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Mofo-branco na soja: como identificar, prevenir e controlar de forma eficaz

O mofo-branco é uma das doenças mais severas que afetam a cultura da soja no Brasil. Essa doença compromete significativamente a produtividade e exige atenção redobrada dos produtores e técnicos.

Sua presença no campo está ligada a fatores como clima úmido, temperaturas amenas, manejo cultural inadequado e alta densidade de plantas, elementos comuns em diversas regiões produtoras.

Neste artigo, você vai entender como a doença se manifesta, quais práticas favorecem seu avanço, os impactos econômicos envolvidos e, principalmente, como agir de forma eficaz para prevenir e controlar o mofo-branco na lavoura de soja.

O que é o mofo-branco: definição e agentes causadores

O mofo-branco, também conhecido como podridão branca da haste, é uma doença fúngica causada pelo patógeno Sclerotinia sclerotiorum. Este fungo tem alta capacidade de sobrevivência no solo por meio de estruturas de resistência chamadas escleródios, que podem permanecer viáveis por vários anos na lavoura, mesmo na ausência de hospedeiros.

A doença é particularmente preocupante em culturas de clima subtropical e temperado, como a soja, onde se encontram condições ideais de desenvolvimento.

Planta de soja com sintomas de mofo-branco

Figura 1: Planta infectada por mofo branco (a); Vagem de soja infectada (b); escleródios se desenvolvendo no interior do caule da planta (c). Fonte: Caroline Hawerroth. 

O mofo branco pode adentrar a lavoura por meio de sementes contaminadas, as quais transportam junto ao lote os escleródios, além de maquinários e implementos que entraram em contato com solo ou plantas infectadas, levando as estruturas de resistência para áreas não contaminadas.

A partir daí, os escleródios podem permanecer viáveis no solo por vários anos, aguardando condições favoráveis de temperatura e umidade para germinar e infectar as plantas, dando sequência ao ciclo da doença.

A doença é bastante agressiva pelo fato de ser causada por um fungo necrotrófico. Nesse caso, durante o processo de colonização da planta hospedeira, o fungo provoca a morte dos tecidos vegetais, prejudicando o desenvolvimento e a produtividade da cultura.

Guia Principais doenças da soja

Como identificar o mofo-branco no campo?

Sintomas visuais na lavoura

Os sintomas de mofo-branco incluem:

  • Murcha na parte aérea da planta, especialmente em fases de florescimento e formação de vagens, seca das folhas;
  • Manchas aquosas, de aspecto encharcado no caule, que rapidamente evoluem para lesões amolecidas cobertas por micélio branco (o “mofo” branco, com aspecto de algodão);
  • Presença de escleródios pretos, duros, semelhantes a fezes de rato, dentro e fora dos tecidos da planta afetada;
  • Queda precoce de folhas e flores, além de má formação das vagens.

A doença geralmente começa em manchas isoladas, mas pode alastrar pela lavoura sob condições favoráveis, através da germinação dos escleródios e disseminação dos ascósporos pelo vento, infectando plantas vizinhas.

Planta de soja com sintomas de murcha

Figura 2: Planta de soja infectada com sintomas de murcha (a); Planta infectada, com formação de escleródios a partir do micélio cotonoso (b). Fonte: Aline Zaqueu

Momentos críticos da cultura

A atenção deve ser redobrada em alguns estádios críticos da cultura e condições:

  • Estádio R1 (início do florescimento) até R3 (formação de vagens): fase ideal para infecção, pois o fungo coloniza flores e tecidos jovens; Intervenções devem iniciar preventivamente, desde o TS, uso de biológicos e aplicações no pré-florescimento;
  • Períodos chuvosos e temperaturas amenas: especialmente em regiões com histórico da doença;
  • Alta população de plantas: o microclima formado favorece o surgimento dos apotécios.

Por que ele é considerado um dos principais desafios fitossanitários da soja

A severidade do mofo-branco na soja está relacionada à sua capacidade de:

  • Infectar diversas partes da planta, como caules, folhas, flores e vagens;
  • Ocasionar morte prematura das plantas;
  • Gerar danos irreversíveis na arquitetura da lavoura, comprometendo a colheita;
  • Apresentar dificuldade de controle em estágios avançados da infecção;
  • Gerar estruturas de resistência que permanecem viáveis por vários anos na lavoura.

Além disso, o fungo Sclerotinia sclerotiorum possui amplo espectro de hospedeiros, podendo afetar mais de 400 espécies de plantas, o que torna sua eliminação um grande desafio agronômico.

Fatores que favorecem o desenvolvimento da doença

Condições climáticas ideais para o surgimento

O mofo-branco na soja encontra nas condições climáticas úmidas e frias o ambiente perfeito para sua proliferação. As situações mais propícias incluem:

  • Temperaturas entre 18°C e 25°C durante o final do vegetativo e início do reprodutivo, na fase de florescimento da soja;
  • Alta umidade relativa do ar (>80%) por períodos prolongados;
  • Presença de neblina, orvalho intenso ou chuvas contínuas, especialmente no estádio R1 a R3 da cultura.

Essas condições favorecem a germinação dos escleródios e a produção de apotécios, estruturas que liberam os ascósporos, esporos responsáveis pela disseminação da doença pelo vento a curtas distâncias.

Práticas de manejo que contribuem para o agravamento da doença

Algumas decisões agronômicas e operacionais podem aumentar consideravelmente o risco de incidência da doença:

  • Plantios muito adensados, criando um microclima favorável para a germinação dos escleródios;
  • Não adotar estratégias integradas de manejo, como uso de produtos biológicos, químicos e manejo cultural
  • Falta de rotação de culturas com espécies não hospedeiras;
  • Aplicações tardias ou manejos ineficazes de fungicidas.

Além disso, a ausência de monitoramento e de planejamento estratégico da lavoura faz com que produtores apenas “apaguem incêndios”, quando o ideal é agir preventivamente.

Hospedeiros alternativos e sua influência no ciclo da doença

O fungo Sclerotinia sclerotiorum possui um amplo leque de hospedeiros alternativos que podem servir de ponte entre uma safra e outra. São mais de 400 espécies hospedeiras e abaixo listamos alguns exemplos:

  • Algodão;
  • Feijão;
  • Batata;
  • Tomate;
  • Girassol;
  • Alface.

Essas plantas, ao manterem o fungo vivo no ambiente, dificultam o controle da doença, favorecem a infecção de novas áreas e nos acendem um alerta para a escolha estratégica de culturas para rotação em áreas afetadas.

Como controlar o mofo-branco na soja?

Manejo integrado como estratégia eficaz

A forma mais efetiva de se controlar o mofo-branco de maneira consistente é por meio do Manejo Integrado de Doenças, que une múltiplas estratégias de controle com foco em:

  • Redução da fonte de inóculo no solo.
  • Prevenção da entrada do patógeno nas áreas.
  • Proteção contra a infecção da planta em momentos críticos.
  • Monitoramento contínuo.

As práticas mais recomendadas para o mofo-branco incluem:

  • Rotação de culturas com espécies não hospedeiras (como milho, trigo, gramíneas de maneira geral);
  • Utilizar sementes de boa qualidade, para evitar a entrada e disseminação de escleródios durante o plantio
  • Uso de cultivares com arquitetura mais aberta e adequação da população de plantas, o que favorece a aeração entre as plantas;
  • Adoção do biocontrole com fungos do gênero Trichoderma, para complementação do manejo químico, inibindo a germinação dos escleródios. Deve-se optar pelas aplicações do Trichoderma durante o vegetativo da soja, mas também após a colheita, visando atingir os escleródios que restaram no solo, e nas culturas de cobertura e de segunda safra.
  • Manter o solo coberto com palhada, para dificultar a germinação dos escleródios
  • Adotar manejo químico:
    • Utilizar sementes tratadas com fungicidas, como tiofanato metílico.
    • Realizar aplicações aéreas a partir do pré-florescimento da soja com uso de ingredientes ativos como procimidona, tiofanato metílico, fluazinam, fluopiram, dimoxistrobina e boscalida, antes do fechamento das ruas e do florescimento pleno, garantindo que os ativos atinjam o alvo e protejam a planta de maneira satisfatória.

Essas abordagens têm contribuído para reduções significativas na carga de inóculo no solo e menor reincidência da doença em safras subsequentes.

Estratégias de manejo para o mofo-branco

Figura 3: Estratégias de manejo cultural, biológico e químico para o mofo branco. Fonte: Caroline Hawerroth. 

Benefícios reais de um planejamento fitossanitário bem estruturado

Quando o produtor adota uma abordagem estruturada, os resultados são consistentes:

  • Redução de escleródios no solo ao longo dos anos.
  • Menor dependência de fungicidas químicos com adoção de estratégias integradas.
  • Aumento da produtividade média em áreas de alta pressão da doença.

Planejamento fitossanitário não é um custo adicional, mas um investimento. E quanto antes for iniciado, maior o retorno agronômico e econômico para a fazenda.

Conclusão

O mofo-branco representa um dos maiores desafios para a cultura da soja no Brasil, não apenas pela sua agressividade, mas principalmente por exigir um olhar técnico, preventivo e contínuo por parte de quem conduz a lavoura.

Mais do que combater o problema, o caminho está em entender sua dinâmica, monitorar atentamente o campo, planejar com antecedência as medidas de controle e, acima de tudo, aplicar estratégias integradas que envolvam boas práticas culturais, controle químico e biológico.

À medida que novas ferramentas se tornam disponíveis e o conhecimento técnico avança, o controle da doença se torna cada vez mais uma questão de escolha e atitude do produtor. Investir em informação e buscar o apoio de profissionais qualificados pode fazer toda a diferença entre uma lavoura vulnerável e uma lavoura preparada.

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