A pneumonia verminótica é causada por nematóides patogênicos da espécie Dictyocaulus viviparus, pertencentes à mesma família de nematóides responsáveis por gerar infecções gastrointestinais.
São majoritariamente comuns em rebanhos de áreas de clima tropical e subtropical e estudos apontam que sua prevalência é acrescida durante o final do verão e início do outono, devido a incidência de chuvas que garantem ambiente propício ao crescimento e desenvolvimento dos parasitas.
Nesse texto iremos discutir sobre a pneumonia verminótica, evidenciando o ciclo do patógeno causador, os sinais clínicos e as formas de diagnóstico. Além disso, vamos tratar sobre os principais impactos gerados por esse verme na produção de leite e também no percentual de gordura no leite.
Principais fatores de risco para ocorrência
Está geralmente associada a bezerros mantidos em sistema de pastejo, entretanto, vem sendo relatado uma crescente incidência em bovinos adultos, principalmente associada a utilização de anti-helmínticos profiláticos, os quais previnem a exposição em uma idade mais jovem.
Fatores de riscos associados à sua ocorrência são o acesso a pastagens contaminadas, reintrodução a pastagens após período de confinamento e, em sua maioria, a introdução de animais em fase patente da infecção no rebanho.
Com seus impactos negativos em taxas de mortalidade, fertilidade e produção, com redução de volume e gordura no leite, deter de estratégias de controle da desvermifugação do rebanho ainda é uma medida eficaz para evitar sua ocorrência.
Qual o ciclo desse patógeno?
O patógeno é ingerido em sua fase larval, principalmente através da pastagem. No trato gastrointestinal, a larva é capaz de penetrar e se dirigir via corrente sanguínea até os pulmões, onde se torna adulto. Podem atingir até 8 cm de comprimento, com apresentação fina e esbranquiçada em regiões de brônquios e traquéia.
Sua presença desencadeia uma série de alterações patológicas que dirigem inicialmente a invasão e ativação de eosinófilos, fator que corrobora para o estreitamento das vias aéreas e geram edema, enfisema e colapso pulmonar, caracterizando a fase pré-patente.
Na fase patente, a presença de vermes adultos se associa à ocorrência de bronquite, com presença de exsudato celular e muco espumoso, que incide na ocorrência de tosse. Também ocorre o desenvolvimento de uma pneumonia crônica não supurativa eosinofílica e granulomatosa principalmente em porções caudais dos pulmões em resposta a larvas e ovos aspirados.
Imagem de uma necropsia onde é possível observar na superfície de corte do pulmão bovino um grande número de nematodos esbranquiçados, delgados, de até 8 cm de comprimento, com acúmulo de exsudato catarral em alguns brônquios. Fonte: Claudio S. L. Barros, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS.
Quais os sinais clínicos e como diagnosticar a pneumonia verminótica?
Os sinais clínicos variam de tosse moderada associada a ligeiro aumento de frequência respiratória e tosse persistente, angústia ou insuficiência respiratória.
Isso atrelado a diminuição da produção de leite e perda de peso devido a redução do consumo de alimentos e o aumento do uso de energia pelo sistema respiratório causado pela reação destrutiva a infecção causada pelos vermes pulmonares.
Animais que apresentam reflexo de tosse intensa após movimentação e/ou sinais de angústia respiratória, caracterizada pela apresentação de cabeça esticada, boca aberta e salivação, devem ser avaliados de forma mais cuidadosa. É importante lembrar que casos graves de infecções por vermes pulmonares podem ocasionar a morte do animal.
O diagnóstico tem como princípio a análise dos sinais clínicos, epidemiologia e a presença de larvas nas fezes ou na necropsia dos animais. Porém, deve-se ter em mente que a ausência do parasito na análise coprológica não descarta sua ocorrência, isso mediante ao fato de que este é eliminado nas fezes apenas durante o período patente.
Dessa forma, animais em estágios pré e pós manifestações clínicas podem não ser diagnosticados, o mesmo se aplica a casos de reinfecção. Como diagnóstico diferencial da doença respiratória bovina, exames sorológicos podem ser incluídos, a exemplo do ELISA. Exames radiográficos e de broncoscopia também podem ser realizados.
Durante a necropsia, os principais achados macroscópicos consistem:
- Apresentação nodular dos pulmões com adesão pleural
- Hiperemia
- Exsudato purulento.
Na histopatologia são observados de forma característica a presença de alguns vermes adultos e muitos ovos e larvas em alvéolos e bronquíolos terminais os quais desencadeiam reações primariamente neutrofílicas e eosinofílicas que são rapidamente substituídas pela forma granulomatosa, rica em células gigantes e macrófagos.
Imagem demonstrando larva no parênquima pulmonar de um bovino, associada a infiltrado histiocitário e hemorragia. Fonte: Cláudio S. L. Barros – Universidade Federal de Santa Maria, RS.
Quanto ao tratamento, de forma geral, consiste na administração de benzimidazóis e/ou lactonas macrocíclicas os quais apresentam resultados efetivos contra todos os estágios do parasita.
Alguns exemplos de fármacos que se adequam a estes grupos são as avermectinas, doramectina, albendazol e levamisol. Animais que se encontram em pastoreio devem ser estabulados para melhor controle e avaliação da terapia, haja vista que suporte pode ser necessário.
A duração do período de patência é em média de dois a três meses. A maioria dos vermes adultos são expelidos e o exsudato regride após esse período, caso o animal sobreviva. É rara a ocorrência de sinais clínicos significativos no período pós patente, entretanto, casos de alveolite difusa proliferativa são registrados. Dessa forma, a observação do animal em todos os estágios da doença é um fator importante para sua íntegra recuperação.
Quais são os impactos da pneumonia verminótica na produtividade?
Os impactos dos parasitas pulmonares dos bovinos podem ser amplos, afetando a saúde dos animais, a produção de leite e consequentemente a lucratividade da fazenda.
Estudos já estimaram que em casos de surtos clínicos graves por vermes pulmonares, há a capacidade de promover uma redução de 15 a 20% na produção de leite, o que resulta em uma elevação dos custos de produção.
Além disso, ao associarmos a produção de leite à presença do Dictyocaulus viviparus, é possível observar que a média mensal de produção de leite é menor nos rebanhos que têm a presença do verme em comparação com rebanhos com ausência do mesmo.
Em números, podemos citar que o status positivo para o verme culminou em uma produção de leite de 1,01 kg/vaca por dia a 1,68 kg/vaca por dia a menos em relação aos animais negativos, onde essa variação ocorreu em diferentes meses no ano segundo os estudos.
Entretanto, demais trabalhos puderam demonstrar que essa perda em leite pode ser ainda maior, chegando a 4 kg/vaca por dia em casos onde no rebanho havia graves surtos clínicos.
Quando pensamos no impacto do Dictyocaulus viviparus na qualidade do leite, os mesmos trabalhos puderam observar que existe uma relação negativa entre o status de D. viviparus e o percentual de gordura no leite, onde rebanhos com presença do verme tiveram em média 0,14% menor do que rebanhos livres.
Estatísticas descritivas para produção de leite (kg), % de gordura, % de proteína, paridade e DEL de rebanhos leiteiros positivos e negativos para D. viviparus. Fonte: Adaptado de Dank et al. (2015)
A hipótese dessa redução no percentual de gordura no leite além da possibilidade de menor ingestão de alimentos, gira em torno de uma resposta imunológica que demanda de muita energia contra o D. viviparus, ou seja, há a necessidade de uma energia adicional para combater a infecção e manter as funções corporais o que pode desviar nutrientes que seriam utilizados na síntese de gordura.
Além disso, o comprometimento do metabolismo energético pode resultar em uma menor síntese de ácidos graxos no fígado, os quais são essenciais para a produção de gordura do leite.
Considerações finais
Sabemos que a presença do Dictyocaulus viviparus nas vacas leiteiras proporciona um impacto negativo significativo na produção de leite e também na sua composição, particularmente nos níveis de gordura, devido ao estresse fisiológico e ao comprometimento metabólico causado pela infestação do parasita.
Entretanto, se houver um controle parasitário rigoroso, podemos manter a saúde das vacas e garantir uma produção de leite com alta qualidade e também com níveis de gordura adequados.
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