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Gangrena gasosa em bovinos: um alerta para produtores de leite

A gangrena gasosa é uma infecção exógena de caráter necrosante nos tecidos moles dos bovinos. Ela é desencadeada por microorganismos como C. septicum, C. chauvoei, C. novyi tipo A, C. sordellii e C. perfringens tipo A.

Esses agentes patogênicos penetram no corpo por meio de feridas cutâneas e membranas mucosas, resultantes de procedimentos como castração, tosquias, partos, vacinações, punções venosas, práticas cirúrgicas e/ou manejos sem cuidados assépticos.

A ação desses microrganismos pode ser singular em diferentes espécies animais ou ocorrer em combinação.

Nesse texto, iremos entender melhor sobre a gangrena gasosa, principal agente causador, e os diferentes tipos da doença. Além disso, vamos esclarecer sobre a patogenia, sinais clínicos da doença e diagnóstico, bem como formas de controle e prevenção e as principais diferenças entre a gangrena gasosa e o carbúnculo sintomático. 

Entendendo a gangrena gasosa

É comum de se encontrar os agentes patogênicos na forma de esporos nas pastagens, solos e até mesmo na água. Esses microrganismos são bastonetes anaeróbios, gram positivos e mantém seu potencial infectante no solo por períodos longos (cerca de anos), justamente pela sua capacidade de formar esporos. Em uma temperatura de 37 – 45°C esse agente cresce rápido, apresentando uma potente produção de gás. 

Dentre os vários agentes patogênicos, podemos destacar o Clostridium perfringens como o principal responsável pela gangrena gasosa, pois o mesmo está presente em 80-90% dos casos. Ele é classificado em 5 grupos (A, B, C, D e E) de acordo com a produção das suas principais toxinas: Alfa, Beta, Épsilon e Iota, e é atribuído ao Clostridium perfringens do tipo A a sintomatologia da gangrena gasosa, devido a ação de duas principais toxinas, a alfa e a enterotoxina. 

Existem quatro tipos de gangrena gasosa ocasionada por clostridios: 

  • Tipo I: caracterizada por uma mionecrose clostridiana difusa extensa, havendo um período de incubação normalmente curto;
  • Tipo II: mionecrose clostridiana localizada, onde o animal não apresenta sinais de toxicidade sistêmica;
  • Tipo III: ocorre uma celulite clostridiana com toxicidade, onde pode ser acompanhada de toxemia. Todo tecido subcutâneo sofre necrose enquanto o tecido muscular continua viável;
  • Tipo IV:  é caracterizada por uma celulite closrtidiana sem toxicidade. 

A recuperação dos animais é uma ocorrência rara, ou seja, a mortalidade é de quase 100%, assemelhando-se ao quadro observado no carbúnculo sintomático.

Na maioria dos casos, os animais afetados são encontrados sem vida devido à rápida progressão da doença. 

Sinais clínicos e fisiopatologia da doença

A gangrena gasosa tem evolução aguda, podendo ocorrer a morte entre 24-48 horas após a entrada do agente e se caracteriza pela hemorragia, edema intenso com acúmulo de grande quantidade de fluído, necrose e secreção fétida no local afetado.

  • Febre;
  • Depressão;
  • Inchaço da musculatura;
  • Foco edemato-hemorrágico-necrótico;
  • Odor fétido;
  • Produção mais ou menos intensa de gás no local afetado – Crepitação.

Inicialmente essa lesão na musculatura apresenta-se hiperêmica, ou seja, com congestão sanguínea, macia, quente e delimitada tornando posteriormente fria, escura, firme e necrótica, tendo ainda a presença de gás no subcutâneo e na musculatura. 

A adequada irrigação sanguínea do músculo desempenha um papel crucial na determinação do curso da inflamação, sendo um fator determinante para se acomodar apenas no tecido celular subcutâneo, caracterizando o edema maligno, ou se estenderá ao músculo, resultando na formação de bolhas de gás e desenvolvimento da gangrena gasosa.

A eficiência do suprimento sanguíneo emerge como um elemento essencial na evolução dessas condições inflamatórias, influenciando diretamente a extensão e gravidade do quadro clínico.

Esquema demonstrando a patogenia da doença Gangrena gasosa em bovinos.

Esquema demonstrando a patogenia da doença Gangrena gasosa em bovinos. Fonte: e-disciplina USP

Como realizar o diagnóstico da gangrena gasosa?

O diagnóstico geralmente ocorre em campo, com base nos dados clínicos e nas lesões observadas durante a necropsia. Na necropsia, observa-se intensa congestão venosa, o que confere à pele uma coloração escura.

O agente invade a corrente circulatória provocando hemorragia nas vísceras, derrames serosos, serofibrinosos e serosanguinolentos nas cavidades e áreas necróticas amareladas no fígado.

Em animais submetidos à necropsia, destaca-se a tumefação das grandes massas musculares, com crepitação perceptível à palpação. O edema hemorrágico no tecido subcutâneo e entre as fibras musculares emite um odor rançoso acentuado. Quando as fibras musculares são afetadas, elas exibem coloração enegrecida, evidenciando desorganização estrutural e uma aparência desvitalizada. 

Os achados histológicos revelam a presença de um infiltrado inflamatório composto por células mononucleares entre as fibras musculares. Além disso, pode-se observar degeneração vacuolar e hialina nas fibras musculares, embora a celulite seja mais característica e típica do que a miosite.

Para confirmar o diagnóstico, é essencial considerar a epidemiologia, os sinais clínicos, os achados de necropsia e histopatológicos, além do isolamento e identificação dos agentes causadores. Métodos adicionais de diagnóstico incluem a imunofluorescência direta (IFD), imunoistoquímica (IHQ) e a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR).

Tecido muscular de um animal mostrando áreas de tecido necrótico.

Imagem do tecido muscular de um animal mostrando áreas de tecido necrótico. Foto: Deana Schenher.

Tratamento e prevenção da gangrena gasosa

O tratamento de animais afetados pela gangrena gasosa envolve o debridamento do tecido necrótico, combinado com a administração de altas doses de antibióticos de amplo espectro, conforme a recomendação do médico veterinário. Para medidas profiláticas eficazes, é crucial evitar a contaminação, especialmente com solo, de instrumentos e seringas utilizados em procedimentos que possam gerar ferimentos nos animais.

Como estratégia de controle, é fundamental a vacinação dos animais, a qual deve estar envolvida durante a criação do calendário sanitário estratégico para a fazenda. É importante que as vacinas detenham, principalmente, componentes dirigidos contra os principais microrganismos causadores da gangrena gasosa, como C. septicum, C. chauvoei, C. novyi e C. sordellii.

Essa abordagem visa prevenir a ocorrência da gangrena gasosa, fortalecendo a imunidade dos animais e reduzindo a suscetibilidade à infecção.

O cronograma de vacinação contra os clostridios deve abordar animais acima de 2 meses de idade, sendo necessário o reforço após 30 dias, além da revacinação anual de todo rebanho.

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Mas qual a diferença de gangrena gasosa e carbúnculo sintomático?

Sabemos que ambas são doenças bacterianas graves que afetam os bovinos, causadas por bactérias do gênero Clostridium e que geralmente irão afetar a musculatura e o tecido subcutâneo, com consequente bacteremia e toxemia. 

Carbúnculo sintomático:

  • Conhecido como “maqueira” ou “mal do ano” se trata de um problema agudo, associado a ingestão de esporos bacterianos, os quais irão para o tecido muscular, resultando por fim em lesões necróticas. .
  • Está relacionado com o Clostridium chauvoei
  • Normalmente afeta animais mais jovens, em especial bezerros.
  • Não há lesão externa, pois a bactéria chega por via endógena, ou seja, pela via digestiva. 

Gangrena gasosa:

  • Conhecido como edema maligno, sua ocorrência está relacionada com a infecção de feridas decorrentes de práticas ou manejos assépticos, onde tem-se a entrada de bactérias nos tecidos, ocorrendo rápida multiplicação, produção de toxinas e gases. 
  • Está relacionado com vários tipos de Clostridium (o qual está incluso o C. chauvoei). 
  • O agente causador pode ser único ou estar em associação com outros do mesmo gênero. 
  • Se trata de uma infecção “exógena”, ou seja, há entrada de microrganismos através de feridas na pele e membranas mucosas. 
  • Em geral, existe uma menor possibilidade de acometimento de animais com menos de 6 meses de vida. 

Embora ambas as doenças sejam caracterizadas por sintomas graves e com alto índice de mortalidade, é importante identificar corretamente os agentes causais e adotar medidas de prevenção para controlar sua incidência no rebanho.

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Laryssa Mendonça

Gabriela Clarindo - Equipe Leite Rehagro

 

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