O mercado de carne bovina segue como um dos setores mais estratégicos do agronegócio brasileiro em 2025. Com uma cadeia produtiva robusta, o Brasil não apenas abastece o mercado interno, mas também desempenha um papel de liderança nas exportações globais de carne. Esse protagonismo, no entanto, exige atenção redobrada por parte dos produtores, gestores e técnicos rurais, especialmente diante de um cenário global mais volátil, exigente e competitivo.
Em um momento marcado por transformações geopolíticas, exigências ambientais crescentes, mudanças no perfil do consumidor e avanços tecnológicos, compreender como funciona o mercado de carne bovina deixou de ser uma vantagem e passou a ser uma necessidade para quem deseja se manter competitivo.
Muitos produtores focam apenas nos manejos técnicos dentro da fazenda, o que é essencial, mas esquecem que é o mercado que define o valor da arroba, o ritmo de venda, a viabilidade de investimento e a atratividade para parceiros comerciais.
Neste artigo, vamos trazer um panorama completo e atualizado sobre o mercado de carne bovina no Brasil e no mundo em 2025, abordando como está estruturada a produção brasileira e sua evolução, tendências mais relevantes para os próximos anos e como o produtor pode se posicionar melhor diante desse cenário.
O Brasil na produção de carne bovina
O Brasil se consolidou, ao longo das últimas décadas, como um dos maiores protagonistas no cenário global da carne bovina.
Em 2025, o país mantém uma posição de liderança tanto em volume produzido quanto em exportações, com um sistema produtivo que vem se modernizando e ganhando competitividade.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o Brasil deve fechar 2025 com uma produção estimada em 10,8 milhões de toneladas de carne bovina, um leve crescimento de 2,1% em relação a 2024, impulsionado por melhores índices zootécnicos e maior produtividade por hectare.
Os principais estados produtores continuam sendo:
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse crescimento é sustentado não apenas pelo aumento da produção, mas também pela melhoria da eficiência: mais carne produzida por área, com menor idade de abate e maior padronização de carcaças.
Evolução dos sistemas produtivos
Nos últimos anos, a pecuária brasileira passou por uma importante transformação técnica e gerencial, com destaque para:
- Adoção de tecnologia de precisão (balanças automáticas, sensores, softwares de gestão);
- Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e ILPF, que permitem uso intensivo e sustentável da terra;
- Redução da idade de abate, que caiu para média de 30 meses em sistemas tecnificados;
- Confinamentos mais eficientes, com melhor conversão alimentar e manejo nutricional.
Esses avanços refletem em maior produtividade por hectare, além de menor emissão de carbono por quilo de carne produzida, o que se alinha com as novas exigências de mercados compradores.
O mercado internacional de carne bovina
O mercado internacional de carne bovina continua sendo um dos principais motores da pecuária de corte brasileira. Em 2025, o Brasil segue como maior exportador mundial, com uma participação crescente em mercados estratégicos e uma adaptação rápida às novas exigências sanitárias, ambientais e comerciais.
O Brasil no comércio global de carne bovina
Em 2025, o Brasil deve atingir um novo recorde, com 3,24 milhões de toneladas exportadas, segundo projeções do Ministério da Agricultura e da ABIEC, representando cerca de 24% de toda a carne bovina comercializada globalmente.
Entre janeiro e agosto de 2025, a receita gerada é de aproximadamente US$ 10,5 bilhões. Já a receita cambial prevista para o ano deve ultrapassar US$ 14 bilhões, fortalecida pela valorização de cortes nobres e da carne rastreada com padrão de exportação.
Até o mês de julho, a lista de destinos da carne bovina brasileira se mantém sólida, com a China ainda como principal cliente, seguida dos Estados Unidos, México, Hong Kong e Emirados Árabes Unidos.
Contudo, o setor também enfrentou barreiras importantes. O chamado “tarifaço de Trump”, impôs tarifas adicionais sobre diversos produtos brasileiros, incluindo a carne bovina. Essa medida reduziu a competitividade do Brasil no mercado norte-americano e obrigou a indústria a redirecionar parte dos embarques para outros destinos, reforçando a dependência de mercados como a China e estimulando a busca por novos parceiros comerciais.
Para a pecuária de corte brasileira, isso significou desafios de curto prazo, mas também acelerou a diversificação das exportações e a consolidação do país como grande fornecedor global.
Atualmente, os principais destinos da carne bovina brasileira são:
- China;
- Rússia;
- México;
- Chile;
- União Europeia.
Fatores que afetam a exportação da carne bovina brasileira
O desempenho das exportações não depende apenas da qualidade da carne. Em 2025, os principais fatores de influência incluem:
- Câmbio;
- Acordos sanitários;
- Imagem internacional;
- Logística e infraestrutura.
Em resumo: o mercado internacional segue aquecido, mas cada vez mais seletivo. Estar preparado para atender a esses requisitos não é mais diferencial, é requisito para continuar participando do jogo.
Fatores que influenciam o preço da carne bovina
O preço da carne bovina é resultado de uma combinação de variáveis econômicas, produtivas, climáticas e comerciais. Em 2025, o cenário é de recuperação parcial dos preços da arroba e da carne ao consumidor, após um período de forte volatilidade entre 2022 e 2024.
Entender o que está por trás dessas oscilações é essencial para o produtor planejar melhor o abate, a venda e os investimentos na fazenda.
O ciclo pecuário e sua influência natural no preço
A pecuária de corte funciona em ciclos de médio prazo. Esses ciclos estão ligados, principalmente, ao abate ou retenção de fêmeas, o que afeta a oferta futura de bezerros e, por consequência, de bois prontos para o abate.
Veja como o ciclo funciona:
Demanda interna vs. demanda externa
A recuperação do consumo doméstico vem sendo um fator moderador importante para os preços em 2025. Com a queda da inflação de alimentos e aumento do poder de compra das classes C e D, o consumo interno de carne bovina voltou a crescer.
- Em 2023, o consumo per capita caiu para 24,7 kg/ano.
- Em 2024, houve leve recuperação para 25,4 kg/ano.
- Em 2025, a estimativa é de 26,1 kg/ano, segundo a Conab.
A demanda internacional, por outro lado, continua forte, puxada principalmente pela China e pelo Oriente Médio, o que contribui para manter os preços firmes, apesar da concorrência global.
Preço da arroba em 2025: como está?
De acordo com o CEPEA/USP, a média da arroba do boi gordo em setembro de 2025 é de R$305,00, em recuperação frente à média de R$258,00 registrada no mesmo período de 2024.
Projeções indicam estabilidade com leve viés de alta até o final do ano, caso o ritmo de exportações se mantenha e o consumo interno continue reagindo.
Fonte: Cepea/USP – Acompanhamento do Mercado do Boi Gordo (2025)
Tendências de Mercado no Brasil e no Mundo
O mercado de carne bovina em 2025 está atravessando uma fase de reconfiguração. As pressões por sustentabilidade, o avanço de tecnologias disruptivas e a mudança nos padrões de consumo estão redesenhando o setor, tanto no Brasil quanto no mundo.
Quem souber entender e acompanhar essas tendências terá uma vantagem competitiva clara, seja na produção, na comercialização ou na negociação com frigoríficos e mercados internacionais.
1. Rastreabilidade e sustentabilidade como padrão mínimo
O que antes era diferencial de poucos, agora é exigência de muitos. Mercados premium como União Europeia, Reino Unido, Coreia do Sul e Japão estão exigindo garantias de:
- Origem da carne sem desmatamento;
- Rastreabilidade completa desde o nascimento até o abate;
- Emissões controladas ou neutralizadas de carbono;
- Bem-estar animal em todas as fases da produção.
A partir de 2026, entra em vigor o regulamento europeu que proíbe importação de carne proveniente de áreas desmatadas após 2020 — o que deve afetar diretamente produtores brasileiros que ainda não se adequaram.
Fonte: Regulamento da UE sobre produtos livres de desmatamento – European Commission
2. Concorrência com proteínas alternativas
O avanço das proteínas alternativas (carne vegetal, cultivada em laboratório ou híbridos) ainda não afeta diretamente a demanda por carne bovina no Brasil, mas é um movimento forte em mercados urbanos e países desenvolvidos.
Porém, especialistas indicam que esses produtos não substituirão a carne tradicional, mas disputarão espaço nas gôndolas com base em imagem, marketing e apelo ambiental.
3. Digitalização da cadeia produtiva
A pecuária 4.0 está deixando de ser tendência e se tornando realidade. Cada vez mais produtores estão:
- Usando sensores, coleiras e balanças automáticas para monitorar o desempenho animal;
- Aplicando inteligência de dados e algoritmos para prever melhor época de abate;
- Integrando sistemas de gestão de rebanho com previsões de mercado e clima;
- Acessando plataformas de venda direta, como marketplaces para carne premium e negociação de arroba online.
4. Acesso a mercados com valor agregado
Outra tendência forte é o avanço da carne de valor agregado, tanto no mercado interno quanto externo. Isso inclui:
- Carne com certificação de origem (IGPs, BPF, Carne Angus Certificada);
- Cortes especiais com acabamento de gordura padronizado;
- Selo de carne carbono neutro ou rastreada;
- Produtos com apelo regional ou gourmet.
Essa carne chega a valer até 30% a mais no mercado, mas exige maior controle e padronização no processo produtivo.
Conclusão
O mercado de carne bovina, em 2025, mostra sinais claros de recuperação e expansão, mas também deixa evidente que apenas produzir bem não é mais suficiente.
O produtor que compreende o comportamento do mercado, que antecipa os ciclos e se prepara para exigências futuras, tem mais margem, mais segurança e mais opções de venda.
A pecuária brasileira vive um momento decisivo. Quem adaptar sua produção às novas exigências de mercado terá acesso a novas oportunidades, melhores preços e maior previsibilidade.
Seja na venda direta, na negociação com frigoríficos ou no acesso a mercados internacionais, o conhecimento de mercado se tornou um insumo tão valioso quanto a genética ou o sal mineral.
Portanto, a pergunta não é mais “quando o mercado vai mudar?”, mas sim:
Você está se preparando para o que já está acontecendo?
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Autoria: Equipe Corte Rehagro
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