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Potássio na soja: quando aplicar, como calcular a dose e sua importância na cultura

Lavoura de soja

A soja é uma das culturas agrícolas mais relevantes no Brasil e um dos manejos que impactam diretamente no seu desenvolvimento e produção é a sua nutrição.

Entre os macronutrientes, o potássio ocupa um papel estratégico, mas frequentemente é subestimado. Esse nutriente regula funções fisiológicas fundamentais, impactando diretamente no enchimento de grãos, resistência a estresses e eficiência no uso da água.

Ao longo deste artigo, você vai entender quando aplicar potássio na soja, como manejá-lo e por que ele é tão estratégico para a produtividade.

A importância do potássio na soja para altas produtividades

O potássio é um dos três macronutrientes primários exigidos em maiores quantidades pela cultura da soja, ao lado do nitrogênio e do fósforo. No entanto, ao contrário destes, o potássio não é um componente estrutural da planta, mas sim um regulador fisiológico, atuando em diversas funções essenciais para o crescimento saudável e produtivo da cultura.

O potássio atua nos seguintes processos:

  • Transporte e distribuição de fotoassimilados: facilita a movimentação dos açúcares produzidos nas folhas para os grãos em formação, fundamental para o enchimento de vagens;
  • Ativação enzimática: participa da ativação de mais de 60 enzimas, otimizando processos como síntese de proteínas e metabolismo de carboidratos;
  • Regulação osmótica e controle estomático: promove maior controle na abertura e fechamento dos estômatos, regulando a transpiração e aumentando a eficiência no uso da água;
  • Síntese de proteínas e amido: influencia diretamente na qualidade e peso dos grãos.
  • Resistência a estresses: auxilia na tolerância ao déficit hídrico e na regulação osmótica (quantidade de água e sais dentro da planta), além de realizar o papel de ativador enzimático.

Sinais e impactos da deficiência de potássio na soja

A deficiência de potássio na soja pode passar despercebida em seus estágios iniciais, especialmente em lavouras com bom desenvolvimento vegetativo. No entanto, à medida que o ciclo avança e a planta entra em fases de maior exigência nutricional, os sintomas se intensificam e os prejuízos vão se tornando evidentes.

Principais sintomas visuais

A identificação precoce da deficiência é crucial para uma tomada de decisão técnica adequada. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Clorose e necrose nas bordas das folhas mais velhas;
  • Murcha em dias quentes, mesmo com umidade no solo disponível;
  • Crescimento reduzido e plantas mais frágeis, suscetíveis ao acamamento;
  • Vagens mal formadas e grãos com peso abaixo do potencial.

Planta de soja com deficiência de potássio (K)

Figura: Deficiência de potássio (K) na cultura da soja. (Fonte: Adilson Oliveira Junior, Embrapa Soja, 2020)

Planta com deficiência severa de potássio na soja

Figura: Deficiência severa de potássio (K) na soja. (Fonte: Adilson Oliveira Junior, Embrapa Soja, 2020)

Adubação potássica na soja: estratégias recomendadas e cálculo da dose

A adubação potássica na soja deve ser baseada em análise de solo e sua aplicação deve ocorrer conforme o tipo de solo, exportação de acordo com a expectativa de produtividade e histórico da área.

Interpretação da análise de solo e definição da dose

A recomendação de adubação potássica deve ser fundamentada em análises químicas do solo. Observe o laudo a seguir:

Laudo de análise de solo

Figura: Laudo de análise de solo em profundidade de 0 – 20 cm. (Fonte: Equipe Grãos Rehagro)

Para calcular a dose necessária para correção dos teores de potássio, devemos seguir os passos a seguir:

1° passo: Observar se o teor de K no solo encontra-se abaixo ou acima do nível crítico;

Definição de nível crítico

Níveis críticos de potássio abaixo

2° passo: Calcular a dose de K2O para elevar o teor de K no solo ao nível crítico

Dose K2O (kg/ha) = (K ideal – teor de K) * CTK

K ideal: 120 mg/dm3 ou 3 – 5% da CTC potencial, em mg/dm³;

Teor de K: teor de K no solo em mg/dm3

CTK: valor de CTK

  • CTC (T) > 7,5 🡪 CTK = 2,73
  • CTC (T) < 7,5, CTK = 1,33 + 0,165 * CTC(T)

Nível crítico de potássio

3° passo: Calcular a dose de K2O para suprir a quantidade de potássio que será exportada pelos grãos, de acordo com a produtividade esperada. O suprimento da exportação visa manter os níveis de K no solo, pelo menos, em seu nível crítico após a colheita.

Quantidade extraída e exportada de nutrientes

Figura: Quantidade extraída e exportada de nutrientes (em kg por tonelada de grãos produzidos) nas culturas da soja, milho, feijão e trigo. (Fonte: Elaborado pela Equipe Grãos Rehagro, adaptado dos autores citados)

 

Dose K2O (kg/ha) = Produtividade esperada (em ton/ha) X Exportação da cultura (em kg/ton)

4º passo: Calcular a dose total de K2O a ser aplicada

Dose total de K2O (kg/ha) = Dose para elevação de K no solo (em kg/ha) + Dose para suprir a exportação da cultura (em kg/ha)

5° passo: Realizar a conversão da dose a ser aplicada de acordo com a concentração de K2O na fonte escolhida.

 

Dose total = 210 kg/ha de K2O

Fonte escolhida = Cloreto de potássio (KCl), com 60% de K2O

Dose de KCL = 210 / 0,60 = 350 kg/ha de cloreto de potássio

Quando aplicar potássio na soja?

Saber quando aplicar potássio na soja é tão importante quanto definir a dose e a fonte do nutriente. A eficiência da adubação potássica está diretamente relacionada ao momento da aplicação, ao tipo de solo e ao regime de chuvas da região, além das características do sistema de cultivo utilizado.

Estratégias de aplicação: pré-plantio, no sulco ou em cobertura?

A aplicação do potássio pode ser feita de três formas principais:

  1. Solos argilosos (+ de 35% de argila): aplicação a lanço no dia do plantio ou antecipado (até 20 dias antes do plantio);
  2. Solos arenosos: aplicação a lanço em cobertura, sendo o primeiro parcelamento no dia do plantio e o segundo entre V2-V3 da soja ou do milho.
  3. Aplicação no sulco: não deverá ultrapassar 40 kg/ha de K2O na linha, independentemente da textura do solo, para evitar a salinização, o que gera problemas na germinação. Em solos arenosos, onde é recomendado parcelar a dose, pode-se optar por fazer a aplicação de 40 kg/ha de K2O no sulco e o restante da dose em 2 aplicações, sendo 1 a lanço no plantio e 1 em cobertura em V2-V3.

Importante depositar o adubo em profundidade, cerca de 10 cm da superfície, com uso de botinha para não prejudicar o desenvolvimento da semente.

Adubação potássica em solos argiloso

Fontes de potássio mais utilizadas

As principais fontes comerciais de potássio utilizadas no Brasil são:

Principais fontes de potássio

Momentos críticos de demanda pelo potássio

A absorção de potássio pela planta de soja não ocorre de maneira uniforme ao longo do ciclo. Há picos de demanda que coincidem com fases fisiológicas específicas e que ajudam a orientar o momento ideal para fornecimento antecipado do nutriente.

Os períodos mais críticos são:

  • Estágio vegetativo final (V4 a V6): início do alongamento de entrenós e formação de estrutura produtiva;
  • Início da floração (R1): maior demanda por energia e síntese de compostos orgânicos;
  • Enchimento de grãos (R5 a R6): maior translocação de fotoassimilados e necessidade de transporte eficiente de açúcares.

No estudo a seguir, observa-se que o acúmulo de K na planta aumenta expressivamente a partir de 45 DAE (dias após a emergência), período final do vegetativo e início do reprodutivo. Aos 75 DAE, as plantas apresentaram o pico de acúmulo de K, momento em que estavam no início do enchimento de grãos.

Acúmulo de potássio na soja

Figura: Acúmulo de potássio (K) na planta inteira e nos diferentes componentes da parte aérea, em soja BRS 317, em função dos dias após emergência (DAE), em Dourados – MS. (Fonte: adaptado de Waldenio Antonio de Araújo, 2018).

Portanto, antes mesmo do início do florescimento (R1), o solo deve estar com níveis adequados de potássio disponível, para garantir o suprimento durante os estágios reprodutivos, momento em que a cultura é mais sensível a deficiências.

Aplicação via foliar: quando considerar?

Embora a maior parte do potássio deva ser aplicada via solo, existe um crescente interesse pela aplicação foliar de potássio em soja, principalmente como medida complementar à adubação via solo.

  • Situações de baixa disponibilidade de potássio no solo durante fases críticas;
  • Solos com restrições de absorção (ex: compactação, déficit hídrico);
  • Apoio nutricional em momentos de alta demanda fisiológica, principalmente na fase de enchimento de grãos

Portanto, a aplicação foliar deve ser usada como complemento emergencial, e jamais como substituto da adubação de solo. 

Estratégias para melhorar a retenção e aproveitamento do nutriente no solo

Manter um sistema de produção integrado e com adoção de práticas sustentáveis pode ajudar no aproveitamento e manutenção do potássio no sistema. São exemplos de práticas que auxiliam no manejo sustentável de potássio no solo:

  • Plantio direto: reduz processos erosivos do solo, evitando a perda do nutriente por escoamento.
  • Rotação de culturas: culturas como milho e, principalmente, a braquiária possuem diferentes exigências e ajudam no reaproveitamento de nutrientes, pois atuam capturando potássio em profundidade, através de suas raízes profundas, e levando-o à superfície, através da ciclagem de nutrientes;
  • Uso de corretivos e condicionadores de solo, como calcário e gesso agrícola, para melhorar o ambiente radicular e facilitar a absorção de potássio em profundidade.
  • Acompanhar a análise de solo e os teores do nutriente, visto que, em solos com alta quantidade de potássio acumulado, podemos adotar estratégias diferenciadas que implicam em menor investimento em fertilizantes em anos de alta nos preços.

Tendências e inovações no manejo de potássio na soja

Com o avanço da agricultura digital e a crescente pressão por eficiência e sustentabilidade, o manejo de potássio na soja também passa por transformações importantes.

O que antes era baseado apenas em recomendações genéricas por hectare, hoje pode ser ajustado com tecnologia, precisão e inteligência de dados.

Agricultura de precisão e recomendação em taxa variável

Com mapas de fertilidade e integração com sensores, é possível:

  • Ajustar a dose de potássio conforme a real necessidade do solo e da cultura;
  • Reduzir custos com insumos, evitando aplicações desnecessárias em áreas que já estão em equilíbrio;
  • Aumentar a eficiência agronômica e o retorno econômico da adubação.

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Conclusão

A nutrição potássica da soja é um dos pilares para se alcançar altas produtividades de forma consistente, segura e economicamente viável.

Apesar de muitas vezes subestimado em comparação com outros nutrientes, o potássio exerce funções fisiológicas e metabólicas cruciais para o desempenho da lavoura, do crescimento vegetativo à formação e enchimento de grãos.

Em resumo, siga os passos para recomendação assertiva de potássio: faça anualmente a análise de solo em profundidade; realize o cálculo para a correção do teor no solo e exportação da cultura; complemente os aportes com adubação foliar durante o ciclo da cultura, e mantenha todos os nutrientes em equilíbrio para potencializar os desempenhos da cultura!

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