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Exemplo de planta daninha na cultura do café

Plantas daninhas de difícil controle na cultura do café: veja as principais

Plantas daninhas são quaisquer seres vegetais que crescem onde não são desejadas. Nesse sentido, essas plantas podem competir por recursos básicos ao desenvolvimento da cultura, como água, luz, nutrientes e o espaço para o crescimento.

Indiretamente, elas também podem prejudicar as plantas cultivadas, por meio da exsudação de substâncias alopáticas (tóxicas) ou por serem hospedeiras de pragas e doenças.

Tipos de plantas daninhas no cafeeiro

Na cultura do café é comum encontrar as plantas daninhas:

  • Caruru (Amaranthus spp);
  • Buva (Conyza spp);
  • Picão preto (Bidens pilosa);
  • Capim-marmelada (Urochloa plantaginea);
  • Trapoeraba (Commelina benghalensis);
  • Tiririca (Cyperus rotundus);
  • Guanxuma (Sida spp.);
  • Poaia branca (Richardia brasiliensis);
  • Capim-amargoso (Digitaria insularis);
  • Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
  • Corda de viola (Ipomoea spp);
  • Erva quente (Spermacoce latifolia);
  • Capim-de-burro (Cynodon dactylon);
  • Maria pretinha (Solanum americanum).

Recentemente um sério problema que é agravante no manejo de plantas daninhas, são as plantas daninhas resistentes aos principais herbicidas utilizados.

Nesse sentido, das plantas anteriormente citadas, o capim amargoso e buva se destacam com resistência pronunciada a diversos herbicidas utilizados na cafeicultura, dificultando assim seu manejo. Aliado a isto, as espécies do gênero Ipomoea e a espécie Commelina benghalensis possuem grande tolerância ao herbicida glifosato, um dos herbicidas mais utilizados na cafeicultura.

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Plantas daninhas de difícil controle

Capim-amargoso (Digitaria insularis)

Plantas daninhas capim-amargoso

Capim-amargoso (Digitaria insularis) na entrelinha do cafeeiro. (Foto: Diego Baquião).

O capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma planta daninha perene pertencente à família Poaceae, com altura em torno de 50 a 100 cm, formando pequenas touceiras.

Sua reprodução se dá através de curtos rizomas e sementes (Lorenzi, 2014), sendo difícil seu controle após a floração, pelo fato dos principais herbicidas que possuem ação sobre esta planta são herbicidas que agem no meristema apical da planta.

Essa espécie apresenta grande potencial de infestação, por apresentar pequenas sementes pilosas, que podem ser carregadas facilmente pelo vento a longas distâncias.

Manejo do Capim Amargoso

Capim-amargoso

Capim Amargoso em Lavora de Café (Foto: Diego Baquião)

Os herbicidas que possuem ação nesta espécie daninha, são os inibidores de Acetil Coenzima A Carboxilase (ACCAse). Estes herbicidas são seletivos para o cafeeiro, visto que a planta de café não possui esta enzima. Dentre os herbicidas deste grupo podemos citar:

  • Fluasifope-P-butílico: Fusilade 250 EW®
  • Haloxifope-P-Metílico: Gallant Max®, Gallant R®, Verdict Max®, Verdict R®
  • Cletodim: Cletodim Nortox®, Podium S®, Poquer®, Select 240 EC®, Select One Pack®
  • Haloxifope-P-Metílico + Cletodim: Kennox®
  • Uso de óleo é desejável para melhoria do controle

Esta enzima, ACCAse, é uma enzima presente no meristema de crescimento da planta, portanto o estádio de desenvolvimento da planta é chave para o sucesso no controle, assim, devemos ter as seguintes ações:

  1. Plantas de Capim Amargoso antes do florescimento:

Aplicação de Glifosato + Inibidor de ACCAse + Óleo

  1. Plantas de Capim Amargoso já florescidas:

Capina mecânica via roçadeira ou trincha com aplicação de Glifosato + Inibidor de ACCAse + Óleo quando as plantas de Amargoso iniciarem a rebrota com boa área foliar para absorção do produto.

Buva no cafeeiro (Conyza spp)

Planta daninha buva no cafeeiro

Buva (Conyza spp) (Foto: Larissa Cocato)

A buva ou voadeira (Conyza spp) é uma planta anual, com alta produção de sementes, podendo produzir até 200.000 sementes por planta. Em virtude da sua resistência ao glifosato, seu controle no cafeeiro ficou mais difícil. Por isso, o controle dessa planta deve ser feito, quando ainda nova.

Manejo da buva

Plantas daninhas da espécie buva

Ocorrência de Buva (Conyza spp) no cafeeiro. (Foto: Larissa Cocato).

No controle químico, pode-se utilizar inseticidas inibidores da Protox, que atuam inibindo a atuação da enzima protoporfirinogênio oxidade, como é o caso dos ingredientes ativos: Oxyfluorfen, Flumioxazin e Saflufenacil. 

Também pode se utilizar herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), como, por exemplo, o Metsulfuron. Vale destacar que esse herbicida é sistêmico e pode acarretar problemas no desenvolvimento radicular se atingir o cafeeiro. 

A aplicação sequencial é uma opção dependendo do nível de infestação de buva no cafeeiro, para o controle químico ser eficiente as plantas devem estar menores que 25 cm, conforme o tamanho da planta vai aumentando a eficiência no controle vai diminuindo.

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)

Planta daninha capim-pé-de-galinha

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) (Foto: Flávio Moraes)

O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) é um monocotiledonia da família Poaceae (Gramineae), anual, com aproximadamente 30 a 50 cm de altura, formando densas touceiras (Lorenzi, 2014). Sua reprodução é via sementes, com produção média de 40 mil sementes por planta.

Manejo do Capim-pé-de-galinha

Planta daninha capim-pé-de-galinha

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica). (Foto: Flávio Moraes).

Para o manejo do Capim-pé-de-galinha, deve-se realizar a triações em plantas jovens na entressafra e capina química no preparo da colheita.

Como em alguns casos, essa planta daninha adquiriu resistência ao glifosato, pode-se optar pela utilização de inibidores da ACCase, como fluazifop ou haloxyfop, em pós-emergência, que proporcionam bom controle do capim-pé-de-galinha.

Além disso, pode ser utilizado o flumioxazin (inibidores da PROTOX). No entanto, em outros casos, o glifosato sequencial tem resolvido. Salienta-se a importância de se rotacionar mecanismos de ação.

Manejo da braquiária na entrelinha do cafeeiro

Braquiária na entrelinha do cafeeiro

Manejo cafeeiro com braquiária na entrelinha (Foto: Luiz Paulo Vilela.)

A utilização da braquiária como cobertura do solo na entrelinha do cafeeiro, é uma opção de manejo, com o intuito de suprimir o aparecimento de plantas daninhas.

Nesse sentido, este manejo protege o solo, reduzindo assim o risco de erosão, acarreta aumento do teor de matéria orgânica no solo, reduz a amplitude térmica no solo e também reduz a utilização de herbicidas na entrelinha do cafeeiro.

Ou seja, o controle químico será realizado apenas na linha de plantio (projeção da “saia” do cafeeiro), e a braquiária na entrelinha do cafeeiro será manejado por meio de roçadas.

Para a condução dessa gramínea na área, recomenda-se que se realize a roçada antes do seu florescimento, para não ocorrer a germinação de sementes próximas ao cafeeiro.

Além disso, é importante que essas plantas sejam manejadas respeitando a distância de 1 metro de cada lado da linha do cafeeiro (Souza et al., 2006), a fim de que essas plantas não exerçam competição com o cafeeiro, podendo acarretar prejuízos.

Como fazer o manejo preventivo de plantas daninhas?

O manejo preventivo de plantas daninhas consiste no uso de práticas que visam evitar a introdução, estabelecimento e/ou a disseminação de determinadas espécies em áreas ainda não infestadas por elas.

Neste sentido, práticas como a limpeza de máquinas e implementos que serão utilizados na área, são medidas essenciais para evitar a disseminação das mesmas.

Controle cultural

O controle cultural consiste no uso de práticas que favoreçam o desenvolvimento da cultura em detrimento da planta daninha.

Como exemplo, tem-se a utilização do capim braquiária na entrelinha do cafeeiro, visto que, além de suprimir o crescimento de outras plantas daninhas na rua do cafeeiro, também reduzem o risco de erosão do solo, aumentam o teor de matéria orgânica do mesmo, reduzem a amplitude térmica do solo, e, em lavouras novas podem ser utilizados como quebra ventos.

As espécies de capim braquiária mais indicadas para o plantio em consórcio nas entrelinhas do cafeeiro são: Urochloa decumbens e Urochloa ruziziensis. A espécie Urochloa brizantha (braquiarão) não é muito indicada devido seu crescimento entouceirado não cobrir totalmente o terreno e dificultar o manejo de varrição.

Esse manejo com o capim braquiária, acarreta em redução do uso de herbicidas, isso porque o controle químico será realizado apenas na linha de plantio (projeção da “saia” do cafeeiro), e o capim braquiária na entrelinha do cafeeiro será manejo por meio de roçadas (controle mecânico).

Preconiza-se a roçada antecedendo o florescimento desta gramínea, visando a manutenção do banco de sementes do solo e também para que não ocorra a germinação de sementes próximas ao cafeeiro.

Controle mecânico

O controle mecânico consiste no uso de práticas de eliminação de plantas por meio do efeito mecânico.

Como exemplo, tem-se a capina manual, as roçadas, sejam elas manuais ou mecanizadas. Aliado a isto, tem-se como forma mecânica de se manejar plantas daninhas o uso de grades e arados.

Controle físico

O controle físico de plantas daninhas em cafeeiros consiste no uso de técnicas que impliquem no impedimento físico ao crescimento/germinação das plantas daninhas.

Práticas como a utilização de restos vegetais ou coberturas não vivas no solo são recorrentemente utilizadas em cultivos cafeeiros.

Como exemplo de controle físico, tem-se a utilização de cobertura morta, com restos vegetais do Capim braquiária (palhada) ou mesmo a utilização de casca de café em cobertura. Salienta-se que, os restos culturais de qualquer planta de cobertura consorciada na entrelinha do cafeeiro, quando manejadas corretamente, podem servir como medida física de controle.

Além disso, o filme de polietileno também é considerado um controle físico, conhecida como Mulching, que já é amplamente utilizada na horticultura, e tem sido empregado em algumas áreas no cultivo do café.

Trabalhos como os de Castanheira (2018) e Voltolini (2019) relatam das vantagens desta tecnologia para a otimização do manejo das plantas daninhas e também dos recursos essenciais ao desenvolvimento do cafeeiro, como água e nutrientes.

Controle biológico

Esta forma de controle se dá com a utilização de agentes biológicos para erradicar plantas indesejadas, no entanto, a aplicabilidade deste método ainda é um entrave.

Neste sentido, também a alelopatia é considerada uma forma de controle biológico, que consiste na inibição química exercida devido a liberação de compostos de uma planta, esteja ela viva ou morta, sobre a germinação ou desenvolvimento de outras plantas.

A integração com animais também pode ser alternativa para o controle das plantas daninhas por meio do pastoreio.

Controle químico

O controle químico se dá por meio da utilização de herbicidas, visando o controle das plantas daninhas. Esse método é amplamente utilizado, devido a sua eficácia, custo reduzido, facilidade de aquisição dos produtos e também por existirem moléculas seletivas ao cafeeiro.

Existem diversos mecanismos de ação dos herbicidas, dentre eles: inibidores de ACCase, inibidores de ALS, inibidores de EPSPs, mimetizadores de auxina, inibidores do FS I, inibidores do FS II, inibidores da PROTOX, inibidores da biossíntese de carotenoides, inibidores do arranjo de microtúbulos e inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa, que devem ser utilizados de acordo com as plantas daninhas presentes na área.

Em cafeeiros, a maior utilização se dá com os inibidores de EPSPs, com o uso do Glyphosate. Outra alternativa são os inibidores da ACCase, que atuam exercendo controle sobre as plantas daninhas monocotiledôneas e são seletivas ao cafeeiro.

Outro mecanismo de ação que apresenta moderada seletividade às plantas de cafeeiro são os inibidores da ALS, que também são eficientes no controle das plantas daninhas (eudicotiledôneas).

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Manejo integrado de plantas daninhas

Para o manejo de plantas daninhas em cafeeiros é importante que se faça o manejo integrado, que contempla a combinação dos métodos citados anteriormente, capazes de manter o cafeeiro livre de competição, e além disso, reduzir o impacto ambiental negativo.

Um exemplo de sucesso no manejo integrado de plantas daninhas em cafeeiros é a consorciação com o capim braquiária, que é uma medida de controle cultural. Contudo, por meio da roçada (manejo mecânico), os restos culturais são depositados nas linhas de café, exercendo controle físico sobre a germinação das plantas daninhas.

Aliado a isto, o manejo correto é preconizado com a utilização de herbicidas para fazer a “trilhação” da lavoura, ou seja, manter a linha “no limpo”. Alguns trabalhos relatam da ocorrência de exsudação de composto das raízes do capim braquiária que atuam inibindo o crescimento de algumas plantas daninhas.

Considerações finais

Portanto, devemos ficar atentos a realização de um controle eficiente de plantas daninhas nas lavouras de café, buscando sempre manejar essas plantas invasoras nas suas fases iniciais, para que seu controle possa ser mais eficiente e não haja competição com a cultura de interesse.

Nesse sentido, destaca-se também a importância de se rotacionar mecanismos de ação dos herbicidas, a fim de não selecionarmos plantas resistentes.

Além disso, podemos contar com estratégias de manejo que auxiliem na supressão de plantas daninhas, como é o caso na utilização de braquiária na entrelinha do cafeeiro.

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Larissa Cocato - Coordenadora de Ensino CaféLuiz Paulo Vilela

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