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Sêmen sexado na pecuária leiteira: a solução para a recria?

Botijão de sêmen

A intensificação da pecuária leiteira exige a adoção de técnicas voltadas à maximização da produção. Entre essas estratégias, o uso de sêmen sexado se destaca como uma biotecnologia que favorece produtores interessados em aumentar o número de fêmeas no rebanho.

Essa prática, inicialmente, contribui para a ampliação do número de bezerras e, consequentemente, da recria nas propriedades. No entanto, fatores como o alto custo e a menor taxa de fertilidade associada ao uso do sêmen sexado devem ser cuidadosamente avaliados antes de sua implementação.

Por isso, é fundamental entender os objetivos do produtor e analisar se o sistema produtivo está preparado para viabilizar este investimento com segurança.

Neste texto, vamos explorar os principais aspectos dessa tecnologia: como funciona, quando deve ser utilizada, seus impactos na fertilidade, os custos envolvidos e sua viabilidade prática nas fazendas.

Por que utilizar o sêmen sexado?

O uso de sêmen sexado oferece vantagens estratégicas importantes para os sistemas de produção de leite, principalmente por possibilitar uma taxa de até 90% de nascimento de fêmeas. Esse aumento contribui diretamente para a reposição e expansão da recria, garantindo o equilíbrio das categorias do rebanho e permitindo uma seleção genética mais criteriosa.

Além disso, a predominância de fêmeas reduz a incidência de partos distócicos, já que os bezerros machos, geralmente mais pesados ao nascer, estão mais associados a complicações, especialmente em vacas primíparas.

Com isso, há um impacto positivo no bem-estar animal, favorecendo a recuperação no pós-parto, a retomada mais rápida da produção e a melhoria da performance reprodutiva das vacas.

Apesar das vantagens, o sêmen sexado apresenta um custo mais elevado e uma fertilidade inferior ao convencional. Isso pode ser um fator limitante em algumas situações, mas a longo prazo, os benefícios econômicos da utilização de sêmen sexado, especialmente em sistemas de produção leiteira, podem compensar o investimento inicial maior.

Planilha evolução anual do rebanho leiteiro

Como é produzido o sêmen sexado?

O método mais utilizado, atualmente, é por citometria de fluxo. A técnica se baseia na diferença de conteúdo de DNA dos cromossomos, onde o cromossomo bovino X contém cerca de 3,8% a mais de DNA do que o cromossomo Y.

Dessa maneira os espermatozoides são submetidos a um corante fluorescente que se liga ao DNA. Devido a diferença na quantidade de DNA, os espermatozoides que apresentam o cromossomo X, apresentam brilho mais intenso que os espermatozoides que carregam o cromossomo Y.

Por fim, os espermatozoides passam em uma fila única, que contém um campo elétrico, que vai separar e os direcionar para um tubo de coleta, a partir das diferenças de carga elétricas, positivas ou negativas.

Com o uso da citometria de fluxo é possível separar os dois cromossomos com precisão. Em um sistema de produção onde se priorizam as fêmeas para produção de leite, é desejável que o sêmen apresente mais cromossomos X, já que as fêmeas apresentam um par de cromossomos XX.

Atualmente, a técnica alcança pureza de 95% na separação dos espermatozoides, e precisa de um mínimo de 85% de pureza. Em relação a concentração, o sêmen sexado apresenta (2 x 10⁶ espermatozoides por dose), enquanto o convencional apresenta (15 x 10⁶ espermatozoides por dose).

Outros métodos, como a divisão a laser do espermatozoide foram relatados recentemente, todavia a citometria de fluxo ainda é a mais difundida.

Processo de sexagem espermática

Ilustração do processo de sexagem espermática. Fonte: adaptado de Ferreira Et al.

Fertilidade do sêmen sexado

O processo de sexagem, baseado na separação dos espermatozoides por citometria de fluxo, pode comprometer a viabilidade do sêmen devido à indução precoce de capacitação, alterações na membrana plasmática e reação acrossômica antecipada.

Além disso, etapas como coloração, centrifugação, exposição a laser e manipulação sob pressão contribuem para uma menor motilidade espermática e redução da longevidade celular.

Outro fator que influencia a eficiência do sêmen sexado é a menor concentração de espermatozoides por dose, reflexo das perdas durante o processamento. No entanto, é importante destacar que a taxa de concepção não depende exclusivamente do sêmen, mas também de variáveis como qualidade do manejo reprodutivo, condição corporal, sanidade, estresse térmico e fertilidade da fêmea.

Quando utilizados em sistemas bem conduzidos, os índices de concepção com sêmen sexado podem se aproximar daqueles obtidos com sêmen convencional.

Com o avanço da tecnologia e a ampliação do seu uso comercial, espera-se que a eficiência reprodutiva do sêmen sexado continue evoluindo, tornando-se cada vez mais próxima da convencional em termos de desempenho reprodutivo.

Comparativo taxa de concepção entre vacas e novilhas

 Comparativo acerca da taxa de concepção entre vacas e novilhas inseminadas com sêmen convencional ou sexado. (Fonte: Adaptado de Khalajzadeh Et al.)

Quais os custos do sêmen sexado?

Devido ao processo de produção do sêmen sexado e seus benefícios, o seu custo é relativamente superior se comparado ao convencional. Necessitando de planejamento no seu uso, como forma de compensar o seu valor agregado.

Estudos mostram que o sêmen sexado apresenta um valor 60% maior se comparado ao sêmen convencional. Então se uma dose de sêmen convencional custa R$100,00, a dose do sexado custará R$160,00.

É importante frisar, a grande variação do mercado de sêmen, em que o valor do produto se altera diariamente. Porém a proporção entre os valores do convencional e o sexado tendem a se manter.

Como utilizar o sêmen sexado da melhor forma?

Como citado anteriormente, o sêmen sexado apresenta taxas de concepção inferiores se comparado ao convencional. O que leva a necessidade de um manejo criterioso e a escolha de fêmeas ideais para seu uso.

Em vista disso, compreende-se que o uso de sêmen sexado em novilhas tende a apresentar melhores resultados de concepção, já que é uma categoria que apresenta melhor fertilidade.

As multíparas também podem receber o sêmen sexado, mas é necessário maior critério, como histórico reprodutivo do animal, enfermidades pós-parto, nutrição e estresse térmico, pois são pontos importantes que afetam a fertilidade do animal, considerando que essa categoria apresenta fertilidade inferior as nulíparas.

Independente da paridade do animal, é importante selecionar aqueles que são geneticamente superiores. Proporcionando maior ganho genético na progênie.

Por fim, o manejo é de extrema importância, já que afeta diretamente a fertilidade dos animais. Promover conforto, saúde e alimentação de qualidade vai potencializar o uso de sêmen sexado na propriedade.

Quando utilizar o sêmen sexado na minha propriedade?

A utilização do sêmen sexado deve ser pensada com cautela, buscando entender a atual situação da fazenda e seu planejamento de rebanho.

Por se tratar de um custo mais elevado que o sêmen convencional, recomenda-se a sua implementação em propriedades que apresentem indicadores reprodutivos positivos. Pois, dessa maneira a fertilidade será maior, promovendo um retorno financeiro superior.

Outro ponto importante é a estrutura da fazenda, já que haverá um maior nascimento de fêmeas. É necessário entender se o bezerreiro atenderá ao número de animais e proporcionará saúde aos mesmos, pois não adianta promover um maior nascimento de fêmeas, se posteriormente houver mortalidade ou grande incidência de doenças.

Por fim, é crucial um planejamento de evolução do rebanho, buscando entender qual intensidade necessária do uso de sêmen sexado dentro de cada realidade.

Conclusão

Em resumo, o sêmen sexado apresenta diversas vantagens em relação ao sêmen convencional no sistema de produção leiteira. Intensificando o melhoramento genético do rebanho, acelerando o crescimento da recria, consequentemente aumentando a produção de leite.

Apesar do custo mais elevado e uma fertilidade menor, com o avanço dos estudos e maior adesão da ferramenta, haverá valores mais acessíveis e taxas de concepção parecidas ao sêmen convencional.

Além de que, se realizado o manejo e seleção de fêmeas adequado, o sêmen sexado potencializa consideravelmente o crescimento do rebanho.

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Autor: Luiz Eduardo de Melo Silveira – Equipe Leite Rehagro

Referências:

  • CABRAL, Leonardo Alves Rodrigues et al. TÉCNICAS DE SEXAGEM ESPERMÁTICA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRODUÇÃO ANIMAL. Ciência Animal, v. 33, n. 2, p. 118 a 130-118 a 130, 2023.
  • OIKAWA, Kohei et al. Effects of use of conventional and sexed semen on the conception rate in heifers: A comparison study. Theriogenology, v. 135, p. 33-37, 2019.
  • Sêmen sexado é viável utilizar? Educapoint, 2019. Disponível em: https://www.educapoint.com.br/v2/blog/pecuaria-leite/semen-sexado-e-viavel-utilizar/.
  • WELLMANN, Robin et al. Economic benefits of herd genotyping and using sexed semen for pure and beef-on-dairy breeding in dairy herds. Journal of Dairy Science, v. 107, n. 5, p. 2983-2998, 2024.
  • Oportunidades e desafios do sêmen sexado. Milkpoint, 2010. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/colunas/jose-luiz-moraes-vasconcelos-ricarda-santos/oportu nidades-e-desafios-do-semen-sexado-parte-2-62201/. 
  • HOLDEN, S. A.; BUTLER, S. T. Review: Applications and benefits of sexed semen in dairy and beef herds. Animal 12 (Suppl. 1): s97–s103. 2018.

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