, a estrutura do estábulo e a lógica de deslocamento das vacas devem favorecer o acesso voluntário ao robô. Diversos modelos de tráfego guiado são usados para isso:

  • Primeiro a ordenha (“milk first”): O animal sai da área de descanso e passa por um portão de verificação. Se estiver apto, é direcionado ao robô e, após a ordenha, segue para a alimentação. É um modelo indicado para propriedades que desejam maior controle da frequência de ordenha (Tremblay et al., 2016).

Tráfego na ordenha robótica - milk first

Fonte: Agroceres Multimix

  • Primeiro a comida (“feed first”): Neste modelo, a vaca se alimenta primeiro e, ao sair, passa por um sistema de seleção que define se ela será ordenhada ou retornará ao descanso. Esse formato visa garantir boa ingestão alimentar antes da ordenha (Castro et al., 2012).

Tráfego na ordenha robótica - feed first

Fonte: Agroceres Multimix

  • Tráfego adaptado com uso da água: Em algumas fazendas, a água é usada como estímulo. A vaca precisa passar pelo portão de seleção para acessar a água, o que naturalmente a direciona à área de ordenha com mais frequência (Rodrigues et al., 2021).

Tráfego adaptado com uso da água

Fonte: Agroceres Multimix

Esses modelos são essenciais para o sucesso da ordenha voluntária, em que a vaca tem liberdade para decidir quando será ordenhada, promovendo maior conforto, menos estresse e melhores índices produtivos (Jacobs & Siegford, 2012).

Diferenças entre a ordenha robótica e a ordenha convencional

A escolha entre ordenha robótica e convencional envolve aspectos técnicos, operacionais e estratégicos que impactam diretamente na rotina da fazenda, produtividade, bem-estar animal e gestão de pessoas.

A seguir, destacamos os principais pontos de distinção entre os dois sistemas, com base em evidências científicas e práticas de campo.

1. Autonomia e intervenção humana

Na ordenha convencional, a higienização dos tetos, acoplamento das teteiras, monitoramento do fluxo de leite e remoção são realizados por operadores treinados. Esse processo exige mão de obra constante e rotinas bem definidas para garantir eficiência e higiene.

Já na ordenha robótica, todo o processo é automatizado. O robô realiza a higienização, posicionamento das teteiras, ordenha individualizada por teto e aplicação do pós-dipping sem necessidade de intervenção humana direta (Rodrigues et al., 2021). Isso reduz erros operacionais, melhora a consistência do manejo e libera tempo da equipe para outras atividades estratégicas.

2. Frequência de ordenha

No sistema convencional, as vacas são ordenhadas, em geral, duas a três vezes ao dia, com horários fixos, o que pode limitar o potencial produtivo de vacas de alta lactação.

Por outro lado, na ordenha robótica, as vacas têm acesso livre e voluntário ao robô, sendo comum a realização de três a quatro ordenhas diárias, dependendo do estágio de lactação e da saúde da glândula mamária (Castro et al., 2012). Isso favorece a expressão do potencial produtivo individual, especialmente em vacas em pico de produção.

3. Interação com as vacas

Na ordenha convencional, os animais precisam ser conduzidos manualmente até a sala de ordenha, o que pode gerar estresse e resistência, especialmente em rebanhos maiores ou com problemas de claudicação.

A ordenha robótica, por sua vez, respeita o comportamento natural das vacas, permitindo que elas escolham o momento da ordenha, o que reduz o estresse, melhora o bem-estar e impacta positivamente na saúde e produtividade (Tremblay et al., 2016).

4. Mão de obra e capacitação

A ordenha tradicional requer presença constante de ordenhadores, muitas vezes em turnos, e exige treinamento constante para garantir padronização e evitar falhas.

Já o sistema robótico demanda perfil técnico diferente, focado em:

  • Interpretação de dados;
  • Manutenção básica de equipamentos;
  • Monitoramento de indicadores.

Isso representa uma mudança na gestão de pessoas na fazenda: menos tarefas operacionais, mais foco em análise e tomada de decisão (Rodrigues et al., 2021).

Vantagens da ordenha robótica: mais do que automação, um novo modelo de produção

A adoção da ordenha robótica representa mais do que a simples substituição da mão de obra por tecnologia. Trata-se de uma mudança profunda no modelo de gestão, no foco do manejo e na forma como os produtores se relacionam com os dados e com o rebanho.

A seguir, destacamos as principais vantagens comprovadas em estudos nacionais e internacionais.

1. Aumento da produtividade por vaca

A liberdade para visitar o robô conforme sua fisiologia permite que a vaca seja ordenhada mais vezes ao dia. Estudos mostram que, quando a frequência de ordenha aumenta para 3 ou até 4 vezes ao dia, há um ganho produtivo significativo, especialmente em vacas de alta produção no pico de lactação (Castro et al., 2012).

Além disso, a ordenha individualizada por teto permite melhor esvaziamento da glândula mamária, o que também contribui para maior eficiência.

2. Melhoria no bem-estar animal

A ordenha robótica respeita o ritmo natural da vaca, reduzindo estresse e evitando práticas invasivas. Vacas com acesso voluntário à ordenha demonstram menor frequência cardíaca, comportamento mais calmo e melhor saúde do úbere (Jacobs & Siegford, 2012).

Essa abordagem centrada no animal resulta não apenas em melhor bem-estar, mas também em menor incidência de mastite e claudicação.

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3. Monitoramento em tempo real da saúde e desempenho

O sistema robótico atua como um monitor zootécnico constante. Durante cada ordenha, dados sobre produção, condutividade elétrica, temperatura e comportamento da vaca são registrados automaticamente. Esses dados permitem:

  • Detecção precoce de mastite;
  • Identificação de vacas com menor frequência de ordenha;
  • Diagnóstico antecipado de distúrbios metabólicos ou claudicações;
  • Análise da curva de lactação por indivíduo (Rodrigues et al., 2021).

Isso reduz o tempo de resposta do técnico ou veterinário e evita perdas produtivas por atrasos no manejo sanitário.

4. Qualidade do leite e redução da contaminação

A padronização do processo, a higienização automática e o desligamento preciso das teteiras evitam ordenhas prolongadas ou má retirada, o que reduz:

  • Contaminações cruzadas;
  • Traumas no úbere;
  • Resíduos de leite nos tetos.

Isso contribui para manter a contagem de células somáticas (CCS) em níveis mais baixos e para atender padrões de qualidade exigidos por laticínios e programas de bonificação (Jacobs & Siegford, 2012).

5. Tomada de decisão orientada por dados

Com todos os dados integrados em sistemas de gestão, o produtor pode:

  • Classificar vacas por desempenho;
  • Definir estratégias reprodutivas baseadas em curvas individuais;
  • Avaliar retorno sobre investimento com base em dados reais.

Isso representa uma mudança no perfil do produtor, que passa de executor para gestor técnico da produção (Rodrigues et al., 2021).

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Desafios e limitações da ordenha robótica: o que o produtor precisa considerar

Apesar das inúmeras vantagens, a implementação de um sistema de ordenha robótica não está isenta de desafios. Abaixo, elencamos os principais pontos de atenção que devem ser cuidadosamente avaliados antes da adoção.

1. Alto investimento inicial

O custo de aquisição de um robô de ordenha, somado à adequação da infraestrutura, representa um dos principais entraves para propriedades de médio e pequeno porte. O investimento varia conforme o fabricante, o número de vacas e os sistemas auxiliares integrados, podendo ultrapassar R$ 1 milhão para estruturas completas (Rodrigues et al., 2021).

Embora o retorno seja viável no médio prazo, é fundamental realizar uma análise de viabilidade técnico-econômica individualizada.

2. Adaptação das vacas ao sistema

Nem todas as vacas se adaptam facilmente ao novo modelo. O aprendizado do rebanho pode levar semanas, exigindo manejo paciente, reforço positivo e acompanhamento diário. Algumas vacas, especialmente as mais velhas ou dominadas socialmente, apresentam resistência ao uso do robô, o que impacta a frequência de ordenha e, consequentemente, a produção (Castro et al., 2012).

Além disso, animais com problemas locomotores, como claudicação, visitam o robô com menos frequência, exigindo ações corretivas pontuais.

3. Infraestrutura adequada

A ordenha robótica exige um layout de estábulo que favoreça o tráfego voluntário das vacas, com corredores largos, áreas bem ventiladas e separação entre alimentação, descanso e ordenha.

Pisos escorregadios, alta densidade e acesso restrito ao robô comprometem o sucesso do sistema. Instalações antigas geralmente precisam ser reformadas ou adaptadas, o que exige planejamento técnico e investimento adicional (Rodrigues et al., 2021).

4. Gestão alimentar precisa

Como o fornecimento de ração no robô é um dos estímulos para atrair as vacas, o balanceamento nutricional deve ser ajustado. A oferta de concentrado deve ser suficiente para atrair o animal, sem exceder o consumo recomendado, o que exige integração entre a nutrição e a tecnologia do robô (Jacobs & Siegford, 2012).

Uma formulação inadequada pode resultar em visitas insuficientes ou desequilíbrios metabólicos.

5. Necessidade de suporte técnico e manutenção contínua

Como qualquer tecnologia, o robô requer manutenção preventiva regular, peças de reposição e suporte técnico especializado. A falta de assistência rápida pode interromper a ordenha e afetar diretamente a produção.

Fazendas em regiões mais remotas devem considerar a disponibilidade de assistência técnica local antes de investir na tecnologia (Tremblay et al., 2016).

6. Integração e interpretação de dados

O volume de dados gerados é enorme, mas de pouco valor se não forem interpretados corretamente. Isso exige capacitação técnica da equipe ou contratação de profissionais especializados em gestão zootécnica de precisão.

O desafio não está apenas na coleta de informações, mas em transformá-las em ações práticas para melhorar o desempenho do rebanho (Rodrigues et al., 2021).

7. Gestão de rebanho adaptada

Alguns ajustes no manejo geral são necessários:

  • Adoção de estratégias para vacas em diferentes estágios de lactação;
  • Monitoramento da fila de espera para evitar superlotação;
  • Criação de protocolos para vacas que não visitam o robô espontaneamente.

O sucesso do sistema depende de uma visão integrada entre ambiente, nutrição, comportamento animal e dados (Jacobs & Siegford, 2012).

Passos essenciais para implantar um sistema de ordenha robótica na fazenda

A decisão de investir em um sistema de ordenha robótica deve ser tomada com base em planejamento técnico, análise econômica e alinhamento com os objetivos produtivos da propriedade. Abaixo, estão os principais passos recomendados para uma implantação segura e eficiente.

1. Avaliação técnica e econômica da propriedade

Antes de qualquer decisão, é necessário realizar um diagnóstico técnico da fazenda, considerando:

Paralelamente, uma análise econômica detalhada, incluindo projeção de retorno sobre investimento (ROI), payback, e impacto na margem líquida deve ser conduzida, preferencialmente com apoio de consultores especializados (Rodrigues et al., 2021).

2. Escolha do equipamento e fornecedores

O mercado oferece diversas marcas e modelos de robôs de ordenha, com variações em:

  • Número de vacas por robô;
  • Tipo de sensores e softwares;
  • Integrações com sistemas de gestão;
  • Modelos de assistência técnica.

É essencial comparar não apenas o preço, mas o suporte técnico oferecido, a disponibilidade de peças, o treinamento da equipe e a compatibilidade com a realidade da propriedade (Tremblay et al., 2016).

3. Adequações na estrutura da fazenda

A implantação do robô exige mudanças no layout do estábulo, incluindo:

  • Corredores largos e bem sinalizados para o tráfego voluntário;
  • Separação clara entre áreas de descanso, alimentação e ordenha;
  • Portões de seleção para controle do fluxo;
  • Área de espera adequada para minimizar o estresse.

Fazendas com sistema de confinamento total ou compost barn geralmente têm melhor adaptação à robotização, mas é possível implementar também em sistemas híbridos, desde que respeitado o conforto animal (Rodrigues et al., 2021).

4. Treinamento da equipe

Mesmo com a redução da necessidade de ordenhadores, a ordenha robótica exige capacitação técnica constante da equipe, com foco em:

  • Interpretação de relatórios de desempenho;
  • Identificação de falhas no sistema;
  • Monitoramento de vacas com baixa frequência de ordenha;
  • Ações preventivas de manutenção.

Equipes bem treinadas são chave para transformar dados em decisões e garantir a estabilidade do sistema (Jacobs & Siegford, 2012).

5. Implantação gradual e acompanhamento técnico

A recomendação é começar com um grupo menor de vacas, preferencialmente vacas jovens e de alta produção, que se adaptam mais rapidamente ao novo sistema. A introdução deve ser acompanhada de:

  • Protocolos de manejo específicos;
  • Observação da frequência de visitas;
  • Monitoramento da curva de adaptação do rebanho.

O apoio técnico de veterinários, zootecnistas e especialistas em robótica leiteira é essencial para ajustes rápidos e eficazes nos primeiros meses (Castro et al., 2012).

6. Análise contínua de indicadores

Uma vez instalado, o sucesso da ordenha robótica depende do uso eficiente das informações geradas. O produtor deve acompanhar indicadores como:

  • Produção média por vaca/dia;
  • Tempo médio de ordenha;
  • Intervalo entre ordenhas;
  • Vacas com baixa frequência;
  • Alerta de saúde ou mastite.

Essa análise permite ajustes finos no manejo e garante retorno financeiro ao longo do tempo (Rodrigues et al., 2021).

Conclusão

A ordenha robótica representa um dos avanços mais significativos da pecuária leiteira moderna. Mais do que apenas um equipamento, ela redefine o modelo de produção ao trazer eficiência operacional, bem-estar animal, monitoramento contínuo e gestão por dados.

Os benefícios são evidentes: maior produtividade, menor dependência de mão de obra, coleta precisa de informações, ordenha voluntária com menor estresse, entre outros. No entanto, sua implementação exige planejamento técnico, capacitação da equipe, ajustes estruturais e visão estratégica de longo prazo.

O sucesso está diretamente relacionado à capacidade do produtor em integrar tecnologia, manejo e gestão de pessoas. Não se trata apenas de automatizar, mas de transformar a cultura da fazenda.

Se a sua propriedade busca melhorar a produtividade com sustentabilidade e precisão, a ordenha robótica pode ser o passo decisivo para essa transformação.

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A ordenha robótica representa uma revolução na forma de produzir leite, mas para aproveitar todo o seu potencial é preciso muito mais do que tecnologia: é necessário entender de manejo, nutrição, bem-estar animal e gestão.

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Referências

  • Jacobs, J. A., & Siegford, J. M. (2012). The impact of automatic milking systems on dairy cow management, behavior, health, and welfare. Journal of Dairy Science, 95(5), 2227–2247. https://doi.org/10.3168/jds.2011-5137
  • Tremblay, M., et al. (2016). Adoption of automatic milking systems in dairy farming: A systematic review. Canadian Journal of Animal Science, 96(3), 333–345. https://doi.org/10.1139/CJAS-2015-0119
  • Castro, A., Pereira, J. M., & Broom, D. M. (2012). Effects of automatic milking systems on dairy cow management and welfare. Animal Welfare, 21(1), 19–26. https://doi.org/10.7120/096272812799129360
  • Rodrigues, F. A. M. L., et al. (2021). Automação na ordenha de bovinos leiteiros: benefícios e desafios. Revista Brasileira de Ciência Animal, 14(1), 34–47. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cienciaanimal/article/view/78061

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