Ao analisar a epidemiologia das doenças, pode-se notar que a tristeza parasitária bovina (TPB) é uma enfermidade de destaque, principalmente quando se considera a fase de recria. A doença é característica em territórios de clima tropical, manifestando uma elevada incidência no Brasil, principalmente no Brasil Central e na região Sudeste.
A morbidade tende a se comportar com números expressivos, enquanto a mortalidade é variável entre as fazendas. Os impactos ocasionados pela TPB são extensos, indo desde a queda dos índices zootécnicos, como redução do ganho de peso e aumento da idade ao primeiro parto. Além disso, aumentando gastos com medicamentos/tratamentos e até mesmo o óbito dos animais acometidos.
Visando reduzir os impactos da doença torna-se necessário a adoção de estratégias de monitoramento dos animais, buscando identificar de forma precoce aqueles que necessitam de tratamento.
A tristeza parasitária bovina trata-se de um complexo de doenças causado pela associação de dois agentes intraeritrocitários representados pela bactéria do gênero Anaplasma (espécie mais comum: marginale) e pelo protozoário do gênero Babesia (espécies mais comuns: bovis e bigemina).
Como possíveis formas de transmissão da doença, a literatura relata as formas:
- Biológica – através do carrapato;
- Mecânica – moscas hematófagas e fômites;
- Vertical – quando a vaca é cronicamente infectada e ou infectada durante a gestação.
Neste texto, discutiremos a patogenia do complexo da tristeza parasitária bovina.
Formas de monitoramento da TPB: temperatura retal
A infecção intracelular dos agentes etiológicos da TPB ocasiona o desenvolvimento de episódios febris, um dos sinais clássicos da doença. Valores de temperatura retal iguais ou superiores a 39,3°C são indicativos de hipertermia e alertam para um possível processo infeccioso ocorrente no organismo do animal.
Sendo assim, o ideal é que seja estabelecida uma rotina de monitoramento da temperatura retal dos animais.
Devido à maior ocorrência de tristeza parasitária bovina na fase de recria, recomenda-se que os animais jovens do rebanho tenham a temperatura retal aferida a cada dois dias, por exemplo, principalmente os animais que estão na fase pós-desaleitamento.
Já no rebanho adulto, o orientado é que a temperatura retal seja verificada sempre que os animais apresentarem algum distúrbio no comportamento que seja compatível com a doença.
Independente da fase de criação, a mensuração da temperatura retal sempre deve ser associada aos achados de exame clínico. Nesse manejo de monitoramento, sugere-se que a temperatura retal dos animais seja aferida nas primeiras horas pela manhã (amenas), evitando interferência da temperatura do ambiente no resultado do exame.
Além disso, aconselha-se a adoção de uma planilha por parte da propriedade para que sejam feitas as anotações dos valores de temperatura retal dos animais. A elaboração de um histórico de temperatura torna-se essencial para entender o comportamento da doença no rebanho.
Fonte: Rafael Ferraz, Equipe Rehagro
O acompanhamento da temperatura retal permite a triagem dos animais passíveis de apresentarem a doença, possibilitando o tratamento em momento mais adequado da enfermidade e auxiliando na redução do número de casos graves e da mortalidade.
Entretanto, o monitoramento da tristeza parasitária bovina somente através da temperatura retal não é indicado, visto que a elevação da temperatura corporal não é específica para tristeza e outras doenças podem ser responsáveis pelo pico febril.
Desse modo, o monitoramento somente pela temperatura retal possibilita a realização de muitos tratamentos desnecessários, além da não investigação/detecção de outras enfermidades. Por isso, o ideal é a associação da aferição da temperatura a outros métodos para diagnóstico.
Monitoramento clínico
O monitoramento clínico da tristeza parasitária bovina consiste na observação dos sinais da doença, que envolvem principalmente:
- Febre (temperatura retal igual ou superior a 39,3°C);
- Letargia;
- Apatia;
- Alteração na coloração das mucosas (ictéricas, pálidas e/ou com presença de petéquias);
- Corrimento lacrimal;
- Perda de apetite.
Essa forma de monitoramento se caracteriza por ser de rápida execução e não demandar investimentos em equipamentos específicos. Entretanto, torna-se necessário a presença de uma pessoa treinada a fim de identificar os animais que estejam com alteração no comportamento.
A principal desvantagem de acompanhar a TPB somente pelo monitoramento clínico é que o momento onde o diagnóstico clínico se torna viável é o momento de menor volume globular dos animais, ou seja, a doença já causou danos extensos, prejudicando o prognóstico do animal.
Bezerro com TPB apresentando sinais de apatia, desidratação, perda de apetite e caquexia. Fonte: Bruno Guimarães, Equipe Rehagro
Mucosas ocular e gengival anêmicas. Fonte: Markus Vinicius, estagiário Equipe Rehagro
Esfregaço sanguíneo e hematócrito
Atualmente o exame de esfregaço sanguíneo consiste no método mais assertivo para o diagnóstico da TPB. A associação da aferição da temperatura retal e do monitoramento clínico com exame do esfregaço sanguíneo possibilita a identificação precoce dos animais infectados.
O ideal é que a aferição da temperatura retal seja adotada como exame de triagem dos animais, e, sendo assim, aqueles que apresentarem hipertermia (> 39,3°C) devem ser submetidos ao exame de esfregaço sanguíneo. A vantagem do esfregaço sanguíneo está na capacidade de diagnosticar a doença logo no seu início, direcionando o tratamento para o agente específico que está causando a doença.
Devido ao fato de a tristeza parasitária bovina ser caracterizada por quadros de anemia ocasionada pelos agentes etiológicos, o acompanhamento do hematócrito (Ht) – ou volume globular (VG) – dos animais permite conhecer o grau da anemia instaurada.
Diferente do esfregaço sanguíneo que é capaz de identificar a TPB logo no início, o exame de hematócrito geralmente indicará a gravidade do quadro algum tempo após a infecção, visto a necessidade dos agentes se instalarem primeiramente no organismo e só assim iniciarem a destruição dos glóbulos vermelhos ocasionando anemia.
A realização do exame de hematócrito consiste em um parâmetro extremamente importante para definição dos animais que necessitam repor o déficit de sangue através da transfusão sanguínea.
Um dos pontos que dificulta a adoção dos exames de esfregaço sanguíneo e hematócrito como formas de monitoramento da TPB nas propriedades é a necessidade de aquisição de equipamentos específicos, além da presença de mão de obra capacitada. Entretanto, ambos os exames representam as formas mais confiáveis para o diagnóstico e a condução dos casos clínicos da doença.
Microscopia óptica de esfregaço sanguíneo com presença dos agentes da TPB. Fonte: Thallyson Thalles, estagiário Equipe Rehagro
Centrífuga para hematócrito e leitura de hematócrito. Fonte: Bruno Guimarães e Markus Vinicius, Equipe Rehagro
Monitoramento e cuidados
A forma de monitoramento da tristeza parasitária bovina varia conforme o nível da propriedade. O importante é que o rebanho seja acompanhado frequentemente para a doença, independentemente do método de monitoramento utilizado, evitando ao máximo a ocorrência de casos avançados que aumentam os riscos de óbito do animal.
O diagnóstico precoce contribui substancialmente para o sucesso do tratamento, além de reduzir a taxa de mortalidade do rebanho.
Durante as fases críticas de criação, como a recria, o monitoramento e os cuidados devem ser redobrados a fim de garantirem a saúde do rebanho, maximizarem o bem-estar e a produtividade animal.
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