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Percevejo-castanho: veja como identificar e combater infestações

Em sistemas pecuários cada vez mais intensivos e tecnificados, um fator tem chamado atenção de técnicos e produtores: o aumento da infestação por percevejo-castanho (Scaptocoris castanea), uma praga de solo que pode comprometer significativamente a qualidade e a longevidade das pastagens, A base da alimentação dos bovinos em grande parte do Brasil.

Embora pequeno e discreto, o percevejo-castanho causa danos subterrâneos intensos, alimentando-se das raízes das forrageiras e provocando amarelamento, redução de vigor, morte de touceiras e, nos casos mais graves, perda total de cobertura vegetal em áreas infestadas.

A infestação pode avançar rapidamente, principalmente em solos arenosos e mal manejados, afetando diretamente o desempenho do rebanho.Em épocas de seca ou transição climática, o problema se agrava. A recuperação das áreas danificadas é lenta e onerosa, exigindo em muitos casos a renovação completa da pastagem.

Além disso, o percevejo muitas vezes passa despercebido no início, pois seus danos acontecem abaixo do solo, e os sintomas visíveis na superfície podem ser confundidos com deficiência nutricional, seca ou compactação.

Por isso, entender o comportamento do percevejo-castanho, aprender a identificá-lo corretamente e adotar estratégias de controle e prevenção eficazes é fundamental para manter a produtividade, a longevidade das áreas de pastagem e a saúde econômica do sistema de produção.

 

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Como age o percevejo-castanho nas pastagens?

O percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) é uma praga de solo muito comum em regiões de solo arenoso e com pastagens de baixo vigor, principalmente no Cerrado brasileiro.

Embora sua atuação seja subterrânea, seus efeitos sobre as plantas são visíveis e severos, afetando diretamente a produtividade e a recuperação das áreas infestadas.

Comportamento e ciclo de vida

O percevejo vive praticamente todo o seu ciclo biológico abaixo da superfície do solo, dificultando sua detecção precoce. O ciclo pode ser dividido em:

  • Ovos: depositados no solo;
  • Ninfas: passam por cinco instares até atingirem a fase adulta;
  • Adultos: continuam a viver no solo e se alimentam das raízes.

Em condições favoráveis (clima quente e solo seco), o ciclo pode se completar em até 60 dias, o que permite múltiplas gerações por ano, aumentando o potencial de infestação se não houver controle.

Danos causados às raízes e estrutura da planta

O percevejo suga a seiva das raízes e colmos subterrâneos, o que causa:

  • Colapso dos tecidos condutores da planta;
  • Diminuição da absorção de água e nutrientes;
  • Redução do vigor da touceira;
  • Necrose das raízes;
  • Em casos graves, morte total da planta.

Esses danos são cumulativos e silenciosos. Quando os sintomas aparecem na parte aérea, a planta já perdeu grande parte da capacidade de recuperação.

Sintomas visíveis da infestação

Na superfície, os sinais mais comuns são:

  • Amarelamento progressivo das folhas, mesmo com boa adubação;
  • Manchas irregulares na pastagem, com aparência seca e rala;
  • Plantas com folhas finas, com pouco rebrote após pastejo;
  • Ausência de resposta ao manejo ou correção de solo;
  • Em áreas abertas, touceiras mortas com aspecto de “clareiras”.

Ao escavar a região das raízes com uma pá ou enxada, é comum encontrar ninfas e adultos escuros, com corpo achatado e patas anteriores adaptadas para escavação.

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Espécies forrageiras mais suscetíveis

Embora o percevejo possa atacar diversas gramíneas, ele é mais frequente em:

  • Brachiaria brizantha (especialmente cv. Marandu);
  • Panicum maximum (como cv. Mombaça e Tanzânia), quando em solos frágeis;
  • Pastagens em áreas de baixa fertilidade e manejo intensivo sem rotação.

Clima e solo: o ambiente ideal para a praga

O percevejo-castanho se desenvolve melhor em:

  • Sistemas de solo arenoso, com menor retenção de umidade;
  • Regiões com períodos prolongados de seca ou estiagem intermitente;
  • Temperaturas elevadas, comuns em biomas como o Cerrado.

Essas condições dificultam a recuperação natural das pastagens e favorecem a manutenção de colônias no subsolo, protegidas das ações climáticas.

Manejo inadequado da pastagem

Pastagens mal manejadas são o cenário ideal para a instalação da praga. Entre os erros mais comuns, destacam-se:

  • Superpastejo: o solo exposto favorece a penetração da luz e o ressecamento, criando o ambiente perfeito para o percevejo;
  • Ausência de rotação de piquetes: impede o descanso do pasto e reduz a capacidade de recuperação da forrageira;
  • Falta de adubação e correção de solo, que leva à perda de vigor das plantas e favorece o ataque às raízes já enfraquecidas.

Erros comuns no diagnóstico e controle

Um dos principais agravantes é que, frequentemente, a infestação é diagnosticada tardiamente, porque:

  • Os sintomas na parte aérea são semelhantes a deficiência nutricional ou estresse hídrico;
  • O percevejo vive no subsolo e não é visível a olho nu em inspeções superficiais;
  • A equipe de campo muitas vezes não conhece o ciclo ou aparência da praga.

Além disso, quando o controle é iniciado de forma empírica ou com produtos ineficazes, há desperdício de recursos e agravamento da infestação.

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Controle do percevejo-castanho

Combater o percevejo-castanho exige mais do que aplicação pontual de inseticidas. A estratégia mais eficaz envolve diagnóstico precoce, controle integrado e recuperação do solo e das forrageiras.

Abaixo, você confere as principais abordagens recomendadas por instituições como a Embrapa e universidades agrárias.

1. Monitoramento e diagnóstico precoce

O primeiro passo é confirmar a presença da praga com inspeção direta:

  • Use uma pá para escavar cerca de 10 a 15 cm nas áreas com sintomas;
  • Procure por ninfas e adultos, geralmente agrupados perto das raízes;
  • A densidade superior a 5 percevejos por m² já justifica intervenção imediata.

Dica prática: realize o monitoramento logo após o período seco, quando os danos se tornam mais visíveis.

Percevejo-castanho

Fonte: Biomip

2. Controle químico: quando e como aplicar

O controle químico é indicado apenas após confirmação da infestação, e deve seguir boas práticas para ser eficaz:

Produtos recomendados:

  • Ingredientes ativos como fipronil ou bifentrina têm mostrado boa eficácia no controle da praga.
  • Devem ser aplicados diretamente no solo (em jato dirigido), com volume suficiente para atingir a zona das raízes.

Boas práticas de aplicação:

  • Aplique em solo úmido (idealmente após chuva leve ou irrigação);
  • Faça a aplicação nas horas mais frescas do dia (manhã cedo ou fim da tarde);
  • Evite aplicar em áreas com solos secos ou compactados, pois isso reduz a penetração do produto.

3. Controle biológico e manejo integrado de pragas (MIP)

O uso de fungos entomopatogênicos, como Metarhizium anisopliae, tem se mostrado promissor em áreas com infestação crônica:

  • Esses agentes controlam o percevejo sem agredir o solo ou a microbiota;
  • Podem ser aplicados em conjunto com práticas de MIP;
  • Devem ser aplicados em condições de solo úmido e com cobertura vegetal moderada.

4. Recuperação e renovação da área afetada

Em áreas com alto grau de infestação, pode ser necessário:

  • Remover a vegetação morta e deixar o solo repousar por alguns dias;
  • Corrigir acidez e fertilidade do solo;
  • Replantar forrageiras com cultivares mais resistentes ou adaptadas ao tipo de solo;
  • Adotar sistema de pastejo rotacionado para evitar estresse contínuo sobre as raízes.

Pastagens degradadas têm maior chance de reinfestação, restaurar o vigor do solo e da planta é essencial para impedir o retorno da praga.

5. Importância da saúde das raízes

Nutrindo a planta, ela produzirá mais raízes e terá mais vigor e ficará mais forte para enfrentar o ataque.

  • A saúde das raízes das forrageiras é fundamental para garantir um bom desenvolvimento da planta;
  • Quando as raízes são bem nutridas e recebem adubação adequada, tornam-se mais resistentes a ataques de pragas, como o percevejo castanho.
  • Investir na nutrição das raízes promove a formação de novas raízes, aumentando a capacidade de absorção de água e nutrientes essenciais.
  • O fortalecimento radicular resulta em plantas mais vigorosas, produtivas e menos suscetíveis às pragas.

Práticas de prevenção e manejo contínuo

Após controlar uma infestação de percevejo-castanho, o desafio seguinte é impedir que o problema volte a ocorrer, principalmente em áreas com histórico de reincidência.

A prevenção é sempre mais barata e eficiente do que o combate reativo. A seguir, veja práticas comprovadas para reduzir drasticamente o risco de reinfestações:

Rotação de pastagens com descanso adequado

O uso do pastejo rotacionado com períodos de descanso bem definidos:

  • Reduz o estresse nas plantas forrageiras;
  • Melhora o acúmulo de reservas radiculares;
  • Cria um ambiente menos favorável para a instalação da praga.

Uso de cultivares mais tolerantes ou adaptadas

Escolher bem a forrageira é uma das melhores estratégias preventivas:

  • Algumas cultivares de Brachiaria e Panicum apresentam maior tolerância ao percevejo;
  • Pastagens bem adaptadas ao tipo de solo e clima local sofrem menos estresse, reduzindo o risco de ataque.

Monitoramento sistemático ao longo do ano

O controle eficiente começa com a rotina de inspeção no campo, mesmo sem sintomas visíveis:

  • Realize escavações periódicas (principalmente após a seca);
  • Registre áreas com sintomas suspeitos;
  • Aja rapidamente ao primeiro sinal de infestação.

Capacitação da equipe da fazenda

É comum que percevejos sejam subestimados ou confundidos com outras causas de perda de vigor. Por isso:

  • Capacite a equipe a identificar a praga em campo;
  • Estabeleça protocolos claros de observação e comunicação;
  • Envolva os responsáveis pelo manejo na tomada de decisão rápida.

Conclusão

O percevejo-castanho é uma praga discreta, mas com grande potencial de prejuízo. Sua atuação subterrânea compromete as raízes das pastagens, reduz a absorção de nutrientes, provoca falhas na cobertura vegetal e impacta diretamente o ganho de peso dos animais e a rentabilidade da pecuária.

Se sua fazenda apresenta sintomas de perda de vigor no pasto, manchas irregulares, touceiras secando ou ausência de resposta à adubação, investigue o solo. O percevejo-castanho pode estar ali, comprometendo silenciosamente sua produtividade.

A boa notícia é que, com conhecimento, estratégia e ação técnica, é possível eliminar a praga, recuperar as áreas afetadas e fortalecer seu sistema contra novas infestações.

Controle pragas com mais estratégia e garanta o desempenho do rebanho

O percevejo-castanho é só um dos muitos desafios que podem comprometer a qualidade das pastagens e, consequentemente, a performance do gado de corte. Para manter a produção eficiente o ano todo, é essencial entender a fundo a relação entre nutrição, manejo e sanidade das pastagens.

O Curso de Gestão da Nutrição e Pastagens na Pecuária de Corte do Rehagro foi desenvolvido para quem quer dominar os principais fatores que impactam o desempenho animal, aumentar a produtividade por hectare e tomar decisões técnicas com mais segurança.

Com aulas online e foco em aplicação prática, você estará mais preparado para enfrentar infestações como a do percevejo-castanho e muitos outros desafios no campo.

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