A utilização das plantas de cobertura é uma das premissas da agricultura conservacionista, pois possibilita melhorar a saúde do solo de forma sustentável e segura, por meio de processos físicos, químicos e biológicos.
As plantas de cobertura propiciam uma melhoria na resposta das culturas, principalmente em anos de estresses ambientais, ocasionados pelas mudanças climáticas. A diversidade das plantas de cobertura é essencial para um sistema produtivo e para a manutenção da saúde do solo.
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Importância dos resíduos orgânicos na proteção do solo
O aporte de resíduos orgânicos é fundamental para a cobertura do solo, no intuito de protegê-lo do impacto das gotas de chuva e da erosão, corroborando para uma boa qualidade estrutural, não somente pela adição de matéria orgânica proveniente da rotação de culturas, mas também pelo fornecimento de substrato orgânico como fonte de energia para as populações de microrganismos do solo, que agem na produção do carbono da biomassa microbiana, atuando como agente de estabilização dos agregados do solo, contribuindo com o sequestro de carbono, ciclagem e dinâmica de nutrientes.
Há uma gama de plantas de coberturas utilizadas nos trópicos e subtrópicos, ligadas a serviços de ecossistêmicos, aplicados em sistemas de cultivos anuais ou perenes. Sua adoção depende exclusivamente das diferenças climáticas regionais e pela adoção, ou não, do sistema de plantio direto.
O preparo do solo e as culturas utilizadas, possuem efeito preponderante sobre a estrutura do solo e, consequentemente, os fluxos de água e ar. A degradação do solo pode ser considerada uma das ameaças mais graves para o ecossistema, pois compromete a função do solo pelas mais diferentes causas, seja por erosão, compactação, redução nos estoques de carbono do solo e perda de matéria orgânica e nutrientes, acarretando menores produtividades.
O que é Sistema de Plantio Direto?
O Sistema de Plantio Direto (SPD) é um componente chave para o manejo sustentável do solo, sendo definido pela aplicação de três princípios:
- Não revolvimento ou menor distúrbio mecânico do solo;
- Cobertura do solo pela palhada;
- Diversificação das espécies de cultivo (rotação de culturas, sucessão de culturas e consórcio de culturas).
No Brasil, estima-se que tenha uma área superior a 33 milhões de hectares sob sistema de plantio direto.
Os principais fatores para a adoção generalizada do SPD são:
- Redução nos custos de produção e economia de tempo;
- Flexibilidade técnica na semeadura, aplicação de corretivos, fertilizantes e controle de plantas daninhas;
- Produtividade igual ou maior e mais estabilidade ao longo do tempo;
- Maior proteção do solo contra erosão hídrica e eólica;
- Maior eficiência na absorção de nutrientes pela planta;
- Redução de custos e redução dos problemas de controle de pragas e doenças;
- Maior eficiência no armazenamento e captação de água pelas plantas.
A rotação de culturas é definida como a alternância ordenada de diferentes culturas, em um determinado ciclo, na mesma área e na mesma estação do ano. A sucessão de culturas consiste no ordenamento de duas culturas na mesma área agrícola por tempo indeterminado, cada uma cultivada em uma estação do ano.
Sendo assim, modelos de sistemas de produção envolvendo a rotação de culturas se tornam mais complexos, envolvendo maior diversificação de espécies vegetais em comparação à sucessão de culturas.
Para dimensionamento do sistema de produção que apresente resiliência, a adoção de estratégias para diversificação de espécies vegetais que envolvam rotação, sucessão e consórcio de culturas, se torna fator fundamental.
A implantação de um sistema de produção diversificado deve garantir não causar transtornos operacionais ou econômicos, tendo em vista que a diversificação de culturas aumenta o grau de complexidade das tarefas a serem executadas.
Sendo assim, para um modelo de produção envolvendo a primeira e segunda safra para regiões com clima subtropical e tropical, estão como exemplo na figura a seguir.
Distribuição temporal de espécies vegetais em um exemplo de modelo de sistema de produção para regiões subtropicais e tropicais.
Dentre as plantas de cobertura utilizadas para estimular a produção de cobertura morta, as leguminosas são as mais requeridas, pois apresentam a capacidade de fixar biologicamente o nitrogênio e disponibilizá-lo para a cultura sucessora.
As leguminosas com potencial de utilização para adubação verde, se destacam:
- A crotalária (Crotalaria juncea);
- O guandu-anão (Cajanus cajan);
- O feijão-de-porco (Canavalia ensiformis);
- A mucuna-preta (Mucuna aterrima).
As gramíneas apresentam alto grau de rusticidade, elevado acúmulo de matéria verde, atuam como reguladoras da temperatura e umidade do solo e diminuem os riscos de erosão pela alta relação C/N e menor velocidade de decomposição da biomassa vegetal.
Quais opções de plantas de cobertura para SPD?
1. Braquiárias (Urocloa brizantha, U. decubens, U. ruziziensis)
Época de semeadura
- U. brizantha – outubro a fevereiro;
- U. decumbens – outubro a fevereiro;
- U. ruziziensis – novembro a fevereiro.
Semeadura
- U. brizantha – 320 PVC em linha, 520 PVC à lanço;
- U. decumbens – 300 PVC em linha, 600 PVC à lanço;
- U. ruziziensis – 350 PVC em linha, 550 PVC à lanço.
*PVC, ponto de valor cultural; Quantidade mínima de sementes = PVC / %VC, onde %VC = valor cultural
Ciclo até o florescimento
Época de florescimento dependerá da cultivar selecionada e, para alguns casos, também do fotoperíodo.
- U. brizantha – 70 a 180 DAS*;
- U. decumbens – 70 a 120 DAS;
- U. ruziziensis – 40 a 50 DAS.
*DAS = dias após a semeadura
Hábito de crescimento
- U. brizantha – touceiras eretas;
- U. decumbens – touceiras decumbentes;
- U. ruziziensis – touceiras semieretas.
Produção de biomassa
brizantha:
- Biomassa: 12 a 27 t/ha/ano;
- Massa seca: 8 a 20 t/ha/ano.
decumbens:
- Biomassa: 20 a 30 t/ha/ano;
- Massa seca: 12 a 15 t/ha/ano.
ruziziensis:
- Biomassa: 20 a 40 t/ha/ano;
- Massa seca: 12 a 16 t/ha/ano.
2. Crotalárias (Crotalaria breviflora; C. juncea; C. ochroleuca; C. spectabilis)
Época de semeadura
breviflora
- Outubro a novembro – Recomendado; Dezembro a janeiro – Algumas restrições.
juncea
- Antecipado: Setembro; Recomendado: Outubro a Novembro; Segunda safra – tardio: Dezembro a Março.
ochroleuca
- Outubro a novembro – Recomendado; Dezembro a março – Tardia.
spectabilis
- Época ideal: Outubro a Novembro; Segunda safra – tardia: Dezembro a fevereiro.
Semeadura
C. breviflora;
- Linha: Espaçamento de 0,5 m entre linhas, totalizando 12 kg/ha. De 2 a 3 cm de profundidade;
- Lanço: 25 kg/ha de sementes e cobertas com solo após o lanço.
juncea
- Linha: 25 a 40 sementes/m, totalizando, 25 a 40 kg/ha. Com espaçamento de 0,25 a 0,50 cm entre linhas;
- Lanço: 20% de sementes a mais e cobertas com solo após o lanço.
ochroleuca
- Linha: Espaçamento de 0,5 m entre linhas, 10 kg/ha, profundidade de 2 a 3 cm;
- Lanço: 12 kg/ha de sementes e cobertas com solo após o lanço.
spectabilis
- Linha: 30 sementes/m, totalizando 12 a 15 kg/ha. Com espaçamento de 0,40 a 0,50 cm entre linhas;
- Lanço: 20% de sementes a mais e cobertas com solo após o lanço;
Ciclo até o florescimento
breviflora
- Florescimento ocorre de 90 a 100 dias após o plantio.
juncea
- Florescimento ocorre de 70 a 130 dias após o plantio.
ochroleuca
- Florescimento ocorre de 120 a 135 dias após a semeadura.
spectabilis
- Florescimento ocorre de 110 a 140 dias após o plantio;
Produção de biomassa
breviflora
- Biomassa: 15-20 t/ha; Massa seca: 3-5 t/ha.
juncea
- Biomassa: 35-60 t/ha; Massa seca: 10 – 15 t/ha.
ochroleuca
- Biomassa: 20-30 t/ha; Massa seca: 7-10 t/ha.
spectabilis
- Biomassa: 20-30 t/ha; Massa seca: 4 – 6 t/ha.
3. Girassol (Helianthus annuus)
Época de semeadura
- Sul e Centro Sul: Setembro a janeiro;
- Safrinha – Centro do Brasil: Janeiro a março.
Semeadura
- 3-20 kg/ha (época ideal);
Ciclo até o florescimento
- 60 – 80 dias após a semeadura;
Produção de biomassa
- 40 – 70 t/ha; Massa seca: 7 – 15 t/ha.
4. Milheto (Pennisetum glaucum)
Época de semeadura
- Antecipado: Setembro;
- Época ideal: Outubro à novembro;
- Segunda safra – tardio: Dezembro a maio;
Produção de forragem
- 15 a 20 kg/ha, 17 a 34 cm de espaçamento entre linhas; Cobertura do solo: 15 – 40 kg/ha e 15 cm de espaçamento entre linhas; Reforma de pasto á lanço: 20 a 25 kg/ha;
Ciclo até o florescimento
- 45 – 50 dias;
Produção de biomassa
- 50 – 60 t/ha; Massa seca: 8 – 15 t/ha.
5. Painço (Panicum miliaceum)
Época ideal de semeadura
- Setembro a dezembro;
- Safrinha: Janeiro até a primeira quinzena de março.
Semeadura
- 12 a 15 kg/ha
Ciclo até o florescimento
- Ocorre cerca de 40-45 dias após à semeadura.
Produção de biomassa
- 6 a 12 t/ha
6. Trigo mourisco (Fagopyrum esculentum)
Época ideal de semeadura
- Outubro a dezembro;
- Com restrições: Janeiro a Março.
Semeadura
- 60-65 kg/ha;
- A lanço: 70-80 kg/ha.
Ciclo até o florescimento
- 35 a 50 dias;
Produção de biomassa
- 15 a 28 t/ha; Massa seca: 3 a 6 t/ha.
7. Aveia (Avena sativa; Avena strigosa)
Época de semeadura
sativa
- Março a julho.
strigosa
- Março a julho.
Semeadura
sativa
- 50 a 60 kg/ha.
strigosa
- 60 a 90 kg/ha.
Ciclo até o florescimento
sativa
- 80 a 110 dias.
strigosa
- 80 a 110 dias.
Produção de biomassa
sativa
- Biomassa: 30 a 50 t/ha; Massa seca: 7 a 15 t/ha.
strigosa
- Biomassa: 30 a 60 t/ha; Massa seca: 5 a 10 t/ha.
8. Canola (Brassica napus)
Época de semeadura
- Março a junho;
Semeadura
- 3 a 4 kg/ha de sementes;
Ciclo até o florescimento
- 50 a 70 dias;
Produção de biomassa
- 20 a 30 t/ha; Massa seca: 2 a 3 t/ha.
9. Centeio (Secale cereale)
Época de semeadura
- Março a Julho
Semeadura
- 40 a 60 kg/ha
Ciclo até o florescimento
- 60 a 90 dias
Produção de biomassa
- 20 a 30 t/ha; massa seca: 4 a 10 t/ha
10. Cevada (Hordeum vulgare)
Época de semeadura
- Março a maio;
Semeadura
- 100 a 150 kg/ha;
Ciclo até o florescimento
- 80 a 90 dias;
Produção de biomassa
- 3 a 5 t/ha de massa seca.
11. Triticale (X Triticosecale)
Época de semeadura
- Março a maio;
Semeadura
- 80 a 120 kg de sementes/ha;
Ciclo até o florescimento
- 70 a 85 dias;
Produção de biomassa
- 9 a 10 t/ha; Massa seca 4 a 7 t/ha.
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