Na pecuária de corte, muita gente sabe o preço da arroba que vende. Poucos sabem quanto custa produzi-la.
Essa diferença, que pode parecer apenas técnica ou contábil, é o que separa projetos sustentáveis e lucrativos de sistemas que estão sempre à beira do prejuízo. O cálculo do custo da arroba produzida é o indicador que mostra, com clareza, se o seu sistema está gerando resultado ou apenas movimentando dinheiro e consumindo recursos.
O que muitos pecuaristas ainda ignoram é que, mesmo vendendo bem, é possível perder dinheiro se os custos por arroba forem maiores que o valor de venda. O erro está em considerar apenas o preço do boi gordo na praça, sem enxergar o custo real de produção daquela arroba, o que inclui desde suplementação, sanidade e mão de obra até o custo da terra e da reposição.
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O que é o custo da arroba produzida na prática?
O custo da arroba produzida é, basicamente, o custo médio para produzir cada arroba de peso vivo ou carcaça dentro do seu sistema de produção. Em outras palavras, é o valor que a fazenda precisa gastar para “fabricar” uma arroba considerando todos os custos envolvidos, diretos e indiretos.
Valor produzido é diferente de preço de venda
É comum o produtor confundir o preço da arroba no mercado com o valor que ele efetivamente gasta para produzi-la. A diferença entre os dois conceitos é essencial:
- Se o custo da arroba produzida for maior que o preço de venda: prejuízo.
- Se for menor: lucro. A diferença entre os dois é sua margem operacional.
Passo a passo para calcular o custo da arroba produzida
Saber quanto custa produzir uma arroba exige mais do que saber o quanto foi gasto, é preciso organizar os dados corretamente e entender o desempenho produtivo do animal ou do lote.
Veja como fazer isso em 3 etapas práticas:
1. Levante todos os custos do período
Inclua todos os custos que participam diretamente do ciclo de produção. Entre eles:
Custos variáveis:
- Nutrição (suplementação proteica, energética, mineral, ração, silagem);
- Medicamentos, vacinas e vermífugos;
- Mão de obra (inclusive diária ou contratada);
- Insumos diversos (sal, aditivos, combustível para trator, etc.);
- Reposição de animais (compra de bezerros, por exemplo).
Custos fixos e de oportunidade (quando aplicável):
- Custo da terra (arrendamento ou oportunidade);
- Depreciação de máquinas, benfeitorias, instalações;
- Custo de capital (juros sobre o dinheiro investido).
Some todos esses valores e esse será o custo total do período.
2. Calcule o total de arrobas produzidas no mesmo período
Você precisa saber quantas arrobas foram produzidas no lote (ou por animal), e isso se faz com base no ganho de peso e tempo de produção.
Use a fórmula:
Arrobas produzidas = (Peso final – Peso inicial) ÷ 30
Exemplo prático:
- Peso inicial: 270 kg
- Peso final: 450 kg
- Diferença: 180 kg ÷ 30 = 6 arrobas produzidas
Se for um lote, multiplique pelas cabeças no grupo, ou calcule por hectare.
3. Aplique a fórmula:
Valor da arroba produzida = Custo total ÷ Arrobas produzidas
Exemplo:
- Custo total por animal no ciclo: R$ 2.760,00
- Arrobas produzidas: 6
R$ 2.760 ÷ 6 = R$ 460,00 por arroba produzida
Esse é o valor que o sistema precisa receber por arroba apenas para empatar, ou seja, ainda sem lucro.
Esse cálculo pode ser feito por animal, por lote, por ciclo produtivo ou por hectare, a depender do nível de controle da fazenda.
Principais erros e distorções no cálculo do valor da arroba
Mesmo com uma fórmula simples, o cálculo do valor da arroba pode ser facilmente comprometido por falhas na coleta de dados, omissões de custos ou suposições mal fundamentadas.
Veja os erros mais comuns:
1. Desconsiderar custos fixos ou de oportunidade
É comum considerar apenas custos diretos (ração, medicamentos, sal), mas ignorar custos fixos ou indiretos, como:
- Mão de obra própria;
- Custo da terra (quando o produtor é dono);
- Juros sobre capital investido (compra de bezerro, insumos etc.).
O resultado é um custo da arroba artificialmente baixo, o que pode gerar a ilusão de lucro onde não há.
2. Estimar mal o ganho de peso ou a produção de arrobas
Outro erro é superestimar o desempenho animal:
- Usar GMDs teóricos, que não refletem a realidade da fazenda;
- Não pesar os animais ou considerar médias genéricas;
- Desconsiderar períodos de estagnação (seca, estresse, doenças).
Se o número de arrobas produzidas for inflado, o custo por arroba parecerá menor do que realmente é, mascarando ineficiências do sistema.
3. Ignorar a lotação e o desempenho por hectare
Alguns produtores calculam apenas o custo por animal, sem relacionar com a produção por área, o que é essencial em sistemas intensivos.
Dois sistemas podem ter o mesmo custo por arroba, mas resultados totalmente diferentes por hectare, o que afeta diretamente a rentabilidade da fazenda como um todo.
4. Trabalhar com médias genéricas e não com dados da própria fazenda
Copiar números de outras propriedades ou usar estimativas de planilhas prontas pode ser útil como referência, mas não substitui:
- Controle real de gastos;
- Registros zootécnicos e financeiros próprios;
- Análise por período, categoria e fase de produção.
Cada fazenda tem seu contexto: clima, solo, manejo, preço de insumos, mão de obra… Trabalhar com seus próprios dados é o único caminho para um cálculo fiel e útil.
Como usar o custo da arroba produzida para tomar decisões?
Saber o custo da arroba produzida não é um exercício contábil, é uma ferramenta de gestão. Quando esse dado é usado com regularidade, ele ajuda o produtor a ajustar o sistema, evitar prejuízos e aumentar a rentabilidade com mais segurança.
Veja algumas formas práticas de usar esse indicador:
1. Comparar com o preço de venda e entender a margem real
A análise mais direta é comparar o valor da arroba produzida com o valor de mercado da arroba vendida.
Isso permite saber o lucro por animal e por hectare; avaliar se vale a pena vender agora ou terminar o animal e decidir entre diferentes canais de comercialização.
2. Avaliar a viabilidade de sistemas de produção
O custo da arroba produzida também permite comparar sistemas:
- Recria a pasto vs. recria com suplementação;
- Engorda extensiva vs. confinamento;
- Diferentes estratégias de suplementação (mineral, proteinado, semiconfinado).
3. Medir o impacto de decisões de manejo
Alterações como troca de suplemento, aumento da lotação, ajuste de calendário de abate e uso de aditivos nutricionais, podem ser comparadas pelo efeito que causam no valor da arroba produzida, se ele caiu, subiu ou se manteve.
Isso evita decisões baseadas em “achismos” e permite um ciclo contínuo de melhoria técnica e econômica.
4. Planejar melhor o ciclo produtivo e o momento de venda
Com o valor da arroba em mãos, o produtor pode:
- Estabelecer metas de GMD e tempo de terminação;
- Definir ponto de equilíbrio para venda;
- Avaliar se compensa vender ou reter o animal por mais um ciclo.
Isso dá mais segurança para agir com base em rentabilidade, e não apenas em preço de mercado.
Conclusão
Em um setor cada vez mais competitivo, onde margens apertadas e oscilações de mercado são parte da rotina, conhecer o valor da arroba produzida se torna uma das ferramentas mais importantes para o produtor que quer lucrar com constância e segurança.
Quem não calcula o custo da arroba produzida fica à mercê do mercado. Quem calcula, assume o controle do próprio negócio.
Mais do que um dado técnico, o custo da arroba é um indicador de gestão. Ele mostra se sua fazenda está apenas girando ou realmente gerando lucro.
Comece com o que você tem: um caderno de campo, uma planilha simples, pesagens regulares, controle básico de insumos. O importante é dar o primeiro passo e construir um modelo de gestão que permita decisões com base em fatos e não apenas em sensações.
Vá além dos números e transforme a gestão da sua pecuária
Entender o custo da arroba produzida é só o começo. Para quem busca profissionalizar a gestão da fazenda, tomar decisões com base em dados e aumentar a margem de lucro por animal, é fundamental dominar os pilares que sustentam uma produção eficiente e rentável.
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