Na pecuária leiteira um dos principais causadores de prejuízos são claudicações por danos nos cascos. A incidência dos problemas nos pés, estão relacionados ao ambiente que os animais frequentam, principalmente o caminho diário percorrido até a sala de ordenha, e até mesmo protocolos de cuidados com os cascos e à nutrição que recebem.
A claudicação em vacas leiteiras é um grande problema de bem-estar, principalmente devido à dor subjacente que é causada. Esse problema é comum, tendo uma prevalência média global de 23%, como é demonstrado em alguns trabalhos.
Uma maneira de prevenir lesões nos cascos é a realização do casqueamento preventivo nos animais, entretanto, o efeito geral é a melhor frequência ainda são motivo de muitos estudos.
Os bovinos distribuem todo o peso corporal sob as unhas, portanto qualquer desconforto nos cascos é perceptível pelo modo de locomoção do animal. Casquear preventivamente e de forma correta é essencial para garantir a saúde e o bem-estar das vacas, evitando que se tenha problemas locomotores e outras complicações.
Vamos abordar nesse texto sobre aparar os cascos preventivamente, ressaltando a sua importância e os impactos dessa frequência sobre a chance de lesões e de descarte dentro do rebanho. Além disso, vamos trazer informações referentes aos principais erros e as melhores estratégias do casqueamento prévio nos bovinos leiteiros.
Quando temos no rebanho, animais claudicando, com toda certeza esses animais estão com a saúde e desempenho prejudicados, provocando assim perdas econômicas para a propriedade devido a redução da fertilidade, queda na produção de leite e aumento do descarte involuntário.
Casqueamento preventivo de rotina: qual a importância?
Um formato correto dos cascos cria uma distribuição de peso mais uniforme e coloca a carga na superfície de apoio, o que contribui para evitar o desenvolvimento de novas lesões.
Além disso, o casqueamento preventivo feito rotineiramente permite que haja a detecção de lesões nos casos ainda no estágio subclínico e promove assim a adesão de tratamentos antes que se tornem mais graves e venha de fato provocar claudicação nos animais.
Por isso, é importante termos em mente a real importância do casqueamento de forma profilática, ou seja, antes dos problemas serem observados naquelas vacas que ainda são não claudicantes e também do seu uso terapêutico naquelas vacas que já claudicam.
Casquear frequentemente pode estar associado a redução na prevalência de claudicação e lesões nos cascos. Estudos já demonstraram que o casqueamento realizado duas vezes por ano pode reduzir significativamente a prevalência de claudicação e lesões como úlcera de sola, doença da linha branca, erosão de talão e também as infecciosas como a dermatite interdigital e digital, em comparação com o casqueamento realizado apenas uma vez no ano.
Além disso, há estudos que demonstram que um casqueamento de rotina no meio da lactação reduz significativamente a claudicação mais tarde na mesma lactação.
Casqueamento sendo realizado em uma propriedade. Fonte: Ana Clara Vianna
Impactos da frequência de casqueamento no rebanho
Sabemos que uma das maneiras de prevenção das lesões nos casos é o casqueamento e isso já foi demonstrado em muitos estudos que tinham como objetivo entender melhor a associação entre o casqueamento em primíparas, a saúde dos cascos e o descarte na segunda lactação.
O critério de utilizar primíparas na análise foi pensando em reduzir o potencial viés causado por lesões anteriores. Além disso, no resultado de sobrevivência na segunda lactação foram incluídos apenas abates realizados até 300 dias após o segundo parto.
Nesse estudo, ficou claro que casquear preventivamente duas ou três vezes durante a primeira lactação reduziu a probabilidade de do animal ter qualquer tipo de lesão nos cascos em comparação àquelas que não foram casqueadas ou que passaram por esse manejo apenas uma vez na lactação.
Além disso, as vacas que foram casqueadas durante a primeira lactação tiveram uma probabilidade significativamente menor de serem descartadas na segunda lactação em comparação com as vacas que não passaram pelo casqueamento. As vacas casqueadas 2 vezes ou mais tiveram menor probabilidade de serem descartadas em comparação com aquelas casqueadas apenas uma vez.
Quanto a determinação da frequência de casqueamento preventivo e definir se serão realizados 2 ou 3 manejos durante a lactação, a mesma deve ser baseada em cada fazenda de forma específica, levando em conta fatores individuais de cada propriedade, pois é notório que os fatores que afetam a saúde dos cascos são inúmeros e que aparar os cascos é apenas um deles.
Imagem de um animal logo após a realização do casqueamento corretivo, o qual houve necessidade de utilização de curativo. Fonte: Ana Clara Vianna
Quais são os principais erros no casqueamento?
O modo de reduzir a incidência de lesões podais no rebanho é a partir do casqueamento preventivo, o qual impede o crescimento desordenado, a fim de evitar doenças e corrigir os aprumos e a forma do animal pisar no chão.
Erros durante o processo de casqueamento podem causar lesões e até mesmo piorar problemas que já existem. Dentre os principais erros no casqueamento das vacas leiteiras e como podemos evitá-los, temos:
- Casqueamento excessivo (remoção exagerada do casco) = Esse erro consiste em remover muito o material do casco, o que pode expor a lâmina córnea, que é um tecido sensível. Isso irá provocar dor e consequentemente claudicação, além de outros problemas como úlcera de soja e infecções.
- Falha em seguir a anatomia do casco = Os cascos possuem uma forma e ângulo naturais e que devem ser respeitados, pois quando isso é alterado, desequilíbrios na distribuição do peso é gerado e o animal pode apresentar claudicação, sobrecarga em certas partes do casco e aumento do risco de lesões articulares.
- Casqueamento inadequado da pinça = A ponta do casco, conhecida como pinça é uma área muito importante para o equilíbrio e o suporte do animal. Quando essa região sofre um desgaste excessivo ou quando ela permanece muito longa, o animal pode ficar desestabilizado e ter alteração no padrão de marcha.
- Não identificar problemas prévios = É fundamental que haja uma inspeção prévia dos cascos antes de iniciar o manejo de casqueamento, pois é nesse momento que serão identificadas doenças como dermatites, doença na linha branca ou úlcera de sola e isso é o que vai guiar o casqueador durante o manejo. Para melhorar essa identificação, é fundamental que haja uma limpeza criteriosa dos cascos, pois a sujidade poderá esconder problemas como pequenas feridas e inflamação. Caso isso seja ignorado, as condições existentes podem ser agravadas, a dor aumentada e a chance do animal desenvolver problemas crônicos é maior.
- Uso de ferramentas inadequadas = O uso de ferramentas impróprias ou então mal afiadas pode provocar cortes irregulares e elevar o risco de lesões. Isso pode gerar sangramentos e lesões de maior dificuldade de cicatrização.
Quais são as melhores estratégias para o casqueamento preventivo?
As estratégias referentes à promoção e manutenção de saúde dos cascos visam garantir a saúde e o bem-estar das vacas, pois previnem problemas locomotores que podem afetar o desempenho leiteiro e também a longevidade.
Deve haver um planejamento ajustado e condizente com a realidade da fazenda, entretanto, algumas práticas são essenciais:
- Casqueamento preventivo regular = Nesse manejo podemos citar a realização do casqueamento no animal que entra no período seco e também após os 100 dias pós-parto, quando provavelmente esse animal já terá passado pela fase do balanço energético negativo. A dica para esse preventivo é realizar em momentos de menor estresse e evitar momentos de gestação avançada ou pós-parto imediato, pois estudos trazem a descoberta de que o momento do corte preventivo dos cascos durante a lactação pode influenciar de maneira significativa a produção de leite.
- Adequado manejo nutricional = Ter uma dieta equilibrada e específica para cada categoria animal, a qual é rica em nutrientes que são importantes para a saúde dos cascos como a biotina, zinco e metionina, pode contribuir para a prevenção de problemas. Além disso, é importante estar atento à quantidade de carboidratos não fibrosos e também na garantia de ingestão adequada de fibra.
- Realização de pedilúvios = O uso de pedilúvios com produtos específicos (sulfato de cobre e formol por exemplo) contribuem na prevenção e controle de infecção, principalmente a dermatite digital. Dependendo das condições do rebanho, o manejo de pedilúvio pode ser realizado com intervalos regulares ou todos os dias com alternância de produtos.
- Identificação e tratamento precoce = As inspeções visuais quando feitas de forma regular podem identificar de forma precoce os sinais de claudicação ou de doenças nos cascos, como aumento de temperatura, feridas, odor desagradável e inflamação. Essa identificação rápida permite que tratamentos sejam rapidamente iniciados e pode ser realizada durante os manejos diários da fazenda, como por exemplo no momento em que as vacas passam pelo centro de manejo para identificação de cio ou inseminação.
- Equipe treinada e capacitada = É fundamental que os casqueadores sejam treinados ou que profissionais especializados sejam contratados para garantir que o processo seja realizado de maneira correta, o que reduz a chance de erros durante o processo e confere maior eficiência no tratamento de problemas.
- Ambiente adequado para os cascos = O piso onde os animais caminham deve ser adequado e sem áreas escorregadias e também sem áreas com superfície muito abrasiva. Deve existir uma combinação quanto a textura da superfície a fim de evitar deformações ou desgaste excessivo dos cascos.
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Autoras: Ana Clara Vianna – Equipe Leite
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