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Homem fazendo carinho em uma vaca leiteira

Interações medicamentosas e a eficácia dos tratamentos em bovinos

A combinação de medicamentos pode resultar na anulação do efeito deles ou no aparecimento de reações adversas com distintos graus de gravidade. Por outro lado, a associação de fármacos, quando feita com embasamento, tem papel importante em muitos casos.

Associando fármacos ou não, são vários os tipos de interações medicamentosas que podem influenciar a ação das drogas utilizadas e a eficácia dos tratamentos bovinos que você faz em seus animais.

Os medicamentos podem interagir durante o preparo, no momento da absorção, na distribuição, na metabolização, na eliminação, no local de ação dos medicamentos devido à modificação do efeito bioquímico ou fisiológico de um medicamento quando associado a outro, etc.

 

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Pensando na associação de medicamentos, vamos começar falando do antagonismo e do sinergismo, pois é muito importante entender o que são e como funcionam, especialmente quando se trata do uso de antibióticos, muitos utilizados para o tratamento de animais no campo.

Conhecer o antagonismo e o sinergismo permite o uso mais consciente de medicamentos, como os antibióticos e, assim, contribui para a maior eficácia dos tratamentos bovinos.

Antagonismo e sinergismo

Apesar dos nomes, é muito simples entender como funcionam essas interações.

Por definição, antagonismo significa oposição, hostilidade, antipatia; posição ou situação contrária; rivalidade, luta. No caso de medicamentos, a resposta deles pode ser suprimida ou reduzida na presença de outro, muitas vezes, pela competição que há entre eles. Essas interações podem gerar respostas benéficas ou não.

Um exemplo de antagonismo com resposta benéfica é quando são aplicados medicamentos para reverter quadros de intoxicação. No segundo caso, um exemplo é a associação da penicilina com a tetraciclina, reduzindo a eficácia medicamentosa dessas bases e resultando em falhas no tratamento de infecções.

Já sinergia, significa ação simultânea em prol da realização de uma função; cooperação entre grupos que contribuem para constituição ou manutenção de determinada ordem. E no caso de medicamentos, a interação sinérgica resulta em efeito maior do que a simples soma dos efeitos isolados de cada um deles.

Das associações sinérgicas podem surgir efeitos terapêuticos ou tóxicos. Efeitos tóxicos são frequentes nas combinações de medicamentos com toxicidade nos mesmos órgãos como, por exemplo, corticosteróides e anti-inflamatórios não-esteroidais, que podem ter como consequência a ulceração gástrica.

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E os efeitos terapêuticos podem ocorrer, por exemplo, quando se associa dois antibióticos de efeitos somatórios, como a penicilina e a enrofloxacina; ou como a sulfa e o trimetropim.

No campo, pensando em efeito somatório, o veterinário pode prescrever o uso associado de mais de um medicamento. Por exemplo, em infecções associadas a inflamações o veterinário pode recomendar que se utilize antibióticos e anti-inflamatórios na resolução.

Contudo, se houver dor e febre, analgésicos e antitérmicos são necessários e, em determinadas situações, também é necessário associar antibióticos.

Outras vezes, o uso de medicamento tópico no local acometido, vem acompanhado de tratamento sistêmico, em que o produto é fornecido por via injetável. Em qualquer circunstância, é imprescindível o reconhecimento das eventuais interações existentes entre os medicamentos.

Interações benéficas terapeuticamente aumentam ou complementam a ação dos fármacos associados. Podem também exercer efeitos corretivos sobre as reações adversas consequentes do uso de um deles. Ou, ainda, podem tratar doenças coexistentes.

Um pouco mais sobre antagonismo e sinergismo na antibioticoterapia

No campo, é comum associar diferentes antibióticos para tratar animais. Por exemplo, há casos em que associa-se o antibiótico intramamário com o antibiótico parenteral (por via intramuscular ou endovenosa) para tratar mastite.

Ou então, para tratar uma ferida grave de um animal que apresente sintomas sistêmicos (apatia, febre, inapetência e etc.) usa-se antibiótico tópico associado a outro antibiótico parenteral.

Pegando o caso da mastite como exemplo, dependendo do antibiótico parenteral e do antibiótico intramamário utilizados para tratá-la, um pode potencializar o efeito do outro (sinergismo) ou pode anular o efeito do outro (antagonismo) e prejudicar o tratamento.

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Para entender como o antagonismo e o sinergismo influenciam a eficácia de associação de antibióticos, é importante conhecer um pouco sobre a classificação deles.

Simplificando, os antibióticos podem ser divididos, dentre outros critérios, em:

  • Bactericidas e;
  • Bacteriostáticos.

De forma grosseira, os antibióticos bactericidas matam os microrganismos que se multiplicam no organismo.

Já os antibióticos bacteriostáticos controlam o crescimento bacteriano ao inibir sua multiplicação, apenas impedindo seu crescimento e a evolução do estado infeccioso. A eliminação do microrganismo, neste caso, fica a cargo da imunidade do paciente.

A regra geral é que a associação de antibióticos de mesmo mecanismo de ação (bactericida com bactericida; ou bacteriostático com bacteriostático) gera efeito potencializador (sinérgico) e que a associação antibióticos com mecanismos de ação diferentes (bactericida com bacteriostático) gera efeito deletério (antagonismo).

É por isso que é interessante associar a sulfa ao trimetropim; a penicilina à enrofloxacina, dentre outros. E é por isso que não é interessante associar a penicilina à tetraciclina; ou sulfa à enrofloxacina, e assim por diante.

É claro que toda regra tem sua exceção, mas agindo segundo esta regra e não segundo a exceção, há maiores chances de assertividade.

São exemplos de antibióticos bactericidas:

  • Aminoglicosídeos (estreptomicina, neomicina, amicacina, dentre outros);
  • Quinolonas;
  • Penicilinas;
  • Cefalosporinas.

São exemplos de antibióticos bacteriostáticos:

  • Cloranfenicol;
  • Tetraciclinas;
  • Macrolídios (eritromicina, tilosina, azitromicina, dentre outros);
  • Lincosaminas (clindamicina e lincomicina);
  • Sulfonamidas;
  • Trimetropim.

Interações durante o preparo de medicamentos

As interações que ocorrem durante o preparo se dão fora do organismo, quando dois ou mais medicamentos são administrados na mesma solução ou misturados no mesmo recipiente, ou quando são expostos de maneira inadequada ao ambiente.

Se houver incompatibilidade entre os agentes misturados, com o veículo adicionado ou com as condições ambientais a que o produto é exposto, pode-se inviabilizar a terapêutica clínica dele e frequentemente pode ocorrer precipitação ou turvação da solução; mudança de coloração do medicamento ou inativação do princípio ativo

Por exemplo, hábitos como:

  • Expor à luz medicamentos acondicionados em vidros âmbar ou escuros, como no caso do iodo;
  • A diluição de produtos liofilizados (em pó) com líquidos que não os específicos para isso;
  • A exposição de vacinas a temperaturas acima do recomendado;
  • O uso repetido de uma mesma agulha para retirar o medicamento do frasco e para aplicá-lo no animal;
  • Ou a associação de substâncias na mesma solução ou recipiente;

Certamente podem contribuir para a inativação de substâncias e para a ocorrência de incompatibilidades.

Interações que modificam a absorção

Absorção é o processo de transferência do medicamento do local de administração para a corrente sanguínea. Fatores como o fluxo sanguíneo do Trato Gastrointestinal (TGI), pH, motilidade, dieta, presença de outras substâncias e o tipo de formulação farmacêutica interferem nesse evento.

Por exemplo, há vermífugos orais que agem melhor quando administrados a animais em jejum.

O uso de medicamentos por vias não recomendadas pode prejudicar muito a ação deles, além de poder causar danos ao local em que eles foram administrados.

O uso de agulhas contaminadas para aplicar medicamentos pode causar infecções locais (abscessos) que impedem ou prejudicam a transferência do medicamento do local de administração para a corrente sanguínea.

Medicamentos com ações anticolinérgicas, como a atropina e seus derivados, que inibem a motilidade do TGI tendem a reduzir a absorção dos agentes coadministrados.

O retardo da absorção de medicamentos pode representar uma situação clínica indesejável, especialmente quando há sintomas agudos como por exemplo, a dor ou febre alta e apatia grave, em função de infecções.

Interações que modificam a distribuição

Distribuição é o evento de deslocamento do medicamento da circulação sistêmica para os tecidos. Esta fase depende do Volume de distribuição aparente (Vd) e da fração de ligação dos medicamentos às proteínas do sangue.

Medicamentos que possuem grande afinidade por essas proteínas, quando associados a outros, podem agir como deslocadores e aumentar a concentração livre do segundo, acarretando manifestações clínicas nem sempre benéficas.

Os medicamentos precipitadores, como o próprio nome diz, são capazes de arremessar outros agentes para fora do local de ação original e assim afetar o efeito farmacológico desejado. São exemplos, a aspirina, a fenilbutazona e as sulfonamidas, que são altamente ligados à proteína do sangue; e a furosemida, que altera a função renal.

Há ainda medicamentos, como a enrofloxacina, cujo efeito é muito influenciado pela alteração na dose administrada. São os medicamentos dose-dependente. Em casos de surtos infecciosos com efeitos agudos e graves, e causados por agentes susceptíveis à enrofloxacina, o aumento da dosagem deste medicamento para uma “dose de ataque” pode ser primordial.

Interações que modificam a metabolização

No processo de metabolização os medicamentos são transformados pelas enzimas do fígado em frações menores, hidrossolúveis. As interações que ocorrem nesta fase são precipitadas por medicamentos com capacidade de inibirem ou induzirem o sistema enzimático.

Interações que modificam a excreção

A maioria dos medicamentos é eliminada quase que totalmente pelos rins e a taxa de excreção de vários agentes pode ser modificada, por exemplo, por medicamentos associados que modifiquem o pH da urina.

Nesses casos, os medicamentos podem ter ação por tempo menor do que o esperado, por exemplo.

Diante de tantas informações, como saber qual interação medicamentosa usar?

O curso de medicina veterinária tem em sua grade curricular, dentre outros, a disciplina de farmacologia e de terapêutica, que tratam de aspectos como os tratados neste artigo. Portanto, os profissionais formados neste curso tem conhecimento para prescrever os medicamentos  e tratamentos mais adequados para cada caso.

Por isso, é de grande importância que todo tratamento, ou protocolo, seja elaborado e revisado por um médico veterinário, considerando, é claro, as características de cada animal, de cada rebanho e de cada propriedade.

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