Você já ouviu falar sobre a Mancha de Olho Pardo ou Cercosporiose? Ela é uma doença causada pelo fungo Cercospora coffeicola, fungo necrotrófico, que invade as células e as matam, nutrindo-se das mesmas.
Essa doença pode atacar desde mudas no viveiro causando intensa desfolha, afetando o crescimento e desenvolvimento das plantas, ou mesmo lavouras adultas, que além da queda de folhas pode proporcionar queda de frutos.
Por isso, a falta de um manejo adequado e sob condições favoráveis para o desenvolvimento dessa doença, pode resultar em grandes perdas na produção.
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Ciclo da doença
A disseminação do fungo é feita pelo vento, água ou insetos, que após atingir a planta e com condições favoráveis de molhamento foliar e temperatura, ocorre a germinação e penetração do tubo germinativo, que penetra através da cutícula ou por aberturas naturais.
A temperatura ótima tanto para a germinação máxima quanto para o crescimento do fungo é de 24°C. Após a infecção, o fungo produz conídios e o ciclo de se reinicia.
Esquema do ciclo da Cercospora coffeicola no café. (Fonte: Rehagro).
Condições favoráveis para a cercosporiose
As variáveis ambientais apresentam grande influência na relação patógeno hospedeiro, dentre elas, a exposição ao sol, molhamento foliar e temperatura.
A incidência de cercosporiose é maior na face das plantas voltada para o lado norte, que apresenta maior exposição ao sol, devido a toxina cercosporina que é produzida e ativada pela presença de luz, e causa danos à membrana celular do hospedeiro.
Figura 3. Incidência em porcentagem da cercosporiose (Cercospora coffeicola) em frutos de café (Coffea arabica) localizados no terço mediano da planta, em cada face de exposição (norte e sul), em lavoura irrigada por pivô central. UFLA, Lavras, MG, 2011.
De forma similar, Salgado et al. (2007) mostrou que a incidência de cercosporiose foi mais elevada nos cafeeiros a pleno sol, decrescendo para cafeeiros com grevílea e cafeeiros com ingazeiro, conforme é mostrado na tabela abaixo.
Valores médios de área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) cercosporiose em cafeeiro, em função de diferentes sistemas de cultivo.
O molhamento foliar é um fator indispensável pois influencia na germinação, infecção e esporulação dos fungos, dessa forma, sendo mais favoráveis as condições com maior período de molhamento foliar, assim como a temperatura também influencia na incidência dessa doença.
Silva em 2014, observou o progresso de incidência da Cercosporiose do cafeeiro, em diversas horas de molhamento foliar e verificou que o maior progresso da doença foi observado com temperatura de 25°C no tratamento de 72 horas de molhamento foliar (Marcado em vermelho).
Curva de progresso da incidência da cercosporiose do cafeeiro. UFLA, Lavras, MG, 2014.
Além dessas variáveis, o desequilíbrio nutricional também apresenta grande influência na cercosporiose, nesse sentido, podemos citar principalmente nutrientes como potássio e cálcio.
Isso tem sido observado no campo, em que situações com altos teores de potássio e baixos teores de cálcio favorecem a ocorrência de Cercospora, isso ocorre, pois, altos níveis de potássio afetam a absorção de cálcio. Da mesma forma, estudos com esses dois nutrientes e a incidência de cercosporiose são mostrados abaixo.
Garcia Junior em 2003, realizou um trabalho com diferentes níveis de cálcio e de potássio, concluiu que, a menor área abaixo da curva de progresso da incidência (AACPI) foi obtida com a dose 4 mmol/L de potássio (K).
Após essa dose, o acréscimo de potássio resulta em maior incidência de Cercospora, isso porque, maiores doses de K competem pelo mesmo sítio de absorção do cálcio, tornando as mudas debilitadas em cálcio.
Área abaixo da curva de progresso da incidência (AACPI) de Cercospora coffeicola em cafeeiro (Coffea arabica) em função de doses de potássio.
Com o aumento das doses de cálcio resultou em menor área abaixo da curva de progresso da incidência de Cerscospora (AACPI), devido à presença desse cátion no tecido foliar associado a níveis ideais de potássio inibir a ação de enzimas pectolíticas, produzidas por muitos parasitas de etiologia fúngica.
Essas enzimas possuem o objetivo de dissolver a lamela média da parede celular (Marschner, 1995), por isso, o cálcio tem grande importância na constituição da parede celular e na integridade dos tecidos.
Área abaixo da curva de progresso de incidência (AACPI) de Cercospora coffeicola em cafeeiro (Coffea arabica) em função das doses de cálcio em solução nutritiva.
Outro nutriente que merece atenção, é o boro, que de acordo com alguns autores, plantas deficientes desse nutriente se tornam enfraquecidas, apresentando menor barreira mecânica, favorecendo a infecção por patógenos. É observado, no campo, que plantas mais debilitadas, com deficiência de boro, podem sofrer com maior incidência de cercosporiose.
Por isso, destaca-se a importância de um fornecimento adequado dos nutrientes, de acordo com as necessidades das plantas. Pois esse manejo equilibrado, pode reduzir a incidência da doença.
Também, outras situações que podem afetar a severidade da doença são:
- Substratos de viveiros pobres em matéria orgânica, devido às melhores condições nutricionais proporcionadas quando se tem presente a matéria orgânica;
- Plantios efetuados tardiamente, devido a relação água e absorção de nutrientes em plantios mais tardios, que podem resultar em maior incidência dessa doença.
Quais os sintomas da cercosporiose?
A cercosporiose pode atacar tanto folhas quanto frutos em desenvolvimento. Nas folhas os sintomas característicos são manchas circulares de coloração castanho clara a escura, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvidas por um halo amarelado.
Sintoma de Cercosporiose nas folhas. (Foto: Larissa Cocato).
Nos frutos, os sintomas são pequenas manchas necróticas e deprimidas, de cor marrom a negra, estendendo-se no sentido dos polos do fruto.
Sintoma de Cercosporiose nos frutos. (Foto: Larissa Cocato).
Incidência de Cercosporiose em cafeeiro. (Foto: Larissa Cocato).
Cercosporiose em frutos de café. (Foto: Rehagro).
Danos causados pela cercosporiose
A Cercosporiose pode causar queda de folhas, devido a ação do etileno, reduzindo assim o desenvolvimento da planta e podendo afetar a produtividade.
Os frutos apresentam processo de maturação acelerada, dessa forma resultando em mal granados ou mesmo queda precoce dos frutos em vários estádios de crescimento, podendo resultar em fermentações indesejadas.
Além disso, a qualidade da bebida também pode ser afetada, uma vez que, com o aumento de frutos infectados pela Cercospora, há um aumento da porcentagem de polifenóis, que exercem ação protetora antioxidante de aldeídos e participam nos mecanismos de defesa da planta mediante injúrias (Amorim, 1978).
A concentração de compostos fenólicos é inversamente proporcional a qualidade de bebida, por isso, sob condições adversas dos grãos a enzima polifenoloxidase age sobre os polifenóis diminuindo assim sua ação antioxidante e facilitando a oxidação com interferência no sabor e aroma do café após a torração.
Polifenóis, em função de diferentes proporções de frutos de café infectados por Cercospora coffeicola
Como controlar a cercosporiose?
Como medidas gerais de controle é importante evitar as deficiências e desequilíbrios nutricionais, visto que a nutrição tem grande influência na incidência dessa doença.
Dessa forma, um planejamento adequado e equilibrado das adubações e um acompanhamento das análises foliares torna-se essencial. Estando sempre atento a relação dos nutrientes, principalmente cálcio e potássio.
Também, um fornecimento adequado de matéria orgânica, tanto na preparação de mudas no viveiro, como no campo, com o intuito de proporcionar melhores condições nutricionais. No plantio, além de evitar plantios tardios, é importante que seja feita uma boa preparação do solo, a fim de evitar a compactação do mesmo, para que não afete na absorção de nutrientes pelas raízes.
Além disso, alguns estudos sugerem a utilização de silício no controle da cercosporiose, os mecanismos pelos quais o silício pode conferir resistência a determinada doença podem ser por acúmulo do elemento na parede das células da epiderme e cutícula, acúmulo no local de penetração do patógeno (barreiras naturais), ou ativação das barreiras químicas e bioquímicas da planta (EPSTEIN, 1999) (POZZA et al., 2004).
Um estudo realizado por Pozza et al. (2004) com o objetivo de avaliar o efeito da aplicação de silício em três variedades (Catuaí, Mundo Novo e Icatú) no controle da cercosporiose, observou que as plantas da variedade Catuaí com silício incorporado ao substrato apresentaram 63,2% menos folhas lesionadas e 43% menos lesões, quando comparadas a testemunha.
Da mesma forma, Cogo, Graciano e Campos (2011), observaram que a aplicação de silicato de cálcio e magnésio via solo, proporcionou redução da cercosporiose em mudas inoculadas com o patógeno.
No controle químico é importante estar atento às condições ambientais favoráveis para tomada de decisão da melhor época de aplicação, sempre monitorando a lavoura e suas condições. Os grupos químicos utilizados são:
- Estrobilurina;
- Triazol;
- Benzimidazol;
- Isoftalonitrila;
- Ditiocarbamato.
Sempre destacando a importância de alternar os ingredientes ativos, principalmente com Hidróxido de cobre e Oxicloreto de Cobre que auxiliam no controle preventivo da cercosporiose.
Devido a alguns desses grupos químicos atuarem também sobre outras doenças, como a ferrugem do café (Hemileia vastatrix), pode-se manejar as aplicações visando a prevenção e controle das duas doenças de forma simultânea.
Tabela 2. Grupos químicos com seus ingredientes ativos para controle da Cercosporiose.
Em lavouras de plantio, não é interessante a aplicação de alguns tipos de trizóis, como por exemplo o epoxiconazol, flutriafol e ciproconazol, pois eles podem acarretar em fitotoxidez.
Dessa forma, nesses casos, são mais utilizados as estrobilurinas, os fungicidas cúpricos (hidróxido de cobre e oxicloreto de Cobre) e os benzimidazóis (Tiofanato metílico).
Além da escolha do ingrediente ativo a se utilizar, deve-se estar atento à tecnologia de aplicação utilizada, envolvendo todos os fatores que podem afetar a eficiência da aplicação e consequentemente a prevenção contra essa doença.
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