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Doença da vaca louca: principais sintomas e formas de prevenção

Popularmente conhecida como “Vaca Louca”, a doença da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) é causada por uma proteína denominada príon, que é naturalmente presente no cérebro de diversos mamíferos, porém, pode causar a enfermidade ao se multiplicar intensamente, levando a infecção.

O nome popular se originou pelos sinais neurológicos apresentados pelos bovinos acometidos. O príon gera lesões cerebrais (encefalopatias) com vacúolos em forma de esponja (espongiforme), assim, os animais apresentam um comportamento incomum e agressivo.

Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como vaca louca

Cérebro de bovino com vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina)

Fonte: Liceu Sabin, Grego 2018.

 

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Origem da doença da vaca louca

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) foi diagnosticada pela primeira vez em 1986 na Europa. Ficou mundialmente conhecida após um surto epidêmico na Grã-Bretanha em 1992.

Estima-se que mais de 100 mil casos tenham ocorrido e os animais tiveram que ser sacrificados. Além disso, ficou evidenciado como uma doença zoonótica e isso levou a suspensão do consumo de carne bovina no país, gerando grandes impactos socioeconômicos.

O Príon é uma proteína celular normal presente em vários tipos de células do corpo dos ruminantes, mas o agente infectante apresenta afinidade pelo tecido neural. O agente é altamente estável e resistente ao congelamento, ressecamento e calor do cozimento normal, da pasteurização e da esterilização a temperatura e tempo usuais.

Dessa forma, há relatos que indicam que o surto foi devido à ingestão de alimentos contaminados por EEB.

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Como os bovinos adquirem a doença da vaca louca?

Não há evidências científicas de que a EEB se transmita horizontalmente, ou seja, pelo contato direto entre bovinos ou entre bovinos e outras espécies contaminadas.

A possibilidade de contaminação vertical (da vaca para o bezerro), contaminação ambiental e por meio de fômites contaminados de tecido bovino é muito baixa. Uma atenção maior deve-se dar ao solo, pois o príon sobrevive lá por três anos, por isso recomenda-se que os cadáveres de animais com a doença sejam incinerados.

Existem duas principais formas de adquirir a doença:

Caso de contaminação direta

É a forma mais conhecida da doença, decorrente da ingestão de carne contaminada pelo consumo de rações feitas com proteína animal, por exemplo, farinha de carne e ossos.

Caso de origem atípica

Apesar de ser pouco discutido, é uma forma que deve ser investigada e merece bastante atenção, pois nela, naturalmente, o príon sofre uma mutação, se tornando infeccioso e gera alterações cerebrais.

Os primeiros casos atípicos de EEB foram diagnosticados, quase que simultaneamente, na França e Itália, em 2004. Outros casos foram sendo identificados pelo mundo e os resultados do primeiro estudo sobre a epidemiologia das EEB atípicas analisou demonstrou que a média de idade dos bovinos acometidos era de 12 anos (variando entre 7 e 18 anos), sendo significativamente maior do que a média de idade da EEB clássica (média de 7 anos, variando entre 3 e 15 anos).

Para muitos pesquisadores e especialistas, o cenário mais condizente para origem da EEB atípica é a forma espontânea em decorrência de um processo natural de envelhecimento, com algumas características em comum com outras doenças, por exemplo, o mal de Alzheimer.

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Sinais clínicos da doença da vaca louca

Até o óbito, a doença evolui de 14 semanas até 1 ano, porém, os sinais clínicos podem ser observados logo no início, caso tenha um diagnóstico preciso e habilidoso para interpretação precoce desses sinais.

Abaixo, segue uma tabela com todos os sinais que podem ser observados para auxiliar na identificação da EEB:

Tabela com sinais clínicos da doença vaca louca observada em bovinos

Além dos sinais clínicos, é necessário realizar diagnósticos diferenciais para outras doenças que, por também afetarem o sistema nervoso, podem apresentar os mesmos sinais clínicos da EEB.

O uso de exames laboratoriais auxilia na identificação. Pode ser realizado o exame de sangue e exame de urina (urinálise). Outro exame que pode ser realizado é do líquido cerebrospinal, pois as encefalites causam alteração nesse líquido e a EEB não causa alterações.

É importante lembrar que as doenças neurológicas que mais acometem os ruminantes no Brasil, o botulismo e a raiva, apesar de não cursarem com alterações no líquido cerebrospinal, apresentam sinais neurológicos quase idênticos. Diante disso, a atenção deve ser redobrada.

Profilaxia da doença da vaca louca

A retirada de proteína de origem animal da alimentação de ruminantes, em especial as farinhas de carne e osso, é o método mais indicado para profilaxia da EEB.

Em especial, é preciso atentar-se a bovinos idosos destinados ao abate, pois eles podem servir como fonte de contaminação por meio das farinhas obtidas na utilização visceral.

Ainda sobre bovinos idosos, devem ser frequentemente monitorados, e/ou serem abatidos em uma faixa etária segura entre 2 e 4 anos. Além de se resguardar da EEB atípica, não trará prejuízos econômicos à produção pela longa permanência no sistema.

No Brasil, apesar de proibido, ainda é muito comum a utilização de cama de frango (maravalha ou serragem) na alimentação de ruminantes. Os produtores, porém, correm sérios riscos de contaminação.

O monitoramento da EEB nos frigoríficos deve contemplar: dos cérebros de ruminantes suspeitos de raiva que apresentaram exames com resultado negativo, o acompanhamento dos rebanhos que tiveram animais importados da Europa nos últimos anos, acompanhamento do histórico da qualidade e do teor dos componentes da ração animal.

Panorama da vaca louca no Brasil

De acordo com classificação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Brasil é considerado território de risco irrisório para a ocorrência da EEB.

Em setembro de 2021, contudo, uma notícia chocou o país e o mercado de exportação: em Minas Gerais, um bovino começou a apresentar sinais clínicos e o diagnóstico foi confirmado como EEB.

O caso ganhou repercussão internacional e desencadeou um movimento de queda nos contratos futuros do boi gordo na B3 e no mercado físico, em virtude de maior cautela do setor quanto a uma possível restrição nas exportações de carne bovina. Pouco após o choque, foi divulgado que o bovino tinha 10 anos e que a EEB era atípica. O impacto econômico, porém, já havia acontecido. 

Conclusão

A Encefalite Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como “vaca louca”, por ser uma doença pouco comum e que ainda tem um entendimento escasso sobre a sua patogenia, necessita de esforços profiláticos e diagnósticos precoces para impedir a disseminação.

Além disso, deve-se ter muita responsabilidade na identificação dos sinais clínicos, no diagnóstico e, sobretudo, histórico animal (nutrição e idade) para que não seja atribuída uma EEB clássica a uma EEB atípica, a fim de que, o mercado cárneo não sofra as consequências econômicas desse “mal-entendido”.

Dicas importantes:

  • Não forneça aos ruminantes qualquer tipo de alimento que contenha proteína de origem animal, inclusive cama-de-aviário e os resíduos da exploração de suínos. É crime federal.
  • Caso seja preparada ração na propriedade com concentrados ou suplementos proteicos, é preciso ter a certeza de que não esteja misturando alimentos de risco. 
  • Atenção no controle dos alimentos destinados aos ruminantes, pois há o risco de haver contaminação no transporte, na armazenagem, na pesagem e no próprio cocho dos animais.
  • Se você notar um animal apresentando algum sinal de doença do sistema nervoso, como alterações do comportamento, dificuldades de locomoção, paralisia, andar cambaleante, entre outros, comunique às autoridades. 
  • O estudo pioneiro sobre a epidemiologia das EEB atípicas foi realizado em 2012, na França, e demonstrou que, ao contrário da EEB clássica, as formas atípicas eram mais frequentes em bovinos de aptidão corte, quando comparados com os de aptidão leite. Desta forma, produtores de corte devem redobrar a atenção

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Mariana Silva

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