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Os antimicrobianos são compostos químicos capazes de matar ou inibir o crescimento de microrganismos. O primeiro relato do uso de antimicrobianos na medicina veterinária foi para o tratamento de mastite em vacas leiteiras.
A mastite é considerada a principal doença que afeta os rebanhos leiteiros no mundo, proporcionando as maiores perdas econômicas na pecuária de leite. Além disso, a mastite clínica foi reconhecida como a razão mais frequente para o uso de antibióticos em gado leiteiro, sendo responsável por até 62% do uso total de antimicrobianos.
Essas drogas podem ser usadas de formas diferentes. O uso de antimicrobianos para o tratamento de casos já existentes de mastite, por exemplo, é considerado como uso terapêutico. Em casos específicos, essas drogas podem ser usadas para mais de uma finalidade, como no caso da terapia de vacas secas, cujo objetivo é curar infecções intramamárias existentes (terapêutico) e prevenir novas infecções (profilático).
O uso irracional de antimicrobianos tende a influenciar a geração ou seleção de patógenos resistentes, sendo que a resistência bacteriana atualmente é uma das maiores preocupações globais. Diante deste cenário e da crescente pressão do mercado consumidor, medidas devem ser adotadas a fim do uso racional dos antimicrobianos.
Impactos econômicos gerados pela mastite na pecuária leiteira
A mastite bovina consiste na inflamação da glândula mamária, causada uma grande variedade de agentes, incluindo bactérias, leveduras, fungos e algas. Os impactos negativos desta doença são vistos principalmente na produção de leite, reduzindo o volume de leite produzido e aumentando o custo de produção devido ao uso de medicamentos, como antibióticos e antinflamatórios, para prevenção e tratamento.
Além disso, é comum os prejuízos relacionados com descarte de leite, descarte precoce de animais e morte, por exemplo, não serem computados no real impacto econômico gerado pela mastite. A falta de orientação técnica e a carência de profissional qualificado são as principais causas desta falha de gestão.
Os prejuízos com descarte de leite por alteração e/ou presença de resíduos após tratamento, bem como os gastos com a compra de medicamentos somam 16% dos custos totais relacionados à mastite. Estudos mostram que os custos da mastite nos Estados Unidos para prevenção e tratamento somaram aproximadamente US$185/vaca/ano. Recentemente, estimou-se as perdas financeiras para mastite clínica durante os primeiros 30 dias de lactação
em US$444 por caso, contabilizando diagnósticos, custos com antimicrobianos, leite não comercializável, custos veterinários, redução na produção de leite e perdas reprodutivas, além dos custos com reposição.
Cultura microbiológica na fazenda
O uso consciente de antimicrobianos para o controle da mastite requer a participação de todas as partes envolvidas na atividade, incluindo proprietários, colaboradores e médicos veterinários. Pensando nisso, conduzir os tratamentos dos casos de mastite baseando-se na cultura microbiológica do leite possui a capacidade de reduzir o uso de antimicrobianos, levando a menores riscos de resíduos, custos de tratamento e descarte de leite.
Por meio da cultura microbiológica é possível avaliar qual agente está causando a mastite e, dessa forma, atuar de forma rápida e precisa sobre qual antibiótico usar para cada caso e até mesmo decidir pelo não tratamento, dependendo do agente etiológico.
Alguns estudos relatam que entre 30 – 50% das culturas de mastite clínica não apresentam crescimento de bactérias, não justificando assim o tratamento com antimicrobianos. Além disso, grande proporção das infecções causadas por patógenos gram negativos são rapidamente eliminadas pelo próprio sistema imunológico da vaca.
Terapia seletiva de vacas secas
A terapia de vaca seca é um método bastante utilizado pelos produtores de leite durante a secagem das vacas para o tratamento de infecções intramamárias existentes e prevenção de novos casos de mastite. Neste método, utiliza-se bisnagas de antimicrobiano de amplo espectro em cada quarto mamário, geralmente associado à posterior aplicação de selante de teto.
Nos últimos tempos, a terapia seletiva de vaca seca tem ganhado forças como uma alternativa que visa a redução do uso de antimicrobianos, promovendo a avaliação da necessidade de tratamento durante a secagem de cada vaca em específico. Os principais critérios considerados na terapia seletiva de vaca seca são o histórico da contagem de células somáticas (CCS) e mastite clínica durante a lactação e o resultado da cultura microbiológica durante a secagem. Atualmente, poucos rebanhos conseguem preencher estes critérios e implementar este tipo de terapia, o que faz com que poucos produtores a adotem.
No Brasil, estima-se que a média de CCS seja de aproximadamente 550 mil células/mL e que 45% das vacas apresentam mastite subclínica no momento da secagem. Portanto, nesta realidade, o uso de antimicrobianos configura uma prática indispensável dentro de um conceito de controle de mastite.
Considerações
Frente a realidade de resistência bacteriana aos antibióticos em uso e da pressão atual do mercador consumidor, a racionalização do uso destes produtos torna-se uma questão eminente na pecuária leiteira. Dentre os eventos que mais utilizam antibiótico na atividade, a mastite é um dos principais. Alternativas como cultura microbiológica do leite e terapia seletiva de vacas secas auxiliam no tratamento direcionado dos casos e uso consciente dos antimicrobianos. Analisar de forma segura e detalhada cada situação permite que a melhor decisão seja tomada, podendo reduzir o uso dos antibióticos e os custos com tratamento por animal na propriedade.
Referências
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