A produção de leite é uma atividade multifatorial que exige não apenas um manejo zootécnico adequado, mas também uma atenção minuciosa à nutrição dos animais. Nesse contexto, a silagem de milho ocupa um lugar central na formulação de dietas para vacas leiteiras em função de sua alta produtividade, valor energético e disponibilidade.
No entanto, garantir uma silagem de qualidade é um desafio constante, especialmente diante das condições climáticas tropicais e das práticas agronômicas e nutricionais ainda em consolidação no Brasil.
Importância da silagem de milho na nutrição animal
A silagem de milho de alta qualidade é reconhecida como um dos principais pilares da alimentação de vacas leiteiras de alta produtividade. Ela oferece uma combinação ideal de fibra e energia, sendo amplamente utilizada em sistemas de produção intensivos. A eficiência alimentar, a saúde ruminal e a rentabilidade estão diretamente relacionadas à qualidade desse volumoso.
Dr. Luiz Felipe Ferrareto, uma das principais referências mundiais em produção de forragens, compartilhou em uma extensa palestra realizada pelo Rehagro, conhecimentos valiosos sobre a inter-relação entre silagem de milho, digestibilidade de nutrientes, comportamento alimentar e desempenho produtivo.
A partir de suas explicações, pode-se traçar um panorama abrangente sobre os fatores determinantes da eficiência na utilização da silagem e seu impacto na produtividade leiteira.
Parâmetros de qualidade: fibras e amido
Os principais indicadores laboratoriais para a avaliação da fibra na silagem de milho são:
- FDN (Fibra Detergente Neutro): representa a fração da planta composta por hemicelulose, celulose e lignina, sendo correlacionada com o volume de ingestão e ruminação.
- FDN indigestível (FDNi ou FNI): quantifica a porção da fibra que não pode ser digerida pelos microrganismos ruminais.
- Digestibilidade do FDN em 30h: mede o quanto da fibra pode ser efetivamente digerida em um período padrão de tempo.
Outro parâmetro importante é a concentração de amido e sua digestibilidade. Esses componentes determinam a energia disponível da silagem e influenciam diretamente na produção de leite e sólidos. O correto balanço entre fibra e amido é essencial para evitar distúrbios digestivos e garantir um bom desempenho zootécnico.
Ferrareto destaca que as silagens brasileiras, em comparação às americanas, apresentam maior teor de FNI e menor digestibilidade do FDN e do amido. Esses resultados se devem, em grande parte, às condições climáticas tropicais e ao uso de materiais genéticos menos adaptados à produção de forragem de alta qualidade.
Efeitos da digestibilidade na ingestão e comportamento alimentar
A digestibilidade dos nutrientes da silagem é determinante para o desempenho das vacas leiteiras. Segundo estudos citados pelo Dr. Ferrareto, cada quilo de fibra de forragem digestível pode resultar em até 3 kg de leite produzido. Assim, não só a quantidade de fibra, mas principalmente sua qualidade, impacta a eficiência alimentar.
Dietas com maior proporção de fibra indigestível provocam maior tempo de permanência da vaca no cocho, seleção de partículas mais pequenas e redução do consumo voluntário.
O tamanho da partícula é outro fator crítico: partículas maiores que 19 mm são frequentemente evitadas pelas vacas, diminuindo a ingestão e a produção de leite.
A observação do comportamento alimentar torna-se, assim, uma ferramenta essencial para ajustes de manejo e reformulação de dietas.
Manejo agronômico e silagem de alta qualidade
A altura de corte da planta é uma estratégia de manejo com impacto direto na qualidade da silagem. Estudos demonstram que cortes entre 40 a 60 cm do solo proporcionam silagens com menor teor de lignina, maior concentração de amido e maior digestibilidade da fibra.
Essa melhoria nutricional, entretanto, implica na perda de parte da massa vegetal, o que exige um planejamento cuidadoso da produção.
Além disso, a escolha do híbrido de milho é determinante. Híbridos com endosperma farináceo têm melhor digestibilidade do amido. A interação entre genética e ambiente é complexa, e a seleção de cultivares deve considerar o histórico de desempenho em condições locais.
Fermentação, higiene e armazenamento
A fermentação da silagem é um processo biológico essencial que define a conservação e o valor nutricional do material ensilado. Microrganismos indesejáveis, como fungos e leveduras, comprometem a estabilidade da silagem e reduzem a digestibilidade da fibra. A contaminação microbiológica pode ser agravada por falhas na compactação e vedamento do silo.
Ferrareto enfatiza o uso de barreiras de oxigênio como uma estratégia eficiente para minimizar perdas. Além disso, recomenda-se que o silo seja aberto após 90 a 120 dias de fermentação para maximizar a digestibilidade do amido.
Integração nutricional e manejo de dietas
A qualidade da silagem deve ser considerada em conjunto com o restante da dieta e com o manejo alimentar. A utilização de feno, por exemplo, pode auxiliar no fornecimento de fibra fisicamente efetiva. Contudo, o tamanho da partícula e a resistência à seleção são essenciais para garantir sua efetividade.
O momento da alimentação, a frequência de fornecimento e o empurramento da comida no cocho são práticas que interferem diretamente no desempenho leiteiro, sobretudo na produção de gordura do leite. A vaca deve ter acesso constante e uniforme ao alimento para que seu comportamento de ruminação e descanso seja respeitado.
Considerações finais
A silagem de milho, quando bem manejada, representa um recurso nutricional de altíssima eficiência. O conhecimento técnico sobre digestibilidade de fibra e amido, o uso de indicadores laboratoriais, a adoção de boas práticas de colheita, fermentação e armazenamento, aliados a um manejo alimentar adequado, são aspectos que determinam a rentabilidade da atividade leiteira.
Diante dos desafios impostos pelas condições tropicais e pela variabilidade climática, cabe aos técnicos e produtores se atualizarem constantemente, adotando decisões embasadas em dados, experimentação e observação de campo. A busca pela eficiência produtiva é, antes de tudo, uma construção de conhecimento coletivo e aplicado.
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