O processo de intensificação dos sistemas produtivos levou ao adensamento da dieta de ruminantes com a utilização de fibra efetiva, principalmente dos animais confinados, buscando o aumento da produtividade e, consequentemente, da lucratividade da fazenda.
O maior desempenho, entretanto, é acompanhado de novos desafios, dos quais técnicos nutricionistas buscam otimizar o adensamento com a inclusão mínima de fibras efetivas na dieta, feita a partir do oferecimento de alimentos volumosos, buscando excelentes resultados sem comprometer a saúde do indivíduo.
Na falta de estímulo de fibra no rúmen-retículo, há comprometimento da ruminação e da produção de saliva. Essa última, por sua vez, é rica em elementos tamponantes para manter o pH ruminal.
Sua falta resulta em queda de pH que, dependendo da intensidade, pode contribuir para um quadro de acidose. A acidose pode se desdobrar em timpanismo espumoso e laminite, além de ter impactos negativos e irreversíveis no desempenho animal.
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FDN e FDNfe: o que são?
A fibra também estimula a motilidade, que é importante por aumentar o contato do substrato com as enzimas extracelulares dos microrganismos do rúmen, auxiliar na ruminação e na renovação de conteúdo ruminal, ajudando a aumentar a taxa de passagem. A mudança na taxa passagem tem como consequência:
- Alteração na eficiência da produção de proteína microbiana;
- Taxas de passagem mais rápidas, que favorecem o crescimento microbiano;
- Aumento de consumo, já que “libera” espaço no rúmen para o animal poder consumir mais alimento.
É comum haver casos de acidose subclínica: aquela que existe, mas não tem sintomas evidentes. Um bom indicativo de que pode estar ocorrendo é o consumo de matéria seca muito variável.
Na determinação do nível mínimo de fibra na dieta dos bovinos de corte, é importante que seja considerada a porção da fibra que efetivamente estimula a ruminação.
Para garantir que a dieta tenha fibra em detergente neutro (FDN) desejável e que promova efetividade na ruminação, a fibra fisicamente efetiva (FDNfe) começou a ser mensurada.
A figura exemplifica que a porção de FDN está contida na matéria seca (MS) da dieta, que possui um percentual de efetividade. No primeiro exemplo, a efetividade física do FDN é menor que no segundo.
O FDNfe foi definido como a porcentagem do FDN que efetivamente estimula a mastigação, salivação, ruminação e motilidade ruminal.
O conceito utilizado pelo NRC (1996) define como a soma das porcentagens do material retido em peneira acima de 1,18mm após separação vertical, e multiplicado pelo valor de FDN da amostra (FDNfe = FFDN x FDN amostra em %MS).
As partículas menores que 1,18 mm não são capazes de estimular a ruminação e os demais fatores discutidos anteriormente.
Requerimento mínimo de fibra efetiva
Essa peneira foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia nos EUA, sendo nomeada de separador de partículas da Penn State (The Penn State Particle Separator). O método para mensurar consiste em passar uma amostra do material nas peneiras (19 mm, 8 mm, 1,18 mm e fundo).
Porém, no campo a peneira 1,18 mm foi substituída pela de 4 mm devido muitas partículas ficarem retidas na peneira 1,18 mm serem de baixa ou nenhuma efetividade.
Ainda assim, o material da peneira 4 mm deve ser avaliado com cautela, pois partículas de rápida fermentação ruminal podem ficar retidas na peneira superestimando os valores de FDNfe. Essa peneira pode ser desconsiderada na soma, caso o nutricionista adote isso como critério.
O que se sabe é que os zebuínos têm maior exigência de FDNfe, sendo algo em torno de 25-30%.
Essa exigência para demais bovinos ficaria próximo a 15%. Mas, estes valores podem ser muito variáveis, de acordo com o manejo da fazenda, maquinário existente na propriedade, qualidade de fibra e uso de aditivos.
Requerimento de FDNfe em bovinos (TMR = ração de mistura total). Fonte: Dados do NRC, 2016.
Níveis de FDNfe dos alimentos
No gráfico a seguir, é visto que a diminuição do FDNfe resulta em menor pH ruminal, podendo chegar a níveis muito baixos dependendo da dieta fornecida.
Por isso, é importante estarmos atentos aos níveis de FDNfe dos alimentos mais utilizados.
A influência do teor de fibra fisicamente efetiva na dieta sob o pH ruminal de bovinos.
Nas dietas formuladas, principalmente em confinamentos, alguns alimentos são utilizados com o único intuito de fornecer fibra efetiva aos animais.
Dentre os alimentos mais comumente utilizados no Brasil, alguns se destacam: o bagaço de cana que além de preço acessível (dependendo da região) apresenta uma importante porcentagem de fibra fisicamente efetiva, o feno também pode ser utilizado com esse intuito e até mesmo silagens de milho, capim, sorgo, que passaram um pouco do ponto de ensilagem podem ser utilizados com intuito de fornecer fibra efetiva a esses animais.
Além desses, outros importantes alimentos podem apresentar importante perfil de FDNfe e devem ser levados em consideração.
O quadro abaixo ilustra a efetividade de alguns insumos utilizados para bovinos. Note que o processamento é um fator crucial para esse parâmetro.
Portanto, cada fazenda precisa conhecer seu insumo, e para isso a análise bromatológica e física das partículas é imprescindível para uma boa formulação de dieta.
Alguns subprodutos podem ser utilizados com o objetivo de estimular a ruminação através de sua efetividade, por exemplo, a casquinha de soja e o caroço de algodão, ambos alimentos possuem em sua composição bromatológica característica interessantes, o caroço com 44% de FDN, em média, e a casquinha 70% de sua MS total, entretanto por características dessa fibra a utilização dos dois alimentos se diferem.
A fibra efetiva do caroço de algodão é significativa para proporcionar a ruminação dos bovinos, podendo ser utilizada então com esse intuito, já a casquinha não apresenta essas características, e apesar de ser uma excelente alternativa de alimento não deve ter sua efetividade levada em consideração para promover ruminação.
Quando pensamos em fornecer fibra aos animais buscando as características de sua efetividades, podemos acreditar que quanto maior o tamanho da partícula, melhor será para a dieta, entretanto partículas grandes em demais, acima de 19 mm, em grandes quantidades na dieta podem proporcionar uma seleção por parte dos animais, essa seleção acarreta diversos prejuízos, por exemplo, sobras no cocho e desempenho aquém do esperado para a dieta.
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Bom dia! Sou Osvaldo Esteves de Lucena, Eng. Agrônomo e mestrando na área de Nutrição animal, pelo ifnmg – Campos Salinas. Tenho acompanhado o trabalho de vocês. Tem sido de muita valia para os meus estudos. Parabéns a toda equipe pelo desempenho destes trabalhos.