A cafeicultura é uma das atividades agrícolas mais importantes do Brasil, com grande relevância econômica e social. Para manter lavouras produtivas e saudáveis, o manejo de plantas daninhas é um ponto-chave — e, nesse cenário, o picão-preto (Bidens pilosa e Bidens subalternans) merece atenção especial.
Trata-se de uma planta daninha de ciclo anual e folhas largas, pertencente à família Asteraceae, muito comum nas lavouras de café. Sua ampla distribuição geográfica e capacidade de adaptação fazem dela uma espécie altamente competitiva, capaz de comprometer tanto a produtividade imediata quanto a longevidade da lavoura.
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Como identificar o picão-preto
O picão-preto é facilmente reconhecido pelo seu caule ereto e ramificado, que pode chegar a 50–120 cm de altura, e pelas folhas opostas com bordas serrilhadas. Suas flores amarelas dão origem a sementes alongadas com aristas que grudam em roupas, animais e até em equipamentos agrícolas, facilitando a dispersão.
Além disso, é uma planta daninha amplamente disseminada no ambiente agrícola, destacando-se pela sua notável capacidade de adaptação e estabelecimento em diferentes condições edafoclimáticas.
Sua rusticidade, aliada a um ciclo de vida relativamente curto e à produção abundante de sementes, podendo ultrapassar 3 mil unidades por planta em condições favoráveis, garante à espécie um elevado potencial de infestação em diversas culturas, incluindo as lavouras de café.
Em função dessas características, sua presença nas áreas cultivadas traz consequências significativas, sobretudo pela intensa competição que exerce com as plantas de interesse econômico.
Impactos do picão-preto na lavoura de café
A presença do picão-preto nas lavouras de café traz sérias consequências, especialmente nas fases iniciais de implantação da cultura. Seus principais efeitos negativos incluem:
Competição por recursos
A competição por recursos essenciais como água, luz, nutrientes e espaço físico é o principal mecanismo de interferência do picão-preto na cultura do café.
Por apresentar rápido crescimento inicial, essa planta daninha consegue ocupar rapidamente os espaços disponíveis na entrelinha e nas covas recém-implantadas, dificultando o estabelecimento dos cafeeiros jovens.
Sombreamento
A planta cresce rapidamente e pode sombrear mudas de café. Essa limitação luminosa prejudica a fotossíntese, comprometendo a produção de fotoassimilados necessários ao crescimento das plantas, à formação de raízes e à indução de gemas laterais, essenciais para a arquitetura produtiva do cafeeiro.
Aspectos nutricionais
O picão-preto se sobressai pelo rápido crescimento e pela elevada exigência por nutrientes, principalmente nitrogênio, fósforo e potássio, elementos indispensáveis ao bom desenvolvimento do cafeeiro.
A presença dessa planta daninha em altas densidades pode provocar depleção desses nutrientes na zona radicular das mudas ou plantas jovens, limitando o desenvolvimento do sistema radicular do café, reduzindo a absorção de água e afetando negativamente o balanço hormonal e a formação de estruturas vegetativas e reprodutivas.
Favorecimento de doenças
Além da competição por recursos, a alta infestação favorece um ambiente úmido e sombreado, condição que favorece a germinação de esporos e o desenvolvimento de doenças fúngicas, como cercosporiose (Cercospora coffeicola) e ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix) e dificulta a aplicação de defensivos.
Em resumo, o picão-preto compromete o crescimento, vigor e produção do cafeeiro, impactando diretamente a rentabilidade do produtor.
Resistência a herbicidas
Um ponto de alerta importante é que já foram identificados biótipos resistentes a herbicidas inibidores da ALS (acetolactato sintase) e do fotossistema II. Isso significa que depender apenas do controle químico pode ser arriscado, aumentando a pressão de seleção e dificultando o manejo no médio e longo prazo.
Estratégias de manejo
O controle eficiente do picão-preto depende de uma abordagem integrada, que combine diferentes práticas:
- Mecânicas: roçadas frequentes, sempre realizadas antes do florescimento e da produção de sementes.
- Químicas: aplicação criteriosa de herbicidas seletivos, evitando repetições excessivas do mesmo mecanismo de ação.
- Culturais: uso de plantas de cobertura (como braquiária, crotalária ou amendoim forrageiro), que competem com o picão-preto, reduzem sua emergência e ainda trazem benefícios ao solo.
- Preventivas: manutenção da linha do café (30 cm de cada lado das plantas) livre de daninhas, limpeza de implementos agrícolas e monitoramento constante da lavoura.
Vale destacar que, em algumas situações, quando bem manejado, o picão-preto pode servir como abrigo para inimigos naturais de pragas, mostrando que nem sempre sua presença precisa ser encarada apenas como vilã.
Conclusão
O picão-preto é uma das plantas daninhas mais desafiadoras da cafeicultura, graças à sua alta capacidade de reprodução, adaptação e resistência. Para enfrentá-lo, é indispensável investir em um programa de manejo integrado, que combine medidas mecânicas, químicas, culturais e preventivas.
Com um controle bem planejado, o produtor garante não apenas lavouras mais limpas, mas também maior produtividade, sanidade e longevidade do cafeeiro, assegurando resultados econômicos mais consistentes ao longo dos anos.
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Lidar com plantas daninhas como o picão-preto é apenas um dos muitos desafios na produção de café. Para conquistar alta produtividade, reduzir custos e tomar decisões assertivas na lavoura, é preciso ir além do manejo e dominar a gestão completa da atividade.
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