Rehagro Blog
Campo após ser atingido por plantas daninhas

Plantas daninhas na produção de grãos e seus mecanismos de resistência

Quando falamos do aumento necessário da oferta de alimentos nos próximos anos devemos levar em conta que existem alguns fatores limitantes da produtividade, uns são abióticos e outros bióticos, como o caso das plantas daninhas que competem de várias formas com a cultura explorada economicamente.

O fator biótico pode ser manejado e controlado de forma que a redução da produtividade seja baixa ou nula, porém devemos nos atentar ao realizar esse manejo para que não haja uma seleção de resistência dessas plantas daninhas.

 

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A resistência de plantas daninhas é um tema que vêm sendo tratado nos últimos anos, entretanto é algo que já ocorre há muito tempo. Somente após o lançamento da soja com transgenia, que confere a resistência ao glifosato, que isso ficou mais evidente, pois uma molécula que oferecia controle eficiente de todas as daninhas na cultura da soja passou a ser utilizada com frequência nas áreas, e isso proporcionou a seleção de biótipos resistentes ao longo das safras, como exemplifica a figura abaixo.

Evolução da resistência de plantas daninhas à herbicidas.

Dessa maneira com o passar dos anos, doses elevadas do herbicida não surtiam efeito no controle e a tecnologia que era de grande ajuda, já não poderia ser utilizada sozinha.

No Brasil no final de 2018 já tínhamos 50 casos de resistência de plantas daninhas, sendo que 16 delas são casos de resistência múltipla (resistência a dois ou mais mecanismos de ação).

Para evitar a seleção devemos sempre optar pelo uso de herbicidas pertencentes a diferentes mecanismos de ação. Para exemplificar podemos falar de herbicidas muito usados na cultura da soja e que pertencem ao mesmo mecanismos de ação Lactofen, Fomesafen e Flumioxazim, todos inibidores da PROTOX, e agem no mesmo local na planta, e assim uma aplicação sequencial com esses princípios ativos aumentaria muito as chances de seleção das PD com genes de resistência.

Webinar Herbicidas pré-emergentes em soja

Mecanismos de resistência aos herbicidas

Quando falamos no fator intrínseco da planta que possibilita a resistência, temos alguns mecanismos que podemos elencar como a causa da ineficiência do herbicida, como: a  alteração do local de ação do herbicida; a amplificação gênica; metabolização e compartimentalização do herbicida.

Alteração do local de ação

A alteração de local de ação é constituída por mutações que mudam a conformação do sítio de ação da molécula fazendo com que a rota que o herbicida iria inibir continue funcionando normalmente, geralmente ocorre a troca de aminoácidos da sequência da enzima afetada.

 Pode ser observada em plantas como Bidens pilosa (picão preto) Eleusine indica (pé de galinha) e Amaranthus palmeri (caruru) e os principais produtos afetados por esse mecanismo são inibidores da ALS, Triazinas e Dinitroanilinas.

Amplificação gênica

A amplificação gênica também chamada de super expressão pode ser definida de forma mais simples como a multiplicação acelerada das cópias de DNA que codificam para a enzima alvo do herbicida, dessa forma a aplicação da dose normalmente recomendada não é suficiente para controlar a planta.

Como exemplo temos a enzima EPSP inibida pelo glifosato. Com uma alta produção dessa enzima ou de algumas enzimas que estão presentes no caminho de inibição do herbicida, a planta não sentirá tanto e não será controlada com a aplicação da dose normal. Apesar desse mecanismo ter sido encontrado em plantas de caruru e relacionado ao herbicida glifosato, podem ocorrer com outros herbicidas.

Metabolização

Outro fator que faz com que a planta daninha seja resistente ao herbicida é a metabolização do mesmo, podendo fazer com que ele seja degradado rapidamente, perdendo seu papel de herbicida ou até mesmo conjugado com outra molécula presente na planta, ou seja, a planta produz algum composto responsável por se ligar ao herbicida e assim ele não consegue se ligar ao local de inibição e esses compostos formados são menos tóxicos. 

As principais enzimas responsáveis por essa degradação ou conjunção são a monoxigenase do citocromo P450 e a Glutationa. A atrazina é seletiva para o milho somente por conta da ação da glutationa que está presente na planta, fazendo com que haja uma destoxificação via essa enzima, a glutationa.

Compartimentalização

O isolamento do herbicida também é um mecanismo de resistência, menos frequente, porém não menos importante, ele consiste na compartimentalização da molécula maléfica à planta em locais onde não se atingirá o sítio de ação necessário, como o isolamento do herbicida no vacúolo celular, sendo assim o efeito é nulo sobre a síntese de proteínas, aminoácidos e outros compostos essenciais. 

Temos como um exemplo bastante conhecido, a Buva (Conyza spp.) que possui biótipos resistentes a glifosato. A planta de buva resistente possui a capacidade de sequestrar essa molécula e isolá-la no vacúolo.

Plantas de buva (conyza spp.) após a dessecação para plantio.Plantas de buva (conyza spp.) após a dessecação para plantio. Foto: Breno Ferraz 

Como proceder em caso de aplicações de herbicida que não surtiram efeito?

Devemos primeiro observar como foi a falha do controle, se foi em faixas, reboleiras, em plantas isoladas ou praticamente em área total e observar se foi somente uma espécie de planta que resistiu ao controle. 

Depois de observado esses pontos, prosseguimos com a análise dos fatores da tecnologia de aplicação realizando algumas perguntas que irão validar que tudo foi feito de maneira correta, como:

  • A dose aplicada foi a recomendada?
  • No momento da aplicação respeitamos as condições ótimas para a aplicação?
  • A altura de barra não proporcionou faixas sem a sobreposição?
  • O produto tem características que proporcionam entupimento de bicos?
  • No momento da aplicação as plantas ainda estavam estressadas pela falta de água no solo? 

Depois de avaliados esses pontos e não se encontrar falhas que proporcionaram esse não controle, há uma possibilidade de que essas plantas daninhas sejam resistentes ao herbicida e é necessária a retirada de sementes dessas plantas para que se faça testes com diferentes doses do herbicida e só assim chegarmos à conclusão da resistência.

Sendo assim para efetuar o controle das mesmas devemos optar por outro mecanismo de ação na hora da aplicação, podendo utilizar dois ou mais mecanismos de ação diferentes para controle, pois a chance de sobrevivência dessas plantas à aplicação de dois produtos de mecanismos distintos é bem menor.

Outro ponto é a aplicação no momento em que as plantas estão mais jovens, pois algumas espécies como a buva e capim amargoso são de mais fácil controle quando estão jovens, possibilitando assim uma maior eficiência e menor infestação.

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Yago Garcia

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