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Glufosinato de amônio: como utilizar esse herbicida com eficiência

O glufosinato de amônio tem ganhado destaque no cenário agrícola brasileiro como uma ferramenta estratégica no controle de plantas daninhas, especialmente diante do aumento da resistência a herbicidas com diferentes mecanismos de ação

Trata-se de um herbicida de contato, não seletivo, cujo princípio ativo atua inibindo a enzima glutamina sintetase, provocando o acúmulo tóxico de amônia nas células da planta, o que leva à sua morte.

Nos últimos anos, o uso do glufosinato se intensificou principalmente em sistemas agrícolas que adotam tecnologias de cultivares geneticamente modificadas com tolerância ao produto. O uso dessas tecnologias no sistema produtivo é uma estratégia interessante, especialmente em programas de rotação ou combinação de herbicidas, ações essenciais para combater o avanço das plantas daninhas resistentes.

O glufosinato de amônio pode ser empregado em dessecação pré-plantio, dessecação pré-colheita de soja e na pós-emergência em cultivares/híbridos com tolerância a esse herbicida, podendo ser empregado de maneira isolada ou em associação com outros produtos. Por ter ação de contato, a tecnologia de aplicação é um ponto fundamental para adequada cobertura da planta pelo produto, garantindo eficiência no controle.

Como funciona o glufosinato de amônio: visão técnica e agronômica

O glufosinato de amônio pertence a uma classe de herbicidas que atuam por meio da inibição da enzima glutamina sintetase, enzima essencial para o metabolismo do nitrogênio nas plantas. Quando essa enzima é inibida, ocorre o acúmulo de amônia no tecido vegetal, provocando a desorganização das células e levando à morte da planta.

Esse mecanismo é classificado pelo HRAC (Comitê de Ação à Resistência de Herbicidas) como Grupo 10 (inibidores da glutamina sintetase).

Por ter um modo de ação diferente dos herbicidas mais amplamente usados (como o glifosato, que pertence ao Grupo 9), o glufosinato é uma excelente ferramenta para programas de rotação de mecanismos de ação, ajudando a reduzir a pressão de seleção de resistência.

Tecnologias disponíveis no mercado

O glufosinato de amônio é registrado para diversas culturas no Brasil. Existem diferentes formas de inserir esse herbicida no sistema produtivo, o que permite a flexibilidade em seu uso.

A adoção na pós-emergência das culturas com tolerância genética permite sua aplicação sem danos à cultura principal. Alguns exemplos de tecnologias disponíveis no mercado são:

  • Sistema LibertyLink: viabiliza o uso do glufosinato de amônio sem causar danos à soja.
  • Recentemente, também foi inserido no mercado a tecnologia Conkesta Enlist na cultura da soja. Essa tecnologia permite a aplicação de glifosato, 2,4 D e glufosinato de amônio na pós-emergência da cultura.

Características agronômicas

  • Ação de contato: não é translocado sistemicamente. Por isso, exige cobertura uniforme das plantas daninhas.
  • Sintomas visuais: aproximadamente aos 5 dias após aplicação, é possível observar os primeiros sintomas do herbicida nas plantas, que incluem amarelecimento e posterior necrose.
  • Degradação rápida no solo: minimiza riscos de carryover (resíduos que afetam culturas subsequentes).
  • Eficiência reduzida sob baixa luminosidade ou temperaturas muito baixas.

Comparativo com o glifosato

Comparativo do glufosinato de amônio com o glifosato

Esse comparativo deixa evidente que o glufosinato não substitui diretamente o glifosato, mas sim pode complementar de forma estratégica o manejo principalmente em plantas de difícil controle

Como aplicar o glufosinato de amônio com eficiência: recomendações práticas

A eficácia do glufosinato de amônio depende de detalhes operacionais importantes. Não basta apenas aplicar, é preciso entender quando, como e em que condições utilizar o produto para garantir um controle eficaz das plantas daninhas e evitar perdas financeiras e agronômicas.

1º Dessecação pré-plantio

Condições ambientais

Segundo alguns trabalhos da literatura, o glufosinato necessita de luz após aplicação para melhor ação do produto. Por essa razão, o ideal é que o produto seja aplicado entre 08h00 e 15h00 (condição de luz solar) e que não haja restrição como nebulosidade após aplicação.

Tabela com as condições ambientais para pulverização com defensivos

Condições ambientais para pulverização de defensivos, com base no delta T para pulverização. (Fonte: Equipe Grãos Rehagro)

As condições ambientais interferem diretamente na eficiência da pulverização. Na tabela acima, elaborada a partir do delta T para pulverização, associamos a temperatura do ambiente e a umidade relativa para predizer condições em que as perdas por evaporação e deriva podem ser minimizadas. Ideal que as aplicações aconteçam em condições dentro das zonas verde e azul na tabela.

Associação com PROTOX

Atenção às doses! A mistura de glufosinato com herbicidas do grupo protox é sinérgica. Atente-se para não aumentar a dose do protox, evitando assim prejudicar a performance do glufosinato na mistura. Converse com nossos consultores para adequar as doses de cada produto e garantir maior controle em sua lavoura.

Tratamento:

  • 1ª aplicação: glifosato + fluroxipir + cletodim;
  • 2ª aplicação: glufosinato + saflufenacil

Dessecação pré-semeadura da soja para controle de buva

Dessecação pré-semeadura da soja para controle de buva. (Fonte: Fazenda Experimental Rehagro, 2025)

(Figura a) Área antes da aplicação; (Figura b) 14 dias após a 1 aplicação; (Figura c) 7 dias após a 2ª aplicação; (Figura d) 14 dias após a 2ª aplicação. DAA = dias após a aplicação

 

E-book Tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas

Aplicação sequencial

Realizada em intervalos de 7 a 14 dias após a primeira aplicação.

Quando utilizar a sequencial? 

A recomendação é fazer a dessecação sequencial em situações como:

  • Áreas com elevada infestação de plantas daninhas;
  • Presença de plantas daninhas de difícil controle, como buva, capim-amargoso e capim-pé-de-galinha;
  • Plantas daninhas em estádios avançados de desenvolvimento em que uma aplicação única não é suficiente para garantir controle satisfatório.

Como realizar a sequencial?

O glufosinato de amônio, por ser um herbicida de contato, possui excelente resultado quando associado a produtos com mecanismos de ação complementares.

Uma estratégia que pode ser utilizada é associar o glufosinato com herbicidas do grupo protox (inibidores da PPO), aumentando a eficácia sobre diferentes espectros de plantas daninhas.

Lembre-se da dica dada anteriormente: cuidado com as doses dos herbicidas pertencentes ao grupo protox!

Dica extra: Uso de pré-emergentes

Outra estratégia importante é incluir herbicidas pré-emergentes na aplicação sequencial. Essa prática reduz a emergência de novas plantas daninhas e proporciona um manejo mais sustentável ao longo do ciclo da cultura, facilitando a capina.

2º Capina

  • Avaliar os alvos presentes na lavoura e atentar-se se a cultivar/híbrido possui tolerância ao glufosinato.
  • Na cultura do milho, entradas com glufosinato devem ser feitas até o estádio V4 (híbridos tolerantes).
  • Cuidado com misturas de herbicidas com inseticidas, fungicidas e nutricionais (pH e incompatibilidades físicas e químicas). Importante realizar o teste de garrafa!

Veja o vídeo a seguir e saiba como realizar o teste da garrafa corretamente:

3º Dessecação pré-colheita

  • Estádio de aplicação: de acordo com estudos realizados na Fazenda Experimental da Rehagro, a melhor época de aplicação do glufosinato para dessecação pré-colheita de soja é R 7.2, momento em que a lavoura atinge 50 a 75% de amarelecimento das plantas.
  • Associações: o uso de glufosinato associado a herbicidas do grupo protox, segundo estudos na Fazenda Experimental, acelerou a dessecação e reduziu o percentual de hastes verdes, facilitando a colheita.

Dessecação pré-colheita da soja com glufosinato de amônio isolado

Dessecação pré-colheita de soja com glufosinato de amônio isolado. (Fonte: Laís Resende – Equipe Grãos Rehagro)

(Figura 1) Área 5 dias após aplicação; (Figura 2) 7 dias após aplicação; (Figura 3) 10 dias após aplicação. DAA = dias após aplicação.

 

Dessecação pré-colheita de soja com glufosinato de amônio, associado a flumioxazina

Dessecação pré-colheita de soja com glufosinato de amônio, associado a flumioxazina (protox). (Fonte: Laís Resende – Equipe Grãos Rehagro)

(Figura 1) Área 5 dias após aplicação; (Figura 2) 7 dias após aplicação; (Figura 3) 10 dias após aplicação. DAA = dias após aplicação

Recomendações gerais de aplicação

Volume de calda e tecnologia de aplicação

  • Volume recomendado: Acima de 100 L/ha. Quanto maior o volume de calda, maior a cobertura do alvo e melhor a eficácia.
  • Tamanho de gota: Para evitar a deriva, deve-se utilizar bicos que promovam gotas grossas, muito grossas, extremamente grossas ou ultragrossas. Nesse sentido, bicos com indução de ar promovem gotas com essa característica. Associado a isso, deve-se utilizar adjuvantes com característica que reduza deriva associado ao uso de óleo. A associação de bicos de pulverização e adjuvantes irá trabalhar em conjunto para reduzir o risco de deriva. 

Compatibilidade com outros produtos

  • Realizar o teste de garrafa previamente sempre que houver associações de produtos para as aplicações, para evitar incompatibilidade entre produtos.
  • Evitar misturas com produtos que alteram o pH da calda drasticamente (pH ideal da calda: entre 4,0 e 4,5).

Adjuvantes e surfactantes

  • Lembre-se da utilização de óleo na aplicação.
  • Utilizar adjuvantes com ação anti deriva e espalhante.

Vantagens e oportunidades no uso do glufosinato de amônio

O glufosinato de amônio se destaca por oferecer ganhos importantes em eficiência de controle, sustentabilidade e segurança agronômica, especialmente quando inserido corretamente no manejo. A seguir, destacamos os principais pontos positivos que tornam seu uso uma oportunidade estratégica no campo.

Alternativa eficaz no manejo de resistência

O uso intensivo e repetitivo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, especialmente o glifosato, levou ao surgimento de biótipos resistentes de várias espécies de plantas daninhas, como buva (Conyza spp.), capim-amargoso (Digitaria insularis) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica).

O glufosinato de amônio, ao atuar por um mecanismo de ação completamente distinto, é uma das opções disponíveis para rotacionar mecanismos de ação.

Sem risco de carryover

O glufosinato possui meia-vida curta no solo, baixo potencial de lixiviação e reduzido carryover, tornando-se uma opção interessante e segura para acrescentar ao manejo.

Conclusão

O glufosinato de amônio tem se consolidado como uma ferramenta interessante no manejo integrado de plantas daninhas, especialmente em um cenário de crescente resistência a herbicidas sistêmicos como o glifosato e graminicidas. Seu mecanismo de ação distinto, sua ação por contato e a compatibilidade com tecnologias transgênicas são características interessantes para inserção no sistema produtivo.

O glufosinato deve ser posicionado estrategicamente, como parte de um programa robusto de manejo integrado, contribuindo para a sustentabilidade do sistema produtivo e para a longevidade das ferramentas disponíveis no mercado.

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