Escolher o melhor sistema de produção para gado de corte é uma decisão que impacta diretamente a produtividade, os custos, a rentabilidade e o futuro da fazenda. Mais do que uma escolha técnica, trata-se de uma definição estratégica, que precisa considerar a realidade operacional, os recursos disponíveis, o mercado e os objetivos de longo prazo do pecuarista.
No entanto, muitos produtores ainda enfrentam dúvidas sobre qual sistema adotar, ou mesmo como ajustar o modelo atual para extrair melhores resultados. Isso é compreensível: a pecuária é uma atividade complexa e multifatorial, e o sucesso depende da integração equilibrada entre estrutura, gestão, sanidade, nutrição e pessoas.
Se você busca eficiência, segurança e lucratividade, continue a leitura e descubra como alinhar o sistema de produção às necessidades da sua fazenda e às exigências do mercado atual.
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O que é um sistema de produção na pecuária de corte?
Um sistema de produção na pecuária de corte é o conjunto de estratégias, processos e recursos adotados para criar, recriar e/ou engordar bovinos com o objetivo de produzir carne de forma eficiente, sustentável e economicamente viável. Ele define como a fazenda irá produzir, o que será produzido e em que etapas da cadeia produtiva a propriedade estará inserida.
Mais do que um simples modelo operacional, o sistema de produção é a espinha dorsal da atividade pecuária. Ele influencia todas as decisões do dia a dia: manejo, nutrição, uso de pastagens, suplementação, gestão de pessoas, sanidade animal, fluxo de caixa e até mesmo o posicionamento da fazenda no mercado.
Papel estratégico do sistema produtivo
- Direciona investimentos: cada sistema exige diferentes níveis de infraestrutura, tecnologia e mão de obra.
- Define metas e indicadores de desempenho: como GMD (ganho médio diário), taxa de desmame, taxa de lotação, custo por arroba produzida, entre outros.
- Aumenta a previsibilidade dos resultados: ao organizar os processos, permite maior controle sobre produtividade e rentabilidade.
- Conecta produção ao mercado: diferentes sistemas atendem perfis distintos de clientes e canais de comercialização.
Principais tipos de sistema de produção na pecuária de corte
Escolher entre cria, recria, engorda ou ciclo completo não é apenas uma questão de preferência ou tradição: é uma decisão que deve estar alinhada à estrutura disponível, ao clima da região, ao mercado-alvo e à capacidade de gestão do produtor.
Abaixo, apresentamos as principais características de cada sistema:
Cria
A cria é a fase inicial da cadeia produtiva, responsável pela produção de bezerros a partir de matrizes (vacas e novilhas).
Características:
- Maior foco em reprodução e manejo reprodutivo;
- Requer domínio sobre nutrição das matrizes e sanidade dos bezerros;
- Normalmente realizada em extensas áreas de pastagem com menor intensidade de manejo.
Perfil de propriedades:
- Com grande disponibilidade de terra;
- Localizadas em regiões tropicais com bom regime de chuvas;
- Preferencialmente com mão de obra qualificada para manejo reprodutivo.
Recria
A recria é a etapa de crescimento dos bezerros, do desmame até a fase de terminação. O objetivo é desenvolver os animais com ganho de peso eficiente e preparar o corpo para o acabamento posterior.
Características:
- Demanda boas pastagens e suplementação estratégica;
- Exige cuidado com parasitas, verminoses e sanidade geral;
- Etapa crítica para garantir eficiência alimentar e peso final competitivo.
Perfil de propriedades:
- Com pastagens bem formadas e sistema de manejo rotacionado;
- Que desejam maior ganho médio diário com controle de custo;
- Com flexibilidade para estratégias de venda (boi magro, boi pronto etc.).
Engorda (ou terminação)
Essa é a fase final, na qual o animal atinge o peso e acabamento de carcaça ideais para o abate.
Características:
- Pode ser feita a pasto, com suplementação, ou em confinamento;
- Foco em alto ganho de peso e acabamento rápido;
- Sensível ao custo da dieta e à cotação da arroba.
Perfil de propriedades:
- Que conseguem trabalhar com margens apertadas, porém com giro rápido;
- Com bom acesso a insumos e logística para venda direta a frigoríficos;
- Ideal para produtores experientes em gestão de dieta, custo e tempo de abate.
Ciclo completo
Envolve todas as fases: cria, recria e engorda, integradas em uma única propriedade.
Características:
- Proporciona autossuficiência e maior controle sobre a produção;
- Exige mais infraestrutura, capital e gestão técnica avançada;
- Permite melhor distribuição de custos ao longo do tempo.
Perfil de propriedades:
- Com área e estrutura suficientes para manter diferentes categorias animais;
- Que desejam estabilidade nos preços e na produção anual;
- Com gestão eficiente de recursos, pessoas e planejamento zootécnico-financeiro.
Vantagens e desafios de cada sistema
A escolha do sistema de produção ideal não é uma fórmula única. Cada modelo oferece vantagens específicas, mas também apresenta desafios operacionais e gerenciais que precisam ser avaliados com clareza. Conhecer esses pontos ajuda o produtor a alinhar suas expectativas com a realidade da fazenda e do mercado.
Cria
Vantagens:
- Baixo custo alimentar, com base em pasto extensivo;
- Possibilidade de melhoria genética do rebanho, com seleção das matrizes;
- Demanda menor uso de insumos concentrados.
Desafios:
- Baixa rentabilidade por hectare, quando comparada a outros sistemas;
- Alta dependência de índices reprodutivos (IEP, taxa de prenhez, desmame);
- Risco de perdas com mortalidade de bezerros e falhas reprodutivas.
Recria
Vantagens:
- Excelente relação ganho de peso por real investido;
- Flexibilidade para ajustar o ponto de venda (bezerro desmamado, boi magro etc.);
- Ideal para sistemas pastoris bem manejados.
Desafios:
- Exige planejamento nutricional e sanitário contínuo;
- Pode ser impactado por variações climáticas que afetam o pasto;
- Risco de subutilização da capacidade de ganho, se mal manejado.
Engorda / Terminação
Vantagens:
- Giro mais rápido do capital investido (curto ciclo);
- Possibilidade de abate programado conforme o mercado;
- Produção de animais com padrão comercial competitivo.
Desafios:
- Alta exigência de insumos (ração, suplementos) e controle de custos;
- Exposição maior a riscos de variação no preço da arroba e da dieta;
- Necessidade de acompanhamento técnico próximo (GMD, conversão alimentar, carcaça).
Ciclo completo
Vantagens:
- Autonomia sobre o ciclo produtivo completo;
- Menor dependência do mercado de reposição de bezerros;
- Oportunidade de padronizar a qualidade do rebanho ao longo do tempo.
Desafios:
- Alta complexidade de gestão e controle zootécnico;
- Exige mais área, infraestrutura e capital de giro;
- Difícil de implementar sem equipe capacitada e integração entre setores.
Critérios para escolher o sistema ideal
A escolha do sistema de produção na pecuária de corte deve ser feita com base em uma análise criteriosa da realidade da propriedade, e não em modismos ou experiências de outras fazendas. É preciso entender que o que funciona bem em uma região ou estrutura, pode não gerar os mesmos resultados em outro contexto.
A seguir, destacamos os principais fatores que devem orientar essa decisão:
- Estrutura e recursos disponíveis na fazenda;
- Perfil da mão de obra e nível de tecnificação;
- Condições de mercado e canais de comercialização;
- Clima, solo e regime de chuvas da região;
- Capacidade de investimento e planejamento de longo prazo.
Erros comuns na escolha do sistema de produção
Mesmo com boas intenções, é comum encontrar fazendas que enfrentam baixo desempenho, alta rotatividade de funcionários ou prejuízos econômicos por terem escolhido um sistema produtivo incompatível com sua realidade. Muitos desses problemas têm origem em decisões mal planejadas ou em modelos copiados sem adaptação.
Veja a seguir os principais erros que devem ser evitados:
1. Copiar modelos de outras fazendas sem considerar a realidade local
Um erro frequente é replicar o sistema de uma fazenda vizinha ou de referência, sem levar em conta as diferenças de solo, clima, estrutura, mão de obra e gestão. O que funciona bem em um contexto pode ser desastroso em outro.
2. Subestimar os custos operacionais e estruturais
Sistemas intensivos, como confinamentos, exigem alto investimento em estrutura, alimentação e gestão. Iniciar sem o capital de giro necessário pode comprometer o fluxo de caixa da fazenda e prejudicar a continuidade do projeto.
3. Ignorar o clima e a sazonalidade da região
Implantar um sistema de recria ou engorda a pasto em regiões com seca prolongada, sem planejamento de suplementação, é um risco alto. A produtividade pode despencar nos períodos críticos, reduzindo o ganho de peso e elevando o custo por animal.
4. Não considerar o perfil da equipe e da gestão
Um sistema complexo exige uma equipe técnica preparada e um bom nível de controle zootécnico e econômico. Quando esses fatores são ignorados, surgem falhas na execução, aumento de perdas e baixa eficiência.
5. Desconhecer a real demanda do mercado
Produzir o animal certo, na época errada ou para o comprador errado, pode comprometer a rentabilidade. É fundamental alinhar o sistema produtivo à demanda real do mercado local, regional ou de exportação.
Conclusão e direcionamento prático
A definição do sistema de produção para gado de corte é uma das decisões mais estratégicas dentro da pecuária. Mais do que escolher entre cria, recria, engorda ou ciclo completo, é preciso alinhar essa escolha aos recursos da fazenda, à capacidade de gestão, às demandas do mercado e às metas de rentabilidade.
Ao longo deste conteúdo, ficou evidente que não existe sistema perfeito ou universal, mas sim modelos que se adaptam melhor a determinadas realidades. O segredo está em conhecer profundamente o seu contexto produtivo, fazer uma análise técnica detalhada e evitar decisões baseadas em modismos ou em experiências alheias.
Avaliar constantemente o desempenho do sistema atual, controlar os indicadores zootécnicos e econômicos, e estar aberto a ajustes ou mudanças estruturais são atitudes que definem os produtores que evoluem, inovam e permanecem competitivos no mercado.
O sistema ideal é aquele que se adapta à sua realidade com gestão de verdade
Escolher entre cria, recria, engorda ou sistemas integrados não é só uma questão técnica: envolve planejamento, análise de custos, capacidade estrutural e metas bem definidas. Com uma boa gestão, é possível identificar o modelo mais viável e transformá-lo em um negócio lucrativo.
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Autoria: Equipe Corte Rehagro
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