A pecuária de corte é uma das atividades mais estratégicas do agronegócio brasileiro. O país ocupa lugar de destaque como um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina do mundo. No entanto, por trás dos números que consolidam essa posição, existe uma variável cada vez mais determinante e ao mesmo tempo, muitas vezes negligenciada: o clima.
A influência do clima na pecuária de corte deixou de ser um tema de interesse apenas de pesquisadores ou meteorologistas. Ela passou a fazer parte do dia a dia do pecuarista, do técnico de campo e até dos investidores do setor.
As oscilações de temperatura, os eventos climáticos extremos e as mudanças nos padrões de chuvas afetam diretamente a produtividade, o bem-estar animal, a qualidade e sazonalidade do pasto, os custos de produção e, claro, a rentabilidade da fazenda.
Portanto, falar sobre a influência do clima na pecuária de corte é mais do que uma preocupação ambiental, é uma estratégia de gestão e de sobrevivência do negócio.
Neste artigo, vamos analisar como o clima afeta a produção de carne bovina, quais os principais riscos para a atividade, mas também mostrar soluções práticas, estratégias de adaptação e como transformar um possível desafio em oportunidade.
Como o clima afeta a pecuária de corte?
Variações climáticas e seus efeitos sobre o gado
As mudanças de temperatura e umidade relativa do ar impactam diretamente a fisiologia dos bovinos. Como animais homeotérmicos, os bovinos têm capacidade limitada de dissipar calor.
Quando as temperaturas ambientais ultrapassam a zona de conforto térmico, geralmente entre 10 °C e 27 °C para bovinos de corte, os animais entram em estresse térmico, uma condição que afeta negativamente a saúde, o comportamento e o desempenho produtivo.
As principais variações climáticas com impacto direto são:
- Altas temperaturas constantes (especialmente acima de 30 °C);
- Amplitude térmica elevada entre o dia e a noite;
- Baixa umidade relativa ou secas prolongadas;
- Chuvas intensas em curtos períodos, que afetam logística e manejo do pasto.
Esses fatores alteram rotinas diárias, reduzem a ingestão de alimento e, em muitos casos, exigem mudanças no calendário de manejo da propriedade.
Estresse térmico: principais consequências no desempenho animal
O estresse térmico é uma das maiores ameaças silenciosas à rentabilidade da pecuária de corte. Quando submetido a calor extremo por longos períodos, o animal tende a diminuir sua ingestão alimentar para reduzir a produção de calor metabólico, o que leva, naturalmente, à redução no ganho de peso diário.
Entre os principais efeitos do estresse térmico no gado de corte, destacam-se:
Além da temperatura, outros fatores ambientais também devem ser levados em consideração:
- Umidade relativa do ar elevada impede a dissipação do calor por sudorese e respiração, agravando o estresse térmico.
- Radiação solar direta sem sombreamento adequado pode elevar a temperatura da pele do animal para além dos 40 °C.
- Velocidade do vento e ventilação natural são essenciais para reduzir a sensação térmica real, principalmente em confinamentos e piquetes com sombra limitada.
Principais desafios para os produtores
A influência do clima na pecuária de corte se manifesta de forma ampla e, muitas vezes, cumulativa.
O pecuarista sente os impactos diretamente na produtividade e nos custos, mas também de maneira indireta, como na degradação de pastagens ou na alteração de ciclos reprodutivos. Abaixo, destacamos os principais desafios enfrentados dentro da porteira:
Perdas econômicas relacionadas ao clima
Um dos maiores problemas enfrentados pela pecuária em períodos climáticos adversos é o aumento do custo de produção combinado com a queda de produtividade.
Quando o animal consome menos, engorda menos, e o tempo de terminação se alonga, isso significa mais dias no pasto ou no cocho, menor diluição do custo do suplemento, água, medicamentos e manejo.
Além disso, a queda no índice de prenhez, comum em períodos de estresse térmico, reduz a taxa de reposição e compromete o planejamento de venda futura.
Aumento de doenças e mortalidade em cenários extremos
O estresse térmico e nutricional não apenas afetam o desempenho, como também baixam a imunidade dos animais. Isso abre espaço para a ocorrência de doenças metabólicas, respiratórias e até digestivas.
Além disso, em anos de calor extremo, o risco de mortalidade de animais mais jovens, debilitados ou em fase de terminação aumenta significativamente, principalmente se não houver áreas sombreadas, acesso constante à água e suporte nutricional adequado.
Outro fator crítico é a proliferação de parasitas (como carrapatos e moscas) em condições de calor e umidade, o que exige maior controle sanitário e uso de produtos veterinários.
Mudanças na qualidade do pasto e disponibilidade de água
O pasto é a base do sistema de produção de corte no Brasil e é também uma das primeiras vítimas dos desequilíbrios climáticos.
Períodos de estiagem prolongada reduzem drasticamente o crescimento das forrageiras, forçando o pecuarista a investir em suplementação emergencial ou até mesmo no uso de silagem antecipada. Já em anos de chuvas intensas, o pasto pode ser danificado pelo pisoteio, compactação do solo e proliferação de fungos.
Além disso, há o problema da disponibilidade e qualidade da água. Rios, córregos e açudes tendem a secar ou ter qualidade comprometida em momentos críticos, afetando o consumo hídrico dos animais e o funcionamento de bebedouros e sistemas hidráulicos da fazenda.
Soluções aplicáveis dentro da fazenda
Até aqui vimos como o clima impacta negativamente, agora é hora de falar do que realmente pode ser feito dentro da porteira, com ações de curto, médio e longo prazo.
Essa seção é voltada para soluções práticas, reais e adotáveis, com foco em gestão, manejo e tecnologia.
Ferramentas tecnológicas para previsão e monitoramento climático
A tecnologia é uma aliada valiosa para antecipar eventos climáticos e tomar decisões mais seguras. Hoje, diversas plataformas digitais e apps agroclimáticos permitem o monitoramento de variáveis em tempo real, com previsões específicas para cada região.
Principais recursos disponíveis:
- Estação meteorológica na propriedade (pluviômetro, sensores de temperatura e umidade);
- Aplicativos e portais agroclimáticos como Climatempo Agro, Agritempo, Agrosmart e Agritempo (INMET);
- Integração com sistemas de gestão da fazenda, que ajustam calendários de manejo com base nas previsões.
O uso dessas tecnologias permite, por exemplo, antecipar a compra de insumos, ajustar o período da estação de monta e programar a suplementação de forma preventiva.
Adoção de sistemas silvipastoris e ILPF
Uma das estratégias mais eficazes para mitigar os efeitos do clima na pecuária de corte é adotar modelos produtivos mais resilientes e sustentáveis, como:
- Sistemas silvipastoris: Integração entre pasto e árvores;
- ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta: Diversificação do uso do solo com ganhos em produtividade e conservação ambiental.
Esses sistemas oferecem sombreamento natural, melhora na fertilidade do solo, maior retenção de umidade e ainda promovem sequestro de carbono, colaborando com práticas sustentáveis.
Planejamento forrageiro e uso eficiente da água
Um erro comum em fazendas é tratar o pasto de forma estática, como se a oferta fosse sempre estável. No entanto, com a variabilidade climática, é essencial ter um planejamento forrageiro dinâmico, que leve em conta:
- Crescimento sazonal das forrageiras;
- Capacidade de suporte em cada época do ano;
- Estabelecimento de áreas de reserva (piquetes ou silagem).
Além disso, o uso eficiente da água é crítico. Isso envolve:
- Instalação de bebedouros bem distribuídos;
- Monitoramento da qualidade da água;
- Reutilização e armazenamento de água da chuva, quando possível.
Rotação de pastagens em sincronia com a sazonalidade
A rotação de pastagens, quando bem planejada, aumenta a longevidade do pasto e reduz impactos climáticos.
Boas práticas incluem:
- Divisão em piquetes com tempo de descanso adequado;
- Uso de forrageiras adaptadas a cada microclima;
- Estratégias de diferimento (pasto de inverno ou verão reservado) para períodos críticos.
Essa prática ajuda a manter o equilíbrio entre oferta e demanda de forragem, reduz a sobrecarga do solo e mantém a condição corporal dos animais mesmo em momentos de escassez.
Conclusão
Ignorar a influência do clima na pecuária de corte já não é mais uma opção viável. As variações e extremos climáticos estão se tornando mais frequentes, mais intensos e mais caros.
Como vimos, seus impactos vão desde a queda no ganho de peso até perdas reprodutivas e nutricionais, que comprometem toda a sustentabilidade do sistema produtivo.
Neste cenário, o clima precisa ser tratado como um fator de produção, tão importante quanto o solo, a genética ou a nutrição. E mais: ele deve estar no centro da tomada de decisões dentro da propriedade.
Ao transformar o modo como sua fazenda lida com o clima, você deixa de ser refém das intempéries e se torna protagonista da própria produção. O clima não é um obstáculo, é um fator de produção que, quando bem gerenciado, pode se tornar uma vantagem competitiva para sua fazenda. Isso é gestão moderna, é pecuária de alta performance, e, acima de tudo, é visão de futuro.
A próxima decisão climática da sua fazenda começa agora.
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