As interações que ocorrem entre os animais e a planta, em uma pastagem, podem proporcionar efeitos positivos e/ou negativos em ambos.
A seleção realizada pelos animais em pastejo é um dos efeitos negativos que ocorrem no pasto e está diretamente relacionado com o consumo de bovinos, uma vez que as características e a estrutura do pasto afetam o consumo por bocado.
Essa seleção pode estar associada ainda à contaminação do local por fezes e urina, à localização de água e sombreamento, que também podem influenciar o pastejo e seleção pelo animal. A ingestão diária de forragem é uma função da taxa de consumo e o tempo de pastejo.
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Produtividade dos animais no pasto
A produtividade animal de animais em pastejo é determinada pelo consumo de matéria seca, que é influenciado por uma série de fatores separados em três importantes grupos:
- Processo de digestão que estão relacionados com a maturidade da forragem, valor nutritivo e digestibilidade;
- Fatores da ingestão que estão associados à estrutura do pasto (facilidade de apreensão e colheita de forragem durante o pastejo);
- Estágio fisiológico e nível de desempenho dos animais, que estão associados aos requerimentos nutricionais e demanda por nutrientes.
De modo geral, a variável resposta, tanto das plantas forrageiras como dos animais são dependentes da estrutura do pasto e da interação com o animal, sendo esta fundamental na tomada de decisão do manejo da pastagem para favorecer o consumo de matéria seca.
Mas afinal, quais seriam os fatores relacionados às características estruturais do pasto que influenciam o consumo de matéria seca por bovinos em pastejo? Como mensurá-las e utilizá-las para aumentar a produtividade animal?
Além de conhecer quais são esses fatores e como eles interferem na produtividade, vamos entender nesse texto, quais os impactos que o manejo incorreto imprimem nos sistemas de produção.
Estrutura do pasto
A estrutura do pasto pode ser definida como arranjo e distribuição das plantas sobre o solo em um mesmo ambiente, sendo esta importante, por determinar a facilidade de apreensão dos componentes da planta, e isso pode afetar a quantidade ingerida de nutrientes.
Fonte: Patricia Rodrigues
A relação folha/colmo, índice de área foliar, massa de forragem, densidade de folhas verdes e altura média são componentes da estrutura do pasto responsáveis por influenciar a ingestão de forragem pelos animais, pois alteram as variáveis do comportamento ingestivo.
Na dimensão vertical, a altura e a distribuição dos componentes (folha, colmo) são as principais variáveis, e na dimensão horizontal é a massa de forragem, sendo essas as variáveis mais importantes que devem ser consideradas na avaliação da estrutura.
Altura do pasto
Maiores alturas implica em maturidade da planta e alongamento de colmo, havendo progressiva lignificação, que confere aumento na força de ruptura e induz os animais a selecionarem a forragem a ser consumida, reduzindo a massa do bocado e aumentando o tempo por bocado.
Com isso a taxa de consumo diminui, devido às limitações da estrutura do pasto, ou seja, alta presença de colmos podem ser uma barreira física ao processo de pastejo, dificultando o consumo .
A altura do pasto na condição de pré-pastejo apresenta alto grau de associação com os valores de interceptação luminosa pelo dossel, conforme observado em pesquisas realizadas com forrageiras tropicais.
Altura de pré-pastejo de espécies forrageiras sob lotação intermitente com base em 95% IL.
Dessa forma, estratégias de manejo determinadas pelo controle de altura do pasto é uma variável consistente para determinar as respostas da pastagem e dos animais, em estudos sobre taxa de ingestão de forragem.
Assim, torna-se mais prático entender as modificações na estrutura do pasto, e das respostas dos animais a essas variações.
Fonte: Patricia Rodrigues.
Massa de forragem
A massa de forragem pode ser definida como peso total de forragem por unidade de área, acima da altura de corte do capim, sendo usualmente expressa em kg/ha de MS.
Conhecer as diversas variações de massa de forragem entre espécies de forrageiras é importante para tomada de decisões do manejo do pastejo.
Fonte: Patricia Rodrigues.
A partir do momento que 95% de toda a luz incidente é interceptada pela planta, a produção de folhas velhas aumenta e de folhas novas diminui, causando redução no acúmulo de folhas e intenso acúmulo de colmo e material senescente.
Nessa situação, a altura e a massa de forragem dos pastos aumentam, porém o valor nutritivo fica comprometido por apresentar menores proporções da parte mais digestível (folhas).
Relação folha/colmo
Uma relação folha/colmo elevada, pode caracterizar uma planta com maior teor de proteína e boa digestibilidade, o que confere boa aceitabilidade aos animais e alta ingestão.
Fonte: Patricia Rodrigues.
As folhas representam o componente com maior quantidade de tecidos não lignificados, como mesofilo, o que confere melhor qualidade nutricional e menor tempo de retenção no rúmen, consequentemente maior taxa de passagem.
O colmo apresenta maior presença de tecidos lignificados (epiderme e esclerênquima) onde menos de 50% da parede é prontamente digestível e utilizada pelo animal, o que compromete a eficiência de pastejo, como consequência da redução na relação folha:colmo.
Por isso, a relação folha/colmo pode atuar também como indicador da facilidade de apreensão da forragem pelo animal.
Fonte: Senar.
O comportamento ingestivo de animais em pastejo é sensível a variações na estrutura do pasto, onde qualquer falha ocorrida no dimensionamento da oferta de forragem pode repercutir em amplo impacto no desempenho animal.
A quantidade e qualidade de massa verde produzida é determinada pelo acúmulo de forragem que ocorre durante o período de rebrotação das plantas (pós pastejo).
Em lotação rotativa, após a saída dos animais dos piquetes, o pasto começa a rebrotar, visando recompor a área foliar, interceptar luz e crescer novamente, acumulando nova quantidade de forragem para ser utilizada no próximo pastejo.
Dessa maneira, a interceptação luminosa (IL), associada à altura, tem sido a estratégia mais usada para manejar pastagens sob lotação rotativa, visando controlar as características estruturais do pasto.
Consumo de matéria seca por bovinos
O consumo total de forragem de um animal em pastejo é o resultado do acúmulo de forragem consumida em cada bocado, e da frequência com que realiza, durante todo tempo em que passa se alimentando.
A ingestão de forragem por bocado é muito sensível a variações na estrutura do pasto, particularmente na sua altura. Quando a massa do bocado é reduzida, ocorre queda correspondente na taxa de consumo, a menos que um incremento compensatório na taxa de bocados seja observado.
Desse mesmo modo, o consumo diário de forragem também será afetado se qualquer redução na taxa de consumo não puder ser compensada por um incremento no tempo de pastejo.
Os fatores associados à estrutura do pasto, bem como ao comportamento ingestivo dos animais, incluem seleção da dieta, tempo de pastejo, massa de bocado e taxa de bocados, sendo o bocado a unidade mais importante referente ao consumo.
O consumo pode ser dado pelo produto da massa de bocado, do tempo e número de refeições ao longo do dia.
Tempo de pastejo, massa e taxa de bocado
O tempo em pastejo é definido como o tempo em que o animal está apreendendo a forragem e mastigando-a e/ou deslocando-se com a cabeça baixa, podendo variar de acordo com a estrutura do pasto refletindo a facilidade de colheita da forragem.
A massa de forragem, altura, densidade, baixo teor de fibra das folhas, presença de barreira física (colmo) são características da estrutura do pasto que determinam os mecanismos utilizados pelos animais durante o processo de pastejo, interferindo o tempo de pastejo.
A variável tempo de pastejo é inversamente proporcional ao consumo, ou seja, quanto maior a massa de bocado, menor será o tempo de pastejo. Atividades como deslocamento, seleção, busca, manipulação e colheita do alimento estão inseridas na variável tempo de pastejo.
Sob baixa oferta de forragem, o tempo de pastejo aumenta, assim como a frequência de bocados, buscando atender a demanda diária de ingestão de matéria seca e consequentemente as exigências nutricionais diárias.
O tempo destinado ao pastejo de bovinos não deve ultrapassar de 12 a 13h, vez que tempos acima desses valores podem influenciar negativamente as atividades ruminais dos animais.
A massa do bocado, pode ser definida como o produto entre a densidade volumétrica pelo volume do bocado, sendo este, função da área do bocado e profundidade. É a variável mais importante na determinação do consumo de animais em pastejo, é mais influenciada pela estrutura do pasto.
Diferente da massa de bocado, a taxa de bocado é o número de bocados em determinado período de tempo, sendo usada para calcular a taxa instantânea de consumo, dada em bocados/min . Sob condições de menor oferta de forragem, a taxa de bocado tende a aumentar, porém, o incremento não é suficiente para evitar diminuição na taxa de consumo, com isso o animal compensa no aumento de tempo de pastejo.
Em algumas situações a massa de bocado é inversamente proporcional à taxa de bocados, o que confirma que dosséis com maiores massas de forragens demandam mais movimentos mandibulares e mastigação do que de bocados e apreensão.
Considerações finais
Os componentes da estrutura do pasto afetam diretamente a ingestão de matéria seca por influenciarem o comportamento digestivo dos bovinos. O controle da intensidade e frequência de pastejo, visa oferecer ao animal uma estrutura com elevada relação folha-colmo, que favorece o processo de pastejo.
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