A mastite subclínica é uma inflamação da glândula mamária sem sinais clínicos aparentes, mas que afeta a produção e a qualidade do leite.
Entre as ferramentas disponíveis para um diagnóstico preciso e um manejo eficiente, temos a utilização de testes comuns de serem vistos em fazendas leiteiras, como a Contagem de Células Somáticas (CCS) e o California Mastitis Test (CMT).
Essa forma de apresentação da mastite é particularmente preocupante, pois tem impactos importantes na produção e na qualidade de leite das vacas, além de ser frequentemente subdiagnosticada.
Diante desse cenário, o uso de estratégias para identificação precisa dos agentes patogênicos do rebanho, como a cultura microbiológica tem ganhado espaço e vem auxiliando no manejo e na tomada de decisão dentro da propriedade.
Ao longo deste texto, iremos abordar como podemos utilizar a cultura microbiológica com foco nas vacas com mastite subclínica no rebanho.
O que é cultura microbiológica do leite?
A cultura microbiológica é um exame laboratorial que identifica os agentes causadores de mastite por meio do isolamento de microrganismos presentes no leite.
Para garantir o sucesso do diagnóstico, a coleta da amostra deve ser feita com o máximo de cuidado. Veja a seguir as boas práticas para evitar a contaminação:
Fonte: Rehagro Ensino
Para realizar esse procedimento é importante ter alguns cuidados:
- Use luvas limpas e troque-as se estiverem sujas ou furadas.
- Higienize os tetos com álcool 70%, priorizando a ponta dos tetos. Lembre-se de sempre iniciar a higienização dos tetos mais distantes para os mais próximos.
- Colete as amostras primeiro dos tetos próximos e depois dos mais distantes.
- Evite contato da tampa do frasco com a superfícies ou com o teto da vaca.
- Certifique-se de que o leite coletado não encoste nos seus dedos e suas mãos.
Quais os benefícios da cultura microbiológica na mastite subclínica?
- Identificação do patógeno com precisão: a mastite pode ser causada por uma variedade de microrganismos, incluindo bactérias como Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Escherichia coli, fungos e algas. A utilização da cultura permite identificar com precisão qual o patógeno presente na glândula mamária, proporcionando um diagnóstico específico que permite o direcionamento dos manejos.
- Escolha do tratamento adequado: a partir da identificação do patógeno é possível selecionar os antibióticos mais eficazes, evitando o uso indiscriminado de antimicrobianos e contribuindo para a redução da resistência antimicrobiana. Em muitos casos, a mastite subclínica pode ser causada por agentes que não requerem o uso de antibióticos, e a cultura permite orientar o tratamento de forma personalizada.
- Monitoramento da prevalência de microrganismos na propriedade: a realização de culturas de forma sistemática dentro da rotina da fazenda ajuda a mapear quais os patógenos são mais comuns na propriedade, permitindo a adoção de estratégias eficazes, como melhorias no manejo da ordenha, higienização adequada e controle de infecções.
Impacto da cultura microbiológica na tomada de decisão
A adoção da cultura microbiológica como parte do manejo de vacas com mastite subclínica impacta diretamente a tomada de decisão na propriedade de várias maneiras:
Melhor eficiência no uso de antimicrobianos
Ao identificar patógenos com precisão, o tratamento pode ser direcionado, evitando o uso desnecessário de antibióticos de amplo espectro, ou até mesmo não utilizar antimicrobianos no caso de agentes com alta taxa de cura espontânea.
Esse ajuste no manejo, gera economia nos custos com medicamentos além de preservar a eficácia de antimicrobianos essenciais para o manejo de outras enfermidades.
Aumento da produtividade leiteira e da qualidade do leite
É comprovado que vacas com quadro de mastite subclínica apresentam uma queda de produção de leite em relação ao nível de CCS.
Com um manejo mais eficaz dessa mastite subclínica é possível reduzir a CCS, melhorando a qualidade do produto e aumentando a produtividade dos animais. Isso se traduz em rentabilidade para o produtor, uma vez que o leite com menor CCS é valorizado no mercado.
Gráfico ilustrando a produção de leite por faixa de CCS, onde vacas com CCS inferior a 200 mil produzem mais leite (32,3L/dia) enquanto aquelas com CCS superior a 200 mil têm produção reduzida. Fonte: Rehagro Consultoria.
Prevenção de perdas futuras
A identificação precoce e o tratamento adequado da mastite subclínica impedem sua evolução para a forma clínica, que pode resultar em quedas abruptas na produção, descarte antecipado de vacas e maior custo com tratamentos.
Nesse cenário, a cultura microbiológica se destaca como uma ferramenta essencial para a prevenção, auxiliando na proteção do rebanho e na manutenção da produtividade.
Conclusão
A cultura microbiológica aplicada a vacas com mastite subclínica é uma estratégia eficaz para um diagnóstico preciso, tratamento direcionado e acompanhamento contínuo dos agentes causadores da doença.
Sua adoção possibilita a melhoria na qualidade do leite, o uso mais racional de medicamentos e a promoção da saúde geral do rebanho. Além disso, essa abordagem contribui significativamente para a sustentabilidade da produção leiteira, beneficiando tanto a saúde animal quanto a rentabilidade da fazenda.
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Referências
- Zecconi, A., & Scali, F. (2013). Staphylococcus aureus virulence factors in evasion from host defenses in human and bovine diseases. Toxins, 5(5), 1586-1624.
- Hogeveen, H., Huijps, K., & Lam, T. J. G. M. (2011). Economic aspects of mastitis: New developments. New Zealand Veterinary Journal, 59(1), 16-23.
- Oliveira, L., & Ruegg, P. L. (2014). Treatments of clinical mastitis occurring in cows on 51 large dairy herds in Wisconsin. Journal of Dairy Science, 97(9), 5426-5436.
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