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Broca do café

Broca-do-café: saiba como realizar o seu monitoramento e controle e fazer uma armadilha

A broca-do-café (Hypothenemus hampei) é a segunda praga mais importante do café arábica no Brasil, pertencente à ordem Coleoptera, o adulto da broca-do-café é um besouro de coloração preta.

Os machos dessa espécie são menores que as fêmeas, com cerca de 1,18 mm de comprimento, e não voam. Já as fêmeas dessa espécie, são maiores (1,65 mm) que os machos e voam, possibilitando assim que elas voem em direção aos frutos.

Ciclo de vida da broca-do-café

O ciclo dessa espécie dura em torno de 17 a 46 dias de acordo com as condições climáticas, visto que em temperaturas mais altas acarreta encurtamento do ciclo dessa praga.

A fêmea fecundada perfura o fruto de café, faz uma galeria no seu interior e coloca seus ovos, de coloração branco leitosa.

Após a eclosão dos ovos, que dão origem às larvas, elas se alimentam das sementes, causando danos às mesmas.

Ciclo de vida da broca-do-caféCiclo de vida da broca do cafeeiro. Fonte: Acervo Rehagro

Representação do ciclo de vida da broca-do-café

Fonte: Acervo Rehagro

Quais os danos causados pela broca-do-café?

Os danos causados pela incidência de broca no cafeeiro vão de queda prematura dos frutos, redução do peso dos grãos de café dependendo da infestação e depreciação do tipo do café devido ao aumento de grãos brocados.

Na classificação física, de 2 a 5 grãos brocados é considerado um defeito.

Além disso, os orifícios nos grãos causados pelas larvas da broca podem servir como porta de entrada para patógenos, podendo assim ocorrer fermentações indesejáveis, que comprometem a qualidade da bebida.

Larvas da broca se alimentando de grãos de café e grãos brocados

Larvas da broca se alimentando de grãos de café e grãos brocados. Foto: Larissa Cocato

Condições favoráveis a broca-do-café

A broca-do-café sobrevive no campo de uma safra para outra nos frutos remanescentes da colheita estejam eles na planta ou no chão.

Nesse sentido, uma colheita mal feita, lavouras abandonadas próximas e um período úmido na entressafra são condições que favorecem a sobrevivência dessa praga.

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Monitoramento da broca-do-café

É importante realizar o monitoramento e bom controle da broca-do-café, devido aos prejuízos causados:

  • Redução de peso dos grãos;
  • Queda prematura dos frutos;
  • Grãos brocados são considerados defeitos na classificação física;
  • Orifícios podem servir como porta de entrada de patógenos.

Além disso, o monitoramento torna-se uma ótima ferramenta devido à dificuldade de controle dessa praga no período que as larvas se encontram dentro dos frutos se alimentando das sementes.

O monitoramento deve iniciar a partir do momento que haja insetos em trânsito, que pode ser diagnosticado por armadilhas ou visualmente nas lavouras.

O “período de trânsito”, é o período em que as fêmeas adultas dessa praga perfuram os frutos verdes chumbões aquosos, na região da coroa dos frutos.

Imagem ampliada da fêmea da broca-do-café furando o fruto do café

Foto: Larissa Cocato

Monitoramento da broca-do-café – Metodologia EPAMIG

Para amostragem deve-se primeiramente dividir a lavoura em talhões homogêneos. Quanto ao tamanho do talhão, deve-se evitar talhões muito extensos, preferido talhões menores. É importante caminhar em zigue-zague na lavoura.

Planilha de campo para amostragem de frutos do café

Fonte: Larissa Cocato

Destacamos os seguintes tópicos:

  • Serão observadas 30 plantas no talhão;
  • Em cada planta, observar 60 frutos (6 pontos (3 de um lado e 3 de outro) e 10 frutos em cada um desses pontos).
  • Esses 10 frutos devem ser observados em diversos ramos e rosetas. Desses 10 frutos, contar aqueles broqueados e anotar na planilha.
  • Preencher a planilha nos 30 pontos do talhão.
  • Após preenchida, somar a quantidade de frutos broqueados em cada ponto (1, 2, 3, 4, 5 e 6).

Planilha de campo para amostragem de frutos do café com zoom no campo somatório das colunas

Fonte: EPAMIG, 2013

Após a soma de todos os pontos, que resultará no total de frutos broqueados nos 30 cafeeiros monitorados, dividir esse valor por 18 (fator fixo), o que dará a porcentagem de infestação.

Porcentagem de infestação = TFF/18

Metodologia Cenicafé – Colômbia

Para amostragem deve-se primeiramente dividir a lavoura em talhões homogêneos. Quanto ao tamanho do talhão, deve-se evitar talhões muito extensos, sendo melhor talhões menores.

Novamente, é importante caminhar aleatoriamente na lavoura a fim de avaliar 30 ramos de café em um talhão. Além disso, devemos considerar os seguintes tópicos:

  •  Avaliar cerca de 2.500 frutos;
  •  Em cada ramo contar o número de frutos passíveis de ataque;
  •  Se na rama escolhida tiver frutos brocados, devemos avaliar qual a posição da broca;
  •  Calcular a porcentagem de frutos brocados.

Com base no cálculo de infestação, partir para a tomada de decisão.

Controle químico da broca-do-café

Com relação ao índice de controle, tem-se na literatura de 3 a 5%, entretanto, na prática, já se entra com o controle com 1% de infestação, devido à rapidez que essa praga se desenvolve a causa prejuízos ao cafeeiro, além disso, devido a alguns produtos com efeito residual como, por exemplo, os princípios ativos: Ciantraniliprole, Clorantraniliprole + Abamectina e Espinosade, terem boa eficiência com infestações mais baixas dessa praga, de 0,5 a 2%.

Ilustração de frutos do café cortados ao meio para demonstrar a posição da penetração da broca-do-café

Fonte: Isaza, et al., 2017

 

Controle biológico da broca-do-café

O controle biológico é um método de combater pragas agrícolas através da utilização de seus inimigos naturais, que podem ser insetos predadores, parasitoides e microrganismos (fungos, bactérias e vírus).

Os fungos entomopatogênicos são agentes de controle de inúmeras pragas, como a broca-do-café. Dentre os diferentes agentes de controle natural da broca está o fungo Beauveria bassiana, que foi observado em muitos países atacando esta praga.

Existem vários estudos descrevendo a eficiência de B. bassiana no combate da broca em campo. Contudo, foi observado que este fungo também pode ser um aliado no controle de outras pragas como o bicudo do algodoeiro, mosca branca, broca do rizoma da bananeira, psílideo, ácaro rajado, gorgulho-da-cana-de-açúcar entre outros.

Calendário agrícola do café

Modo de ação do fungo B. bassiana

O fungo B. bassiana tem um estágio de desenvolvimento conhecido como conídios, especifico para disseminação e para início da infecção.

Na maioria dos casos o fungo penetra nos insetos por contato, quando viável germina sobre o inseto e por ação química e física atravessa a cutícula e penetra na cavidade geral do corpo. Posteriormente, com o objetivo de se reproduzir, o fungo atravessa o corpo do inseto e produz conídios em grande quantidade que vão ser responsáveis pela disseminação e infecção completando o ciclo.

As brocas mortas pelo fungo que esporulou, ficam geralmente na coroa do fruto e com o corpo branco.

A infecção ocorre via tegumento, onde a B. bassiana germina em um período de 12 a 18 horas, dependendo de fatores nutricionais.

Decorridas 72 horas de inoculação, o inseto apresenta-se totalmente colonizado, ocasionando a morte do inseto, devido à falta de nutrientes e ao acúmulo de substâncias toxicas liberadas pelo fungo.

Sobre o inseto morto ocorre a formação de conidióforos com uma grande quantidade de conídios, que após 7 a 10 dias são liberados no ambiente podendo contaminar novos indivíduos, reiniciando o ciclo do fungo.

O fungo contamina a broca e age antes da penetração da praga no fruto de café. Gonzaléz et al. (1993) testaram dois isolados de B. bassiana sobre a broca-do-café e comprovaram a eficiência de controle com tempo médio letal para o isolado 1 de 54,72 horas e para o isolado 2 de 92,4 horas após o contato do fungo com a praga.

Gráfico da mortalidade broca-do-café.

Mortalidade acumulada e tempo médio letal (TL50) da Broca-do-café (Hypothenemus hampei) infectada com isolados de Beauveria bassiana. Fonte: Adaptado González et al., 1993

Condições de aplicação e manejo

A aplicação da B. bassiana é recomendada em temperaturas entre 25° a 30° C e umidade acima de 65%, preferencialmente em dias nublados. O intervalo de aplicação e a dosagem podem variar de acordo com a infestação da broca, sendo o monitoramento fundamental para a tomada de decisão.

A aplicação do fungo na lavoura utiliza o mesmo pulverizador desenvolvido para defensivos agrícolas. A calda é de 400 litros por hectare, podendo variar de acordo com as tecnologias utilizadas na aplicação, destacando a importância de se realizar uma limpeza adequada dos equipamentos antes do uso, visando a maior eficiência de calda.

Deve-se respeitar no mínimo 3 dias de carência após aplicações de fungicidas na lavoura, visto que alguns destes produtos podem atuar negativamente sobre estes microrganismos reduzindo o crescimento vegetativo, esporulação e viabilidade .

Vantagens do controle biológico

Dentre as vantagens do controle biológico, esse tipo de controle não proporciona resistência de pragas, apresenta menor toxicidade humana e ambiental e redução dos custos, podendo ser até 87% mais barato que alguns inseticidas convencionais.

Além disso, esse controle não apresenta período de carência e não acarreta eliminação de insetos benéficos à lavoura, o que em muitos casos é proporcionado por aplicações excessivas e inadequadas de produtos que resultam em morte de inimigos naturais, causando assim desequilíbrio de outras pragas.

Devido ao produtor rural ter disponível poucas ferramentas para o controle da broca-do-café atualmente, a utilização da B. bassiana passa ser mais uma opção no manejo das populações dessa praga, considerando os benefícios de se utilizar o controle biológico. Contudo, a utilização desse controle tem o intuito de aumentar a eficiência das técnicas atuais de controle através da utilização do manejo integrado de pragas.

Como montar uma armadilha para a broca-do-café?

Armadilha para a broca-do-café

Armadilha para a broca-do-café. Fonte: Agro Mais

Materiais que você irá precisar

Estrutura da armadilha

  • Garrafa pet de 2l;
  • Tesoura;
  • Molde de cartolina;
  • Régua;
  • Arame.

Atrativo

  • Frasco de vidro;
  • Etanol;
  • Metanol;
  • Pó de café torrado e moído.

Líquido para afogar/matar a broca

  • Água;
  • Detergente.

Como fazer

1. Tirar do rótulo da garrafa pet limpa, colocar o molde a uma distância de 13 cm da tampa da garrafa. Corte a garrafa de acordo com o molde.

Medição de armadilha para broca-do-café

Esquemas da garrafa pet.

2. Pinte a garrafa de vermelho a fim de facilitar sua visualização no campo e para atrair a broca.

3. Faça dois furos no fundo da garrafa e passe o arame para fixar a armadilha no campo.

4. Esquente a extremidade de um arame ou prego e faça dois furos a uma distância de 21 cm da boca da garrafa, para fixar o atrativo. 

5. Atrativo: misture 250 ml de etanol + 750 ml de metanol + 10 g de café torrado e moído, coloque dentro do frasco, faça um orifício na rolha e fixe o frasco na garrafa pet.

Armadilha para broca do café

Esquemas da garrafa pet.

6. Faça o líquido para afogar a broca: 200 ml de água + a colher de sopa de detergente e adicione no fundo da armadilha.

7. As armadilhas devem ser fixadas a 1,0 – 1,5 m do solo.

8. A quantidade de armadilhas irá variar de acordo com o nível de infestação.

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Larissa Cocato - Coordenadora de Ensino Café

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