O sêmen é responsável por uma grande parcela quando se trata do sucesso de uma gestação, e muitas vezes seu manejo, o qual é grande responsável pela sua qualidade, é negligenciado.
Manusear de forma adequada o botijão e o sêmen congelado é fundamental para obtermos ótimos resultados nos programas de inseminação artificial, tanto com sêmen sexado quanto com sêmen convencional. Assim, garantindo a alta qualidade do sêmen, o inseminador deve prestar atenção a diversos detalhes durante o manuseio do sêmen congelado.
Desse modo, para garantir a viabilidade adequada do sêmen bovino congelado na propriedade, é importante seguir procedimentos rigorosos tanto no armazenamento quanto no manuseio do sêmen e do botijão.
Como realizar o manejo do botijão de sêmen?
O manuseio errôneo do botijão pode causar diversos malefícios ao sêmen armazenado, como a perda do vácuo que é responsável pelo isolamento térmico do botijão.
Quando temos esse problema, é ocasionado o aumento da temperatura interna favorecendo a evaporação mais rápida do nitrogênio. Além disso, erros no manejo do botijão estão intimamente relacionados com baixos resultados nos índices reprodutivos da fazenda, pois eles podem provocar:
- Descongelamento parcial ou total das doses: causada por uma exposição prolongada a temperatura ambiente ou pelo baixo nível de nitrogênio líquido, o qual pode ser causado pela perda desse nitrogênio por negligências diárias, como deixar a tampa do botijão aberta. Isso pode provocar cristalização das palhetas como também a agregação das mesmas.
Imagens demonstrando as palhetas cristalizadas e aderidas após uma exposição prolongada à temperatura ambiente o que provocou o descongelamento seguido de um novo congelamento. Fonte: Acervo Rehagro
- Perda de viabilidade do sêmen: quando temos problemas relacionados com o manuseio do botijão, certamente teremos perda da viabilidade do sêmen. Mesmo que não seja visível o descongelamento, as condições instáveis podem reduzir significativamente a qualidade do sêmen.
- Redução de índices reprodutivos: pensando que o botijão em muitas fazendas é um fator comum a todos os animais, quando temos problemas relacionados a ele os indicadores reprodutivos irão demonstrar resultados insatisfatórios de forma generalizada dentro da fazenda. Consequentemente a isso começa a ser observado redução nos índices de concepção, aumento de retorno ao cio e como consequência um intervalo entre partos maior. Esse somatório de fatores vai afetar a eficiência reprodutiva e provocar perdas financeiras.
Imagem da estrutura do botijão de sêmen. Fonte: FMU Centro Universitário
Quais são os principais erros no manuseio do botijão de sêmen?
Exposição prolongada ao ambiente
Quando deixamos o botijão aberto por um tempo excessivo durante a manipulação do sêmen ou quando a mesma é esquecida aberta por longos períodos estaremos provocando o descongelamento parcial do sêmen que está dentro do botijão e isso vai afetar a sua viabilidade.
Para evitarmos esse erro é essencial que trabalhemos de forma rápida e organizada no momento de manejar esse botijão, fazendo uma retirada das doses em menos de 10 segundos.
Nível inadequado de nitrogênio líquido
É essencial que o monitoramento do nível de nitrogênio do botijão seja feito regularmente. Quando temos um nível abaixo do recomendado, estamos comprometendo a temperatura interna do botijão, fazendo com que ela aumente e dessa forma comprometa o sêmen.
Por isso, ter um manejo rotineiro de verificação do nível de nitrogênio de pelo menos uma vez por semana é tão importante. Isso vai garantir que o botijão não atinja níveis críticos para ser reabastecido.
Falta de organização interna
Como forma de facilitar o manejo, é essencial que dentro do botijão haja organização e identificação a partir da utilização de etiquetas nas canetas ou nas racks para sêmen.
Para isso, é fundamental que ocorra separação do sêmen por touro e também onde estarão as doses de sêmen sexado. Isso vai impactar na redução do tempo de exposição durante a busca da palheta, o que minimiza o prejuízo na qualidade do sêmen.
Movimentação inadequada do botijão
É comum encontrarmos algumas propriedades transportando de um setor da fazenda para outro ou até mesmo de uma fazenda para outra.
Esse manejo de transportar o botijão deve ser atentamente realizado, pois quando realizado de forma brusca ou com o mesmo deitado podemos contribuir para o vazamento do nitrogênio e as canecas podem também sofrer danos ou desalinhamento.
Por isso, quando esse transporte não puder ser evitado, é fundamental que ele seja sempre realizado na posição vertical e que impactos ou tombamentos sejam evitados.
Falta de treinamento da equipe
Quando temos na fazenda uma equipe sem treinamento para esse manejo de manipulação do botijão estamos elevando a probabilidade de erros, o que pode provocar desperdícios de doses de sêmen e também prejuízos nos índices reprodutivos.
Por isso, é fundamental que ocorra regularmente treinamentos e também cursos de reciclagem sobre o manejo correto do botijão e sêmen como também da técnica de inseminação artificial.
Imagem da preparação do material para a inseminação. Fonte: Alta Genetics
Quais são as principais regras no manejo do botijão?
- Evitar movimentação excessiva e desnecessária do botijão evitando assim, o contato brusco com alguma superfície.
- O botijão de nitrogênio líquido deve ser mantido em uma área sombreada evitando luz direta e protegida de mudanças bruscas de temperatura.
- Manter o botijão elevado do chão e evitar local úmido;
- Inspecione o botijão regularmente para detectar qualquer sinal de dano ou corrosão que possa comprometer a vedação ou a integridade térmica;
- O nível de nitrogênio deve ser monitorado regularmente, onde deve ser mantido sempre cobrindo a parte inferior dos canecos e estar acima da linha mínima de segurança que geralmente é indicada pelo fabricante do botijão a fim de garantir que a temperatura seja mantida em torno de -196°C.
- Anotar o momento dos abastecimentos de nitrogênio, isso é interessante para identificar gasto excessivo devido a problemas no botijão.
- Os canecos devem estar corretamente posicionados no botijão para evitar exposição ao calor. Desse modo, não remova os canecos do botijão acima do recomendado para que a dose seja retirada e evitar a exposição por longos períodos sendo no máximo 10 segundos para não interferir na integridade do sêmen armazenado. E por isso é recomendado fazer um planejamento do que será utilizado naquele momento para minimizar o tempo de exposição do sêmen à temperatura ambiente.
- Caso não consiga identificar o sêmen e retirá-lo em dez segundos, deve-se abaixar a caneca até o fundo do botijão e dez segundos depois recomeçar a operação.
- Mantenha uma boa organização dos canecos dentro do botijão, identificando claramente o conteúdo de cada um para evitar erros ao retirar doses de sêmen.
Principais cuidados no descongelamento do sêmen
O descongelamento do sêmen bovino é uma etapa importante para assegurar sua viabilidade e maximizar as taxas de fertilização durante a inseminação artificial.
Diante disso, alguns pontos devem ser seguidos para que não ocorra nenhum tipo de interferência na qualidade do sêmen como:
- Antes de iniciar o descongelamento, tenha todos os materiais e equipamentos prontos, incluindo tesouras, cortadores de palheta, pinças, papéis toalha, termômetro, bainhas e aplicadores.
- Realize o processo em um ambiente limpo para evitar contaminações.
- Verifique a identificação das palhetas antes do descongelamento para garantir que o sêmen correto está sendo utilizado para a inseminação planejada.
- Utilizar uma pinça adequada para retirar as palhetas da rack evitando o aumento de temperatura nas doses que não serão usadas imediatamente.
- Descongele o sêmen em água a 35-37°C por 30 a 45 segundos. Este tempo é suficiente para garantir que o sêmen atinja a temperatura adequada sem comprometer a viabilidade dos espermatozoides.
- Use um termômetro para garantir a temperatura correta da água independente se estiver utilizando um descongelador digital ou não.
- Após o descongelamento, use o sêmen o mais rápido possível.
- O motivo de não expor a palheta à temperatura ambiente se dá pelo fato de alterar características dos espermatozoides como a motilidade. Esse fenômeno ocorre quando a temperatura varia acima de -79°C.
- O descongelamento rápido evita que cristais de gelo provoquem lesões nas membranas do espermatozóide, promovendo uma sobrevivência maior de células viáveis, com melhor qualidade do sêmen.
- Caso seja necessário o descongelamento da mais de 1 palheta, a utilização das mesmas deve ser feita no máximo até 5 minutos. Dependendo do local que está sendo feito o manejo é recomendado o descongelamento de no máximo 5 palhetas por vez.
- Manipule o sêmen descongelado com materiais limpos para evitar contaminação.
- Registre os dados sobre qual inseminador, qual touro, horário e data que está sendo realizada a IA.
Imagem ilustrando a retirada da palheta. Fonte: Alta Genetics
Cuidados após a realização da inseminação artificial (IA)
Após a inseminação artificial (IA), é essencial higienizar todo o material utilizado, especialmente o êmbolo do aplicador que entra em contato com o interior da palheta.
Em seguida, o material deve ser armazenado na “caixa de inseminador” para proteção contra sujeira.
A higiene durante todo o processo, desde a retirada do sêmen do botijão até a limpeza da vaca, é importante para o sucesso da técnica e também para evitar problemas de saúde tanto para o colaborador quanto para o animal.
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Autores: Lucas Teixeira e Laryssa Mendonça – Equipe Leite Rehagro
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