A pré-colheita do café é o período que antecede a colheita propriamente dita. Nessa etapa é realizado o planejamento estratégico da colheita e pós-colheita, determinante para assegurar a qualidade do produto final e a eficiência das operações.
Limpeza e higienização das estruturas de processamento
É fundamental ter sempre em mente que o café, além de ser uma commodity agrícola, é sobretudo um alimento destinado ao consumo humano. Por isso, as boas práticas de higiene e limpeza devem ser rigorosamente adotadas em todas as etapas da produção.
A higienização adequada das estruturas é indispensável para preservar a qualidade sanitária e sensorial do produto, prevenindo a contaminação por agentes físicos e biológicos.
Recomenda-se realizar limpezas criteriosas antes do início da safra, eliminando completamente grãos, cascas e resíduos da colheita anterior, que podem servir de substrato para o desenvolvimento de fungos toxigênicos, como Aspergillus spp., além de abrigar insetos e roedores.
A presença desses contaminantes não apenas compromete a segurança alimentar, mas também pode afetar negativamente atributos importantes do café, como aroma, sabor e aparência, prejudicando sua aceitação no mercado e o valor comercial da produção.
Manutenção preventiva de máquinas, implementos e estruturas da propriedade
Outra prática indispensável na fase de pré-colheita é a manutenção preventiva de máquinas, implementos e estruturas agrícolas da propriedade.
A revisão antecipada de equipamentos como derriçadeiras, colhedoras, tratores, secadores e tulhas evita falhas mecânicas durante a colheita, assegurando fluidez operacional, maior segurança para os trabalhadores e redução de perdas de frutos no campo e no beneficiamento.
Além dos aspectos operacionais, é importante considerar que o café é um produto higroscópico e altamente sensível aos odores do ambiente. Ele possui a capacidade de absorver aromas externos durante as etapas de secagem, armazenamento e beneficiamento, o que pode comprometer severamente a qualidade sensorial da bebida. Nesse sentido, é imprescindível adotar medidas preventivas para eliminar ou reduzir fontes de odores indesejáveis nas áreas de processamento.
Um exemplo recorrente é a presença de cheiro de óleo diesel ou graxa proveniente de maquinário mal conservado ou de vazamentos em pátios de secagem e secadores. Esses compostos voláteis podem ser incorporados aos grãos durante a secagem ou armazenamento, resultando em defeitos sensoriais perceptíveis na xícara.
Da mesma forma, a fumaça proveniente de fornalhas mal reguladas ou com retorno inadequado para o secador pode transferir notas indesejadas de fumaça para o café, depreciando seu valor comercial e a qualidade final da bebida.
Esses riscos podem ser facilmente evitados com a realização de revisões periódicas e manutenção prévia de toda a infraestrutura da fazenda. A verificação de sistemas de exaustão, vedação de secadores, eliminação de vazamentos, limpeza de fornalhas e a organização dos espaços de secagem e armazenamento são práticas essenciais para garantir a integridade física, sanitária e sensorial do café, especialmente em propriedades que buscam mercados de cafés especiais, onde a pureza e o equilíbrio aromático são atributos valorizados.
Tanto as práticas de limpeza quanto a manutenção preventiva dos equipamentos e instalações devem ser iniciadas após o encerramento da colheita da safra anterior.
A adoção dessas ações de forma contínua e programada ao longo dos meses subsequentes permite manter as estruturas organizadas, prevenir o acúmulo de resíduos e garantir a conservação adequada dos maquinários.
Próximo ao início da nova colheita, essas atividades devem ser intensificadas, com revisões detalhadas e limpezas criteriosas, assegurando que todas as condições operacionais e sanitárias estejam plenamente adequadas para receber e processar o café.
Preparo da lavoura
A conservação adequada das vias internas e carreadores é um aspecto estratégico para a logística da colheita e o escoamento eficiente do café colhido até os locais de beneficiamento e armazenamento.
Garantir a trafegabilidade segura, contribui para evitar atrasos, minimizar perdas de grãos e reduzir o risco de acidentes com máquinas, implementos e equipes de trabalho. Durante a fase de pré-colheita, devem ser realizados serviços de correção de eventuais desníveis e buracos.
Outra prática realizada na lavoura é conhecida como “arruação”, que consiste na remoção das folhas e galhos de baixo das plantas de café e colocando-as na entrelinha, para facilitar a operação de “varrição”, na qual os grãos caídos no chão são coletados após a colheita, reduzindo perdas. A capina química das plantas daninhas também pode ser necessária.
Planejamento do início da colheita do café
A definição do momento ideal para o início da colheita é uma decisão estratégica que impacta diretamente a qualidade física e sensorial do café, além de influenciar a eficiência operacional e o rendimento econômico da safra.
Esse momento deve ser determinado com base no estágio de maturação dos frutos, priorizando-se a colheita quando a maior parte dos grãos encontram-se maduros, caracterizados pela coloração intensa e acúmulo de açúcares, aferido pelo refratômetro.
Para isso, é indispensável estabelecer um monitoramento contínuo da evolução da maturação na lavoura, realizando amostragens periódicas e representativas que permitam acompanhar a porcentagem de frutos verdes, cereja e secos ao longo do tempo.
Também é importante avaliar nessa etapa a viabilidade do uso de maturadores na lavoura. Nesse caso, a aplicação desses produtos deve ser cuidadosamente planejada e realizada no momento adequado, visando uniformizar a maturação dos frutos e facilitar a programação da colheita.
O ponto ideal para aplicação ocorre quando aproximadamente 90% dos frutos presentes no terço inferior da planta atingem a maturidade fisiológica, ou seja, quando completam o acúmulo de matéria seca e não apresentam mais evolução significativa de tamanho, passando a fase final de maturação apenas em coloração e composição química.
Outro critério fundamental é que os frutos estejam totalmente granados, apresentando bom enchimento e consistência adequada, garantindo que a aplicação do maturador tenha efeito positivo sobre a uniformização da maturação e não prejudique a qualidade dos grãos.
A aplicação deve ser feita com pelo menos 30 dias de antecedência da colheita, respeitando o período de reentrada e o tempo necessário para que os frutos atinjam a maturação de forma homogênea, reduzindo a incidência de frutos verdes e otimizando a eficiência da colheita mecânica ou manual.
Além disso, é essencial respeitar as recomendações técnicas específicas do produto utilizado e considerar fatores como condições climáticas, uniformidade da florada e histórico produtivo da lavoura.
De qualquer forma, o acompanhamento sistemático da maturação possibilita ao produtor programar a colheita por talhões ou glebas, priorizando as áreas que atingirem o ponto ideal, otimizando o uso da mão de obra e equipamentos e garantindo a máxima expressão de qualidade da safra. Além disso, contribui para reduzir perdas por queda de frutos e minimizar a ocorrência de fermentações indesejadas no campo.
Quais processamentos serão utilizados?
É fundamental que o produtor tenha em mente quais métodos de processamento serão adotados para os lotes provenientes de cada talhão ou área da lavoura. Essa antecipação facilita o planejamento operacional e permite estratégias de manejo mais ajustadas.
Em áreas onde há grande desuniformidade de maturação ou em lavouras de grande extensão, nas quais a colheita seletiva se torna inviável, uma alternativa eficaz é optar pelo processamento via úmida, com a produção de cafés do tipo cereja descascado. Nessa técnica é possível separar, ainda que de forma primitiva, os frutos mais maduros durante o processamento e secá-los de forma mais agilizada.
A separação dos frutos mais maduros ocorre a partir do ajuste no equipamento, afrouxando as facas do descascador. Com essa regulagem, apenas os frutos maduros, que apresentam casca mais solta e menos aderida à semente, são efetivamente descascados, enquanto os grãos verdes, de casca mais rígida e aderente, permanecem íntegros e podem ser separados para outro destino.
Em talhões mais uniformes, com área reduzida, pode-se optar pelo processamento via seca, obtendo-se cafés do tipo natural.
Pode-se ainda planejar fermentações induzidas, determinando quais lotes possuem maior teor de sólidos solúveis, por meio do refratômetro, característica diretamente associada à maturação e ao potencial fermentativo dos frutos. Além disso, é necessário definir como a fermentação será conduzida, seja com o uso de microbiota nativa (presentes naturalmente na casca e polpa dos frutos) ou por meio da inoculação de culturas selecionadas de leveduras e bactérias.
Caso opte-se pela inoculação, é indispensável que essas leveduras sejam adquiridas e armazenadas com antecedência, antes do início da colheita, o que não só evita imprevistos logísticos durante o período de maior demanda operacional, como também permite a negociação de melhores condições comerciais junto aos fornecedores.
Conclusão
A pré-colheita do café é uma etapa fundamental para o bom desempenho da safra, influenciando diretamente a qualidade do produto final e a eficiência das operações no campo e no pós-colheita. Trata-se de um período dedicado ao planejamento e à preparação da propriedade, das máquinas, das estruturas e da lavoura, visando criar as condições ideais para uma colheita organizada, segura e produtiva.
A realização de práticas como limpeza das estruturas, manutenção de equipamentos, conservação de estradas e carreadores, além do acompanhamento da maturação dos frutos e definição dos métodos de processamento, permite reduzir riscos, evitar perdas e agregar valor ao café colhido. Independentemente do tamanho da propriedade ou do mercado atendido, investir tempo e atenção nessa fase é essencial para assegurar resultados consistentes e satisfatórios.
Portanto, uma boa pré-colheita não apenas facilita o andamento das atividades no período da safra, como também contribui para a valorização do produto e para a construção de sistemas produtivos mais organizados, eficientes e sustentáveis.
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A pré-colheita é uma etapa decisiva para garantir qualidade e produtividade na lavoura. Mas, para alcançar resultados consistentes e aumentar a rentabilidade, é essencial unir o bom manejo de campo a uma gestão estratégica da fazenda.
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