Fazenda lucrativa: como reduzir custos e aumentar o lucro na produção de leite

A produção de leite no Brasil é um setor desafiador e competitivo. Oscilações de preço, custos crescentes e a necessidade de manter eficiência técnica exigem que produtores, gerentes e equipes dominem não apenas o manejo, mas também a gestão financeira da fazenda.

Dados de um levantamento com 54 fazendas, acompanhadas pelo Rehagro, mostram que a diferença entre uma propriedade altamente lucrativa e outra que opera no limite não está apenas no preço pago pelo litro de leite, mas principalmente na eficiência porteira para dentro.

O leite é um bom negócio? Entenda os números

A análise dos dados de 2024 revelou que, em média, as fazendas obtiveram R$ 19.000 de lucro operacional por hectare/ano. Porém, a dispersão é grande: enquanto algumas alcançaram mais de R$ 40.000/ha, outras ficaram próximas de R$ 3.000/ha, chegando até ao prejuízo.

Diferença de lucro por hectare entre grupos de fazendas mais e menos eficientes.

O desempenho está diretamente ligado a dois fatores:

1. Produtividade por hectare: propriedades mais lucrativas chegam a produzir 40.000 litros/ha/ano;
2. Lucro por litro: a média foi de R$ 0,70/litro, mas o topo alcançou R$ 1,04/litro.

Custos de produção: onde está o dinheiro

Embora fazendas mais eficientes recebam alguns centavos a mais no preço pago pelo leite, a principal diferença está no custo de produção.

Médias encontradas em 2024:

• Preço do leite: R$ 2,90 a R$ 3,08/litro;
• Custo de produção: diferença de até R$ 0,68/litro entre as mais eficientes e as menos eficientes.

Fazendas mais eficientes reduzem o custo por litro, garantindo maior margem mesmo em anos de preço baixo.

Isso significa que, mesmo em anos de preço baixo, como 2023, as propriedades mais organizadas continuaram lucrando, enquanto outras, com custos desajustados, viram a margem desaparecer.

Alimentação: o maior peso no custo

A alimentação das vacas representa cerca de 50% do custo total, seguida pela reposição de animais (16%) e mão de obra (11%).
Nas fazendas mais eficientes:

• Insumos alimentares custam em torno de R$ 0,96/litro (contra R$ 1,09 na média geral);
• Custo com reposição cai para R$ 0,21/litro;

Custos diluídos por maior produtividade reduzem o impacto por litro.

A alimentação é o principal componente do custo de produção, seguida pela reposição e mão de obra. 

Reposição e mão de obra: como otimizar

Um alerta importante identificado foi a “zona de risco” entre 25 e 30 litros/vaca/dia. Nessa faixa, tanto no confinamento quanto no pastejo, o custo de produção tende a subir se a estrutura e o manejo não estiverem ajustados, colocando em risco a lucratividade.

Indicadores zootécnicos que aumentam o lucro

Além da gestão financeira, dois indicadores têm forte correlação com a rentabilidade:

Taxa de prenhez e rentabilidade

Elevar a taxa de prenhez de 15% para 28% pode quase dobrar o lucro por litro. Acima de 30%, o ganho financeiro tende a estabilizar, mas outros benefícios zootécnicos permanecem.

Quanto maior a taxa de prenhez até cerca de 30%, maior o lucro por litro de leite.

Taxa de reposição ideal

Manter a taxa entre 24% e 30% garante equilíbrio entre renovação do rebanho e controle de custos. Taxas muito altas elevam o custo com recria; taxas muito baixas podem manter vacas pouco produtivas por mais tempo.

O perfil das fazendas mais lucrativas

Segundo o estudo, as propriedades de melhor desempenho compartilham características que vão além da tecnologia e do manejo:

1. Foco porteira para dentro: controle e análise contínua de dados.
2. Método e disciplina: registro, comparação e revisão constantes.
3. Cuidado com as pessoas: equipes treinadas, engajadas e com baixa rotatividade.
4. Excelência na produção de volumoso: reduzindo a dependência de insumos externos.
5. Planejamento e replanejamento constantes: ajustes rápidos diante de mudanças no mercado ou na produção.

Conclusão: gestão e técnica lado a lado

A produção de leite pode ser altamente lucrativa quando a gestão técnica e financeira caminham juntas. Mais do que buscar apenas aumento de média por vaca ou volume total, é preciso otimizar custos, ajustar indicadores zootécnicos e manter disciplina no controle de dados.

Cada centavo economizado no custo por litro pode representar milhares de reais a mais no caixa ao final do ano. E, como mostram os resultados, essa diferença é o que separa as fazendas que prosperam das que apenas sobrevivem.

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