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Hiperqueratose da ponta do teto e seus impactos na produção do leite

A hiperqueratose em vacas leiteiras é caracterizada pelo espessamento anormal da camada externa da pele, podendo ter implicações significativas em rebanhos leiteiros, acarretando consequências que afetam todo o sistema e podendo trazer grandes prejuízos para uma fazenda.

O aumento da espessura da pele pode levar à formação de crostas e fissuras, proporcionando um ambiente propício para o desenvolvimento de infecções bacterianas e fúngicas.

Além disso, quando a hiperqueratose ocorre nos tetos, essa formação de crostas pode dificultar o fechamento adequado, tornando a vaca mais susceptível à contaminação e ao desenvolvimento de mastite.

Nesse texto iremos discutir sobre a hiperqueratose e sua classificação, seus impactos na saúde e desempenho das vacas leiteiras e os principais fatores de risco, como os equipamentos e manejo de ordenha. 

Características da hiperqueratose em vacas leiteiras

A hiperqueratose é caracterizada pelo aumento da espessura e rugosidade da ponta do teto, ocasionada por alguns estímulos, ou seja, se trata de uma resposta fisiológica da pelo do teto a ação da ordenha que provoca a hiperplasia do extrato córneo da pele do teto. O teto detém de uma estrutura interna composta por musculatura lisa que envolve o canal e o esfíncter do teto. 

Os tetos dos bovinos leiteiros são altamente especializados na função de liberar o leite armazenado na glândula mamária e impedir que ocorra a invasão de microrganismos patogênicos.

No teto, os tecidos que o circundam são considerados a primeira linha de defesa e dentre esses tecidos estão o músculo do esfíncter do teto e o tampão de queratina.

Considerada uma barreira física, essa queratina formada no orifício do teto nada mais é do que uma substância produzida pela pele que reveste o teto, a qual tem capacidade de se ligar e imobilizar algumas cepas de bactérias não encapsuladas, devido a sua composição química de lipídeos e proteínas que são consideradas antimicrobianas. 

Já o músculo do esfíncter do teto é o responsável por manter o canal do teto firmemente fechado nos períodos entre as ordenhas, evitando assim a penetração de agentes patogênicos, como os causadores de mastite.

Imagem ilustrando o músculo do esfíncter e o tampão de queratina do teto de uma vaca

Imagem ilustrando o músculo do esfíncter e o tampão de queratina. Fonte: PHILPOT & NICKERSON (2002)

Durante a ordenha, o fluxo de leite e a abertura do canal do teto ocasionado pelo vácuo promovem a retirada do tampão de queratina e o relaxamento do músculo do esfíncter do teto. Por esse motivo, o processo de ordenha pode ser considerado uma operação crítica sobre a eficácia das defesas estruturais do teto.

Na propriedade, é importante que sejam adotadas análises dos fatores que podem provocar essa lesão, pois assim será possível adotar medidas de melhoria que irão impactar diretamente na promoção da saúde do úbere e no bem-estar das vacas

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Classificação por escore de ponta de teto

Sabemos que a hiperqueratose é observada como uma protusão do esfíncter do teto, o qual fica circundado por tecido queratinizado.

A metodologia mais utilizada para a avaliação de hiperqueratose na extremidade dos tetos é em sistema de escore de classificação por diferentes graus, o qual vai de 0 até 4, sendo:

  • Escore 1: Teto perfeito, fechado, sem presença de rugosidades ao redor do esfíncter. 
  • Escore 2: Orifício do teto parece ligeiramente aberto, apresentando um anel mais queratinizado ao ser redor. 
  • Escore 3: Orifício já bem protuído, demonstrando rugosidade na extremidade do teto e presença de dobras de queratina. 
  • Escore 4: Protusão muito avançada, com grande protusão e presença do anel rugoso, formando uma aparência de flor.

Representação do escore de teto, demonstrando que com o agravamento da lesão, tem-se o aumento da hiperqueratose e o prolapsamento do esfíncter

Representação do escore de teto, demonstrando que com o agravamento da lesão, tem-se o aumento da hiperqueratose e o prolapsamento do esfíncter. Fonte: HULSEN, 2007, p. 76) apud Animal Sciences Group at Wageningen University, Lelystad.

Espera-se em um rebanho de vacas leiteiras que se tenha no máximo 20% das vacas apresentando um ou mais tetos com escore 3 ou 4 de hiperqueratose na extremidade dos tetos. 

Impactos da hiperqueratose

Sabe-se que a mastite é uma enfermidade comum em vacas leiteiras e que é causada por microrganismos patogênicos. Já é ponderado que a higiene de úbere e pernas está associada a uma maior chance de ocorrência de infecção, entretanto, já se sabe também que ela pode estar associada a hiperqueratose dos tetos, pois isso predispõe a ocorrências de infecções intramamárias, por conseguinte a ocorrência de mastite clínica, levando a um aumento das células somáticas no leite. 

A hiperqueratose pode interferir no processo de ordenha. A presença de rugosidades na ponta dos tetos pode tornar o procedimento de ordenha mais difícil e doloroso, podendo, também, resultar na não retirada completa do leite da vaca, o que impacta negativamente a eficiência do processo. 

A grande maioria das propriedades com esse tipo de problema possui dificuldades no manejo de ordenha, principalmente quando se relaciona a hiperqueratose em escore mais avançado com a eficiência de limpeza dos tetos antes do acoplamento das teteiras.

Essa sujidade difícil de ser removida do teto devido a presença de um elevado anel rugoso na extremidade do teto, além de contribuir para a ocorrência de infecções, também afeta a qualidade do leite e a contagem padrão em placa (CPP), a qual avalia a qualidade microbiológica do leite.

Fatores de risco da hiperqueratose

As lesões nos tetos podem ter origem traumática, ambiental, infecciosa ou erosão química, entretanto, dentre as lesões mais comuns nos tetos, a hiperqueratose é considerada a principal, podendo ter como possíveis fatores de risco: 

  • Práticas de ordenha inadequada;
  • Sobreordenha;
  • Pulsação ineficiente;
  • Teteiras desgastadas;
  • Alto nível de vácuo;
  • Retirada grosseira do conjunto.

É importante ressaltar que os efeitos podem aparecer de curto a longo prazo, onde inicialmente, a curto prazo (uma ordenha) podemos observar mudanças de cor, textura e firmeza da ponta ou do teto como um todo. A médio prazo (dias ou semanas), já é possível observar mudanças na condição da pele do teto e o aparecimento de petéquias hemorrágicas, entretanto, de forma mais significativa, temos as lesões a longo prazo, as quais são modificações relativas à ocorrência de hiperqueratose na extremidade dos tetos. 

Equipamentos de ordenha

Dentre os mecanismos que alteram a condição da ponta dos tetos, os equipamentos de ordenha é um dos fatores que mais exerce influência nas alterações de canal do teto. Quando há um funcionamento inadequado desses equipamentos a ação exercida durante a ordenha será responsável por provocar lesões nos tetos e favorecer a hiperqueratose.

Relacionado ao equipamento de ordenha, a falta de manutenção é considerada um dos principais fatores, pois já é visto que fazenda que realizam manutenções periódicas dos equipamentos da ordenhadeira, apresentam menores escores médios de hiperqueratose do que fazendas que não tem frequência de manutenção. 

Quanto ao nível de vácuo, estudos citam que níveis acima de 60 kPa estão associados à ocorrência de hiperqueratose. Entretanto, há evidências de que quando se tem média de vácuo superior a 42kPa, o risco de hiperqueratose aumenta em 1,64 vezes em comparação com média de vácuo inferior a 42kPa, o que vem mostrar que o vácuo na ponta do teto quando muito superior a 42kPa pode causar dados nos tecidos, principalmente em períodos de baixo fluxo de leite. 

De acordo com a ISO (Organização Internacional de Normatização, 2007) há a recomendação de que a ordenha deve ser conduzida com vácuo na extremidade do teto entre 32 e 42kPa durante o período de pico de fluxo de leite

Níveis elevados de vácuo vão extrair o leite com muita força, ocasionando assim a perda da camada de queratina do canal do teto, onde essa perda será responsável por induzir o aumento da produção de queratina, o que pode resultar na hiperqueratose. Além disso, a alta pressão das teteiras sobre a pele do teto pode provocar a interrupção da circulação sanguínea com aumento da pressão local, o que pode formar rachaduras pequenas que elevam a formação de queratina no canal. 

Entretanto, além do nível de vácuo elevado, a hiperqueratose pode também estar associada simplesmente a queda do nível de vácuo do equipamento, o que vai aumentar o tempo total de ordenha e elevar as chances de agravamento do problema.

Esse nível reduzido de vácuo pode aumentar a frequência de deslizamento de teteiras, o que causa a diminuição da velocidade da ordenha e até mesmo o aparecimento de marcas na base dos tetos. 

Manejo de ordenha

A reduzida adoção de boas práticas de ordenha vem se tornando um dos principais gargalos para o desenvolvimento de hiperqueratose. Dentre este tópico de manejo de ordenha, podemos citar como fatores associados a duração e frequência de ordenha, sobreordenha e também interações entre o manejo de ordenha e o equipamento. 

Quanto a remoção dos conjuntos de ordenha, ela pode ser um grande fator relacionado a hiperqueratose, pois sabe-se que a hiperqueratose é menor quando os conjuntos de ordenha são extraídos com taxa de fluxo de 0,8kg/min comparado com um tempo de extração de 0,2kg/min. 

Em relação a sobreordenha, a qual ocorre quando há a permanência das unidades de ordenha nos tetos após o término do fluxo de leite e é considerada um dos principais fatores de risco relacionados a deterioração da condição dos tetos. Além disso, a sobreordenha se relaciona ao aumento da incidência de mastite clínica e alta CCS.

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Hoje, com a modernização das ferramentas, existem alternativas que visam reduzir problemas que são provocados durante a ordenha, e dentre eles podemos citar a utilização de extratores automáticos de teteiras, os quais detectam a redução na velocidade do fluxo de leite e promovem o saque da teteira sem que ocorra problemas com a produção total de leite e a saúde do úbere. Entretanto, é importante que essa ferramenta esteja ajustada corretamente para essa função. 

Além disso, é importante estar atento ao tempo de troca das teteiras, onde as mesmas devem ser substituídas com periodicidade recomendada pelo fabricante ou quando estiverem avariadas.

Quando se tem falha nesses equipamentos de ordenha, há uma massagem comprometida dos tetos, e também quando se tem o surgimento de fissuras nas teteiras, tem-se acúmulo de leite e dificuldade de aderência no teto, fazendo com que ocorra a entrada de ar no sistema. 

Considerações finais

Por fim, sabemos então que manter um escore de esfíncter de teto adequado é fundamental para garantir a saúde e o conforto das vacas, uma vez que a hiperqueratose pode levar a problemas como mastite e desconforto durante a ordenha. Além disso, tetos saudáveis são essenciais para a eficiência da ordenha e qualidade do leite.

O controle da hiperqueratose dentro da fazenda irá exigir atentas propostas de prevenção, a qual inclui medidas de manejo que visem evitar a exposição dos animais as possíveis causas de hiperqueratose.

Buscar informações sobre os fatores associados ao problema de acordo as características do rebanho, é necessário, pois assim é possível adotar medidas de controle assertivas e que contribuirão para o sucesso do sistema.

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Laryssa Mendonça

Julia Mattoso - Equipe Leite Rehagro

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