Em sistemas de pecuária de corte a pasto, o bom desempenho do rebanho depende diretamente da qualidade e disponibilidade da forragem. Dentro desse contexto, um fator muitas vezes subestimado e que pode comprometer severamente a produtividade é a ação de pragas nas pastagens.
Diferente das plantas daninhas, que competem com as gramíneas forrageiras por recursos, as pragas são organismos vivos que se alimentam ou atacam diretamente as plantas, enfraquecendo sua estrutura e capacidade de produção.
O que caracteriza uma praga em pastagens?
Pragas de pastagens são, de forma geral, insetos ou organismos que, ao se alimentar das partes vegetativas das plantas forrageiras, causam danos visíveis ou indiretos, afetando sua fisiologia, crescimento e valor nutritivo. Os ataques podem ocorrer:
- Nas raízes (ex: cupins);
- Nas folhas e colmos (ex: cigarrinhas e lagartas);
- Na seiva da planta (ex: percevejos).
Além de danos diretos, muitas pragas também atuam como vetores de patógenos (vírus, bactérias ou fungos), o que agrava ainda mais os prejuízos.
Por que o tema deve ser tratado como prioridade?
Ignorar ou minimizar a presença de pragas nas pastagens é abrir espaço para uma queda silenciosa e contínua na eficiência do sistema. Alguns dos principais motivos para dar atenção imediata ao tema são:
- Dificuldade de recuperação da pastagem quando o dano se torna avançado;
- Aumento dos custos indiretos, como suplementação alimentar para compensar a perda de qualidade da forragem;
- Impactos no ganho de peso, taxa de lotação e tempo de terminação dos animais;
- Riscos de perda total da cobertura vegetal, exigindo replantio ou reforma da área.
Além disso, em muitos casos, o diagnóstico da infestação ocorre tarde demais, pois os sinais iniciais são sutis e exigem olhar técnico e rotina de monitoramento.
Principais pragas de pastagens no brasil
O Brasil possui extensas áreas de pastagens, com predominância de gramíneas tropicais e subtropicais como as do gêneros Brachiaria, Panicum e Cynodon.
Essas espécies, apesar de adaptadas, são vulneráveis ao ataque de diversas pragas, especialmente em sistemas com baixa diversidade, manejo incorreto e ausência de práticas preventivas. A seguir, conheça as principais pragas que impactam a produtividade das forrageiras.
1. Cupins (Isoptera)
Os cupins de solo são considerados uma das pragas mais prejudiciais das pastagens brasileiras, especialmente em áreas de solos arenosos e de cerrado.
Principais danos:
- Constroem túneis e galerias que danificam o sistema radicular das plantas;
- Promovem a morte de touceiras inteiras, reduzindo a densidade da pastagem;
- Seu ataque é silencioso, mas com impacto cumulativo e duradouro.
- Ataques frequentes na época das águas, quando a planta apresenta um melhor desenvolvimento radicular.
Indicadores de infestação:
- Presença de montículos (murundus) na superfície;
- Manchas de falhas no pasto;
- Gramíneas facilmente arrancadas com a mão.
2. Cigarrinhas-das-pastagens (Hemiptera: Cercopidae)
Consideradas a principal praga aérea de pastagens tropicais, as cigarrinhas se alimentam da seiva das gramíneas, causando fitotoxicidade severa.
Espécies comuns:
- Zulia entreriana;
- Deois flavopicta;
- Notozulia entreriana.
Principais danos:
- Clorose e necrose das folhas, deixando o pasto com aparência queimada;
- Redução drástica do valor nutritivo da forragem;
- Diminuição do vigor e da capacidade de rebrota.
Condições favoráveis:
Infestações mais intensas ocorrem na transição da estação chuvosa para a seca, quando há alta umidade residual.
Cigarrinha-das-pastagens.
3. Formigas cortadeiras (Atta spp. e Acromyrmex spp.)
As formigas cortadeiras são bem conhecidas no meio rural, e sua ação em pastagens pode comprometer a rebrota e o estabelecimento de novas forrageiras.
Principais danos:
- Corte de folhas e brotações novas;
- Redução da capacidade de recuperação das plantas após o pastejo;
- Dificuldade na implantação de pastagens novas, especialmente em áreas recém reformadas.
Sinais de infestação:
- Presença de carreiras de folhas cortadas;
- Montes de terra solta (formigueiros ativos).
4. Lagartas das pastagens
São pragas que podem causar sérios danos às áreas cultivadas, especialmente em pastagens. Esses insetos, pertencentes a diversas espécies, alimentam-se das folhas das plantas, comprometendo a saúde e o crescimento das culturas.
A presença dessas lagartas pode resultar em prejuízos significativos para a produção de forragem, afetando a alimentação do gado e, consequentemente, a rentabilidade das propriedades rurais.
Os principais danos causados pelas lagartas incluem a desfolha intensa das plantas, que pode levar à redução da biomassa disponível para o pastejo. Em casos de infestação severa, a perda da cobertura vegetal pode ser tão acentuada que a regeneração das pastagens se torna difícil.
Os sinais de infestação por lagartas são relativamente fáceis de identificar. Entre os principais indícios, destacam-se a presença de folhas parcialmente consumidas, com bordas irregulares e buracos visíveis.
Impactos das pragas na nutrição e no desempenho animal
Em sistemas de gado de corte onde a alimentação é majoritariamente baseada em pasto, qualquer fator que comprometa a qualidade ou a disponibilidade da forragem afeta diretamente o desempenho animal.
As pragas das pastagens, ao atacarem as gramíneas forrageiras, provocam efeitos em cadeia que vão do vigor da planta até o resultado financeiro da arroba produzida.
Redução da densidade e do vigor das forrageiras
Pragas como cupins e cigarrinhas reduzem drasticamente a densidade de plantas forrageiras por hectare. Isso significa que:
- Há menos massa verde disponível para consumo;
- A capacidade de suporte da área (UA/ha) diminui;
- A necessidade de uso de piquetes extras ou suplementação se antecipa.
Com menos plantas vigorosas por área, a recuperação após o pastejo se torna mais lenta, favorecendo ainda mais a degradação do pasto.
Perda de qualidade nutricional da forragem
Mesmo que a gramínea permaneça na área, seu valor nutritivo pode ser fortemente reduzido por ataques de pragas. Isso se reflete em:
- Menor teor de proteína bruta (PB) nas folhas;
- Redução da digestibilidade e aumento da fibra indigestível;
- Aumento da proporção de material morto e fibroso no pasto.
Esses fatores influenciam diretamente na eficiência de conversão alimentar do gado e podem exigir reformulações na dieta, especialmente durante a seca.
Impactos diretos no desempenho zootécnico
A combinação de menor quantidade e pior qualidade do pasto leva a uma série de consequências sobre o rebanho:
- Queda no ganho médio diário (GMD) dos animais;
- Aumento do ciclo de engorda, postergando o abate;
- Redução na taxa de lotação e nos índices de produtividade por hectare;
- Custo por arroba produzida mais alto, pois a suplementação precisa ser intensificada.
Em situações mais graves, os efeitos ainda podem incluir perda de peso corporal, aumento da mortalidade de bezerros e redução na taxa de prenhez em sistemas de cria.
O custo oculto: suplementar o que o pasto deveria entregar
Ao comprometer o pasto, as pragas forçam o produtor a gastar mais com ração, energéticos proteinados ou silagem, especialmente na entressafra.
Ou seja, não realizar o controle das pragas é assumir um custo nutricional extra silencioso, que, somado ao longo do ano, compromete a margem da operação.
Como identificar as pragas no campo?
Saber que existem pragas atacando as pastagens é diferente de saber quais são, onde estão, quanto estão afetando e quando agir. O diagnóstico eficiente é um processo técnico, que exige observação sistemática, registro e conhecimento básico sobre o comportamento das principais pragas.
Métodos de reconhecimento visual e amostragens
A identificação de pragas nas pastagens pode ser feita com métodos simples, mas sistemáticos, como:
- Inspeção visual direta: caminhar pela pastagem observando sintomas como folhas comidas, rebrotas deformadas, manchas secas ou coloração alterada;
- Levantamento de montículos (murundus) no caso de cupins;
- Coleta de insetos com rede de varredura, útil para cigarrinhas e percevejos;
- Monitoramento noturno, que pode revelar o ataque de lagartas e grilos.
A importância de registros e acompanhamento periódico
Um diagnóstico não deve ser um evento isolado. Registrar e acompanhar a evolução das infestações permite:
- Medir a eficácia das medidas de controle;
- Identificar áreas recorrentes ou críticas;
- Planejar ações antecipadas para os períodos de maior risco.
Estratégias de controle integrado
O combate eficiente às pragas de pastagens não depende de uma única ação ou produto. O caminho mais eficaz e sustentável é o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que consiste em combinar diferentes métodos de controle, com base em diagnóstico, planejamento e monitoramento contínuo.
Essa abordagem aumenta a eficácia, reduz custos no longo prazo e minimiza impactos ambientais.
1. Controle químico: o uso técnico e responsável de inseticidas
O controle químico ainda é uma das principais ferramentas para combater pragas, especialmente em infestações severas ou de rápida evolução, como no caso das cigarrinhas e lagartas.
Boas práticas no uso de defensivos:
- Escolher produtos específicos para a praga-alvo;
- Aplicar na época certa do ciclo da praga, quando ela está mais vulnerável;
- Utilizar equipamentos calibrados e aplicar nas condições ideais (sem vento ou sol forte);
- Respeitar o período de carência e rotacionar princípios ativos para evitar resistência.
2. Controle biológico: um aliado sustentável e promissor
Cada vez mais presente em sistemas tecnificados, o controle biológico consiste no uso de organismos vivos ou extratos naturais para combater as pragas. Já existem no mercado bioinseticidas e agentes naturais com eficácia comprovada contra algumas pragas de pastagens.
Exemplos:
- Fungos entomopatogênicos (ex: Metarhizium anisopliae) para controle de cigarrinhas e cupins;
- Nematoides entomopatogênicos, em estudos para manejo de pragas subterrâneas;
- Extratos botânicos com efeito repelente ou inseticida, com menor impacto ambiental.
3. Manejo cultural: fortalecer o pasto para resistir às pragas
Muitas infestações são consequência direta do pasto fraco ou degradado. Melhorar as condições de cultivo das forrageiras é uma forma preventiva e duradoura de controlar pragas.
Práticas recomendadas:
- Adubação de correção e manutenção, com base em análise de solo;
- Rotação de piquetes com períodos adequados de descanso e recuperação;
- Manutenção da altura de pastejo ideal, respeitando o ponto de entrada e saída;
- Sobressemeadura em áreas com falhas ou pouco vigor;
- Escolha de forrageiras mais tolerantes a determinadas pragas.
Inovações tecnológicas no controle de pragas de pastagens
A evolução das tecnologias no agronegócio tem alcançado também o manejo de pastagens.
Nos últimos anos, surgiram novas ferramentas e soluções digitais que ampliam a capacidade de diagnosticar, monitorar e controlar pragas com maior precisão, reduzindo desperdícios e otimizando os resultados zootécnicos.
A seguir, conheça algumas das inovações mais relevantes aplicáveis à realidade da pecuária de corte.
1. Drones para mapeamento e aplicação localizada
Os drones têm se tornado aliados poderosos no manejo de pastagens, principalmente em fazendas com grande extensão ou dificuldade de acesso manual.
Aplicações práticas:
- Mapeamento aéreo georreferenciado, identificando manchas de infestação de cigarrinhas, lagartas ou áreas com reboleiras causadas por cupins;
- Monitoramento da eficácia de aplicações químicas ou biológicas;
- Aplicação dirigida de inseticidas ou bioinsumos em áreas específicas, reduzindo o custo com produtos e o impacto ambiental.
Benefícios:
- Redução de até 50% no uso de defensivos em comparação com aplicação convencional;
- Identificação precoce de falhas ou reinfestações;
- Agilidade no diagnóstico em grandes áreas.
2. Sensoriamento remoto e inteligência artificial (IA)
Tecnologias de satélite combinadas com algoritmos de IA têm sido usadas para avaliar a saúde da vegetação e detectar anomalias nas pastagens, que podem indicar a presença de pragas ou estresse hídrico.
Aplicações promissoras:
- Identificação de áreas com perda de vigor ou coloração alterada;
- Geração de mapas de calor que facilitam o direcionamento de ações;
- Análise preditiva baseada em histórico climático e dados de solo.
Conclusão
As pragas de pastagens representam um risco silencioso, porém altamente impactante para os sistemas de produção pecuária baseados em forragem.
O ataque de insetos como cupins, cigarrinhas, lagartas e formigas cortadeiras compromete a quantidade e a qualidade do pasto, elevando custos de suplementação, reduzindo o desempenho animal e, em muitos casos, provocando a degradação irreversível das áreas.
Mais do que combater um problema pontual, o controle de pragas é uma decisão de gestão estratégica, que impacta diretamente o resultado por hectare, a previsibilidade produtiva e a margem da operação pecuária.
Controle de pragas começa com manejo inteligente das pastagens
As pragas são apenas um dos muitos desafios enfrentados por quem trabalha com pecuária de corte. Para manter a produtividade do pasto e garantir o desempenho do rebanho, é fundamental ir além do controle pontual e adotar uma gestão completa que envolva nutrição, recuperação e uso estratégico das áreas de pastagem.
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Não espere as pragas tomarem conta. Invista no seu conhecimento e esteja preparado para conduzir uma pecuária mais lucrativa e sustentável.
Autoria: Equipe Corte Rehagro
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