Nos últimos anos, o aumento no custo dos fertilizantes e corretivos levantou uma dúvida recorrente entre técnicos e produtores: ainda vale a pena investir na intensificação das pastagens?
Com preços elevados de ureia, fosfatos e potássio, muitos pecuaristas adiaram planos de adubação, temendo perder rentabilidade. No entanto, uma análise técnica e econômica mostra que, mesmo em cenários desafiadores, a correção e adubação bem planejadas continuam sendo ferramentas viáveis e lucrativas, desde que aplicadas com estratégia, base agronômica e gestão eficiente.
Por que falar em intensificação das pastagens?
A intensificação das pastagens é o processo de aumentar a produtividade da área por meio da melhoria do solo, da adubação equilibrada e do manejo de pasto e lotação. O objetivo é produzir mais arrobas por hectare, reduzir o tempo de abate e aumentar a eficiência do sistema.
No entanto, intensificar não é sinônimo de simplesmente “adubar mais”. É uma decisão técnica que precisa levar em conta fatores como:
- Potencial produtivo do solo e clima;
- Espécie forrageira utilizada;
- Capacidade de suporte desejada;
- Estrutura física e operacional da fazenda;
- Situação econômica e fluxo de caixa.
A viabilidade depende de um planejamento detalhado, com diagnóstico de solo, definição de metas realistas e simulações de custo-benefício.
O ponto de partida: diagnóstico e planejamento
Antes de pensar em adubação, é preciso garantir que as etapas anteriores da intensificação estejam consolidadas. Entre elas:
- Correção da fertilidade do solo: O primeiro passo é conhecer a realidade química e física do solo. Amostragens bem-feitas, em profundidades adequadas, orientam a aplicação correta de calcário e gesso.
- Adequação da infraestrutura: Estradas, cochos, bebedouros e piquetes precisam estar dimensionados para suportar o aumento da lotação.
- Manejo de plantas invasoras e pragas: Ervas daninhas e insetos competem com a forragem e reduzem o retorno do investimento.
- Treinamento da equipe: É essencial que o manejo de pasto e suplementação sejam executados com precisão.
Somente após essa base bem estruturada, é possível partir para a correção e adubação do solo com foco produtivo.
Correção e adubação: o coração da intensificação
De acordo com estudos apresentados pelo professor e especialista Adilson Aguiar, a intensificação das pastagens passa por uma sequência lógica:
- Coleta e análise de solo detalhada;
- Interpretação técnica das análises (com base nas metas produtivas da fazenda);
- Definição das doses e fontes de calcário, fósforo, potássio, nitrogênio e micronutrientes;
- Avaliação de custo e viabilidade em diferentes níveis de lotação.
O professor reforça que o balanço entre adubação e capacidade de suporte é determinante para o sucesso. Um erro comum é elevar o investimento em fertilizantes sem planejar o aumento gradual da lotação ou o manejo adequado das áreas.
Estudo de caso: quando o aumento de lotação vale a pena
Para ilustrar, vamos analisar um caso real apresentado pelo professor Adilson Aguiar, especialista em manejo e adubação de pastagens.
Neste estudo, uma fazenda no Mato Grosso do Sul intensificou suas pastagens com base na análise de solo e no potencial climático da região (média de 1.800 mm/ano de chuva e temperatura média de 24 °C).
Foram simulados quatro cenários de lotação: 3, 4, 6 e 8 unidades animais por hectare (UA/ha), considerando diferentes níveis de investimento em correção e adubação.

Os resultados mostram que nem sempre a maior lotação é a mais lucrativa. Embora 8 UA/ha gere maior produtividade, o custo operacional e o risco climático aumentam.
O melhor ponto de equilíbrio, nesse caso, foi trabalhar entre 4 e 6 UA/ha, que proporcionou o melhor retorno por hectare e a maior rentabilidade do sistema.
Quer ver os cálculos e simulações completas?
Assista ao vídeo completo do professor Adilson Aguiar e entenda, na prática, como planejar a intensificação das pastagens de forma técnica e lucrativa.
Comparando solos: investir onde dá mais retorno
Outra lição importante é que nem toda área da fazenda deve ser intensificada ao mesmo tempo.
Em uma propriedade analisada na Bahia, o solo foi dividido entre áreas de maior e menor fertilidade.

Mesmo com o mesmo nível de intensificação, o solo de melhor fertilidade apresentou redução de quase 30% no custo por arroba produzida. Ou seja, em cenários de insumos caros, o ideal é priorizar as áreas mais férteis, onde o retorno econômico é mais rápido.
Fontes alternativas e manejo inteligente
A alta nos preços dos fertilizantes também tem estimulado o uso de fontes orgânicas e resíduos agroindustriais, como cama de frango*, composto orgânico e esterco bovino curtido.
* O principal cuidado com a cama de frango é não permitir o acesso do gado à área tratada por 30 a 40 dias após a aplicação. Isso é fundamental para que a cama se degrade e evita que os animais consumam o material, o que pode causar intoxicação.
Comparando as alternativas, o uso de adubos orgânicos pode reduzir o custo de adubação em até R$ 1.500/ha, dependendo da região e da disponibilidade local.
Além disso, algumas estratégias ajudam a reduzir custos e perdas:
- Substituir parcialmente o sulfato de amônio por superfosfato simples, aproveitando o enxofre da formulação;
- Utilizar ureia com inibidor de urease em locais quentes, reduzindo perdas por volatilização;
- Planejar o parcelamento do nitrogênio conforme o crescimento da forragem;
- Reaproveitar resíduos do confinamento, quando disponíveis, para enriquecer o solo.
Pastagens irrigadas: alto investimento, alta eficiência
Mesmo com o custo elevado da irrigação, o professor demonstra que sistemas irrigados podem ser altamente lucrativos quando bem manejados.
Em um pivô de 57 hectares em Goiás, a lotação média anual foi de 3,6 cabeças/ha, com ganho médio diário de 550 g. O custo total de produção, incluindo energia e depreciação do equipamento, ficou em R$ 264 por arroba produzida, e o lucro médio anual superou R$ 4.000 por hectare.
A irrigação, nesse caso, foi viável porque havia boa infraestrutura, manejo técnico e controle rigoroso de custos.
Quando intensificar (e quando esperar)
A decisão de intensificar deve ser baseada em critérios técnicos e econômicos. De forma geral, vale a pena investir quando:
- O solo já está corrigido e com boa estrutura física;
- Há planejamento forrageiro e controle da lotação;
- A fazenda possui caixa e gestão eficiente para absorver o investimento;
- Há acompanhamento técnico e uso de indicadores zootécnicos e econômicos.
Em contrapartida, é melhor adiar a intensificação quando o sistema ainda apresenta:
- Solos muito degradados;
- Falhas graves de manejo de pastagem;
- Estrutura precária de bebedouros e cochos;
- Falta de controle de custos e produtividade.
Conclusão
Mesmo com o aumento dos preços dos fertilizantes, a intensificação de pastagens continua sendo uma das formas mais seguras de aumentar a produtividade e o lucro por hectare.
O segredo está em planejar, calcular e monitorar. A intensificação não é um custo, mas um investimento que se paga com eficiência, manejo correto e acompanhamento técnico.
Em um mercado cada vez mais competitivo, dominar a fertilidade do solo e o manejo das pastagens é o que diferencia o técnico que apenas executa daquele que transforma resultados no campo.
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