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Aplicação de calcário em lavoura de café

Calcário nas lavouras de café: saiba quando utilizar

Chegou a hora de fazer a calagem nas lavouras que necessitam, mas por que usamos calcário?

O calcário ou outras fontes corretivas, como escórias de siderúrgicas, são usadas para corrigir os solos, adequando o pH, alumínio e manganês, além de ser a principal e mais barata fonte de cálcio e magnésio.

A maioria dos solos brasileiros, principalmente da região dos cerrados, são solos que apresentam pH ácido. Este fato pode ter várias origens podendo citar entre elas:

  • Solos naturalmente ácidos, quando a rocha de origem for pobre em bases;
  • Intenso processo pedogenético (intemperismo), causando lixiviação de bases (Ca, Mg e K) ao longo dos anos, que são substituídas por íons H+ e, principalmente, por íons Al+3, resultantes da decomposição dos minerais da argila, situação apresentada por muitos latossolos originados de rochas básicas;
  • No processo de absorção, a raiz troca cátions da solução do solo (K+, Ca+2 e Mg+2) por íons H+ ou OH-, em função do balanço entre a absorção de cátions e ânions;
  • Os adubos nitrogenados não nítricos (sulfato de amônio, nitrato de amônio e uréia), ao serem nitrificados no solo, geram H+;
  • O cloreto de potássio promove aumento no solo de dois componentes da acidez, o alumínio e o manganês.

 

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Assim, em solos ácidos ou alcalinos, podemos ter vários efeitos maléficos para as plantas, causando menor crescimento e, consequentemente, menor produção. Entre estas causas podemos citar:

  • Toxidez por H+, Mn+2 e Al+3;
  • Baixa disponibilidade de nutrientes;
  • Baixa eficiência no aproveitamento de fertilizantes;
  • Baixa atividade microbiológica.

Gráfico mostrando disponibilidade de nutrientes no solo

Gráfico mostrando a baixa disponibilidade de nutrientes de acordo com o aumento do pH

Então, o ideal é manter o pH do solo na faixa de 6 a 7, sendo a faixa onde se encontra melhor eficiência no aproveitamento de fertilizantes.

Para conseguir chegar nessa faixa e corrigir o alumínio e manganês, dependemos de 3 aspectos técnicos:

  1. As características do corretivo utilizado;
  2. A dose do corretivo utilizado;
  3. A forma e época de aplicação do corretivo.

É importante ressaltar também que sempre devemos nos preocupar com aspectos de ordem econômica, como preço dos corretivos e custo do transporte e aplicação dos corretivos.

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Características do calcário

Poder de Neutralização (PN)

O poder de neutralização representa a quantidade de ácido que o corretivo consegue neutralizar. Esta característica depende de sua natureza química e do grau de pureza. Para calcular o PN de um calcário, usamos a seguinte fórmula:

PN = (% CaO . 1,79) + (% MgO . 2,48)

Granulometria

Para que o calcário sofra reação no solo, as partículas do corretivo têm que estar em contato com o solo. Então, quanto mais fina a granulometria, mais rápida a velocidade de reação do calcário no solo. Porém, o tamanho das partículas varia desde pó, até 2 mm de diâmetro.

ER (%) = (A . 0,2) + (B . 0,6) + (C . 1,0)

Sendo:

  • A = percentual de partículas de 0,84 a 2 mm;
  • B = percentual de partículas de 0,3 a 0,84 mm;
  • C = percentual de partículas menor que 0,3 mm.

Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT)

O poder relativo de neutralização total depende de sua natureza química (PN) e de sua natureza física (ER), sendo dado pela fórmula:

PRNT (%) = (PN x ER) / 100

O PRNT representa quantos % do seu PN irá reagir com o solo num período de 3 meses.

Para lavouras já formadas, devemos dar preferência por calcários com PRNT mais alto possível, pois assim haverá a correção em maiores profundidades, visto que não será incorporado.

Já na formação de novas lavouras, podemos usar calcários com PRNT um pouco mais baixo para ter um efeito residual.

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Cálculo da necessidade de calagem

Método Baseado nos Teores de Alumínio, Cálcio e Magnésio Trocáveis

NC (t/ha) = Y . [Al3+ – (mt . t/100)] + [X – (Ca2+ + Mg2+)]

Sendo:

  • Al3+, Ca2+ e Mg2+ = correspondem aos valores encontrados na análise de solo
  • mt = indica a porcentagem de alumínio tolerada pela cultura, para café = 25%
  • t = valor da CTC efetiva na análise de solo
  • Y = representa o poder tampão do solo em função de sua textura, sendo assim:
    • Y = 0 – 1 (solos com menos de 15% de argila);
    • Y = 1 – 2 (solos com 16 a 35% de argila);
    • Y = 2 – 3 (solos com 35 a 60% de argila);
    • Y = 3 – 4 (solos com mais de 60% de argila).
  • X = representa o requerimento de Ca e Mg pela cultura, sendo para café = 3,5.

Método Baseado na Elevação da Saturação por Bases

Podemos enfatizar que este é o método mais usado para cálculo de calagem em Minas Gerais e que apresenta bons resultados.

NC (t/ha) = [T . (V2 – V1)] / 100

Sendo:

  • T = CTC potencial da análise de solo;
  • V2 = percentagem da saturação por bases ideal para a cultura, para café = 60%;
  • V1 = percentagem da saturação por bases do solo, conforme análise de solo.

Cálculo da dose a ser aplicada

Após calcular a necessidade de calagem, é preciso lembrar que este valor equivale a um corretivo com 100% de PRNT.

Porém, tal fato, além de ser difícil de ser encontrado, nem sempre é o desejável. Então, é necessária a seguinte correção pela fórmula:

Quantidade a aplicar = (Necessidade de calagem x 100) / PRNT

Ao ser aplicado o calcário em lavouras já formadas, muitos técnicos e pesquisadores recomendam que divida o valor por 2, partindo do princípio que o calcário irá descer no solo somente por 10 cm.

Porém, em resultados de pesquisa e em vivência prática, tem-se notado que podemos aplicar a dose completa, não havendo riscos de ter super calagem em superfície. Se houver a suspeita de estar tendo tal problema, podemos realizar uma análise de solo da camada de 0-10 cm para verificar.

Calcário sendo aplicado em lavoura de café

Época de aplicação do calcário

Para lavouras em formação ou em produção, é preciso atentar à época de aplicação. O calcário deve ser utilizado sempre antes das adubações, principalmente bem antes da fosfatagem. Então, podemos parcelar o calcário, aplicando metade antes da aração e metade antes da gradagem, incorporando-o melhor.

Lembrando que, se for incorporar a mais de 20 cm, é preciso usar um fator multiplicativo, pois a necessidade calculada é para a camada de 0-20 cm. Assim, se incorporamos, por exemplo, até 30 cm, devemos multiplicar por 1,5.

No plantio, temos que fazer a calagem complementar na cova, podendo usar 100g de calcário com PRNT mais baixo por metro linear de sulco para cada tonelada aplicada por hectare em área total. Neste caso, é importante lembrar que após a aplicação do calcário no sulco, é recomendado misturar o calcário no sulco antes da fosfatagem.

Em lavouras em produção, temos que planejar a calagem com base no planejamento das datas das adubações, seguindo do princípio que as adubações são feitas geralmente em outubro/novembro, dezembro/janeiro e fevereiro/março. Então, temos que fazer a calagem até julho/agosto, para, quando aplicar adubo, o calcário já tenha reagido no solo.

Aplicação do corretivo

Existem vários modelos de implementos para aplicar calcário, podendo usar adubadeiras a lanço, lancers e até caminhões equipados com mecanismos dosadores volumétricos. Os equipamentos espalhadores usados em caminhões têm seu uso somente em áreas de formação e são muito usados em agricultura de precisão.

Muitos produtores realizam calagem somente na faixa onde se aplica adubos, ou seja, na projeção da saia do cafeeiro. Porém, tem-se um melhor resultado realizando-se a calagem sempre em área total.

Nesta safra, o preço do café teve uma significativa recuperação. Mas, isso não significa que não temos cada vez mais que diminuir os custos de produção. Então, a calagem, sem dúvida, é o investimento na lavoura que tem o melhor custo/benefício e não impacta tanto nos custos de produção.

Temos que lembrar que a adubação, para ter uma boa eficiência no solo, este deve estar corrigido. A adubação sim, impacta muito no custo de produção.

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