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Crisopídeo como controle biológico de pragas no café

Controle biológico de pragas na cafeicultura: como realizar?

O mercado de insumos biológicos (controle biológico) cresce na ordem de 10 a 15 % ao ano no mundo. No Brasil o controle biológico envolvendo macro e microrganismos vem crescendo 20% ao ano.

Podem ser utilizados para o controle biológico de pragas do café:

  • Microrganismos (fungos, bactérias e vírus);
  • Parasitoides;
  • Predadores.

Os produtos biológicos mais utilizados no Brasil são os microrganismos como fungos, bactérias e vírus, pois são mais facilmente aceitos pelos produtores.

 

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Muito provavelmente pessoas envolvidas com o agronegócio já utilizaram ou conhecem alguém que utilizou Trichoderma spp., Beauveria bassiana, Metarhizium spp., Baculovírus ou Bacillus spp.

Os parasitoides são insetos minúsculos, pequenas vespinhas, que parasitam os ovos e larvas/lagartas de seus hospedeiros (pragas).

Atualmente no Brasil, existem empresas que criam parasitoides para serem liberados em campo; na cultura da cana-de-açúcar por exemplo, em cerca de 3,5 milhões de hectares é liberado o parasitoide Cotesia flavipes (parasitoide de larvas) e em cerca de 2 milhões de hectares são tratados com Trichogramma galloi (parasitoide de ovos), ambos os parasitoides são utilizados para o controle da broca da cana (Diatraea saccharalis) (Parra et al., 2019).

Ainda existem os predadores tais como vespas (marimbondos), percevejos, moscas, ácaros, joaninhas e crisopídeos. Esses insetos ocorrem naturalmente nas lavouras e podem auxiliar no controle de pragas.

Qual o motivo da maior aceitação dos microbiológicos?

A maior aceitação está ligada a forma de aplicação desses produtos, que é semelhante à aplicação dos produtos químicos tradicionais.

Esses produtos ainda possuem um tempo de prateleira, podendo ser armazenados antes da utilização, o que proporciona uma boa logística nas propriedades agrícolas.

Uma curiosidade em relação aos produtos biológicos é a forma de registro do produto. Ao contrário dos produtos químicos que são registrados por praga e por cultura, os produtos biológicos, de modo geral, são registrados apenas por praga e podem ser utilizados em qualquer cultura em que aquela praga ocorra.

Onde adquirir os produtos biológicos? 

Esses produtos podem ser comprados em cooperativas e casas agropecuárias. Caso em sua região não tenha essa possibilidade, ou o comércio local não trabalhe com esse tipo de produto, uma alternativa é entrar em contato via internet com as empresas do ramo de biológicos.

Vale ressaltar que é muito importante adquirir esses produtos de empresas idôneas, e estar atento às condições de armazenamento dos mesmos.

O grupo Rehagro possui uma empresa que trabalha com biológicos, a Biomip.

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Controle biológico de pragas com bactérias e fungos entomopatogênicos

Os fungos, bactérias e vírus utilizados para realizar controle biológico são classificados como microbiológicos.

No mercado brasileiro de insumos biológicos existem diversos fungos que são comercializados para as mais diversas pragas de várias culturas.

Fungo Beauveria bassiana

Especialmente para a cafeicultura, o fungo Beauveria bassiana tem sido bastante utilizado para o controle da broca do cafeeiro, e também para o controle de cochonilhas.

Controle biológico sendo feito com fungo atacando a broca do café

A – Fungo Beauveria bassiana atacando a broca do cafeeiro. (Foto: José Nilton).

B- Fungo B. bassiana atacando cochonilha do cafeeiro. (Foto: Diego Baquião – Rehagro).

Aplicação da Beauveria

É recomendado aplicar nas horas mais frescas do dia, preferencialmente no final da tarde. Evitar aplicação em condição de temperatura acima de 27ºC ou na presença de ventos fortes (velocidade acima de 10 Km/hora), bem como com umidade relativa do ar abaixo de 70%.

Se aplicar a Beauveria em dias secos o produto perderá totalmente a eficiência, pois a falta de umidade irá causar a morte do fungo, portanto se atente a esse aspecto!

Para o controle dos nematoides que ocorrem no cafeeiro (Meloidogyne incognita, Meloidogyne paranaensis e Meloidogyne exigua), são vendidos produtos à base de bactérias (Bacillus licheniformis, Bacillus subtilis, Bacillus amyloliquefaciens) e de fungo (Paecilomyces lilacinus).

Controle biológico de pragas com parasitoides

Parasitóides são agentes de controle biológico classificados como macrobiológicos, uma outra forma de se referir aos parasitoides é inimigo natural.

Ainda não existem parasitoides registrados comercialmente para o controle do bicho mineiro ou para a broca do cafeeiro, todavia, há várias pesquisas visando o controle biológico natural desta praga.

Os parasitoides que são frequentemente encontrados nas lavouras de café parasitando o bicho mineiro são: Centistidea striata; Orgilus niger; Stiropius reticulatus, Closterocerus coffeellae, Horismenus aeneicolis, Proacrias coffeae e Cirrospilus sp. Esses insetos são pequenas vespinhas que medem cerca de 1 mm ou até menos. 

Exemplos de parasitoides que controlam o bicho mineiro no café

A – Centistidea striata, B –Orgilus niger, C –Stiropius reticulatus, D –Closterocerus coffeellae, E –Horismenus aeneicolis, F –Proacrias coffeae, G –Cirrospilus sp.

Fonte: Marques (2017). (Fotos Kulian Basil Santa Cecília Marques).

Como os parasitoides matam o bicho mineiro e a broca?

Normalmente esses parasitoides matam a larva do bicho mineiro, veja o processo no desenho ilustrativo abaixo. 

Exemplo do processo em que o parasitoide mata a larva do bicho mineiro.

Desenho representativo do parasitismo da larva do bicho mineiro (Desenho: Elenice Apª Fortes).

Os parasitoides que atacam a broca do cafeeiro são, a vespa de Uganda (Prorops nasuta) e a vespa da Costa do Marfim (Cephalonomia stephanoderis). Também são pequenas vespinhas que medem cerca de 5-6 mm. A vespa de Uganda parasita tanto a larva quanto a pupa da broca do cafeeiro.

Vespa da Costa do Marfim e Vespa da Uganda - exemplos de parasitoides

A -Vespa da Costa do Marfim Cephalonomia stephanoderis, B -Vespa da Uganda Prorops nasuta (Fonte: Portilla e Streeett, 2008).

Exemplo do processo em que o parasitoide ataca a broca do cafeeiro.

Desenho representativo do processo de parasitismo da broca do cafeeiro pela vespa da Vespa da Uganda Prorops nasuta (Desenho: Elenice Apª Fortes).

Esses parasitoides que atacam o bicho mineiro e a broca do cafeeiro ocorrem naturalmente nas lavouras cafeeiras com manejo mais sustentável, que têm cultivos intercalares diversificados, que utilizam produtos seletivos ou que tenham matas próximas. Matas e cultivos intercalares servem como abrigo para os parasitoides, e são fonte de alimento.

Outra informação importante é que os parasitoides são sensíveis a aplicação de inseticidas químicos, sendo assim, em áreas com aplicação frequente desses produtos se torna um local inadequado para a sua sobrevivência.

Tratando da temática de diversificação do cultivo de café a fim de conservar e manter os parasitoides nas lavouras, Tomazella et al. (2022) relataram que a utilização de árvores arbóreas (abacate, mogno, teca, macadâmia e cedro) em cultivos cafeeiros, proporcionou maior abundância e riqueza de parasitoides, comparado a lavoura cultivada a pleno sol (Figura 6).

Neste caso, além dos parasitoides contribuírem com a regulação do bicho mineiro, ainda é possível o produtor vender os produtos das árvores consorciadas (madeira e frutos).

Espécies que podem ser plantadas próximas à lavoura de café

Riqueza de espécies por tempo em todos os tratamentos com letras minúsculas apresentando diferença estatística segundo o teste de Scott-Knott a 5%.

Todos os parasitoides apresentados são bons agentes de controle biológico para regular a população da broca e do bicho mineiro, porém atualmente a única forma de manter as populações desses insetos nas lavouras cafeeiras é implementando medidas sustentáveis; tornando o meio propício para sua sobrevivência.

Nos últimos anos no Brasil tem crescido o mercado de liberação de parasitoides, neste caso, os insetos são criados em laboratórios e são liberados (milhares) nas lavouras por drone, como por exemplo, os parasitoides utilizados para o controle da broca da cana de açúcar.

Porém, ainda não foi desenvolvida uma técnica com bom custo/benefício para criar em laboratório os parasitoides que controlam o bicho mineiro e a broca.

Calendário agrícola do café

Controle biológico de pragas com predadores

Os predadores também são agentes de controle biológico classificados como macrobiológicos. São exemplos de predadores, os crisopídeos, vespas, moscas, percevejos, ácaros.

Em relação aos percevejos e ácaros é importante ressaltar que existem aqueles que são considerados pragas (fitófagos), pois se alimentam de plantas e os considerados predadores, que se alimentam de outros insetos.

Atualmente o predador mais estudado para a cafeicultura é o crisopídeo (Chrysoperla externa), também conhecido como bicho lixeiro. Esse inseto tem a capacidade de regular a população do bicho mineiro.

Ainda não existe registro comercial desse predador para o controle do bicho mineiro, contudo, vários produtores realizam a liberação desses insetos nas lavouras cafeeiras.

Além disso, o crisopídeo por ser um predador generalista, que se alimenta de diversos insetos e pequenos artrópodes, pode predar os ácaros e inclusive há relatos da sua atuação no controle da broca do café também, mas ainda são necessários mais estudos voltados a esse tema.

Quem se alimenta da larva do bicho mineiro é a larva do crisopídeo, o inseto adulto se alimenta de pólen e néctar, por isso, para manutenção desse inseto na área é fundamental a presença de plantas que fornecem pólen e néctar, como por exemplo: trigo mourisco na entrelinha do cafeeiro, crotalária, etc. O adulto mede cerca de 12–16 mm.

Exemplos de fotos do crisopídeo

A -Adulto do crisopídeo (Foto: Gilson Pereira -Rehagro), B -Adulto do crisopídeo (Foto:  John Schneider), C – Larva do crisopídeo (Foto: John Schneider), D – Larva do crisopídeo (Foto: Gilson Pereira -Rehagro), E – Flor do trigo mourisco para manutenção dos crisopídeos em lavouras cafeeiras (Foto: Larissa Cocato -Rehagro)

Controle biológico com ácaros predadores

Nas lavouras cafeeiras podem ser encontrados ácaros predadores, ou seja, ácaros que se alimentam dos ácaros fitófago/praga (ácaro vermelho e ácaro da mancha anular).

Esses ácaros pertencem às famílias Phytoseiidae, Tydeidae, Stigmaeidae e Cunaxidae.  Em campo, uma forma de diferenciar o ácaro predador do ácaro fitófago é pelo tamanho, o ácaro predador costuma ser maior, com pernas mais longas e se locomover mais rapidamente.

Não existe atualmente um produto comercial com ácaros predadores para o controle dos ácaros do cafeeiro.

Portanto, para a manutenção da população dos ácaros predadores nas lavouras, é importante adotar práticas sustentáveis (cultivo intercalar, preservação de fragmentos florestais adjacentes ao cafeeiro, utilizar produtos seletivos) e evitar o uso indiscriminado de acaricidas.

De acordo com Fernandes (2013) o consórcio de crotalária, braquiária e cravo com o cafeeiro, é uma importante tática para promover o controle biológico conservativo de ácaros predadores. Pois em lavouras consorciadas foi registrada maior diversidade desses inimigos naturais.

Conclusão

O controle biológico tem ganhado grande expressividade nos últimos anos e está sendo utilizado na cultura da café para o controle das principais pragas, o bicho mineiro e a broca.

Para conseguir uma cafeicultura sustentável é fundamental o emprego do manejo integrado de pragas (MIP), ou seja, utilizar em conjunto as diversas formas para regular a população de determinada praga, conciliando o manejo químico, biológico, cultural e genético.

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Larissa Cocato - Coordenadora de Ensino Café

Alice Reis - Tutora Técnica Café

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